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quarta-feira, 24 de maio de 2017

Evangelho VII Domingo da Páscoa – Ano A

Comentários ao Evangelho VII Domingo da Páscoa – Ano A
Naquele tempo, 1 Jesus ergueu os olhos ao Céu e disse: “Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho Te glorifique a Ti, 2 e, porque Lhe deste poder sobre todo homem, Ele dê a vida eterna a todos aqueles que Lhe confiaste.
3 Ora, a vida eterna é esta: que eles Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e Àquele que Tu enviaste, Jesus Cristo. 4 Eu Te glorifiquei na Terra e levei a termo a obra que Me deste para fazer. 5 E agora, Pai, glorifica-Me junto de Ti, com a glória que Eu tinha junto de Ti antes que o mundo existisse.
6 Manifestei o teu nome aos homens que Tu Me deste do meio do mundo. Eram teus, e Tu os confiaste a Mim, e eles guardaram a tua palavra. 7 Agora eles sabem que tudo quanto Me deste vem de Ti, 8 pois dei-lhes as palavras que Tu Me deste, e eles as acolheram, e reconheceram verdadeiramente que Eu saí de Ti e acreditaram que Tu Me enviaste.
9 Eu Te rogo por eles. Não Te rogo pelo mundo, mas por aqueles que Me deste, porque são teus. 10 Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu. E Eu sou glorificado neles. 11a Já não estou no mundo, mas eles permanecem no mundo, enquanto Eu vou para junto de Ti” (Jo 17, 1-11a).
Uma sublime reciprocidade entre o Filho e o Pai
Assim como Nosso Senhor Jesus Cristo glorificou o Pai ao redimir o mundo, à medida que os homens são evangelizados, recebem a graça e se transformam, Jesus é glorificado neles.
I – Nossa vida se projeta na eternidade
Devido a uma tendência naturalista, muitas vezes somos levados a julgar que o curso dos acontecimentos é determinado exclusivamente por nossa ação, como se Deus, a graça, os Anjos, os demônios e o pecado em nada interferissem ou nem sequer existissem. Todavia, não é esta a realidade. Os fatores sobrenaturais e preternaturais penetram de modo tão profundo a trama da História que são, com frequência, mais importantes que o próprio operar humano.
Se tal é a História, o é a fortiori nossa história individual. Não podemos considerá-la como sendo o mero desenvolvimento de nossas habilidades e dotes naturais, pois, de um lado, Deus sempre nos auxilia; de outro, o demônio, as fraquezas decorrentes do pecado original e nossas faltas nos prejudicam. Isso se acentua ainda mais quando nos dedicamos a trabalhar num campo que toca à Religião. Por aí se entende por que o justo, ao término desta vida, alcança um prêmio desproporcionado às suas boas obras: elas não são fruto de um esforço pessoal apenas, mas de uma aliança de sua natureza com a graça. É em função desta última, conquistada para nós pelo preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, que seremos recompensados.

Entretanto, como temos uma estrutura mental baseada na cronologia, no transcurso do tempo, pensamos que seremos retribuídos imediatamente, como um jornaleiro recebe o salário logo depois de concluir o serviço. Para Deus, porém, não há tempo, pois Ele é eterno e tudo vê como presente.1 Quando, no Evangelho, Jesus promete conceder o cêntuplo na Terra àqueles que cortam os laços com o mundo por amor ao Reino dos Céus (cf. Mt 19, 29; Mc 10, 29-30; Lc 18, 29-30), significa que a Providência lhes compensará no futuro e não no instante da renúncia. Do contrário, não haveria estado de prova e muitos pretenderiam abraçar a perfeição por interesse.
Nosso Senhor, Ele mesmo, depois de trinta anos de obediência e humildade admiráveis no convívio com Nossa Senhora e São José, iniciou seu ministério público, ao longo do qual não cessou de ensinar, perdoar e operar milagres: numa palavra, “fez bem todas as coisas” (Mc 7, 37). Se há alguém que tenha cumprido plenamente com seus deveres, este foi Nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, o prêmio não Lhe foi dado em sua existência terrena, pois, para tal deve ser considerado o período desde o seu nascimento em Belém até o fim do mundo.
