A “justiça” dos fariseus
20 “Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não for maior
que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos
Céus”.
Os escribas e
fariseus conheciam perfeitamente a Lei e sabiam pesar cada ato em função dela.
Apresentavam-se como a “lei viva”, mas era justamente isto o que não se podia afirmar
deles.
Como já foi dito
acima, sua justiça fundava-se nas exterioridades. “Quanto ao repouso sabático,
haviam eles multiplicado as interdições, entrando nos mais ínfimos detalhes.
Sobre a questão das impurezas, deram livre curso à imaginação e acrescentaram à
legislação mosaica as mais minuciosas prescrições”.
Jesus nos
adverte aqui ser indispensável, para entrar no Reino dos Céus, praticar uma
virtude “maior” que a dos fariseus e mestres da Lei. Ou seja, não se prender às
exterioridades, nem fazer enganosas racionalizações, mas cumprir de fato em sua
integridade, amorosamente, os Dez Mandamentos.
Jesus condena a moral farisaica
Nos versículos
seguintes, Nosso Senhor utiliza várias vezes as expressões “Vós ouvistes...” e
“Eu vos digo...” para confrontar a moral de exterioridades, praticada pelos
fariseus, com a verdadeira moral. Cristo, Ele mesmo, é a Palavra eterna, posta
aqui em contraposição à palavra dos fariseus. A Lei antiga e imutável vai ser
levada agora até as últimas consequências, denunciando as interpretações
errôneas daqueles que se apresentavam diante do povo como “mestres” infalíveis.
Participação no pecado de homicídio
21Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás!
Quem matar será condenado pelo tribunal’.
22Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com
seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: ‘patife!’ será condenado
pelo tribunal; quem chamar o irmão de ‘tolo’ será condenado ao fogo do inferno.
23Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para
o altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
24deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o
teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta.
Os fariseus
consideravam o homicídio um pecado gravíssimo, mas não reputavam ser falta moral
encolerizar-se com o irmão, ou dizer-lhe toda espécie de desaforos.
Nosso Senhor
mostra-lhes que quem assim procede também será réu no dia do Juízo, pois, ao se
deixar levar deste modo pelo ódio, ele já encetou as vias conducentes ao
homicídio, participando em certa medida desse crime e merecendo por isso
análogo castigo.
Mais ainda.
Com sua palavra e exemplo, ensinou Jesus que na Nova Aliança o relacionamento entre
os homens deve, pelo contrário, pautar-se pelo respeito, consideração e estima de
forma a não dar ocasião a qualquer queixa recíproca.
Preparemo-nos para o dia do Juízo
25 “Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha
contigo para o tribunal. Senão o adversário te entregará ao juiz, o juiz te
entregará ao oficial de justiça, e tu serás jogado
na prisão. 26 Em verdade Eu te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o
último centavo”.
O “adversário”
de que fala Nosso Senhor neste versículo simboliza, sob certo prisma, Ele
mesmo: o Bem substancial do qual nos tornamos inimigos ao pecar. O mais
necessário e urgente, portanto, é procurar primeiro nos reconciliar com Ele,
reconhecendo as nossas faltas, pedindo perdão por elas e fazendo firme propósito
de doravante não nos desviarmos das retas vias do Redentor. Pois, cedo ou tarde,
terminará nossa peregrinação terrena e compareceremos diante do Supremo Juiz,
que pronunciará uma sentença justíssima e inapelável.
Se nesse dia
nosso divino Adversário ainda tiver algo a declarar contra nós, a dívida será saldada,
na melhor das hipóteses, no fogo do Purgatório, do qual não se sai sem pagar
até o último centavo.
Trata-se,
portanto, de agir com total integridade no caminho rumo ao derradeiro
julgamento. De nada valerão racionalizações com as quais burlamos nossa
consciência, porque jamais será possível ludibriar a Deus. Ele está dentro de
nós e nós estamos dentro d’Ele. Tudo se faz em sua presença, e todos os nossos
atos virão à tona no dia do Juízo Final para serem conhecidos pela humanidade e
pelos anjos.
Mons João Clá Dias -Texto extraído do livro O Inédito sobre os Evangelhos
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