Tríduo Pascal

sábado, 11 de abril de 2015

Evangelho III – Domingo da Páscoa - Ano B - Lc 24, 35-48

Comentário ao Evangelho III – Domingo Da Páscoa
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
“E eles contaram também o que lhes tinha acontecido no caminho, e como O tinham reconhecido ao partir o pão. 36 Enquanto falavam nisto, apresentou-Se Jesus no meio deles e disse-lhes: 37 ‘A paz seja convosco!’. Mas eles, turbados e espantados, julgavam ver algum espírito. 38 Jesus disse-lhes: ‘Por que estais turbados, e por que se levantam dúvidas nos vossos corações? 39 Olhai para as Minhas mãos e os Meus pés, porque sou Eu mesmo; apalpai e vede, porque um espírito não tem carne, nem ossos, como vós vedes que Eu tenho’. 40 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. 41 Mas, estando eles, por causa da alegria, ainda sem querer acreditar e estupefatos, disse-lhes: 42 ‘Tendes alguma coisa que se coma?’. Eles apresentaram-Lhe uma posta de peixe assado. 43 Tendo-o tomado, comeu-o à vista deles. 44 Depois disse-lhes: ‘Isto é o que Eu vos dizia quando ainda estava convosco; que era necessário que se cumprisse tudo o que de Mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’. 45 Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras, 46 e disse-lhes: ‘Assim está escrito que o Cristo devia padecer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, 47 e que em Seu nome havia de ser pregado o arrependimento e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48 Vós sois as testemunhas dessas coisas’” (Lc 24, 35-48).
Cristo ressuscitou! Viva é nossa Fé!
A notícia da Ressurreição de Jesus despertou, no Cenáculo e no Sinédrio, um clima de febricitação. O tema era o mesmo, as testemunhas, porém, bem diferentes, e muito mais os destinatários dos relatos. O dogma da Ressurreição seria fundamentalíssimo para o futuro da Religião e era indispensável haver vários que comprovassem com solidez de declaração o terem visto Jesus vivo, nos dias logo posteriores à Sua morte.
I – Os Apóstolos e o sinédrio perante a ressurreição
A hipótese de que, tendo morrido Jesus, Seus discípulos roubaram e ocultaram Seu corpo, com o intuito de espalhar o boato de Sua Ressurreição, reaparece com frequência ao longo da História.
Originou-se ela momentos depois de o Salvador ter operado o grande milagre de retomar Sua vida humana em corpo glorioso. Seus adversários, aqueles mesmos que haviam planejado e exigido Sua morte, compraram o testemunho de soldados venais e — por temor e ódio — puseram em circulação essa hipótese (cf. Mt 28, 11-15).
Ainda nos dias de hoje, não é raro ouvir ecos dessa insolente zombaria.
O contrário de fanáticos e alucinados
Por outro lado, a ideia de considerar a Ressurreição do Senhor um mito nascido da alucinação sofrida por alguns poucos não esteve alheia aos próprios Apóstolos. Foi o que se deu quando ouviram a narração feita pelas Santas Mulheres após seu encontro com Jesus naquele “primeiro dia” (cf. Lc 24, 1-11).
Este mesmo fato comprova que os discípulos não podem ter sido os autores de uma fábula sobre esse milagre, pois a experiência nos mostra o quanto é em função de um grande desejo, ou de um grande temor, que o alucinado passa a ver miragens. Entretanto, a hipótese de que — por pura alucinação — foram os Apóstolos os autores do “mito” da Ressurreição do Senhor não deixou de circular por meio dos lábios e plumas de hereges, nestas ou naquelas épocas.
Na realidade, eles não haviam compreendido o alcance das afirmações do Divino Mestre sobre o que se passaria no terceiro dia após Sua morte e, portanto, nem chegaram a temer ou desejar a Ressurreição. E isso a tal ponto que não hesitaram em negar a veracidade da narração feita pelas Santas Mulheres. Ou seja, eles demonstraram estar bem no oposto da acusação de terem sido uns fanáticos e alucinados a propósito da Ressurreição, pois não aceitavam sequer a simples possibilidade de ela vir a se tornar efetiva. O exemplo máximo dessa impostação de espírito deu-se com São Tomé, o qual só se rendeu diante de um fato irrefutável: colocar o dedo nas adoráveis chagas de Jesus.
Ademais, negar a veracidade da Ressurreição, lançando a calúnia de ter sido ela uma invenção de alucinados, corresponderia, ipso facto, a reconhecer a existência de um milagre não muito menor: o da conquista e reforma do mundo, levada a cabo por um reduzido número de desvairados.
Domingo de Ressurreição no Cenáculo

quinta-feira, 9 de abril de 2015

EVANGELHO II DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B - Jo 20, 19 - 31