Nossos atos repercutem em toda a História
É preciso, portanto, termos bem fundada na alma a convicção de que nossa vida tem uma projeção eterna, pela qual os efeitos de cada ato — sobretudo os que implicam em mérito ou demérito sobrenatural — repercutem na História inteira, até o seu último dia. E não só em relação ao futuro, mas inclusive ao passado.2 Se praticamos a virtude, ajudamos na perseverança dos Anjos quando foram submetidos à prova no Céu e beneficiamos toda a humanidade, desde os primeiros filhos de Adão e Eva. O tempo é, pois, uma criatura fugaz, tão só um meio, tal como um trampolim que alguém utiliza para dar um mergulho. O objetivo é chegar à água, a plataforma de onde se salta é um mero instrumento para isso. Também para nós, o que importa é este “mergulho” nas “águas da eternidade”.
Analisando nessa perspectiva o Evangelho do 7º Domingo de Páscoa, compreenderemos melhor as palavras profundas, pervadidas por um tonus de despedida, que Jesus dirige ao Pai na primeira parte de sua oração sacerdotal, na Última Ceia.
II – O zelo de Jesus pela glória do Pai
Constam nos relatos dos evangelistas várias afirmações que indicam o quanto os desígnios de Deus têm época determinada para se efetuar. Por exemplo, nas Bodas de Caná, quando a Santíssima Virgem intercedeu em favor dos noivos junto a seu Filho, dizendo-Lhe que eles não tinham mais vinho, Ele respondeu: “Minha hora ainda não chegou” (Jo 2, 4).
Apesar disso, realizou nessa ocasião o primeiro milagre público, em atenção ao pedido de sua Mãe. Em outras passagens, o texto sagrado refere que Ele não permitiu que O matassem porque “ainda não era chegada a sua hora” (Jo 7, 30; 8, 20). No trecho aqui contemplado, porém, verifica-se algo diferente. O Salvador já havia percorrido todo o caminho que conduzia à Paixão, e era o momento de se manifestar uma bela reciprocidade entre o Filho e o Pai.
Naquele tempo, 1a Jesus ergueu os olhos ao Céu e disse: “Pai, chegou a hora”.
Ao elevar os olhos ao Céu, quis Nosso Senhor ensinar o modo de externarmos nossa devoção: o Pai sempre está no alto, e deve receber a nossa máxima honra e louvor. Quão distante de certa piedade sentimental, oriunda de uma visualização adocicada a respeito dos acontecimentos, que se espalhou nos séculos XIX e XX! O simples fato de imaginar esta cena ilumina o nosso interior porque, quando Jesus dizia “Pai”, o universo inteiro se comovia! Até os grãos de areia das praias mais longínquas ou os astros localizados a anos-luz da Terra como que se tomavam de júbilo, pois era a voz do Criador que se fazia ouvir através da humanidade santíssima de Cristo! A propósito deste versículo, Santo Agostinho afirma: “O Senhor, Unigênito e coeterno ao Pai, poderia ter rezado em silêncio, na forma de servo e enquanto servo, se fosse necessário; mas, recordando-Se de que era nosso Mestre, quis Se apresentar diante do Pai como suplicante. E, assim, nos deu a conhecer a oração que fez por nós, pois serviam de edificação para os discípulos não só as instruções recebidas de tão excelente Mestre, como também sua oração feita por eles ao Pai. E se era motivo de edificação para eles, que a escutavam, também o seria para nós, que a haveríamos de ler escrita”.3
Desde todo o sempre as três Pessoas da Santíssima Trindade — Pai, Filho e Espírito Santo — tinham o plano da Redenção do gênero humano, que consistiria na Encarnação da Segunda Pessoa Divina. Prestes a consumar sua obra, Jesus, enquanto Homem, estava à espera de uma glorificação, como veremos a seguir, e por isso exclama com alegria: “chegou a hora”. No entanto, as limitações de nosso raciocínio discursivo exigem muitas vezes, para bem entender a teologia e a Revelação, que “humanizemos” a Deus, formando uma ideia de proximidade d’Ele com a nossa natureza. Assim sendo, num intento didático, ousamos afirmar que, de algum modo, em Jesus era também sua natureza divina que falava. Embora saibamos que tudo está constantemente presente ante seus olhos — como acima foi apontado —, desde toda a eternidade Ele quis o advento dessa glória no tempo.
A glória do Filho é a glória do Pai
1b “Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho Te glorifique a Ti...”
