Tríduo Pascal

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

EVANGELHO IV DOMINGO DO ADVENTO - ANO B - Lc 1, 26-38

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO - IV DOMINGO DO ADVENTO
Naquele tempo, 26 O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27a uma Virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria.
280 Anjo entrou onde Ela estava e disse: ‘Alegra-Te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”
29 Maria ficou perturbada com essas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação.
30 0 Anjo, então, disse-Lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. ‘ Eis que conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. 32 Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai Davi. 33 Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu Reino não terá fim”.
34 Maria perguntou ao Anjo: “Como acontecerá Isso, se Eu não conheço homem algum?”
35 Anjo respondeu: “O Espírito virá sobre Ti, e o poder do Altíssimo Te cobrirá com sua sombra. Por isso, o Menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus.
36 Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37 porque para Deus nada é impossível”.
38 Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em Mim segundo a tua palavra!” E o Anjo retirou-se (Lc 1, 26-38).
O pórtico de entrada do Salvador: Maria e sua virgindade
Por seu extraordinário amor à virgindade, Maria Santíssima mereceu ser a Mãe de Deus, mostrando para os séculos futuros quanto esta virtude é fecunda e confere força e coragem, a ponto de plasmar heróis.
I - TODO MOVIMENTO TENDE AO REPOUSO
É inerente ao homem, concebido no pecado, padecer cansaço; o lado animal de nossa natureza facilmente se fatiga. Depois de nossos afazeres diários, sejam trabalhos ou estudos, chegada a noite temos uma necessidade vital de repousar, com maior razão se acordamos cedo. O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, isento do pecado original e de qualquer outra mancha, quis assumir certas deficiências da natureza humana1 e Se cansava, como no episódio em que O encontramos dormindo na barca (cf. Mt 8, 23-27) ou quando está sentado à beira do poço de Jacó (cf. Jo 4, 6).
A fadiga — esta realidade cotidiana — nos traz à lembrança a consideração de São Tomás de Aquino,2 feita com tanta precisão e sabedoria, de que todo movimento tende ao repouso.
Quantas vezes observamos os jovens se agitando com velocidade e energia, de um lado para o outro! Mas ao crescer e maturar eles adquirem o desejo do sossego e da tranquilidade. O espírito humano busca a paz, em meio à movimentação intensa  a que é submetido no decurso da vida. Assim, todos nós aspiramos à estabilidade e à quietude e, por isso, agrada-nos possuir uma propriedade e nela construir uma casa, na qual possamos morar sem nenhuma aflição.
Com frequência os homens têm também a preocupação de fazer perdurar sua memória, deixando neste mundo algo concreto que cruze os tempos e se mantenha através das gerações. Neste sentido, dentre os povos da Antiguidade destacam-se os egípcios: como a Providência deu a teologia e a Religião verdadeira aos judeus, a filosofia aos gregos e o direito aos romanos, àqueles o Senhor havia concedido a ciência. A maior prova dos conhecimentos excelentes que eles cultivavam e do empenho em prolongar seu renome no futuro são as pirâmides, as quais, podendo datar até de 2500 a.C., surpreendem ainda em nossos dias, continuando a ser um mistério seu método de edificação.

