Comentários
ao Evangelho VII Domingo da Páscoa – Ano A
Naquele tempo, 1 Jesus ergueu os olhos ao
Céu e disse: “Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho
Te glorifique a Ti, 2 e, porque Lhe deste poder sobre todo homem, Ele dê a vida
eterna a todos aqueles que Lhe confiaste.
3 Ora, a vida eterna é esta: que eles Te
conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e Àquele que Tu enviaste, Jesus Cristo.
4 Eu Te glorifiquei na Terra e levei a termo a obra que Me deste para fazer. 5
E agora, Pai, glorifica-Me junto de Ti, com a glória que Eu tinha junto de Ti
antes que o mundo existisse.
6 Manifestei o teu nome aos homens que Tu
Me deste do meio do mundo. Eram teus, e Tu os confiaste a Mim, e eles guardaram
a tua palavra. 7 Agora eles sabem que tudo quanto Me deste vem de Ti, 8 pois
dei-lhes as palavras que Tu Me deste, e eles as acolheram, e reconheceram
verdadeiramente que Eu saí de Ti e acreditaram que Tu Me enviaste.
9 Eu Te rogo por eles. Não Te rogo pelo
mundo, mas por aqueles que Me deste, porque são teus. 10 Tudo o que é meu é teu
e tudo o que é teu é meu. E Eu sou glorificado neles. 11a Já não estou no
mundo, mas eles permanecem no mundo, enquanto Eu vou para junto de Ti” (Jo 17,
1-11a).
Uma sublime
reciprocidade entre o Filho e o Pai
Assim como Nosso Senhor Jesus Cristo glorificou o Pai ao redimir
o mundo, à medida que os homens são evangelizados, recebem a graça e se
transformam, Jesus é glorificado neles.
I – Nossa vida se
projeta na eternidade
Devido
a uma tendência naturalista, muitas vezes somos levados a julgar que o curso
dos acontecimentos é determinado exclusivamente por nossa ação, como se Deus, a
graça, os Anjos, os demônios e o pecado em nada interferissem ou nem sequer
existissem. Todavia, não é esta a realidade. Os fatores sobrenaturais e preternaturais
penetram de modo tão profundo a trama da História que são, com frequência, mais
importantes que o próprio operar humano.
Se
tal é a História, o é a fortiori nossa história individual. Não podemos
considerá-la como sendo o mero desenvolvimento de nossas habilidades e dotes naturais,
pois, de um lado, Deus sempre nos auxilia; de outro, o demônio, as fraquezas
decorrentes do pecado original e nossas faltas nos prejudicam. Isso se acentua
ainda mais quando nos dedicamos a trabalhar num campo que toca à Religião. Por
aí se entende por que o justo, ao término desta vida, alcança um prêmio
desproporcionado às suas boas obras: elas não são fruto de um esforço pessoal
apenas, mas
de uma aliança de sua natureza com a graça. É em função desta última,
conquistada para nós pelo preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que seremos recompensados.
Entretanto,
como temos uma estrutura mental baseada na cronologia, no transcurso do tempo,
pensamos que seremos retribuídos imediatamente, como um jornaleiro recebe o
salário logo depois de concluir o serviço. Para Deus, porém, não há tempo, pois
Ele é eterno e tudo vê como presente.1 Quando, no Evangelho, Jesus promete
conceder o cêntuplo na Terra àqueles que cortam os laços com o mundo por amor
ao Reino dos Céus (cf. Mt 19, 29; Mc 10, 29-30; Lc 18, 29-30), significa que a
Providência lhes compensará no futuro e não no instante da renúncia. Do
contrário, não haveria estado de prova e muitos pretenderiam abraçar a
perfeição por interesse.
Nosso
Senhor, Ele mesmo, depois de trinta anos de obediência e humildade admiráveis
no convívio com Nossa Senhora e São José, iniciou seu ministério público, ao
longo do qual não cessou de ensinar, perdoar e operar milagres: numa palavra, “fez
bem todas as coisas” (Mc 7, 37). Se há alguém que tenha cumprido plenamente com
seus deveres, este foi Nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, o prêmio não Lhe foi
dado em sua existência terrena, pois, para tal deve ser considerado o período
desde o seu nascimento em Belém até o fim do mundo.
