Tríduo Pascal

domingo, 21 de dezembro de 2014

Comentário ao Evangelho – Natal do Senhor – Ano B

Comentário ao Evangelho – Natal do Senhor – Ano B - Jo 1,1-18
Evangelho de natal   
“O Verbo fez-Se carne, e habitou entre nós”
1 No princípio existia o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2 Estava no princípio em Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por Ele; e sem Ele nada foi feito. 4 N’Ele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; 5 e a luz resplandeceu nas trevas, mas as trevas não O receberam.
6 Apareceu um homem enviado por Deus que se chamava João.
7 Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. 8 Não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 9 O Verbo era a luz verdadeira, que vindo a este mundo ilumina todo o homem. 10 Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, mas o mundo não O conheceu.
11 Veio para o que era seu, e os seus não O receberam. 12 Mas a todos os que O receberam, àqueles que creem no seu nome, deu poder de se tornarem filhos de Deus; 13 eles que não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
14 E o Verbo fez-Se carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória como de Filho Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. 15 João dá testemunho d’Ele e clama: ‘Este era Aquele de quem eu disse: O que há vir depois de mim é mais do que eu, porque existia antes de mim’.
16 Todos nós participamos da sua plenitude, e recebemos graça sobre graça; 17 porque a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade foram trazidas por Jesus Cristo. 18 Ninguém jamais viu a Deus; o Unigênito de Deus, que está no seio do Pai, Ele mesmo é que O deu a conhecer (Jo 1,1-18) .
“Sereis como deuses”
Que conseqüências traz para o mundo, e para cada um de nós, esse Menino que contemplamos numa manjedoura? Entre outras, a de colocar-nos numa alternativa: ou deixar-nos deificar por Ele, ou frustrada e orgulhosamente tentarmos nos sentar no trono de Deus por nossas próprias forças.
I – “Hoje vos nasceu um Salvador”
Em meio à penumbra, causa uma certa pena considerar a pobreza na qual repousa um belíssimo Menino. Seu berço não é senão uma simples e rústica manjedoura, desgastada pelo longo uso de incontáveis animais. Meras palhas fazem as vezes de seu colchão, um complemento da humilde faixa que O envolve.
É noite de inverno e ali estão também um boi e um burro para O aquecerem, pois o recinto, constituído de pedras brutas, mantém o frio e a umidade próprios a essa estação do ano. Se, ao visitarmos um palácio, deparássemos com semelhante cena, ela nos pareceria aberrante; entretanto, a realidade é ainda mais chocante, pois ela se passa numa agreste, inóspita e isolada gruta.
Mas quem é esse Menino nascido, assim, em condições tão miseráveis?

Para bem sabê-lo, bastaria afastarmo-nos dessa gruta e percorrermos um pouco as colinas de Belém, onde encontraríamos alguns pastores exultantes de alegria, justamente à procura desse mesmo Menino. Entre múltiplas e emocionadas exclamações, eles nos diriam: “Apareceu-nos um Anjo todo refulgente de glória; ao se aproximar de nós, essa refulgência também nos cercou. Tivemos um grande medo, mas ele nos tranqüilizou afirmando-nos que nos visitava para transmitir-nos uma notícia inédita. Na noite de hoje nasceu aqui próximo, na cidade de Davi, um Salvador. Ele é o Cristo Senhor. O Anjo nos disse que o sinal para reconhecermos bem o Menino será encontrá-Lo envolto em faixas e posto numa manjedoura. E logo depois esse Anjo subiu e se juntou a muitos e muitos outros, cantando num magnífico coro: ‘Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens, objeto da boa vontade de Deus’. E por isso estamos indo a caminho de Belém para ver o que aconteceu” (1).
E assim poderíamos retornar à Gruta para adorar o Senhor, o Rei, o Cristo Jesus. Ali reveríamos Maria e José, silenciosos e penetrados de indizível piedade, devoção, enlevo e ternura. Em imaginação, ajoelhemo-nos também e deixemo-nos penetrar por essa atmosfera de graças e bênçãos oriundas do Divino Infante.
