Tríduo Pascal

sábado, 11 de junho de 2016

Evangelho XII Domingo do Tempo Comum – Ano C – Lc 9, 18-24

Comentários ao Evangelho XII Domingo do Tempo Comum – Ano C – Lc 9, 18-24
Certo dia, 18 Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” ‘ Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”. 20 Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”. 21 Mas Jesus proibiu-lhes severamente que contassem isso a alguém. 22 E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. 23 Depois jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. 24 Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9, 18-24).
A cruz, quando inteiramente abraçada, nos configura com Cristo
No auge da fama e da popularidade de Nosso Senhor, todos esperam para breve sua aclamação como um líder político sem precedentes. Jesus, porém, desfaz essa errônea expectativa com o anúncio de sua Paixão.
A TENTACÃO DA TERCEIRA POSIÇÃO
É difícil para o homem, no relacionamento com o próximo ou com Deus, agir segundo as exigências de sua consciência, da moral e da verdade. Tomar uma atitude decidida e definitiva constitui uma escolha árdua, pois, por um lado, no interior da alma, clama a voz das más inclinações decorrentes do pecado e, por outro, o convite à retidão, à perfeição e à santidade feito pela graça. Optar por uma dessas solicitações acarreta sérias consequências, surgindo a partir daí uma luta que continua durante toda a vida até o momento do juízo particular, fato que explica a conhecida afirmação de Jó: “a vida do homem sobre a Terra é uma luta” (7, 1). Não há uma idade a partir da qual seja possível considerá-la encerrada; pelo contrário, as batalhas espirituais tornam-se cada vez mais impetuosas com o passar do tempo. Comprova-o a hagiografia, ao mostrar a luta presente na trajetória terrena dos santos, até o último suspiro deles. Célebre é a exclamação de São Luís Grignion de Montfort, na hora da morte, indicativa de seu constante esforço para se manter fiel à Lei divina, da qual se julgava cumpridor muito imperfeito: “Cheguei ao termo de minha carreira: não pecarei mais!”1
Contudo, quando não é justo, o homem esmorece nesse combate ascético e procura encontrar um meio de descansar, desejando alcançar a recompensa eterna sem fazer esforço. Tal é a razão pela qual não existe uma corrente com maior quantidade de adeptos quanto a chamada terceira posição. Trata-se do partido mais numeroso existente no mundo, desde a saída de Adão e Eva do Paraíso, porque a tendência do homem não é ceder ao mal enquanto mal — pois ser mau é incômodo e implica também em lutar, exige agrede, ou seja, capacidade de luta —, mas sim fugir da dor. Nossa existência acarreta sempre padecimentos, pois é impossível viver sem sofrer, ainda quando se é inocente. Nem a Inocência em Si mesma, Nosso Senhor, nem a Inocente por excelência, Nossa Senhora, ficaram livres da dor, sendo inconcebível uma existência, por mais excelsa que seja, isenta de adversidades.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Comentários ao Evangelho Mt 5,20-26