Nossos atos
repercutem em toda a História
É
preciso, portanto, termos bem fundada na alma a convicção de que nossa vida tem
uma projeção eterna, pela qual os efeitos de cada ato — sobretudo os que
implicam em mérito ou demérito sobrenatural — repercutem na História inteira,
até o seu último dia. E não só em relação ao futuro, mas inclusive ao passado.2
Se praticamos a virtude, ajudamos na perseverança dos Anjos quando foram
submetidos à prova no Céu e beneficiamos toda a humanidade, desde os primeiros
filhos de Adão e Eva. O tempo é, pois, uma criatura fugaz, tão só um meio, tal como
um trampolim que alguém utiliza para dar um mergulho. O objetivo é chegar à
água, a plataforma de onde se salta é um mero instrumento para isso. Também
para nós, o que importa é este “mergulho” nas “águas da eternidade”.
Analisando
nessa perspectiva o Evangelho do 7º Domingo de Páscoa, compreenderemos melhor
as palavras profundas, pervadidas por um tonus de despedida, que Jesus dirige
ao Pai na primeira parte de sua oração sacerdotal, na Última Ceia.
II – O zelo de
Jesus pela glória do Pai
Constam
nos relatos dos evangelistas várias afirmações que indicam o quanto os
desígnios de Deus têm época determinada para se efetuar. Por exemplo, nas Bodas
de Caná, quando a Santíssima Virgem intercedeu em favor dos noivos junto a seu
Filho, dizendo-Lhe que eles não tinham mais vinho, Ele respondeu: “Minha hora
ainda não chegou” (Jo 2, 4).
Apesar
disso, realizou nessa ocasião o primeiro milagre público, em atenção ao pedido
de sua Mãe. Em outras passagens, o texto sagrado refere que Ele não permitiu
que O matassem porque “ainda não era chegada a sua hora” (Jo 7, 30; 8, 20). No
trecho aqui contemplado, porém, verifica-se algo diferente. O Salvador já havia
percorrido todo o caminho que conduzia à Paixão, e era o momento de se
manifestar uma bela reciprocidade entre o Filho e o Pai.
Naquele tempo, 1a Jesus ergueu os olhos ao
Céu e disse: “Pai, chegou a hora”.
Ao
elevar os olhos ao Céu, quis Nosso Senhor ensinar o modo de externarmos nossa
devoção: o Pai sempre está no alto, e deve receber a nossa máxima honra e
louvor. Quão distante de certa piedade sentimental, oriunda de uma visualização
adocicada a respeito dos acontecimentos, que se espalhou nos séculos XIX e XX!
O simples fato de imaginar esta cena ilumina o nosso interior porque, quando
Jesus dizia “Pai”, o universo inteiro se comovia! Até os grãos de areia das
praias mais longínquas ou os astros localizados a anos-luz da Terra como que se
tomavam de júbilo, pois era a voz do Criador que se fazia ouvir através da humanidade
santíssima de Cristo! A propósito deste versículo, Santo Agostinho afirma: “O
Senhor, Unigênito e coeterno ao Pai, poderia ter rezado em silêncio, na forma
de servo e enquanto servo, se fosse necessário; mas, recordando-Se de que era
nosso Mestre, quis Se apresentar diante do Pai como suplicante. E, assim, nos
deu a conhecer a oração que fez por nós, pois serviam de edificação
para os discípulos não só as instruções recebidas de tão excelente Mestre, como
também sua oração feita por eles ao Pai. E se era motivo de edificação para
eles, que a escutavam, também o seria para nós, que a haveríamos de ler escrita”.3
Desde
todo o sempre as três Pessoas da Santíssima Trindade — Pai, Filho e Espírito
Santo — tinham o plano da Redenção do gênero humano, que consistiria na
Encarnação da Segunda Pessoa Divina. Prestes a consumar sua obra, Jesus,
enquanto Homem, estava à espera de uma glorificação, como veremos a seguir, e
por isso exclama com alegria: “chegou a hora”. No entanto, as limitações de nosso
raciocínio discursivo exigem muitas vezes, para bem entender a teologia e a
Revelação, que “humanizemos” a Deus, formando uma ideia de proximidade d’Ele
com a nossa natureza. Assim sendo, num intento didático, ousamos afirmar que,
de algum modo, em Jesus era também sua natureza divina que falava. Embora
saibamos que tudo está constantemente presente ante seus olhos — como acima foi
apontado —, desde toda a eternidade Ele quis o advento dessa glória no tempo.
A glória do Filho
é a glória do Pai
1b “Glorifica o teu Filho, para que o teu
Filho Te glorifique a Ti...”
O
Verbo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, gerado eternamente antes da
aurora, na glória e no esplendor da santidade (cf. Sl 109, 3), é igual ao Pai,
pois tem a mesma natureza d’Ele. Portanto, a glória do Pai é a mesma glória do
Filho. Qual é, então, o sentido destas palavras? Que glória pede Ele?
