Continuação dos comentários ao Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16
A Carta Magna do Reino de Deus
Na área
abarcada pela pregação de Jesus se levanta uma colina verdejante. Ele, “vendo
as multidões” (Mt 5, 1) que tinham chegado de toda parte à sua procura, subiu a
essa montanha e pronunciou seu mais sublime sermão, síntese de todos os seus
ensinamentos.
Como
tivemos oportunidade de considerar em outras ocasiões,6 já era chegado o momento
de expor sua doutrina e indicar aos discípulos o caminho da salvação. Assim,
contradizendo de modo frontal as máximas e os costumes vigentes em sua época,
nas oito Bem-aventuranças o Divino Mestre prega “aos avarentos a pobreza, aos
orgulhosos a humildade, aos voluptuosos a castidade, aos homens do ócio e do
prazer o trabalho e as lágrimas da penitência, aos invejosos a caridade, aos
vingativos a misericórdia e aos perseguidos as alegrias do martírio”.7
Não sem
razão receberam estas Bem-aventuranças o título de “Carta Magna do Reino de
Deus”. Segundo explica o Catecismo da Igreja Católica, elas “traçam a imagem de
Cristo e descrevem sua caridade; exprimem a vocação dos fiéis associados à glória
de sua Paixão e Ressurreição; iluminam as ações e atitudes características da
vida cristã; são promessas paradoxais que sustentam a esperança nas tribulações;
anunciam as bênçãos e recompensas já obscuramente adquiridas pelos discípulos;
são iniciadas na vida da Virgem Maria e de todos os Santos”.8
As características da missão dos
discípulos
O simples
enunciado das Bem-aventuranças pressagiava uma renovação do mundo, o advento de
uma nova civilização, de uma humanidade libertada do paganismo. Enfim, algo que
a História ainda não conhecera. Não nos esqueçamos de que em geral vigorava a
escravidão e a lei de talião — olho por olho, dente por dente —, que hoje nos
causa horror, mas que na Antiguidade representou uma mitigação da violência
arraigada na sociedade em que prevalecia sempre o mais forte e a vingança
desapiedada, era prática comum.
Logo
depois de proclamá-las solenemente, Jesus vai Se dirigir sobretudo aos
Apóstolos e discípulos, utilizando uma linguagem muito expressiva para lhes
indicar as qualidades necessárias ao cumprimento de sua missão. E o faz diante
de todos, de modo a tornar manifesta a obrigação daqueles mais chamados a
guiar, ensinar e santificar os fiéis.
O sal do convívio humano
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
13a “Vós sois o sal da terra”.
Foi o
sal sempre muito apreciado e valorizado pela humanidade, por ser bom
conservante dos alimentos e por realçar o seu sabor. No Império Romano o
pagamento aos soldados era feito com ele ou também se destinava uma quantia em
dinheiro para sua aquisição, originando o termo salário. O elevado grau de
salinidade do Mar Morto facilitou o uso frequente de tal condimento na Palestina,
desde tempos imemoriais Havia no Templo, inclusive, um depósito no qual se
guardava o sal a ser empregado nas diversas cerimônias, uma vez que no Antigo
Testamento não se oferecia a Deus animal algum sem antes temperá-lo com sal
(cf. Lv 2, 13; Ez 43, 24), que também era usado na preparação dos perfumes litúrgicos
(cf. Ex 30, 35).
Ao
afirmar: “Vós sois o sal da terra”, Nosso Senhor declara que seus discípulos —
ou seja, todos os batizados — devem enriquecer o mundo propiciando um novo
sabor ao convívio humano, evitando a brutalidade e a corrupção dos costumes.
Continua no próximo post
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