Tríduo Pascal

sábado, 22 de março de 2014

Comentário ao Evangelho – IV Domingo da Quaresma – Ano A

Comentário ao Evangelho – IV Domingo da Quaresma – Domingo Laetare   Jo 9, 1-41
Cristo dispôs tudo para sua glória
1“Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. 2 Os discípulos perguntaram a Jesus: ‘Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?’. 3 Jesus respondeu: ‘Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso serve para que as obras de Deus se manifestem nele. 4 É necessário que nós realizemos as obras d’Aquele que Me enviou, enquanto é dia. Vem a noite, em que ninguém pode trabalhar. 5 Enquanto estou no mundo, Eu sou a luz do mundo’”.
A crença de que os males físicos eram sempre consequência de algum pecado estava muito arraigada não só nos judeus, mas também nos povos pagãos contemporâneos de Cristo. “Em diversas ocasiões”, escreve Fillion, “o próprio Jesus parecia ter considerado como castigo do pecado algumas das enfermidades por Ele curadas”.5 E São João Crisóstomo observa que certa feita, depois de haver curado um paralítico, Ele o advertiu: “Não peques mais, para não te suceder algo pior” (Jo 5, 14), dando a entender assim que o pecado havia sido causa daquela doença.6
No presente caso, porém, declara taxativamente o Mestre que essa cegueira foi permitida desde toda a eternidade, para dar ensejo à manifestação de seu poder divino sobre a natureza. E, como veremos pouco abaixo, esse milagre foi também a misericordiosa oportunidade para o cego receber a graça da conversão; juntamente com a luz natural, veio-lhe a fé n’Aquele que é a Luz do mundo.
A didática de um grandioso milagre
6 “Dito isto, Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. 7 E disse-lhe: ‘Vai lavar-te na piscina de Siloé’ (que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando”.
Causa surpresa o fato de Jesus cuspir no chão, fazer lama, passar nos olhos do doente e depois dar-lhe ordem de ir lavar-se. Ora, Ele poderia ter operado esse milagre mediante um simples olhar ou um ato de vontade, como mais tarde fará com outro cego — o de Jericó — a quem Jesus disse: “Vê” (Lc 18, 42). No entanto, quis sarar o cego de nascença aplicando-lhe barro sobre os olhos e mandando-o lavar-se na piscina de Siloé. Bem observa, a este propósito, São João Crisóstomo: “Cuspiu no chão para eles não atribuírem um poder milagroso à água dessa piscina e para entenderem que saiu de sua boca a misteriosa energia que regenerou os olhos do cego e os abriu. É por isso que o Evangelista diz: ‘Fez lama com a saliva’. Em seguida, para evitar que se pensasse num poder secreto da terra, mandou-o ir lavar-se”.7
Primeiro quis o Divino Mestre que todos os circunstantes vissem o cego com barro nos olhos, e isso, certamente, causou viva impressão. Em seguida, ao retornar o homem curado, ficaria patente perante eles Quem era o autor da cura. Para um povo duro de coração como aquele, era preciso não haver dúvida a tal respeito. Daí ter Jesus utilizado a própria saliva, misturando-a com a terra, duas matérias incapazes por si de operar a cura, ressaltando provir d’Ele o poder sobrenatural. Pode-se observar que os detalhes do episódio foram divinamente dispostos para produzir nos presentes o grande efeito narrado pelo Evangelista.

Por sua vez, o cego acreditou na palavra de Jesus. Não pensou, por exemplo, em quantas vezes já se lavara na piscina de Siloé, sem se curar, nem se aquela lama poderia prejudicar ainda mais sua saúde. Comenta São João Crisóstomo: “Note-se como o cego tinha a disposição de obedecer em tudo. [...] Seu único objetivo foi o de obedecer a Quem lhe ordenava. Nada pôde dissuadi-lo, nada constituiu obstáculo”.8 Ele fez exatamente o que Nosso Senhor mandara, e foi recompensado.
Continua no próximo post

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