Conclusão dos comentários ao Evangelho – 26º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 21, 28-32
Negaram-se a ouvir o chamado do Precursor
32 “Porque veio a vós João pelo caminho da justiça, e não
crestes nele; e os publicanos e as meretrizes creram nele. E vós, vendo isto,
nem assim fizestes penitência depois, crendo nele.”
Com esta conclusão
tão categórica, o Salvador deixa claro que, debaixo de certo ponto de vista,
seus interlocutores fariseus se encontram numa situação muito pior que a dos
dois filhos da parábola. Ouviram o chamado do Precursor; entretanto se negaram
a seguir seus conselhos, e, ao surgir o Messias, tornaram-se ainda mais
obstinados em sua falta de fé: “Porque Eu vos digo: Entre os nascidos de mulher
não há maior profeta que João Batista; porém, o que é menor no Reino de Deus é
maior do que ele. Todo o povo que O ouviu, mesmo os publicanos, deram glória a
Deus, recebendo o batismo de João. Os fariseus, porém, e os doutores da lei
frustraram o desígnio de Deus a respeito deles, não se fazendo batizar por ele”
(Lc 7, 28- 30). Assim, não só se negaram a trabalhar na vinha, como de fato não
o fizeram.
Esta seria a atitude
de um terceiro filho, num extremo de mau comportamento em relação ao Pai!
Radical advertência
É tão radical a
advertência contida neste v. 32 que alguns exegetas julgam-na uma inserção à
força, realizada por Mateus. Discordamos de tal hipótese.
Em realidade, se a
metáfora exposta por Jesus contivesse também a figura desse terceiro filho,
levantaria a desconfiança de seus adversários e tornaria inúteis os esforços
d’Ele. E se assim não fosse, como poderíamos explicar as outras duas parábolas
consecutivas à dos dois filhos?
V – O quarto filho
Faltaria dizer uma
palavra sobre um quarto filho que, embora não esteja mencionado explicitamente
pelo Divino Mestre, com facilidade é discernido por contraste em seu perfil
moral. Este teria ouvido com entusiasmo o convite do Pai para trabalhar na
vinha e entregado sua vida para, cultivando-a, Lhe dar alegria. A seguir esse
exemplo nos convida a parábola de hoje.
Acima de tudo, o Pai
tem o pleno direito de mandar sobre seu filho. Sendo Deus meu Pai, só me
ordenará o que é justo, razoável e factível. Ora, seu preceito é inteiramente
harmônico com meu senso do ser, ou seja, amá-Lo, servi-Lo, cumprir seus
mandamentos, fugir do pecado, desejar a perfeição, temperar minhas paixões,
etc. Para tal, Ele coloca à minha disposição os Sacramentos, a graça, os Anjos
e até a sua própria Mãe. Em qualquer necessidade, bastar-me-á recorrer a Ele:
“Em verdade vos digo que, se pedirdes a meu Pai alguma coisa em meu nome, Ele
vo-la dará” (Jo 16, 23).
Exame de consciência
Cabe aqui, então, uma
pergunta: em face desse convite, qual tem sido minha resposta e minha conduta?
Qual dos quatro filhos melhor me simboliza? Eis um excelente
exame de consciência para este 26º domingo do Tempo Comum.
Aliás, também nos
poderíamos perguntar a qual desses filhos corresponde a humanidade em seu
conjunto, na atual quadra histórica. Será que não constitui um ultraje ao Pai,
nosso Deus, rejeitar coletivamente o convite para trilhar as vias da inocência
e da santidade? Não seria isso uma verdadeira insolência?
Convite ao arrependimento e à gratidão
Possuidores como
somos do senso do bem e do mal, da verdade e do erro, do belo e do feio, com
todos os auxílios e amparos sobrenaturais colocados à nossa disposição, se
dermos as costas à Majestade Suprema, não seria lógico que interviesse Deus,
cobrando-nos a correspondência a tanta bondade e benefícios? Quando temos a
desgraça de pecar, sabemos — até mesmo coletivamente — que ultrapassamos os
limites impostos por Deus em sua Lei. Nossa consciência disso nos acusa.
Agradeçamos a Deus
por nos ter aberto os olhos na Liturgia de hoje, dando-nos o ensejo de melhor
compreendermos nossa presente vida espiritual, e por colocar à nossa disposição
elementos de peso para analisarmos a fundo os destinos da presente era
histórica.
1) Cf, por
exemplo, Jz 14, 12-19; 1 Rs 10, 1-3 e 2 Cr 9, 1-2; Pr 1, 5-6; Sb 8, 8; Eclo 47,
17-18; Ez 17, 1-24; Dn 2, 1-47.
2 ) São João
Crisóstomo apud Catena Aurea.
3 ) Biblia
Comentada, vol. II, BAC, Madrid, 1964, pp. 465-466.
4 ) Cf, por
exemplo, Mt 17, 24; 18, 12.
5) Comentarios
a los cuatro Evangelios, vol. I, BAC, Madrid, 1950, pp. 750-751.
6 ) Cf, por
exemplo, 2 Sm 12,1-7.
7 ) Os vinhateiros
homicidas (Mt 21, 3346), e A festa de núpcias (Mt 22, 1-14).
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