O Verbo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, gerado eternamente antes da aurora, na glória e no esplendor da santidade (cf. Sl 109, 3), é igual ao Pai, pois tem a mesma natureza d’Ele. Portanto, a glória do Pai é a mesma glória do Filho. Qual é, então, o sentido destas palavras? Que glória pede Ele?
Por amor a nós, Jesus suportava em Si mesmo uma impressionante dicotomia: seu Corpo era padecente — senão Ele não poderia sofrer para nos remir — e sua Alma era gloriosa, pois fora criada na visão beatífica.4 Com divino anseio Ele aguardava o momento da glorificação de seu Corpo,5 em que houvesse uma proporcionalidade deste com a Alma, porque assim a glória que Ele daria ao Pai enquanto Homem seria maior e estaria à altura de seus desejos. Essa glorificação era indispensável para que as pessoas pudessem ver em sua carne os reflexos de sua divindade e de sua Alma bem-aventurada.
Entretanto, com o intuito de nos dar uma lição de reciprocidade, Ele não solicita essa glória para Si, mas sim para glorificar o Pai de uma maneira muito mais completa do que até então. É expressivo, nesse sentido, o diálogo ocorrido pouco antes entre o Mestre e São Filipe, quando este Lhe dissera: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta” (Jo 14, 8), e Ele respondera: “Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheceste, Filipe! Aquele que Me viu, viu também o Pai” (Jo 14, 9). O que o Apóstolo queria ver, na verdade, era essa glória.
Entregues pelo Pai ao seu Unigênito
2a “...e, porque Lhe deste poder sobre todo homem...”
Em virtude da união hipostática, bem como pelo fato de ser Cabeça da Igreja e pela plenitude de sua graça, foi dado a Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto Homem, todo o poder de Rei e de Juiz sobre a humanidade inteira.6 “O Pai” — escreve o padre Bover — “deu a Jesus Cristo o domínio soberano sobre todas as coisas. É o senhorio do Messias no Reino de Deus: triplo senhorio, de império, de magistério, de sacerdócio; do que é o Rei dos reis, o Profeta por antonomásia, o grande Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec”.7
Ademais, pela sua Paixão e Morte, Nosso Senhor conquistou por direito os títulos que sempre teve enquanto Deus, merecendo ser exaltado e reverenciado.8 Desta forma, ao dirigir esta oração ao Pai era como se Jesus dissesse: “Permiti que Eu passe por tudo o que Vós me reservastes, porque sei que isto será para a minha glória”.
2b “...Ele dê a vida eterna a todos aqueles que Lhe confiaste”.
Desde toda a eternidade, o Pai — como também o Filho e o Espírito Santo, embora aqui seja atribuído à Primeira Pessoa — teve em mente aqueles que Ele designara, de um modo especial, para serem santificados e salvos pelo Filho.
Nessa circunstância em que se aproximava o fim de sua trajetória terrena, Jesus, tendo exímia compenetração do efeito eterno de seus atos e de como o desenrolar da História se faria em função d’Ele, Se refere ao conjunto desses que Lhe haviam sido confiados até o fim dos séculos, aos quais, numa sublime relação de reciprocidade com o Pai, Ele queria divinizar, ou seja, comunicar-lhes a vida sobrenatural, a fim de que, ao devolvê-los ao Pai na inteira santidade, a glória deste fosse maior. Tal atitude tem uma aplicação para nós: devemos deitar todo o empenho para que nosso apostolado seja eficaz, a ponto de conduzir os outros e nós mesmos à máxima perfeição, e com esses frutos glorificarmos o Pai.
Conhecimento amoroso, substância da vida eterna
3 “Ora, a vida eterna é esta: que eles Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e Àquele que Tu enviaste, Jesus Cristo”.
O Divino Mestre quer que todos conheçam o Pai, para que O amem e a Ele se entreguem. E, por amor ao Pai, conheçam e amem também a Ele, Jesus.
Para melhor assimilarmos essa realidade, imaginemos um menino de seus dois ou três anos, que encontra outro, da mesma idade, deliciando-se com um sorvete. O doce logo atrai o olhar da primeira criança, que percebe ser algo bom e, em seguida, o quer para si. O ato da vontade é imediato ao da inteligência: viu, compreendeu, gostou. Assim é nossa natureza. Quando alguém toma contato com um bem ou uma maravilha estupenda e a entende, não só a ama, como também a deseja.