Contemplemos sua fisionomia toda feita de paz, serenidade e brilho. Seu sorriso é cativante e seu olhar cheio de sabedoria. Ele é absolutamente incomum. Sua pele é incomparavelmente superior ao marfim, e mais suave que o arminho. Sua constituição física é perfeita, as mãos, os bracinhos, as pernas, os pezinhos configuram a mais bela obra de arte jamais vista. Tudo n’Ele é tão bem distribuído que nem sequer a inteligência angélica seria capaz de imaginá-Lo. Ele move seus membros com tanta elegância, distinção e nobreza que, por vezes, esquecemos tratar-se de um bebê. Chama-nos a atenção sua enorme semelhança com a Mãe.
A essa altura de nossa contemplação admirativa, todos os aspectos de pobreza e miséria se evanesceram de nosso horizonte. Vemos agora o esperado dos Patriarcas, dos Profetas e dos Reis, Quem, muito antes de nascer, já havia sido anunciado como Emanuel, “Deus conosco” (Is 7, 14), “Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz” (Is 9, 5). N’Ele se concentra um altíssimo mistério de sabedoria e misericórdia, conjugado com a mais alta e inesperada glorificação da natureza humana.
E nós nos recordamos das palavras de Isaías: “Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho...” (Is 7,14).
Séculos mais tarde, sobre esse nascimento, comentaria São Bernardo: “Convinha a um Deus nascer de uma Virgem, e uma Virgem só podia conceber um Deus” (2).
II – O homem arde em sede de infinito
O Natal é uma poderosa lição para nós, neste início de milênio todo perpassado de igualitarismo. Desde a saída de nossos primeiros pais do Paraíso, o orgulho humano — vício traiçoeiro e insaciável, paralelo ao non serviam de Lúcifer — sempre teve dificuldade de tolerar uma autoridade sobre si. Quando de todo consentido, leva sua vítima, num primeiro lance, a desejar uma absoluta igualdade na distribuição dos bens, condições de existência, dons, etc. E ladinamente esconde atrás de si o desejo de ser deus, rei da criação, e de dispor desta ao seu bel-prazer. Por isso o homem orgulhoso busca sem descanso o domínio sobre todos os seres que o cercam.
O delírio de ser igual a Deus, raiz da ruína humana
Essa ambição insensata, repercutindo o grito de revolta no Céu Empíreo, foi a causa do primeiro pecado sobre a terra. A serpente não encontrou melhor argumento para levar Eva à desobediência do que prometer-lhe a igualdade com Deus: “E sereis como deuses...” (Gn 3,5). Atraída por tão grande promessa, Eva não hesitou. Percebe-se, pela descrição do Gênesis, que dentro da alma ainda inocente da mãe do gênero humano, o sonho de ser “como deus” despertou forte apetência. Eis aí a recôndita origem de nossa descida a esta terra de exílio.
Não tardou muito para Deus ver “que a maldade dos homens era grande na terra, e que todos os pensamentos do seu coração estavam continuamente voltados para o mal” (Gn 6, 5). Mas o dilúvio não corrigiu a humanidade: em pouco tempo, o homem quis construir uma torre que atingisse o céu (3). E nem sequer o castigo da confusão das línguas foi suficiente para cauterizar o delírio de ser igual a Deus. Tanto em Roma quanto na Pérsia, como na Síria, não faltaram tiranos que se fizessem adorar, construindo templos para obrigar seus semelhantes a lhes prestarem culto de latria.
Se tempo e espaço não nos faltassem, poderíamos fazer desfilar, em incontáveis páginas, as insensatezes cometidas pelos homens ao longo da História, em busca dessa usurpação do trono de Deus.
Mas não é necessário remontarmos ao passado distante para analisar essa insensata tendência. Basta abrirmos os jornais ou revistas, ligarmos a TV ou o rádio, ou entrarmos em algum ambiente de hoje em dia para avaliarmos uma das principais causas da impiedade hodierna.
