Comentários ao Evangelho Natal do
Senhor (Missa do Dia) – Ano A
É uma lei da História,
Deus sempre encontrou uma solução superior aos seus planos anteriores, ao serem estes frustrados pela incorrespondência das criaturas.
Como contemplar o Natal sob o prisma dessa constância
do proceder divino? Acompanhemos os comentários da
Liturgia:
1 No princípio existia o Verbo,
e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2 Estava no princípio com Deus.
3 Todas as coisas foram feitas por Ele; e sem Ele nada foi feito. 4 N'Ele
estava a vida, e a vida era a luz dos homens; 5 e a luz resplandeceu nas
trevas, mas as trevas não O receberam. 6 Apareceu um homem enviado por Deus que
se chamava João. 7 Veio como testemunha para dar testemunho da luz, a fim de
que todos cressem por meio dele. 8 Não era a luz, mas veio para dar testemunho
da luz. 9 O Verbo era a luz verdadeira, que vindo a este mundo ilumina todo o
homem. 10 Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, mas o mundo não O
conheceu. 11 Veio para o que era seu, e os seus não O receberam. 12 Mas a todos
os que O receberam, àqueles que crêem no seu nome, deu poder de se tornarem
filhos de Deus; 13 eles que não nasceram do sangue, nem da vontade da carne,
nem da vontade do homem, mas de Deus. 14 E o Verbo fez-se carne, e habitou
entre nós; e nós vimos a sua glória, glória como de Filho Unigênito do Pai,
cheio de graça e de verdade. 15 João dá testemunho d'Ele e clama: "Este
era Aquele de Quem eu disse: O que há de vir depois de mim é mais do que eu,
porque existia antes de mim". 16 Todos nós participamos da sua plenitude,
e recebemos graça sobre graça; 17 porque a Lei foi dada por Moisés, mas a graça
e a verdade foram trazidas por Jesus Cristo. 18 Ninguém jamais viu a
Deus; o Unigênito de Deus, que está no seio do Pai, Ele mesmo é que O deu a
conhecer (Jo 1, 1-18).
As autênticas obras de arte levam seus autores a com elas se
encantarem logo após o último retoque. O grande Michelangelo foi um exemplo
pitoresco ao contemplar seu famoso "Moisés". A escultura se
apresentou diante de seus olhos com tanta realidade que arrancou de seu
italianíssimo coração a célebre exclamação: "Parla! Perche non
parla?" Sim, só faltava falar aquela bela figura lavrada em mármore. Mas,
para tal, era preciso uma arte ainda mais requintada, a de poder transmitir-lhe
a própria vida. Todavia, Michelangelo nada pôde fazer nesse sentido, a não ser,
cheio de emoção, desferir um golpe de martelo no joelho da estátua,
produzindo-lhe a marca que ainda hoje pode ser vista.
Esse episódio nos faz recordar outro semelhante e mais antigo, o do insuperável
e perfeitíssimo boneco de barro. Modelado com precisão absoluta, seu Autor se
encantou ao contemplá-lo e, sendo infinitamente mais capaz do que Michelangelo,
com um simples sopro, infundiu-lhe a vida humana: "O Senhor formou, pois, o homem do
barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou
um ser vivente" (Gen 2, 7). E se isso não bastasse para
consagrar a onipotência de Deus, determinou Ele também a criação de Eva: "Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e
enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da
costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para
junto do homem" (Gen 2, 21-22). Assim, criou-os na graça, além de infundir-lhes
especiais dons e virtudes.