Tríduo Pascal

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16

Conclusão dos comentários ao Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16

Não tenhamos medo de praticar a virtude
16 ‘Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos Céus”.
Como lâmpadas a reluzir na escuridão, Nosso Senhor quer que os cristãos iluminem os homens com suas boas ações. Isto é, o bem precisa ser proclamado sem respeito humano e aos quatro ventos, num mundo que estadeia a luxúria e o ateísmo. Ao se encontrar em um ambiente hostil, o bom muitas vezes tende a se encolher, a se intimidar, quase se desculpando por não ser dos maus.., o que é absurdo! Pelo contrário, devem a verdade e o bem gozar de plena cidadania, onde quer que seja.
Contudo, caberia perguntar se tal recomendação não estaria em conflito com os conselhos de Nosso Senhor Jesus Cristo, transmitidos pouco mais adiante pelo próprio São Mateus: “Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles” (6, 1), e “que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita” (6, 3).
A resposta é simples: Jesus não quer que nossas boas obras sejam movidas por interesses mundanos ou por desejo de chamar a atenção, como acontecia aos fariseus, os quais faziam “todas as suas ações para serem vistos pelos homens” (Mt 23, 5) e mandavam tocar a trombeta quando davam alguma esmola. Ele pede de nós, isto sim, uma vida tão edificante que os homens se sintam impelidos a imitá-la, glorificando a Deus cuja face resplandece nos que Lhe são fiéis.
Acrescente-se a isso que o reluzimento do justo é fruto de sua união com Deus e da ação da graça, não dependendo, portanto, da vontade de cada pessoa.
“Sejam os cristãos no mundo aquilo que a alma é no corpo”.” Por isso, é necessário não ter receio de proclamar por toda parte a nossa Fé, a nossa vocação, a nossa determinação de seguir a Cristo. Expressivo nesse sentido é o célebre episódio da vida de São Francisco de Assis, ao convidar frei Leão para acompanhá-lo a uma pregação. Os dois simplesmente andaram pela cidade, imersos em sobrenatural recolhimento, e retornaram ao convento sem dizer uma palavra. Ao ser indagado acerca da pregação, o Santo respondeu ter ela sido realizada pelo fato de dois homens se mostrarem de hábito religioso pelas ruas, guardando a modéstia do olhar.12 É o apostolado do bom exemplo.
Se isso era válido para o século XIII, quanto mais o será para os nossos dias! Por tal razão, sentimo-nos nós, Arautos do Evangelho, motivados ao uso cotidiano de nosso característico hábito: envergando-o sem respeito humano e manifestando de forma pública nossa inteira adesão à Santa Igreja, pomos em prática o mandato de Jesus.
SE QUEREMOS SER SANTOS, DEVEMOS SER SAL E LUZ
Evangelho de hoje expressa com muita clareza a obrigação de cuidarmos de nossa vida espiritual não só pelo desejo da salvação pessoal. Sem dúvida, é mister abraçar a perfeição para contemplar o Criador face a face por toda a eternidade no Céu, o mais precioso dom que possamos obter; e precisamos ser virtuosos, porque o exige a glória de Deus, para tal fomos criados e disso prestaremos contas. Entretanto, Nosso Senhor nos quer santos também com vistas a sermos sai e luz para o mundo! Enquanto sai, devemos empenhar-nos em fazer bem aos demais, pois temos a responsabilidade de lhes tornar a vida aprazível, sustentando-os na fé e no propósito de honrar a Deus. São eles credores de nosso apoio colateral, como membros do Corpo Místico de Cristo. E seremos luz na medida em que nos santificarmos, pois ensina a Escritura: “O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado” (Mt 6, 22). Deste modo, nossa diligência, aplicação e zelo no cumprimento dos Mandamentos servirá ao próximo de referência, de orientação pelo exemplo, fazendo com que ele se beneficie das graças que recebemos. Assim, seremos acolhidos por Nosso Senhor, no dia do Juízo, com estas consoladoras palavras: “Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o fizestes!” (Mt 25, 40).
Pelo contrário, se sou orguihoso, egoísta ou vaidoso, se somente me preocupo em chamar a atenção sobre mim, significa que me converti num sal insosso que já não salga mais, e privo os outros de meu amparo; se sou preguiçoso, significa que apaguei a luz de Deus em minha alma e já não proporciono a iluminação que muitas pessoas necessitam para ver com clareza o caminho a seguir. E devo me preparar para ouvir a terrível condenação de Jesus: “Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer” (Mt 25, 45).
Em última análise, tanto o sal que não salga quanto a luz que não ilumina são o fruto da falta de integridade. O discípulo, para ser sal e para ser luz, deve ser um reflexo fiel do Absoluto, que é Deus, e, portanto, nunca ceder ao relativismo, vivendo na incoerência de ser chamado a representar a verdade e fazê-lo de forma ambígua e vacilante. Procedendo desta maneira, nosso testemunho de nada vale e nos tornamos sal que só serve “para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Quem convence é o discípulo íntegro que reflete em sua vida a luz trazida pelo Salvador dos homens.

Peçamos, pois, à Auxiliadora dos Cristãos que faça de cada um de nós verdadeiras tochas que ardem na autêntica caridade e iluminam para levar a luz de Cristo até os confins da Terra.
1) Cf. CLA DIAS, EP, João Scognamiglio. O início da vida pública. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. N.73 (Jan., 2008); p.10-17
2) Cf. FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. 2.ed. Madrid: BAC, 1954, 162-165; RENIE, SM, Jules-Edouard. Manuel d’Ecriture Sainte. Les Evangiles. 4.ed. Paris: Emmanuel Vitte, 1948, t.IV, p.207-209.
3) Cf. WILLAM, Franz Michel. A vida de Jesus no país e no povo de Israel. Petrópolis: Vozes, 1939, p.119-122.
4) BERTHE, CSsR, Augustin. Jesus Cristo, sua vida, sua Paixão, seu triunfo. Eiisiedehi: Benziger, 1925, p.112.
5) Idem, p.112-113.
6) Cf. CLA DIAS, EP, João Scognamiglio. Radical mudança de padrões no relacionamento divino e humano. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. N.109 (Jan., 2011); p.10-16;
7) BERTHE, op. cit., p.144.
8) CCE 1717.
9) Cf. RENIÉ, op. cit., p.208.
10) SANTO ANTÔNIO DE PADUA. Sermões Dominicajs. Pentecostes. Sermão In: Fontes franciscanas III. Biografias - Sermões. Braga: Franciscana. 1998, v.I, p.411.
11) CONCÍLIO VATICANO II. Lumen gentium, n.38.
12) Cf. SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. La dignidad y santidad sacertodal. La Selva. Sevilla: Apostolado Mariano, 2000, p.306.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Escreva seus comentarios e sugerencias