Os homens vivem como se Deus não existisse; o ateísmo prático tomou conta da face da terra. Embora pouca gente afirme que não acredita em Deus, nega-se — através dos sistemas de vida, dos modos de ser e dos costumes — a existência d’Ele. Perdeu-se o senso do ridículo relativo ao auto-elogio. Onde encontrar alguém que só fale de si raramente? A egolatria atingiu extremos inimagináveis: a repetição do “eu... eu... eu...” é o centro de todas as conversas e preocupações. Assistimos de mãos atadas ao enterro de todo e qualquer idealismo, dos valores mais altos. É por isso que a mesma frustração que se generalizou por ocasião do dilúvio, ou após a decepção causada pela mal-sucedida Torre de Babel, percorre a humanidade deste terceiro milênio, levando a prognosticar que, por exemplo, a depressão nervosa se tornará a doença mais comum dentro em breve. Constará nos anais da História que todos os males de nossa atual existência se devem ao fato de os homens não terem querido dobrar os joelhos diante de Deus, por desejarem ardentemente ocupar seu trono.
Há um modo de aplacar nossa sede de infinito
Para cortar pela raiz os pecados que hoje por toda parte se cometem, bastaria as almas se tornarem receptivas à mensagem que, de dentro das palhas do Presépio, nos traz o Menino-Deus.
A sede de infinito arde em chamas dentro de nossa vontade, mas não há repouso verdadeiro para nós fora de Deus, como afirmava Santo Agostinho. E foi Ele próprio quem criou esse anseio, para nos facilitar a procura do Absoluto. Entretanto, jamais conseguiremos atingir essa plenitude, à qual tão fortemente aspiramos, se estivermos apoiados exclusivamente em nossas forças. É um paradoxo, diria alguém. Por que terá querido Deus acender labaredas de desejos irrealizáveis em nossos pobres corações, uma vez que não temos meios para realizá-los? Tratar-se-á de uma atitude pouco ou nada paternal d’Ele?
Jamais! Deus é a Bondade em substância. Ele quer muito nos fazer “deuses”... não através de uma orgulhosa e igualitária revolução de nossa parte, mas por meio da humildade, submissão e amor. Essa difusão exuberante do bem, nós a constatamos até na própria obra da criação. O sol não se cansa de nos enviar seu calor; as águas de nos fornecerem os peixes; a terra, seus frutos, etc. E sempre de forma superabundante. São seres minerais, vegetais, animais que, se fossem passíveis de felicidade, exultariam de entregar-se ao serviço dos homens. E esse não é senão um pálido reflexo da infinita bondade do Criador, que para resgatarnos do pecado e reconciliar-nos com Ele, resolveu que seu Verbo Se encarnaria, entregando sua vida até a última gota de sangue: “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).
Eis aí a solução de um problema de milênios: Deus realiza o que por nossas puras forças era impossível. Jamais poderíamos nos igualar a Deus por nossos próprios meios, por isso Ele mesmo se reveste de nossa carne e nasce Divino Infante: Deus é Homem, e, n’Ele, o homem é Deus!
É este o “magnum mysterium” que os coros cantam na noite de Natal:
O magnum mystérium, et admirábile sacraméntum, ut animália vidérint Dóminum natum, iacéntem in praesépio: Beáta Virgo, cuius víscera meruérunt portáre Dóminum Iesum Christum. Allelúia.
Ó grande mistério e admirável sacramento, os animais verem o Senhor nascido, deitado no presépio. Bem-Aventurada a Virgem cujas entranhas mereceram trazer o Senhor Jesus Cristo. Aleluia.
Tão extraordinária é a magnitude desse acontecimento que constitui um dos principais mistérios de nossa fé.
O poder de nos tornarmos filhos de Deus
E essa maravilha não produz seus efeitos apenas nos restritos limites da manjedoura ou da gruta de Belém; eles chegam até nós. Entremos em qualquer igreja e aproximemo-nos do batistério. Ali se encontrará, talvez, uma criança aguardando o miraculoso momento de renascer pela água. O pecado e as trevas são sua herança, a maldição de Deus a acompanha. Ao lhe ser ministrado o Sacramento, a graça a pervade por inteiro, as virtudes e os dons se lhe instalam na alma, e ela, que era até então mera criatura, torna-se filha de Deus, tabernáculo vivo da Santíssima Trindade, herdeira do Céu. Numa palavra, ela é divinizada: “Todos nós participamos da sua plenitude, e recebemos graça sobre graça; porque a Lei nos foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade foram trazidas por Jesus Cristo” (Jo 1, 16-17).