Nosso Senhor não erigiu edifícios
Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo contrário, não erigiu edifício algum, nem sequer tinha uma casa, conforme declarou: “As
raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 58). Entretanto, Ele marcou a História e a dividiu em duas partes!
Ele é o Homem-Deus, em quem está o critério absoluto, o  paradigma de tudo, inclusive de como perpetuar uma obra. O que Ele fez? Legou-nos suas palavras — mais tarde anotadas por outros —, é verdade, mas sobretudo recrutou discípulos, formou Apóstolos e os transformou em varões unidos a Deus, O monumento por Ele construído não é material, mas é próprio a permanecer e atravessar os séculos, porque está fundamentado na sua Aliança: “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16, 18).
Israel busca a estabilidade depois de longos e conturbados séculos
Este anelo humano por uma situação segura e estável é exatamente o que transparece na primeira leitura (II Sm 7, 1-5.8b-12.14a.16) deste 49 Domingo do Advento. No decorrer de sua conturbada história, os hebreus sofreram sempre uma tremenda instabilidade: já em seus primórdios, devido a uma grande fome em toda a terra, o patriarca Jacó desceu com a família ao Egito, onde seu filho José era administrador (cf. Gn 47, 1-6), e ali seus descendentes se multiplicaram. Contudo, quando ascendeu ao trono um faraó “que não tinha conhecido José” (Ex 1, 8), impôs-lhes “a mais dura servidão” (Ex 1, 13), pois temia que os filhos de Israel, fortes e numerosos, se unissem aos inimigos do Egito, ao mesmo tempo que percebia constituírem eles uma preciosa mão de obra para o seu reino (cf. Ex 1, 10; 14, 5). Oprimidos e reduzidos à escravidão, viveram em terras egípcias mais de quatro séculos,3 até, em certo momento, surgir Moisés, que por ordem divina os fez sair do Egito e transpor o Mar Vermelho a pé enxuto, enquanto as tropas do Faraó foram deglutidas pelas águas. A partir daí os israelitas começaram a vaguear pelo deserto e nele erraram durante quarenta anos, sem encontrar sua meta, por terem se revoltado contra o Senhor (cf. Nm 14, 32-35). Quem segue a narrativa sagrada utilizando um mapa comprova, com aflição, o percurso que eles fizeram...
Ao chegarem finalmente à Terra Prometida, inúmeras foram as dificuldades e incertezas que lhes coube enfrentar, até ser suscitado Davi, o segundo rei de Israel. Davi sentia o desígnio de Deus sobre si e sabia-se galardoado por sua dadivosidade infinita. Conforme o Senhor lhe mandara dizer, deixou o pastoreio para ser chefe do povo eleito, como consta na primeira leitura de hoje (cf. II Sm 7, 8b). Também ele estava à procura da tranquilidade e, com o auxílio divino, conseguiu livrar-se de todos os inimigos que o cercavam e instalar-se em sua moradia. Mas sendo um homem justo, que mantinha sua atenção voltada para as coisas do alto, queria para Deus mais do que para si e, por isso, disse ao profeta Natã: “Vê: eu resido num palácio de cedro, e a Arca de Deus está alojada numa tenda!” (II Sm 7, 2).
Com efeito, não havia uma construção sólida para acolher a Arca da Aliança, e Davi tinha anseio de edificar um Templo — e não mais uma tenda, como a que até então servira para abrigá-la —, a fim de manifestar a Deus sua gratidão, ou seja, retribuir tudo o que d’Ele recebera, dando estabilidade àquela figura de Deus que, desde os tempos de Moisés, acompanhava constantemente o povo.
A Arca era tão sagrada que só os sacerdotes podiam tocá-la. Qualquer outro que pusesse a mão sobre ela morreria no mesmo instante. Foi o que aconteceu quando Davi mandou trazer a Arca de Baalé de Judá para sua cidade: os bois que puxavam o carro onde ela estava escorregaram e a Arca ia cair ao chão. Certo homem de nome Oza, para evitar que isso ocorresse, a susteve no ar, mas logo caiu morto, ferido pela cólera de Deus (cf. II Sm 6, 1-7). A Arca era um sinal da Aliança de Deus com Israel, um penhor de que o Senhor cumpriria todas as promessas; ela simbolizava, enfim, a presença de Deus entre os homens.
Uma promessa que superava a generosidade de Davi
Ante a proposta de Davi, Natã aconselhou-o a agir de acordo com o seu coração (cf. II Sm 7, 3); mas, naquela noite, o Senhor comunicou-Se ao profeta, revelando que Davi não levaria a cabo seu intento. Sendo Deus o dono absoluto de tudo, pode por Si mesmo construir um templo para sua glória, sem necessidade alguma do concurso das criaturas. Todavia, vendo o bom desejo de Davi, dar-lhe-ia muito mais que um templo ou um palácio; Ele faria uma casa muito especial para Davi, confirmando sua realeza e prometendo-lhe descendência: “Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então suscitarei, depois  de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. Eu serei para ele um Pai e ele será para Mim um filho. Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de Mim, e teu trono será firme para sempre” (II Sm 7, 12.14a.16).
A Davi, que queria levantar um edifício material,Deus  mostrava como a perenidade de uma obra provém da Aliança feita com Ele. Sem ela, qualquer ação, ainda que realizada com inteligência, perspicácia e esperteza humana, não atravessa os séculos. E preciso, porém, jamais abandonar esta Aliança de forma alguma, porque eia é considerada pela Providência com carinho e santo ciúme, segundo lemos no Salmo Responsorial do dia: “Guardarei eternamente para ele a minha graça e com ele firmarei minha Aliança indissolúvel” (Sl 88, 29). Tão forte era a relação existente entre Deus e Davi, que Ele, conhecendo tudo como presente, contemplava em Davi — como já vira desde toda eternidade — o próprio Salvador, nascido da sua estirpe após inúmeras gerações.
É justamente nesta particular casa e neste descendente prometidos a Davi que se centra o Evangelho do último Domingo do Advento, numa Liturgia rica em imagens preparatórias para o Natal que se aproxima.
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