Por
amor a nós, Jesus suportava em Si mesmo uma impressionante dicotomia: seu Corpo
era padecente — senão Ele não poderia sofrer para nos remir — e sua Alma era
gloriosa, pois fora criada na visão beatífica.4 Com divino anseio Ele aguardava
o momento da glorificação de seu Corpo,5 em que houvesse uma proporcionalidade
deste com a Alma, porque assim a glória que Ele daria ao Pai enquanto Homem
seria maior e estaria à altura de seus desejos. Essa glorificação era
indispensável para que as pessoas pudessem ver em sua carne os reflexos de sua
divindade e de sua Alma bem-aventurada.
Entretanto,
com o intuito de nos dar uma lição de reciprocidade, Ele não solicita essa
glória para Si, mas sim para glorificar o Pai de uma maneira muito mais
completa do que até então. É expressivo, nesse sentido, o diálogo ocorrido
pouco antes entre o Mestre e São Filipe, quando este Lhe dissera: “Senhor, mostra-nos
o Pai e isso nos basta” (Jo 14, 8), e Ele respondera: “Há tanto tempo que estou
convosco e não Me conheceste, Filipe! Aquele que Me viu, viu também o Pai” (Jo
14, 9). O que o Apóstolo queria ver, na verdade, era essa glória.
Entregues pelo
Pai ao seu Unigênito
2a “...e, porque Lhe deste poder sobre todo
homem...”
Em
virtude da união hipostática, bem como pelo fato de ser Cabeça da Igreja e pela
plenitude de sua graça, foi dado a Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto Homem,
todo o poder de Rei e de Juiz sobre a humanidade inteira.6 “O Pai” — escreve o padre
Bover — “deu a Jesus Cristo o domínio soberano sobre todas as coisas. É o
senhorio do Messias no Reino de Deus: triplo senhorio, de império, de magistério,
de sacerdócio; do que é o Rei dos reis, o Profeta por antonomásia, o grande
Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec”.7
Ademais,
pela sua Paixão e Morte, Nosso Senhor conquistou por direito os títulos que
sempre teve enquanto Deus, merecendo ser exaltado e reverenciado.8 Desta forma,
ao dirigir esta oração ao Pai era como se Jesus dissesse: “Permiti que Eu passe
por tudo o que Vós me reservastes, porque sei que isto será para a minha
glória”.
2b “...Ele dê a vida eterna a todos aqueles
que Lhe confiaste”.
Desde
toda a eternidade, o Pai — como também o Filho e o Espírito Santo, embora aqui
seja atribuído à Primeira Pessoa — teve em mente aqueles que Ele designara, de
um modo especial, para serem santificados e salvos pelo Filho.
Nessa
circunstância em que se aproximava o fim de sua trajetória terrena, Jesus,
tendo exímia compenetração do efeito eterno de seus atos e de como o desenrolar
da História se faria em função d’Ele, Se refere ao conjunto desses que Lhe
haviam sido confiados até o fim dos séculos, aos quais, numa sublime relação de
reciprocidade com o Pai, Ele queria divinizar, ou seja, comunicar-lhes a vida
sobrenatural, a fim de que, ao devolvê-los ao Pai na inteira santidade, a
glória deste fosse maior. Tal atitude tem uma aplicação para nós: devemos
deitar todo o empenho para que nosso apostolado seja eficaz, a ponto de
conduzir os outros e nós mesmos à máxima perfeição, e com esses frutos
glorificarmos o Pai.
Conhecimento
amoroso, substância da vida eterna
3 “Ora, a vida eterna é esta: que eles Te
conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e Àquele que Tu enviaste, Jesus
Cristo”.
O
Divino Mestre quer que todos conheçam o Pai, para que O amem e a Ele se
entreguem. E, por amor ao Pai, conheçam e amem também a Ele, Jesus.
Para
melhor assimilarmos essa realidade, imaginemos um menino de seus dois ou três
anos, que encontra outro, da mesma idade, deliciando-se com um sorvete. O doce
logo atrai o olhar da primeira criança, que percebe ser algo bom e, em seguida,
o quer para si. O ato da vontade é imediato ao da inteligência: viu, compreendeu,
gostou. Assim é nossa natureza. Quando alguém toma contato com um bem ou uma maravilha
estupenda e a entende, não só a ama, como também a deseja.
