Continuação dos comentários ao Evangelho – VI Domingo da Páscoa – Ano A – Jo 14, 15-21
II – O amor, condição para Se cumprir a lei
A passagem do Evangelho
considerada hoje integra o grande “Sermão da Ceia” pronunciado por Jesus ao
terminar o banquete pascal, após Judas Iscariotes ter-se retirado para consumar
sua traição. São João foi o único evangelista a consignar este discurso, talvez
o mais belo e mais admirável proferido pelos adoráveis lábios do Redentor.
A humildade manifestada
momentos antes por Cristo ao lavar os pés de cada um de seus discípulos — que
havia pouco disputavam o primeiro lugar... — gravara em suas almas uma profunda
impressão da bondade divina e ao mesmo tempo tornara neles ainda mais intensa a
consciência da própria indignidade. Por outro lado, o comovedor anúncio da traição
de um dentre eles provavelmente os deixara desconcertados e aterrorizados. Por
fim, a instituição da Sagrada Eucaristia, grande Sacramento de amor, estreitara
ainda mais os laços que os uniam ao Senhor, incutindo-lhes confiança e
abrindo-lhes os horizontes da vida eterna.
“O fato de Jesus ter falado só
aos seus Apóstolos, aos quais acabava de instituir sacerdotes e de comunicar
seu Corpo e Sangue” — comenta Gomá y Tomás —, “e de ser o último colóquio que
com eles teria antes de sua morte [...] confere um relevo extraordinário a este
discurso. Nele o Divino Mestre abriu de par em par seu pensamento e seu
coração, dando-lhes o que poderíamos chamar a quintessência do Evangelho”.5
15“Se Me amais, guardareis os meus mandamentos...”
Quando contemplamos uma bela
imagem de Nossa Senhora, ficamos encantados com a expressão que o artista soube
imprimir aos traços fisionômicos, ressaltando esta ou aquela virtude a fim de
estimular a piedade dos fiéis. Entretanto, bastaria um risco no rosto para
desqualificar a obra inteira.
São Tomás, repetindo o
princípio de Dionísio Areopagita nos ensina que o bem procede de uma causa
íntegra, enquanto o mal, de qualquer defeito: “Bonum ex integra causa, malum ex
quocumque defectu”.6 E se desejamos a perfeição numa imagem de Nossa Senhora,
devemos querê-la também, por coerência, no bem que praticamos, pois se nele
houverqualquer defeito, já estará presente o mal. Precisamos, pois, nos
esforçar para praticar os Mandamentos em sua integridade.
Dá significativo testemunho a
este respeito o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, recordando suas entusiasmadas
reações nas aulas de Catecismo sobre os Dez Mandamentos: “Como eles são belos e
apaziguam a alma! Lembro-me — há tantos anos! — de quando os aprendi;
decorava-os e dizia para mim mesmo: ‘Que coisa bonita! Não mentir, não roubar,
honrar pai e mãe, amar a Deus sobre todas as coisas, não tomar em vão seu Santo
Nome, etc.’ E, encantado, pensava: ‘Se todas as pessoas agissem assim, como o
mundo seria belo e diferente do atual!’”.7
Se amarmos esses divinos
preceitos com o ímpeto e a força que de nós espera o Criador, teremos mais
facilidade de observá-los, porque antes de tudo é preciso amar, conforme lê-se
no Deuteronômio: “O que te pede o Senhor teu Deus? Apenas que O temas e andes
em seus caminhos; que ames e guardes os Mandamentos do Senhor teu Deus, com
todo o teu coração e com toda a tua alma, para que sejas feliz” (Dt 10, 12-13).
Precisamos, pois, acolher em nosso coração e amar os seus Mandamentos; ou seja,
não basta procurar entendê-los racionalmente. Tendo verdadeiro amor e
entusiasmo pelo Supremo Legislador, veremos como é bela a prática da virtude e
como é horrenda qualquer ofensa a Ele.
Ora, como ter esse amor e onde
encontrar forças para cumprir integralmente tal desejo de Nosso Senhor?
Continua no próximo post.
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