A “justiça” dos fariseus
20 “Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”.
Os escribas e fariseus conheciam perfeitamente a Lei e sabiam pesar cada ato em função dela. Apresentavam-se como a “lei viva”, mas era justamente isto o que não se podia afirmar deles.
Como já foi dito acima, sua justiça fundava-se nas exterioridades. “Quanto ao repouso sabático, haviam eles multiplicado as interdições, entrando nos mais ínfimos detalhes. Sobre a questão das impurezas, deram livre curso à imaginação e acrescentaram à legislação mosaica as mais minuciosas prescrições”.
Jesus nos adverte aqui ser indispensável, para entrar no Reino dos Céus, praticar uma virtude “maior” que a dos fariseus e mestres da Lei. Ou seja, não se prender às exterioridades, nem fazer enganosas racionalizações, mas cumprir de fato em sua integridade, amorosamente, os Dez Mandamentos.
Jesus condena a moral farisaica
Nos versículos seguintes, Nosso Senhor utiliza várias vezes as expressões “Vós ouvistes...” e “Eu vos digo...” para confrontar a moral de exterioridades, praticada pelos fariseus, com a verdadeira moral. Cristo, Ele mesmo, é a Palavra eterna, posta aqui em contraposição à palavra dos fariseus. A Lei antiga e imutável vai ser levada agora até as últimas consequências, denunciando as interpretações errôneas daqueles que se apresentavam diante do povo como “mestres” infalíveis.
Participação no pecado de homicídio
21Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal’.
22Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: ‘patife!’ será condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de ‘tolo’ será condenado ao fogo do inferno.
23Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta.
Os fariseus consideravam o homicídio um pecado gravíssimo, mas não reputavam ser falta moral encolerizar-se com o irmão, ou dizer-lhe toda espécie de desaforos.
Nosso Senhor mostra-lhes que quem assim procede também será réu no dia do Juízo, pois, ao se deixar levar deste modo pelo ódio, ele já encetou as vias conducentes ao homicídio, participando em certa medida desse crime e merecendo por isso análogo castigo.
Mais ainda. Com sua palavra e exemplo, ensinou Jesus que na Nova Aliança o relacionamento entre os homens deve, pelo contrário, pautar-se pelo respeito, consideração e estima de forma a não dar ocasião a qualquer queixa recíproca.
Preparemo-nos para o dia do Juízo
25 “Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal. Senão o adversário te entregará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de justiça, e tu serás jogado na prisão. 26 Em verdade Eu te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo”.
O “adversário” de que fala Nosso Senhor neste versículo simboliza, sob certo prisma, Ele mesmo: o Bem substancial do qual nos tornamos inimigos ao pecar. O mais necessário e urgente, portanto, é procurar primeiro nos reconciliar com Ele, reconhecendo as nossas faltas, pedindo perdão por elas e fazendo firme propósito de doravante não nos desviarmos das retas vias do Redentor. Pois, cedo ou tarde, terminará nossa peregrinação terrena e compareceremos diante do Supremo Juiz, que pronunciará uma sentença justíssima e inapelável.
Se nesse dia nosso divino Adversário ainda tiver algo a declarar contra nós, a dívida será saldada, na melhor das hipóteses, no fogo do Purgatório, do qual não se sai sem pagar até o último centavo.

Trata-se, portanto, de agir com total integridade no caminho rumo ao derradeiro julgamento. De nada valerão racionalizações com as quais burlamos nossa consciência, porque jamais será possível ludibriar a Deus. Ele está dentro de nós e nós estamos dentro d’Ele. Tudo se faz em sua presença, e todos os nossos atos virão à tona no dia do Juízo Final para serem conhecidos pela humanidade e pelos anjos.
Mons João Clá Dias -Texto extraído do livro O Inédito sobre os Evangelhos