CONCLUSÃO DOS COMENTÁRIOS DE MONS. JOÃO CLÁ DIAS AO EVANGELHO DO 2º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B - Jo 20, 19 - 31
A bem-aventurança que nos cabe
29 Jesus lhe disse: “Acreditaste, por que Me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”
Estas últimas palavras do Divino Mestre a São Tomé constituem a bem-aventurança de todos aqueles que viriam depois e não teriam oportunidade de tocar naquelas santas chagas. Ou seja, aplicam-se inteiramente a nós.
Os Apóstolos, Santa Maria Madalena, Santa Marta, São Lázaro e muitos outros conviveram com Jesus ressuscitado e puderam contemplá-Lo em carne e osso, andando e conversando. Por conseguinte, para crerem n’Ele era preciso um esforço mínimo. Tinham mérito? Sim, porque a divindade permanecia oculta. Entretanto, mais mérito adquirimos nós quando, pronunciadas as palavras da Consagração, contemplamos as Espécies Eucarísticas e, apesar de continuarem elas com aparência de pão e de vinho, a fé, a esperança e a caridade nos asseguram que o pão e o vinho cederam lugar ao Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. Então, nos ajoelhamos e O adoramos. Assim, a este título nossa bem-aventurança é superior à deles!

quarta-feira, 8 de abril de 2015

EVANGELHO II DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B - Jo 20, 19 - 31

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS DE MONS. JOÃO CLÁ DIAS AO EVANGELHO DO 2º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B - Jo 20, 19 - 31

II - OS CONTRASTES DE UM ESPÍRITO POSITIVO
Tudo indica ter sido São Tomé um homem de espírito rebarbativo e convicto das próprias opiniões, e ao mesmo tempo muito positivo e categórico. Quando Nosso Senhor decidiu retornar à Judeia, a fim de atender a Lázaro que estava doente, os Apóstolos protestaram, cientes do risco ao qual Se expunha o Mestre, por aproximar-Se de Jerusalém. E foi São Tomé quem afirmou: “Vamos também nós, para morrermos com Ele” (Jo 11, 16)!
Em outras circunstâncias Tomé se mostrara cauto e objetivo, querendo conhecer as provas. Por exemplo, ao Jesus anunciar que “Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde Eu estou, também vós estejais. E vós conheceis o caminho para ir aonde vou” (Jo 14, 3-4), ele logo perguntou: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14, 5). Ora, estas reações são úteis, pois se não houvesse pessoas que, como Tomé, tivessem falta de intuição e precisassem apelar principalmente ao discurso da razão, muitos princípios ficariam sem explicitação. Se, naquela ocasião, Tomé não levantasse o problema, o Divino Mestre talvez não houvesse feito tão sublime revelação: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim” (Jo 14, 6). Desta forma, teve ele um papel importantíssimo no Colégio Apostólico, pedindo uma explicação racional daquilo que só se admite pela fé. Com isso contribuía para estabelecer as bases sobre as quais se ergueria mais tarde o edifício da teologia.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

EVANGELHO II DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B - Jo 20, 19 - 31

COMENTÁRIOS DE MONS. JOÃO CLÁ DIAS AO EVANGELHO DO 2º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B - Jo 20, 19 - 31
19 Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: "A paz esteja convosco".
20 Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.
21 Novamente, Jesus disse: "A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio".
22 E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23 A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos".
24 Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. 25 Os outros discípulos contaram-lhe depois: "Vimos o Senhor!"
Mas Tomé disse-lhes: "Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei".
26 Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: "A paz esteja convosco".
27 Depois disse a Tomé: "Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mais fiel".
28 Tomé respondeu: "Meu Senhor e meu Deus!"
29 Jesus lhe disse: "Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!"
30 Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. 31 Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome. (Jo 20, 19 - 31)
Crer,para depois amar
Da incredulidade a um sublime ato de adoração, quando constatou a Ressurreição do Senho as atitudes de São Tomé constituem valiosa instrução nafé para os homens do século XXI.
I – A CRENÇA NA RESSURREIÇÃO, FUNDAMENTO DA FÉ
A ressurreição não era tema fácil de tratar na época de Nosso Senhor, como também não o é ainda hoje. De fato, ele nos toca a fundo, pois, se considerássemos com seriedade o destino eterno, nossa vida seria outra e o mundo não estaria na presente situação de desvario.
Existiam naquele tempo escolas gregas cujos propugnadores, além de não acreditarem na ressurreição, sustentavam a tese de que a alma humana não era espiritual nem imortal. O resultado era o materialismo absoluto. Em Israel, os saduceus — partido constituído por pessoas da classe mais acomodada — haviam se abeberado nestas doutrinas filosóficas, como constatamos na célebre discussão deles com Jesus, a propósito da hipotética mulher casada sucessivamente com sete irmãos. O Salvador os refutou de uma forma belíssima, a ponto de causar admiração até em alguns escribas fariseus, os quais, sim, tinham fé na ressurreição (cf. Lc 20, 27-40).