Tríduo Pascal

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Evangelho XXXIIII Domingo do Tempo Comum - Ano B -Mc 13, 24-32

Continuação dos comentários ao Evangelho 33º Domingo do Tempo Comum - Ano B -Mc 13, 24-32
O tríplice Juízo de Cristo
Análoga reação se verifica no tocante aos outros Novíssimos. Assim, a Idade Média considerou com dor e espanto as perspectivas da Liturgia de hoje, ressaltando o sentimento de culpa diante de Deus, como resultado dos incontáveis pecados e, consequentemente, a enorme prestação de contas a ser feita, no dia do Juízo. Na realidade, a divina obra da Redenção estará inacabada enquanto não forem julgados todos os homens.
Segundo São Tomás de Aquino, o Juízo é tríplice:
1. Para governo dos homens
“A vida humana é regulada pelo justo juízo de Deus, pois é Ele quem julga todos os homens. Não se deve pôr em dúvida que esse juízo, pelo qual são governados os homens neste mundo, faz parte também do poder judicial de Cristo, já que, segundo sua natureza humana, está sentado à direita de Deus enquanto tendo recebido d’Ele o poder judicial, o qual exerce ainda agora, antes de aparecer visivelmente.”
 2. Juízo Particular
“Há outro juízo de Deus em virtude do qual se dará à alma de cada um, após a morte, o que ela mereceu. Os justos mortos permanecem em Cristo, os pecadores são sepultados no inferno. Não se pense que essa discriminação é feita sem juízo de Deus, ou que esse juízo não é próprio ao poder de Cristo.”
3. Juízo Universal
“Como a recompensa dos homens compreende não apenas os bens da alma, mas também os do corpo que a alma reassume pela ressurreição, e como toda retribuição requer um juízo, é necessário estabelecer outro juízo no qual se retribua aos homens segundo suas obras, não somente na alma, mas também no corpo. Esse juízo compete a Cristo para que, assim como Ele morreu por nós, ressuscitou e subiu aos Céus, assim também faça ressuscitar com seu poder os corpos de nossa vileza e os assuma com seu Corpo glorioso a fim de levá-los ao Céu, onde Ele nos precedeu, abrindo diante de nós o caminho. Ora, a ressurreição será no fim do mundo, e de todos os homens ao mesmo tempo. Portanto, esse juízo será também comum a todos, e final” (2).
A unidade do Ano Litúrgico

Assim, a evocação dos últimos acontecimentos que devem encerrar a obra redentora de Cristo Jesus é convenientemente celebrada neste 33º Domingo do Tempo Comum. Da mesma forma deverá iniciar-se o Ano Litúrgico seguinte, pois deseja a
Santa Igreja tornar presente a seus fiéis, no começo de um ciclo e no término de outro, o quanto esse todo constitui uma só unidade. Não podemos julgar-nos meros indivíduos sem a menor relação com toda a ordem e história do universo. Enquanto partes integrantes dele, devemos ter consciência de nossa responsabilidade em face da obra da Criação, no seu todo.
Os mistérios de nossa Redenção que nos são apresentados em cada ciclo litúrgico partem da contemplação do Juízo Final e nessa mesma perspectiva se concluem.
Dupla perspectiva de esperança e temor
Como devemos nós encarar os Novíssimos? Com animada esperança, ou com aflito temor? Se bem que esteja presente nesta Liturgia uma clara nota de esperança, parece ser a consideração da terribilidade do Juízo a mais apropriada. A primeira Leitura deste domingo foi escolhida com muito discernimento, e suas palavras nos colocam diante desta dupla perspectiva, a de esperança e a de temor: “Será uma época de tal desolação, como jamais houve igual desde que as nações existem (...) serão salvos todos aqueles que se acharem inscritos no livro. (...) despertarão, uns para uma vida eterna, outros para a ignomínia, a infâmia eterna. (...) Os que tiverem introduzido muitos (nos caminhos) da justiça luzirão como as estrelas, com um perpétuo resplendor” (Dn 12, 1-3).
Por essas palavras, percebe-se quanto a nota tônica da terribilidade do Juízo Final estimula o temor de Deus, tão benfazejo para a vida espiritual.
Harmonia entre misericórdia e justiça
Ao longo de todo o Ano Litúrgico, a Igreja nos leva pelas vias da bondade, do perdão e da confiança sem limites na divina misericórdia de Jesus. Os próprios Evangelhos transbordam de benquerença, à margem de algumas expressões enérgicas e fortes, mas o cerne é feito de suavidade, clemência e afeto, emanados do Sagrado Coração de Jesus. E se não fossem certas celebrações, seríamos levados a esquecer, por nosso relaxamento, a substancial Justiça de Deus. Ora, no curso desta vida, estamos sendo provados com vistas ao prêmio ou ao castigo eternos. Por isso, essas três Liturgias consecutivas nos estimulam, ademais, a sermos gratos a Deus pelos benefícios da Redenção, a fazermos um exame de consciência para analisarmos se temos ou não correspondido às inúmeras graças até aqui recebidas.