Ora, se o objeto é o próprio Deus — o Ser por essência, infinito, supremo, onisciente, onipresente, onipotente —, ao vê-Lo, nada retém essa inclinação do homem, ele O ama e a Ele se entrega plenamente. Eis, em síntese, a vida eterna à qual somos chamados: um conhecimento amoroso de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, a quem contemplaremos face a face, e “o amor que resultará desta visão será um amor a Deus tão puro e tão forte que nada o poderá diminuir; será este um amor soberanamente espontâneo, mas não mais livre, ele estará acima da liberdade, arrebatado pela soberana Bondade”.9
No entanto, é aqui na Terra que essa vida se inicia, pela fé, a qual nos leva a vislumbrar a existência de uma realidade muito superior ao mundo palpável. Por conseguinte, quanto mais esta virtude é praticada e aprimorada, maior é nossa participação nessa vida eterna.
A glória divina conquistada para a natureza humana
4 “Eu Te glorifiquei na Terra e levei a termo a obra que Me deste para fazer. 5 E agora, Pai, glorifica-Me junto de Ti, com a glória que Eu tinha junto de Ti antes que o mundo existisse”.
Causa-nos assombro a afirmação contida no versículo 5: a mesma glória eterna que Ele tem como Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Ele a terá também como Homem! É impossível à nossa inteligência alcançar verdade tão elevada! “O Filho agora feito carne” — comenta Santo Hilário — “pedia que a carne começasse a ser para o Pai o que era a Palavra, de modo que o que havia começado no tempo recebesse a glória daquele resplendor que não está submetido ao tempo”.10 Desta forma, quando Ele subir ao Céu, o brilho de sua natureza humana glorificada ultrapassará o de todos os Anjos e Bem-aventurados reunidos. Vê-se, nesta passagem, como a natureza humana de Nosso Senhor estava com sede dessa glorificação e a esperava com toda paciência, resignação e espírito de sacrifício.
Devemos também formular esse pedido, almejando a glória de realizar em nós o ideal de alter Christus, a ponto de podermos dizer com São Paulo: “já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20). Tal é a meta que nos foi designada no Batismo, e no dia do nosso juízo não nos será permitido alegar que não tivemos meios de cumpri-la. É preciso deixarmo-nos arrebatar de tal maneira pelo amor a Ele, que sejam varridos todos os princípios e as visualizações erradas que se estabeleceram em nossa alma. Claro está que é impossível obter isso pelo puro esforço, mas se “todo aquele que pede, recebe” (Mt 7, 8), basta-nos ter esse desejo e rezar.
Ele nos transmitiu o que ouviu do Pai
6 “Manifestei o teu nome aos homens que Tu Me deste do meio do mundo. Eram teus, e Tu os confiaste a Mim, e eles guardaram a tua palavra. 7 Agora eles sabem que tudo quanto Me deste vem de Ti, 8 pois dei-lhes as palavras que Tu Me deste, e eles as acolheram, e reconheceram verdadeiramente que Eu saí de Ti e acreditaram que Tu Me enviaste”.
Os que Deus tirou “do meio do mundo” para fazê-los pertencer a Nosso Senhor Jesus Cristo são todos aqueles que acolheram a palavra d’Ele, abraçando a Fé. A estes — Apóstolos, discípulos, Santas Mulheres e todos que receberam seu ensinamento novo dotado de potência (cf. Mc 1, 27) —, o Divino Mestre manifestou o Pai, transmitindo-lhes o tesouro de sua sabedoria. Contudo, não imaginemos ser esta uma oração feita só para aquele momento, pois, nestas palavras “compreendeu todos os que haveriam de n’Ele crer, enquanto membros daquela magna Igreja que se haveria de formar de todos os povos”.11 E estes que acreditam, Ele os entrega ao Pai.
Nestes versículos Jesus demonstra, em sua humanidade santíssima, uma verdadeira maravilha de humildade. Ele poderia falar enquanto Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, como que “esquecendo-Se” do Pai, mas é tal o entranhamento de ambos — a ponto de serem um só! (cf. Jo 10, 30) —, que não consegue Se pronunciar senão pela glória d’Aquele que O enviou ao mundo. Cabe a nós imitar o seu exemplo. Devemos imediatamente reportar a Deus tudo o que possa se constituir em alguma glória para nós, sem nos apropriarmos de nada, pois só Ele é digno “de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a glória, a honra e o louvor” (Ap 5, 12).