Mas até onde chega essa “plenitude de graça”? O Evangelho de hoje nos responde: “Mas a todos os que O receberam, àqueles que creem no seu nome, deu poder de se tornarem filhos de Deus; eles que não nasceram do sangue, nem na vontade da carne, nem na vontade do homem, mas de Deus” (vv 12-13).
O renomado teólogo do século passado, Frei Antonio Royo Marín OP, assim se expressa sobre essa matéria: “Em virtude desse enxerto divino, a alma se torna participante da própria vida de Deus. Trata-se de uma verdadeira geração espiritual, um nascimento sobrenatural que imita a geração natural, e lembra, por analogia, a geração eterna do Verbo de Deus. Em uma palavra: como diz expressamente o evangelista São João, a graça santificante não nos dá apenas o direito de nos chamarmos ‘filhos de Deus’, mas em realidade nos faz tais: ‘Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de verdade’ (1 Jo 3, 1). Inefável maravilha que pareceria incrível se não constasse em termos explícitos na divina revelação!” (4).
Ele Se fez igual a nós para tornar-nos iguais a Ele
E estendendo-se mais sobre o mesmo assunto, o mencionado teólogo, de saudosa memória, chega a afirmar: “A dignidade de uma alma em graça é tão grande que diante dela se desvanecem como o fumo todas as grandezas da terra. Que significa ser nobre ou rei ante um mendigo coberto de farrapos, mas que leva em sua alma o infinito tesouro da graça santificante? Todas as grandezas da terra não passam de nada e miséria, dado que logo terminarão com a morte. A grandeza de uma alma em graça, ao contrário, ultrapassa infinitamente as fronteiras do tempo e a esfera de todo o universo criado, para alcançar em seu vôo de águia Deus mesmo na sua própria razão de divindade, ou seja, tornando-se semelhante a Ele tal como é em Si mesmo. Por isso, a menor participação da graça santificante vale infinitamente mais que a criação universal inteira, ou seja, que todo o conjunto dos seres criados por Deus que existiram, existem ou existirão até o fim dos séculos.
“São Tomás não vacila em escrever: ‘O bem sobrenatural de um só indivíduo supera e está por cima do bem natural de todo o universo: ‘Bonum gratiae unius maius est quam bonum naturae totus universi’ (I-II, 113, 9 ad 2)” (5).
Ele Se fez um de nós, igual a nós, para que pudéssemos ser d’Ele, iguais a Ele. É possível dar à criatura humana bem maior? Não, evidentemente. Por isso devemos empreender todo e qualquer esforço para evitar uma revolta contra o Menino que adoramos na noite de Natal. É indispensável, dentro dos limites de uma santa reciprocidade, entregarmo-nos inteiramente a Ele. Aceitemos com entusiasmo o convite que Ele nos faz, amemos a perfeição, abracemos a via aqui indicada e sejamos tais como Ele é. Possamos, assim, gozar da felicidade eterna.
Compete-nos escolher: por Cristo ou contra Cristo
Entretanto, por incrível que pareça, esse convite foi, é e será rejeitado por muitos, levando-os à perdição. Porém, por sua aceitação, um grande número alcançará, em glória, a ressurreição: “Este Menino está posto para ruína e ressurreição de muitos em Israel, e para ser sinal de contradição” (Lc 2, 34). Como se poderia explicar tão imenso paradoxo? Este Menino dirá mais tarde, ao longo de sua vida pública, que veio para salvar (6). Por que então profetizou o velho Simeão que Ele era um “sinal de contradição”?
