Conclusão dos comentários ao Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16
Não tenhamos medo de praticar a
virtude
16 ‘Assim também brilhe a vossa luz diante
dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está
nos Céus”.
Como
lâmpadas a reluzir na escuridão, Nosso Senhor quer que os cristãos iluminem os
homens com suas boas ações. Isto é, o bem precisa ser proclamado sem respeito
humano e aos quatro ventos, num mundo que estadeia a luxúria e o ateísmo. Ao se
encontrar em um ambiente hostil, o bom muitas vezes tende a se encolher, a se
intimidar, quase se desculpando por não ser dos maus.., o que é absurdo! Pelo
contrário, devem a verdade e o bem gozar de plena cidadania, onde quer que
seja.
Contudo,
caberia perguntar se tal recomendação não estaria em conflito com os conselhos
de Nosso Senhor Jesus Cristo, transmitidos pouco mais adiante pelo próprio São
Mateus: “Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes
vistos por eles” (6, 1), e “que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita”
(6, 3).
A
resposta é simples: Jesus não quer que nossas boas obras sejam movidas por
interesses mundanos ou por desejo de chamar a atenção, como acontecia aos
fariseus, os quais faziam “todas as suas ações para serem vistos pelos homens”
(Mt 23, 5) e mandavam tocar a trombeta quando davam alguma esmola. Ele pede de
nós, isto sim, uma vida tão edificante que os homens se sintam impelidos a
imitá-la, glorificando a Deus cuja face resplandece nos que Lhe são fiéis.
Acrescente-se
a isso que o reluzimento do justo é fruto de sua união com Deus e da ação da
graça, não dependendo, portanto, da vontade de cada pessoa.
“Sejam
os cristãos no mundo aquilo que a alma é no corpo”.” Por isso, é necessário não
ter receio de proclamar por toda parte a nossa Fé, a nossa vocação, a nossa
determinação de seguir a Cristo. Expressivo nesse sentido é o célebre episódio
da vida de São Francisco de Assis, ao convidar frei Leão para acompanhá-lo a
uma pregação. Os dois simplesmente andaram pela cidade, imersos em sobrenatural
recolhimento, e retornaram ao convento sem dizer uma palavra. Ao ser indagado
acerca da pregação, o Santo respondeu ter ela sido realizada pelo fato de dois homens
se mostrarem de hábito religioso pelas ruas, guardando a modéstia do olhar.12 É
o apostolado do bom exemplo.
Se isso
era válido para o século XIII, quanto mais o será para os nossos dias! Por tal
razão, sentimo-nos nós, Arautos do Evangelho, motivados ao uso cotidiano de
nosso característico hábito: envergando-o sem respeito humano e manifestando de
forma pública nossa inteira adesão à Santa Igreja, pomos em prática o mandato
de Jesus.
SE
QUEREMOS SER SANTOS, DEVEMOS SER SAL E LUZ
Evangelho
de hoje expressa com muita clareza a obrigação de cuidarmos de nossa vida
espiritual não só pelo desejo da salvação pessoal. Sem dúvida, é mister abraçar
a perfeição para contemplar o Criador face a face por toda a eternidade no Céu,
o mais precioso dom que possamos obter; e precisamos ser virtuosos, porque o
exige a glória de Deus, para tal fomos criados e disso prestaremos contas.
Entretanto, Nosso Senhor nos quer santos também com vistas a sermos sai e luz
para o mundo! Enquanto sai, devemos empenhar-nos em fazer bem aos demais, pois
temos a responsabilidade de lhes tornar a vida aprazível, sustentando-os na fé
e no propósito de honrar a Deus. São eles credores de nosso apoio colateral,
como membros do Corpo Místico de Cristo. E seremos luz na medida em que nos
santificarmos, pois ensina a Escritura: “O olho é a luz do corpo. Se teu olho é
são, todo o teu corpo será iluminado” (Mt 6, 22). Deste modo, nossa diligência,
aplicação e zelo no cumprimento dos Mandamentos servirá ao próximo de referência,
de orientação pelo exemplo, fazendo com que ele se beneficie das graças que
recebemos. Assim, seremos acolhidos por Nosso Senhor, no dia do Juízo, com
estas consoladoras palavras: “Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes que
fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o
fizestes!” (Mt 25, 40).
Pelo
contrário, se sou orguihoso, egoísta ou vaidoso, se somente me preocupo em
chamar a atenção sobre mim, significa que me converti num sal insosso que já
não salga mais, e privo os outros de meu amparo; se sou preguiçoso, significa
que apaguei a luz de Deus em minha alma e já não proporciono a iluminação que
muitas pessoas necessitam para ver com clareza o caminho a seguir. E devo me
preparar para ouvir a terrível condenação de Jesus: “Em verdade Eu vos declaro:
todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a Mim
que o deixastes de fazer” (Mt 25, 45).
Em
última análise, tanto o sal que não salga quanto a luz que não ilumina são o
fruto da falta de integridade. O discípulo, para ser sal e para ser luz, deve ser
um reflexo fiel do Absoluto, que é Deus, e, portanto, nunca ceder ao
relativismo, vivendo na incoerência de ser chamado a representar a verdade e
fazê-lo de forma ambígua e vacilante. Procedendo desta maneira, nosso testemunho
de nada vale e nos tornamos sal que só serve “para ser jogado fora e ser pisado
pelos homens”. Quem convence é o discípulo íntegro que reflete em sua vida a
luz trazida pelo Salvador dos homens.
Peçamos,
pois, à Auxiliadora dos Cristãos que faça de cada um de nós verdadeiras tochas que
ardem na autêntica caridade e iluminam para levar a luz de Cristo até os
confins da Terra.
1) Cf. CLA DIAS, EP,
João Scognamiglio. O início da vida pública. In: Arautos do Evangelho. São
Paulo. N.73 (Jan., 2008); p.10-17
2) Cf. FERNÁNDEZ
TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. 2.ed. Madrid: BAC, 1954,
162-165; RENIE, SM, Jules-Edouard. Manuel d’Ecriture Sainte. Les Evangiles.
4.ed. Paris: Emmanuel Vitte, 1948, t.IV, p.207-209.
3) Cf. WILLAM, Franz
Michel. A vida de Jesus no país e no povo de Israel. Petrópolis: Vozes, 1939,
p.119-122.
4) BERTHE, CSsR,
Augustin. Jesus Cristo, sua vida, sua Paixão, seu triunfo. Eiisiedehi:
Benziger, 1925, p.112.
5) Idem, p.112-113.
6) Cf. CLA DIAS, EP,
João Scognamiglio. Radical mudança de padrões no relacionamento divino e
humano. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. N.109 (Jan., 2011); p.10-16;
7) BERTHE, op. cit.,
p.144.
8) CCE 1717.
9) Cf. RENIÉ, op. cit., p.208.
10) SANTO ANTÔNIO DE
PADUA. Sermões Dominicajs. Pentecostes. Sermão In: Fontes franciscanas III.
Biografias - Sermões. Braga: Franciscana. 1998, v.I, p.411.
11) CONCÍLIO VATICANO
II. Lumen gentium, n.38.
12) Cf. SANTO AFONSO
MARIA DE LIGÓRIO. La dignidad y santidad sacertodal. La Selva. Sevilla: Apostolado Mariano, 2000, p.306.
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