Tríduo Pascal

sábado, 27 de setembro de 2014

EVANGELHO – XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A - Mt 21, 33-43

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
Naquele tempo, Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo: 33 “Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas, e construiu uma torre de guarda. Depois, arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro.
34 Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. 35 Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram. 36 O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma.
37 Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’. 38 0s vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’  Então agarraram o filho jogaram-no para fora da vinha e o mataram.
40 Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?” 41 Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”.
42 Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?’  Por isso, Eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (Mt 21, 33-43).
A grave responsabilidade dos que cuidam da vinha do Senhor
Do mesmo modo que outrora ao povo eleito, Deus nos trata como uma vinha escolhida para mais facilmente alcançarmos a bem-aventurança eterna. Que frutos daremos ao seu Dono?
I – A VINHA, SÍMBOLO DE REALIDADES SOBRENATURAIS
Em nossos dias, por vivermos numa civilização excessivamente industrializada, nem todos estamos familiarizados com o processo da produção de vinho, e é possível que para muitos a figura da vinha não tenha maior significado. Hoje compramos esta bebida já engarrafada, talvez desconhecendo vários detalhes do longo processo iniciado com a uva. E uma tarefa que exige esforço, dedicação e conhecimento dos segredos do cultivo de cada tipo de vide, do melhor modo de cuidá-la e da época certa para a vindima, segundo a qualidade do vinho que se deseja obter. E preciso levar as uvas para um lagar, espremê-las — o método tradicional consiste em pisá-las —, deixar repousar o mosto até a fermentação e decantá-lo para então ser, eventualmente, depositado em barris, em certos casos durante anos, e, por fim, ser envasado. Trata-se de uma arte que só se adquire depois de longa experiência, acumulada no decorrer de gerações em que a tradição familiar vai aprimorando as técnicas: é o métier dos vinicultores. Assim, eles acabam criando enorme apreço por seus vinhedos.
Ora, Deus idealizou e criou a uva, impulsionando o homem ao seu cultivo, para que representasse a realidade — quão mais elevada! — de sua relação com o povo eleito, como veremos nas leituras do 27º Domingo do Tempo Comum.
Israel, vinha escolhida do Senhor
O cultivo da vide se havia estendido amplamente na Terra Prometida e em outras regiões do mundo antigo, desde épocas remotas. Ainda que o quintal da casa fosse muito pequeno, não faltava lugar para alguma videira; e mesmo que seus cachos produzissem uma só talha de vinho, isso bastava para fazer a alegria da família, sobretudo por ter sido preparado por seus próprios membros. Entretanto, para se ter uma vinha considerável era mister dispor de boa terra, vigiá-la e defendê-la contra ladrões e animais. Com este objetivo costumava-se nela edificar um posto de guarda, além de circundá-la com uma cerca — como ainda se faz em diversos lugares — construída com as pedras soltas retiradas do terreno, de forma a constituírem uma pequena muralha.
“A vinha do Senhor é a casa de Israel” (Is 5, 7a), diz o refrão do Salmo Responsorial, que continua com eloquência: “Arrancastes do Egito esta videira, expulsastes as nações para plantá-la; até o mar se estenderam seus sarmentos, até o rio os seus rebentos se espalharam” (Sl 79, 9.12). Foi o que de fato aconteceu, pois Ele tirou os israelitas da escravidão e expulsou os povos que habitavam Canaã para ali instalar a sua vinha, entregando-lhes aquela terra desde o Mar Mediterrâneo até seus longínquos confins. Israel, separado dentre todas as nações para ser o povo predileto, cumulado de privilégios e de dons, mais tarde seria chamado a converter os outros. Deus firmou com ele uma aliança e prometeu protegê-lo, se cumprisse a Lei, praticas se o culto e não se entregasse à idolatria. Enfim, como recorda a primeira leitura (Is 5, 1-7), extraída do Livro do Profeta Isaías, era uma vinha especialmente escolhida e cuidada pelo Senhor.
Por seus frutos ruins, Deus abandona a vinha
Todavia, pelos lábios do profeta Ele lamenta que a videira não tenha dado os frutos desejados: “esperava que ela produzisse uvas boas, mas produziu uvas selvagens” (Is 5, 2). Estas não servem para elaborar vinho, nem sequer como alimento, pois são agrazes. Quando consumidas deixam o céu da boca áspero, os dentes embotados e a língua com uma acidez e um ardor que fazem perder o paladar. Isaías compõe este poema em meio às festas do início do outono, período da colheita das uvas, na exata quadra histórica em que a Assíria ameaçava invadir Israel, que em pouco tempo seria deportado para outras regiões.’ E então que Deus cobra dos hebreus todos os benefícios de que foram objeto, dizendo: “O que poderia Eu ter feito a mais por minha vinha e não fiz? [...] Pois bem, a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá sua dileta plantação; eu esperava deles frutos de justiça — e eis injustiça; esperava obras de bondade — e eis iniquidade” (Is 5, 4.7).
Quando temos um ente querido sobre o qual deitamos rios de benevolência, embora o façamos com desinteresse, sem visar a reciprocidade, o instinto de sociabilidade pede de algum modo uma devolução. E, em consequência, nada há de mais duro que sermos retribuídos com o mal. E uma das provas mais terríveis e dolorosas que existem!
Deus amou seus eleitos de uma maneira extraordinária e queria ver florescer a santidade entre eles, porém só Lhe deram os amargos frutos do pecado. E assim como os grãos de sal se dissolvem à medida que são acrescentados a um recipiente com água, até um ponto exato de saturação em que se cristaliza no fundo, ou como um pai tem paciência com o filho desviado até que este ultrapasse os limites e provoque a sua cólera, também Deus decide, em certo momento, castigar o povo rebelde.
A essa punição alude o Salmo Responsorial: “Por que razão vós destruístes sua cerca, para que todos os passantes a vindimem, o javali da mata virgem a devaste, e os animais do descampado nela pastem?” (51 79, 13-14). Era o que acontecia aos hebreus ao longo dos séculos: quando a ingratidão atingia um auge, Deus deixava cair a cerca e os animais invadiam e arrasavam a vinha, ou seja, Israel era dominado pelos pagãos que o rodeavam, e desgraças sem conta lhe eram infligidas para que sentisse que com suas próprias forças não era nada, e só se desenvolvia graças a um dom divino. E conclui o salmista, pedindo auxílio: “Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos céus e observai. Visitai a vossa vinha e protegei-a! Foi a vossa mão direita que a plantou; protegei-a, e ao rebento que firmastes! E nunca mais vos deixaremos, Senhor Deus! Dai-nos vida, e louvaremos vosso nome! Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo, e sobre nós iluminai a vossa face! Se voltardes para nós, seremos salvos!” (Sl 79, 15-16.19-20).

Ambos os textos do Antigo Testamento são complemento ao Evangelho, o qual é muito mais profundo e rico em significado.
II – A VINHA, SEU DONO E OS VINHATEIROS HOMICIDAS
A passagem apresentada neste 27º Domingo do Tempo Comum faz parte da pregação de Nosso Senhor nos últimos dias de sua vida mortal, na terça-feira da Semana Santa. Após a entrada triunfal em Jerusalém, no Domingo de Ramos, a luta contra aqueles que tramavam o deicídio tornou-se mais acirrada, a começar pela expulsão dos vendilhões do Templo, prosseguindo com uma série de enfrentamentos públicos, nos quais resplandeceu a divindade de Cristo. São Mateus se distingue dos demais evangelistas pela precisão com que registra toda a contenda, que terá seu auge no capítulo 23.
CONTINUA NO PRÓXIMO POST.

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