Não é muito difícil desfazer essa perplexidade se nos detivermos na afirmação de Nosso Senhor no Evangelho: “Quem não está comigo, está contra Mim” (Lc 11, 23). Há aqui uma clara referência aos dois únicos partidos existentes no mundo: os de Cristo e os contrários a Cristo. Ele não nos fala de uma terceira posição: “non datur tertius”. Ou se é por Cristo, ou contra Cristo. Enquanto o Verbo não se encarnara, ainda não tinha havido uma clara manifestação da Verdade, do Bem e do Belo de forma indiscutível. A partir do Nascimento em Belém, foi destruída a possibilidade da indiferença em face de Deus, pois ali se encontrava o próprio Deus feito Homem. Diante de tal esplendor, ou nós nos entregamos de corpo e alma, ou teremos abraçado a oposição. Com efeito, não querer ser divinizado pelo auxílio da graça, deixar-se levar pelo gozo fruitivo e passageiro do pecado, estabelecendo-se estavelmente nessa via, é tornar-se inimigo de Cristo.
A renúncia a ser deus, ninguém a faz. Uns são do partido de Cristo e amam, na humildade de sua contingência, essa divinização. Outros a ambicionam por suas próprias forças e a querem atingir, em sua orgulhosa pretensão, julgando-se seres em evolução rumo a se transformarem em necessários e absolutos.
Neste mundo atual, no qual é grande a difusão dos vícios, crimes e pecados, nós nos perguntamos: quem será de Cristo na sua integridade?
Essa interrogação tem todo o propósito, uma vez que o Evangelho de hoje nos diz: “Veio para o que era seu, e os seus não O receberam” (v.11). Será que o mundo de hoje recebe esse Menino, o qual substancialmente é a Inocência, a Pureza e a Retidão? Recebê-Lo significa aderir a Ele, compreendendo-O no amor e na prática da Lei, pois não basta dizer “Senhor”, é preciso fazer a vontade do Pai (7). Ora, o orgulho e a sensualidade, que num verdadeiro processo vêm corroendo a humanidade há séculos, estão agora produzindo seus mais amargos e maléficos frutos num mundo que assiste abobado e indiferente ao desaparecimento da família, da inocência, da castidade e de tantas outras virtudes. Os piores horrores morais vão sendo oficializados por uma crescente cadeia de governos. A Lei de Deus vai sendo contestada e substituída por decretos humanos ateus, relativistas e ilícitos. As modas, num afã irrefreável de atingir o sonhado nudismo, preferem hoje o rasgado, o excêntrico e o sujo real ou aparente. A feiúra rouba o lugar da beleza, a maldade expulsa a doçura do convívio social, a mentira se ufana e despreza a verdade. Pode-se afirmar que este mundo recebe Jesus?
Seria sensato se o mundo atual interrogasse a História para saber como Deus se comporta com seus inimigos, com aqueles que abusam de sua misericórdia revoltando-se contra seus preceitos. Já no início da criação vemos o destino de Lúcifer e seus sequazes, ou as amargas conseqüências da desobediência de nossos primeiros pais. Diznos a Escritura que Deus começa por rir daqueles que O afrontam e termina por condená-los (8).
III – Jesus visa à salvação de todos
Quem, portanto, receberá esse Menino que nasce na noite de hoje? Os justos, homens e mulheres, que se mantêm fiéis à Lei, amantes da Verdade, do Bem e do Belo, aqueles que não dobram seus joelhos diante de Baal. Quantos serão eles? Não importa seu número. Serão poucos ou serão muitos, dia virá em que assistirão ao triunfo de Jesus em “sua glória, glória como de Filho Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (v. 14).
Ele não deseja a condenação de ninguém. Desde sua Encarnação sempre visou à salvação de todos, e essa é sua disposição na Manjedoura. É a malícia dos homens que O levará a gemer no Horto das Oliveiras, como a Se perguntar: “Quae utilitas in sanguine meo?” É o mau uso que fazemos de nosso livre-arbítrio que nos lança à infelicidade eterna.
Assim, “a todos os que O receberam, àqueles que creem no seu nome, deu poder de se tornarem filhos de Deus” (v.12). Esse será o verdadeiro sentido das palavras de Nossa Senhora em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.
1) Cf. Lc 2, 8-15.
2 ) Serm. II de Adventu.
3 ) Cf. Gn 11, 4-9.
4 ) Somos hijos de Dios, BAC, Madrid, 1977, p. 21.
5 ) Id. p.18.
6 ) Cf. Jo 12, 46-47.
7 ) Cf. Mt 7, 21.

8 ) Cf. Sl 2.

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