domingo, 5 de junho de 2016

Evangelho XI Domingo Tempo Comum - Ano C - Lc 7,36-50; 8, 1-3

Comentários ao Evangelho XI Domingo do Tempo Comum - Ano C

Naquele tempo, 7,36 um dos fariseus pediu a Jesus que fosse comer com ele. 37 Uma mulher, que era pecadora na cidade, quando soube que Ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um frasco de alabastro cheio de perfume. 38 Colocando-se a seus pés, por detrás d'Ele, começou a banhar-Lhe os pés com as lágrimas, e enxugava-os com os cabelos da sua cabeça, beijava-os, e ungia-os com o perfume. 39Vendo isto, o fariseu que O tinha convidado, disse consigo: "Se este fosse profeta, com certeza saberia de que espécie é a mulher que O toca: uma pecadora." 40 Jesus então tomou a palavra e disse-lhe: "Simão, tenho uma coisa a dizer-te." Ele disse: "Mestre, fala." 41 "Um credor tinha dois devedores: um deles devia-lhe quinhentos denários, o outro cinqüenta. 42Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles, pois, o amará mais?" 43 Simão respondeu: "Creio que aquele a quem perdoou mais." Jesus disse-lhe: "Julgaste bem". 44 Em seguida, voltando-Se para a mulher, disse a Simão: "Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela com as suas lágrimas banhou os meus pés, e enxugou-os com os seus cabelos. 45 Não Me deste o ósculo; porém ela, desde que entrou, não cessou de beijar os meus pés. 46 Não ungiste a minha cabeça com óleo, porém ela ungiu com perfume os meus pés. 47Pelo que te digo: São-lhe perdoados os seus muitos pecados porque muito amou. Mas aquele a quem menos se perdoa, menos ama." 48 Depois disse à mulher: "São-te perdoados os pecados." 49 Os convidados começaram a dizer entre si:"Quem é Este que até perdoa os pecados?" 50 Mas Jesus disse à mulher: "A tua fé te salvou; vai em paz!" 8,1 Em seguida Jesus caminhava pelas cidades e aldeias, pregando e anunciando a boa nova do Reino de Deus; andavam com Ele os doze 2 e algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e de doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios, 3 Joana, mulher de Cusa, procurador de Herodes, Susana, e outras muitas, que os serviam com os seus bens (Lc 7,36-50; 8, 1-3).
O fariseu e a pecadora
Simão recebe Jesus em sua casa com orgulhosa frieza. Maria Madalena, a pecadora, desdobra-se em manifestações de arrependimento e ternura. Por ter amado muito, viu-se ela redimida de todas as suas faltas. E o fariseu foi impedido, pelo orgulho, de pedir perdão.
Origens históricas dos fariseus
O orgulho, causa de todos os pecados, não abandona o homem senão meia hora após a morte. Subtil e interior, sendo embora um lobo feroz de ambição, ele se esconde sob pele de ovelha. Por este motivo, o orgulhoso não é facilmente fustigado pela reprovação da sociimagem_1.jpgedade, como acontece no caso dos demais vícios. Quão comum é encontrarmos a soberba falando abertamente de suas próprias qualidades e virtudes - reais ou imaginárias ou ostentando suas riquezas!
Esse é o grande mal dos que se julgam doutos e sábios. Terrível é a vaidade feminina quando desenfreada, mas ela parece nada, em comparação com o orgulho descontrolado de um homem que procura passar por inteligente e culto. A este se poderia aplicar o dito de Plínio: "Pasma ver aonde pode chegar a arrogância do coração humano estimulada pelo menor êxito" (1).
Nesse quadro se encaixam os escribas e fariseus.
A origem histórica dos fariseus remonta à restauração de Israel após o cativeiro da Babilônia. Entretanto, suas características descritas nos Evangelhos se evidenciaram depois da revolta e vitória dos Macabeus (2), pois, opondo-se à forte influência helenista que se exercia acima de tudo sobre as camadas mais altas da sociedade, separaram-se por fidelidade às antigas tradições puras de Israel. Daí surgiu o nome de "fariseu", que quer dizer "separado". Entretanto, não constituíam eles então uma seita, partido político ou organização.
Como sói acontecer a todos aqueles que não restituem a Deus os dotes d'Ele recebidos, não tardou muito em julgarem-se os fariseus os únicos donos da verdade, erigindo-se em lei e modelo face aos demais. Além disso, eram eles, em sua quase totalidade, os doutores da lei, também chamados escribas. Gozavam, pois, de notoriedade, prestígio e influência. Essa situação de superioridade, se não for equilibrada pela virtude da despretensão e pelo verdadeiro amor a Deus, facilmente conduz à hipocrisia da qual os acusara repetidamente o Divino Salvador (3).
Ora, ademais, "o orgulho é suspicaz; converte em calúnia, com a interpretação mais injusta, o que foi dito ou executado com a maior simplicidade" (4). Esse é o caso do fariseu Simão, do Evangelho de hoje.
Por que Simão convidou Jesus?