Continuação dos comentários ao Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16
A graça: o sal da vida
sobrenatural
13b “Ora, se o sal se tornar insosso, com
que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e
ser pisado pelos homens”.
Para
bem compreendermos o que o Salvador nos quer ensinar com esta figura, podemos
imaginar uma matéria neutra, semelhante à areia branca, finíssima, que ao ser
objeto de um influxo passasse a ser sai. Ela salgaria porque transmitiria uma
propriedade que não pertence à sua natureza, mas lhe foi infundida. Ora, se
esse sai se tornasse insosso, voltaria a ser o que era antes, ou seja, areia!
De modo
análogo, pelo Sacramento do Batismo, que nos confere a graça santificante,
somos elevados da ordem natural à ordem sobrenatural e recebemos uma como que
capacidade salífera para dar um novo sabor à existência e fazer bem aos outros.
Todavia, o discípulo que perde a vida da graça e renuncia a ser “o sal da
terra”, “não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos
homens”.
A luz do bom exemplo
14a “Vós sois a luz do mundo”.
Confiando-nos
a missão de sermos “a luz do mundo”, Jesus nos convida exatamente a participar
de sua própria missão, a mesma que fora proclamada pelo velho Simeão no Templo,
quando, tomando o Menino Deus nos braços, profetizou que Ele seria “luz para iluminar
as nações” (Lc 2, 32). Nosso Senhor veio trazer a luz da Boa-nova e do modelo
de vida santa. A doutrina ilumina e indica o caminho, enquanto o exemplo edificante
move a vontade a percorrê-lo.
Neste
mundo imerso no caos e nas trevas, pela ignorância ou pelo desprezo dos
princípios morais, os discípulos de Jesus devem, com o auxílio da graça e o bom
exemplo, iluminar e orientar as pessoas, ajudando-as a reavivar a distinção
entre o bem e o mal, a verdade e o erro, o belo e o feio, apontando o fim último
da humanidade: a glória de Deus e a salvação das almas, que acarretará o gozo
da visão beatífica.
Para
que isso se concretize, a condição é sermos despndidos e admirativos de tudo o
que no universo é reflexo das perfeições divinas, de modo a sempre procurarmos
ver o Criador nas criaturas. Assim, nossas cogitações e nossas vias terão um brilho
proveniente da graça. Expressiva figura dessa realidade espiritual nos é proporcionada
pela lâmpada elétrica incandescente. O tungstênio é, em si, um elemento vil e
de escassa utilidade. No entanto, perpassado pela corrente elétrica e em uma
atmosfera na qual o ar foi substituído, ele ilumina como nenhum outro metal. A
eletricidade representa a graçadivina, enquanto a debilidade do tungstênio bem
simboliza o nosso nada. A necessidade de certo vácuo para a
incandescência do filamento ressalta ainda mais como, para refletirmos a luz
sobrenatural, precisamos reconhecer com alegria o nosso vazio, o nosso pouco mérito,
as nossas limitações e faltas, e não opor nenhuma resistência à ação de Deus.
Deste modo, como filamentos de tungstênio ligados à corrente da graça,
poderemos ser transmissores da verdadeira luz para o mundo.
O pregador deve ser coerente
14b Não pode ficar escondida uma cidade
construída sobre um monte”.
Relativamente
próxima do monte das Bem-aventuranças se eleva a cidade de Safed, situada a
cerca de mil metros de altitude.9 Supõe-se, então, que Jesus tenha feito alusão
a ela nesta passagem, utilizando uma imagem familiar a todos os presentes. Ao
mencionar a impossibilidade de permanecer oculta uma cidade com essas
características, Nosso Senhor chama a atenção para a visibilidade de todas as
ações do homem, a fortiori se ele recebeu uma missão especial de Deus: “fomos
entregues em espetáculo ao mundo, aos Anjos e aos homens” (I Cor 4, 9). Nesse
sentido, nada no agir humano é neutro, e tudo o que fazemos repercute no
universo em benefício ou prejuízo das demais criaturas. Por conseguinte, temos
a obrigação de irradiar o bem, pela palavra e pela vida.
Em
virtude disso, Santo Antônio de Pádua afirma ser indispensável para o pregador
viver o que prega: “A linguagem é viva, quando falam as obras. Cessem, por
favor, as palavras; falem as obras. Estamos cheios de palavras, mas vazios de
obras, e, por isso, somos amaldiçoados pelo Senhor. Ele mesmo amaldiçoou a
figueira em que não encontrou fruto, mas somente fothas. Ao pregador foi dada a
lei, escreve São Gregório, de realizar aquilo que prega. Em vão se gaba do conhecimento
da lei quem destrói com as obras a doutrina”.10
A luz deve brilhar para todos
15 “Ninguém acende uma lâmpada e a coloca
debaixo de uma vasilha, mas sim, num candeeiro, onde eia brilha para todos os que
estão na casa”.
Postas
em lugar alto para melhor difusão da luz, as lâmpadas de azeite, naquela época,
eram em geral feitas de argila, sendo dotadas de dois orifícios: um para o
azeite e outro para o pavio. A linguagem do Divino Mestre, como sempre, é ao
mesmo tempo simples e muito cogente, e o exemplo não poderia ser mais
significativo, pois só um insensato ocultaria uma lâmpada acesa debaixo de um
alqueire — vasilha para medir cereais — ou de uma cama (cf. Mc 4, 21; Lc 8,
16), onde, além de ser totalmente inútil, correria o risco de provocar um
incêndio.
Continua no próximo post
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Escreva seus comentarios e sugerencias