Ora,
se o objeto é o próprio Deus — o Ser por essência, infinito, supremo,
onisciente, onipresente, onipotente —, ao vê-Lo, nada retém essa inclinação do
homem, ele O ama e a Ele se entrega plenamente. Eis, em síntese, a vida eterna
à qual somos chamados: um conhecimento amoroso de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo,
a quem contemplaremos face a face, e “o amor que resultará desta visão será um
amor a Deus tão puro e tão forte que nada o poderá diminuir; será este um amor
soberanamente espontâneo, mas não mais livre, ele estará acima da liberdade, arrebatado
pela soberana Bondade”.9
No
entanto, é aqui na Terra que essa vida se inicia, pela fé, a qual nos leva a
vislumbrar a existência de uma realidade muito superior ao mundo palpável. Por
conseguinte, quanto mais esta virtude é praticada e aprimorada, maior é nossa
participação nessa vida eterna.
A glória divina
conquistada para a natureza humana
4 “Eu Te glorifiquei na Terra e levei a
termo a obra que Me deste para fazer. 5 E agora, Pai, glorifica-Me junto de Ti,
com a glória que Eu tinha junto de Ti antes que o mundo existisse”.
Causa-nos
assombro a afirmação contida no versículo 5: a mesma glória eterna que Ele tem
como Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Ele a terá também como Homem! É
impossível à nossa inteligência alcançar verdade tão elevada! “O Filho agora
feito carne” — comenta Santo Hilário — “pedia que a carne começasse a ser para
o Pai o que era a Palavra, de modo que o que havia começado no tempo recebesse
a glória daquele resplendor que não está submetido ao tempo”.10 Desta forma, quando
Ele subir ao Céu, o brilho de sua natureza humana glorificada ultrapassará o de
todos os Anjos e Bem-aventurados reunidos. Vê-se, nesta passagem, como a
natureza humana de Nosso Senhor estava com sede dessa glorificação e a esperava
com toda paciência, resignação e espírito de sacrifício.
Devemos
também formular esse pedido, almejando a glória de realizar em nós o ideal de
alter Christus, a ponto de podermos dizer com São Paulo: “já não sou eu; é Cristo
que vive em mim” (Gal 2, 20). Tal é a meta que nos foi designada no Batismo, e
no dia do nosso juízo não nos será permitido alegar que não tivemos meios de
cumpri-la. É preciso deixarmo-nos arrebatar de tal maneira pelo amor a Ele, que
sejam varridos todos os princípios e as visualizações erradas que se
estabeleceram em nossa alma. Claro está que é impossível obter isso pelo puro
esforço, mas se “todo aquele que pede, recebe” (Mt 7, 8), basta-nos ter esse
desejo e rezar.
Ele nos
transmitiu o que ouviu do Pai
6 “Manifestei o teu nome aos homens que Tu
Me deste do meio do mundo. Eram teus, e Tu os confiaste a Mim, e eles guardaram
a tua palavra. 7 Agora eles sabem que tudo quanto Me deste vem de Ti, 8 pois dei-lhes
as palavras que Tu Me deste, e eles as acolheram, e reconheceram verdadeiramente
que Eu saí de Ti e acreditaram que Tu Me enviaste”.
Os
que Deus tirou “do meio do mundo” para fazê-los pertencer a Nosso Senhor Jesus
Cristo são todos aqueles que acolheram a palavra d’Ele, abraçando a Fé. A estes
— Apóstolos, discípulos, Santas Mulheres e todos que receberam seu ensinamento novo
dotado de potência (cf. Mc 1, 27) —, o Divino Mestre manifestou o Pai,
transmitindo-lhes o tesouro de sua sabedoria. Contudo, não imaginemos ser esta
uma oração feita só para aquele momento, pois, nestas palavras “compreendeu
todos os que haveriam de n’Ele crer, enquanto membros daquela magna Igreja que
se haveria de formar de todos os povos”.11 E estes que acreditam, Ele os entrega
ao Pai.
Nestes
versículos Jesus demonstra, em sua humanidade santíssima, uma verdadeira maravilha
de humildade. Ele poderia falar enquanto Segunda Pessoa da Santíssima Trindade,
como que “esquecendo-Se” do Pai, mas é tal o entranhamento de ambos — a ponto
de serem um só! (cf. Jo 10, 30) —, que não consegue Se pronunciar senão pela
glória d’Aquele que O enviou ao mundo. Cabe a nós imitar o seu exemplo. Devemos
imediatamente reportar a Deus tudo o que possa se constituir em alguma glória
para nós, sem nos apropriarmos de nada, pois só Ele é digno “de receber o
poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a glória, a honra e o louvor” (Ap 5,
12).