Eis algumas razões pelas quais o Ano Litúrgico se inicia e termina centrado na lembrança dos Novíssimos do homem.
II – Profecia Sobre a destruição de Jerusalém e sobre o fim dos tempos
O fim dos tempos
 24“Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, 25as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas.
O trecho escolhido para servir como Evangelho deste 33º Domingo vem precedido de uma detalhada revelação, feita por Jesus, a propósito dos últimos acontecimentos que deverão encerrar o curso dos tempos. Ao sair do Templo (cf. Mc 13, 1), Ele deixa estupefatos os discípulos, afirmando que daqueles edifícios não ficaria pedra sobre pedra. A partir dessa profecia, outras mais graves são proferidas por Jesus, nessa ocasião, delineando o terrível quadro do fim do mundo, como também o da destruição de Jerusalém. São os acontecimentos que constituem a “tribulação” referida no v. 24.
As palavras presentes nesses dois versículos devem ser tomadas ao pé da letra, se bem que elas não excluam também um sentido simbólico, inerente a tão catastróficos acontecimentos. Se não fossem uma descrição da realidade, não teriam sido objeto de expressões tão fortes, empregadas não só por Jesus, como também pelos Profetas: “Eis que virá o dia do Senhor, dia implacável, de furor e de cólera ardente, para reduzir a terra a um deserto, e dela exterminar os pecadores. Nem as estrelas do céu, nem suas constelações brilhantes, farão resplandecer sua luz; o sol se obscurecerá desde o nascer, e a lua já não enviará sua luz” (Is 13, 9-10). São Pedro assim escreve: “Os céus e a terra que agora existem são guardados pela mesma palavra divina e reservados para o fogo no dia do Juízo e da perdição dos ímpios” (2 Pd 3, 7).
Esse tremendo abalo produzido na ordem natural, conseqüência dos pecados da humanidade, como o será a queda das estrelas, produzirá um altíssimo grau de calor suficiente para derreter até os mais resistentes elementos (cf. 2 Pd 3, 10).
Insensibilidade do homem ante os perigos distantes
Todas essas profecias, porém, são consideradas pelos homens como algo muito distante e, talvez, irrealizável. Não é débil a força do unanimismo sobre nossa psicologia; somos levados a ter medo somente dos fatos diante dos quais todos tremem. Daí a reação dos contemporâneos de Noé, como também a dos habitantes de Jerusalém, próximo à sua queda.
Os prazeres lícitos da vida, e mais ainda os ilícitos, além do atual desenvolvimento tecnológico e do deus de todos os tempos — o dinheiro —, avassalam os corações e os inclinam a um forte desejo de que isso tudo jamais termine. Ora, nenhum argumento arrasta tanto ao erro quanto a persuasão da ansiedade; e ainda quando as evidências lhe demonstrem o contrário, prefere o homem viver um sonho ilusório, afastando para longe de si qualquer ideia que possa perturbar seu gozo da vida. Sua sofreguidão em deliciar-se com os bens deste mundo leva-o a querer prolongar ad aeternum a atual existência.
Em extremo oposto, Deus não Se faz guiar pelos nossos sonhos; assim como as águas do Dilúvio inundaram a terra, o Reino de Israel foi abalado em seus fundamentos e tantas nações foram aniquiladas ao longo da História, assim também a terra inteira perecerá num dilúvio de fogo, no fim do mundo.
Continua no próximo post

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