Fomos incluídos na súplica do Homem-Deus
9 “Eu Te rogo por eles. Não Te rogo pelo mundo, mas por aqueles que Me deste, porque são teus. 10 Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu. E Eu sou glorificado neles”.
Como esta oração de Nosso Senhor não é condicional, mas segundo sua vontade racional e absoluta,12 a palavra d’Ele é aceita de modo irrecusável. E Ele roga apenas por aqueles que são d’Ele, isto é, “somente por aqueles que estavam predestinados a obter a vida eterna por meio d’Ele”,13 e não pelo mundo.
Ao rezar por seus seguidores, Jesus mostra, mais uma vez, seu desejo de que tudo reverta para o Pai.
E há nisso, novamente, uma reciprocidade, porque a Redenção realizada pelo Homem-Deus para glorificar o Pai também redunda em glória para Ele. Sim, pois à medida que os homens são evangelizados, recebem a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo e se transformam, Ele é glorificado neles. É esta a comunhão de espírito, de mentalidade, de perspectiva e de vocação que devemos ter não só nos lábios, mas no fundo do nosso coração, em relação a Cristo como Fundador da Igreja, até podermos dizer: “Pai, tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu”.
A obra do Redentor se perpetua pelos séculos
11a “Já não estou no mundo, mas eles permanecem no mundo, enquanto Eu vou para junto de Ti”.
O Salvador agora Se refere ao término de sua missão terrena — a qual se encerraria em breve, com a Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão — e, ao mesmo tempo, declara sua continuidade nos Apóstolos, bem como em todos os que são d’Ele e que “permanecem no mundo”. Com efeito, a atividade dos Apóstolos tem uma repercussão perene na História, cuja comprovação somos nós, os batizados que hoje nos empenhamos em alcançar a santidade, graças à ardorosa diligência das primeiras colunas da Igreja.
III – Devemos glorificá-Lo em nós
Ao se aproximar a Solenidade de Pentecostes, que será celebrada no domingo seguinte, peçamos ao Espírito Santo a compenetração da seriedade dos nossos atos. Tudo o que nos acontece se projeta para além dos umbrais do tempo, e por isso nossa atenção deve estar sempre voltada para a vida eterna, que por ora temos de forma incoativa, mas desabrochará no Céu.
Se desenvolvermos essa vida, dando importância ao sobrenatural e nos unindo cada vez mais a Nosso Senhor, a glória d’Ele se refletirá em nós, à maneira de um raio de Sol que incide sobre um simples caco de vidro colorido e o torna esplêndido e cintilante como uma pedra preciosa. Nós somos como pedaços de vidro, à beira dos caminhos, sobre os quais incidiu o Sol da Justiça, e é preciso nos transformarmos em vitrais, transmitindo a beleza dessa Luz a todos os que tomarem contato conosco. Deste modo glorificaremos a Deus e Ele será glorificado em nós, tal como Cristo nos ordenou: “brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5, 16).
Isso só se tornará possível por meio de uma fé ardorosa, capaz de mover montanhas (cf. Mt 17, 20), a exemplo de Maria Santíssima, cujo fervor abreviou os dias para a salvação do mundo. Lembremo-nos: Aquele que não teve princípio e não terá fim, o Alfa e o Ômega, Nosso Senhor Jesus Cristo, nos incluiu em sua oração sacerdotal para benefício nosso e glória d’Ele.
1) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q.10, a.2, ad 4. 2) Cf. CCE 953.
3) SANTO AGOSTINHO. In Ioannis Evangelium. Tractatus CIV, n.2. In: Obras. 2.ed. Madrid: BAC, 1965, v.XIV, p.492.
4) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.14, a.1; q.34, a.4; q.49, a.6, ad 3.
5) Cf. Idem, q.7, a.4.
6) Cf. Idem, q.59, a.2; a.3.
7) BOVER, SJ, José María. Comentario al Sermón de la Cena. Madrid: BAC, 1951, p.183.
8) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.49, a.6; q.59, a.3.
9) GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. Les trois âges de la vie intérieure. Paris: Du Cerf, 1955, v.II, p.841.
10) SANTO HILÁRIO DE POITIERS. De Trinitate. L.III, n.16: ML 10, 59.
11) SANTO AGOSTINHO, op. cit., Tractatus CVI, n.1, p.504.
12) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.21, a.4.
13) Idem, ad 2.



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