Comentários ao
Evangelho XII Domingo do Tempo Comum – Ano C – Lc 9, 18-24
A cruz, quando inteiramente abraçada, nos configura
com Cristo
No auge da fama e da popularidade de Nosso Senhor, todos
esperam para breve sua aclamação como um líder político sem precedentes. Jesus,
porém, desfaz essa errônea expectativa com o anúncio de sua Paixão.
A TENTACÃO DA TERCEIRA POSIÇÃO
É difícil para o homem, no relacionamento com o
próximo ou com Deus, agir segundo as exigências de sua consciência, da moral e
da verdade. Tomar uma atitude decidida e definitiva constitui uma escolha
árdua, pois, por um lado, no interior da alma, clama a voz das más inclinações
decorrentes do pecado e, por outro, o convite à retidão, à perfeição e à
santidade feito pela graça. Optar por uma dessas solicitações acarreta sérias
consequências, surgindo a partir daí uma luta que continua durante toda a vida
até o momento do juízo particular, fato que explica a conhecida afirmação de
Jó: “a vida do homem sobre a Terra é uma luta” (7, 1). Não há uma idade a
partir da qual seja possível considerá-la encerrada; pelo contrário, as
batalhas espirituais tornam-se cada vez mais impetuosas com o passar do tempo.
Comprova-o a hagiografia, ao mostrar a luta presente na trajetória terrena dos
santos, até o último suspiro deles. Célebre é a exclamação de São Luís Grignion
de Montfort, na hora da morte, indicativa de seu constante esforço para se
manter fiel à Lei divina, da qual se julgava cumpridor muito imperfeito:
“Cheguei ao termo de minha carreira: não pecarei mais!”1
Contudo, quando não é justo, o homem esmorece
nesse combate ascético e procura encontrar um meio de descansar, desejando
alcançar a recompensa eterna sem fazer esforço. Tal é a razão pela qual não
existe uma corrente com maior quantidade de adeptos quanto a chamada terceira
posição. Trata-se do partido mais numeroso existente no mundo, desde a saída de
Adão e Eva do Paraíso, porque a tendência do homem não é ceder ao mal enquanto
mal — pois ser mau é incômodo e implica também em lutar, exige agrede, ou seja,
capacidade de luta —, mas sim fugir da dor. Nossa existência acarreta sempre
padecimentos, pois é impossível viver sem sofrer, ainda quando se é inocente.
Nem a Inocência em Si mesma, Nosso Senhor, nem a Inocente por excelência, Nossa
Senhora, ficaram livres da dor, sendo inconcebível uma existência, por mais
excelsa que seja, isenta de adversidades.