Fomos incluídos
na súplica do Homem-Deus
9 “Eu Te rogo por eles. Não Te rogo pelo
mundo, mas por aqueles que Me deste, porque são teus. 10 Tudo o que é meu é teu
e tudo o que é teu é meu. E Eu sou glorificado neles”.
Como
esta oração de Nosso Senhor não é condicional, mas segundo sua vontade racional
e absoluta,12 a palavra d’Ele é aceita de modo irrecusável. E Ele roga apenas
por aqueles que são d’Ele, isto é, “somente por aqueles que estavam
predestinados a obter a vida eterna por meio d’Ele”,13 e não pelo mundo.
Ao
rezar por seus seguidores, Jesus mostra, mais uma vez, seu desejo de que tudo
reverta para o Pai.
E
há nisso, novamente, uma reciprocidade, porque a Redenção realizada pelo
Homem-Deus para glorificar o Pai também redunda em glória para Ele. Sim, pois à
medida que os homens são evangelizados, recebem a graça de Nosso Senhor Jesus
Cristo e se transformam, Ele é glorificado neles. É esta a comunhão de
espírito, de mentalidade, de perspectiva e de vocação que devemos ter não só
nos lábios, mas no fundo do nosso coração, em relação a Cristo como Fundador da
Igreja, até podermos dizer: “Pai, tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu”.
A obra do
Redentor se perpetua pelos séculos
11a “Já não estou no mundo, mas eles
permanecem no mundo, enquanto Eu vou para junto de Ti”.
O
Salvador agora Se refere ao término de sua missão terrena — a qual se
encerraria em breve, com a Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão — e, ao mesmo
tempo, declara sua continuidade nos Apóstolos, bem como em todos os que são
d’Ele e que “permanecem no mundo”. Com efeito, a atividade dos Apóstolos tem
uma repercussão perene na História, cuja comprovação somos nós, os batizados
que hoje nos empenhamos em alcançar a santidade, graças à ardorosa diligência
das primeiras colunas da Igreja.
III – Devemos
glorificá-Lo em nós
Ao
se aproximar a Solenidade de Pentecostes, que será celebrada no domingo
seguinte, peçamos ao Espírito Santo a compenetração da seriedade dos nossos
atos. Tudo o que nos acontece se projeta para além dos umbrais do tempo, e por
isso nossa atenção deve estar sempre voltada para a vida eterna, que por ora
temos de forma incoativa, mas desabrochará no Céu.
Se
desenvolvermos essa vida, dando importância ao sobrenatural e nos unindo cada
vez mais a Nosso Senhor, a glória d’Ele se refletirá em nós, à maneira de um
raio de Sol que incide sobre um simples caco de vidro colorido e o torna
esplêndido e cintilante como uma pedra preciosa. Nós somos como pedaços de
vidro, à beira dos caminhos, sobre os quais incidiu o Sol da Justiça, e é
preciso nos transformarmos em vitrais, transmitindo a beleza dessa Luz a todos
os que tomarem contato conosco. Deste modo glorificaremos a Deus e Ele será
glorificado em nós, tal como Cristo nos ordenou: “brilhe a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está
nos Céus” (Mt 5, 16).
Isso
só se tornará possível por meio de uma fé ardorosa, capaz de mover montanhas
(cf. Mt 17, 20), a exemplo de Maria Santíssima, cujo fervor abreviou os dias para
a salvação do mundo. Lembremo-nos: Aquele que não teve princípio e não terá
fim, o Alfa e o Ômega, Nosso Senhor Jesus Cristo, nos incluiu em sua oração
sacerdotal para benefício nosso e glória d’Ele.
1)
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q.10, a.2, ad 4. 2) Cf. CCE 953.
3)
SANTO AGOSTINHO. In Ioannis Evangelium. Tractatus CIV, n.2. In: Obras. 2.ed. Madrid: BAC, 1965, v.XIV, p.492.
4)
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.14, a.1; q.34, a.4; q.49, a.6, ad 3.
5)
Cf. Idem, q.7, a.4.
6)
Cf. Idem, q.59, a.2; a.3.
7)
BOVER, SJ, José María. Comentario al Sermón de la Cena. Madrid: BAC, 1951, p.183.
8)
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.49, a.6; q.59, a.3.
9)
GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. Les trois âges de la vie intérieure. Paris: Du
Cerf, 1955, v.II, p.841.
10)
SANTO HILÁRIO DE POITIERS. De Trinitate. L.III, n.16: ML 10, 59.
11)
SANTO AGOSTINHO, op. cit., Tractatus CVI, n.1, p.504.
12)
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.21, a.4.
13)
Idem, ad 2.
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