-->

sábado, 9 de maio de 2015

Evangelho – VI Domingo de Páscoa – Jo 15, 9-17 – Ano B

Continuação dos Comentários ao Evangelho – VI Domingo de Páscoa   Jo 15, 9-17 – Ano B
II – A substância do amor de Nosso Senhor por nós
Encontra-se Nosso Senhor no Cenáculo, dando as últimas recomendações aos discípulos, antes de seguir para o Horto das Oliveiras, onde se daria a sua prisão.
É a despedida. “O amor àqueles pobres discípulos, destinados a serem os executores de seu pensamento, os continuadores de sua obra salvadora, abrasava seu Coração, mais entranhável do que nunca; mas por enquanto — embora cheios de boa vontade —, desorientados, consternados, trêmulos, eles nada compreendiam de seu pensamento. Todos esses sentimentos palpitam nas declarações feitas por Jesus durante o Sermão”.3
O relacionamento entre duas Pessoas Divinas
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 9a Como meu Pai Me amou...”
Nosso Senhor acabara de exortar os discípulos: “Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós” (Jo 15, 4). E agora Ele faz esta afirmação, simples à primeira vista — “Como meu Pai me amou” —, mas que, considerada em sua profundidade, muito nos ajudará a ter uma ideia mais precisa do que vem depois.
O amor do Pai pelo Filho existe desde toda a eternidade e é inexprimível em termos humanos, porque Ele se dá entre duas Pessoas Divinas e idênticas. “Quem Me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9), disse Jesus. Reconhecendo-Se inteiramente projetado no Filho e comprovando o quanto Ele é idêntico a Si, o Pai só pode amá-Lo como Ele mesmo Se ama: “Tu és o meu Filho muito amado; em ti ponho todas as minhas complacências” (Mc 1, 11).
Uma imagem humana pode nos ajudar a compreender esse amor de identidade: a mãe quer o seu filho porque vê nele uma imagem, um prolongamento de si mesma, e o filho quer sua mãe por ver nela a fonte da qual proveio. Ora, o profundo vínculo natural entre mãe e filho não passa de pálida figura do existente entre o Pai e o Filho, por ele gerado desde toda a eternidade. Pois do relacionamento puríssimo entre duas Pessoas Divinas que se amam reciprocamente por serem idênticas procede uma terceira: o Espírito Santo.
A Santíssima Trindade, mistério central da nossa fé e da vida cristã, supera por completo nossa capacidade de compreensão. “O Pai ama seu Filho. Ele é tão belo! É sua própria luz, seu próprio esplendor, sua glória, sua imagem, seu Verbo… O Filho ama o Pai. Ele é tão bom e dá-Se-Lhe íntegra e totalmente, no ato gerador, com tão amável e completa plenitude! E esses dois imensos amores do Pai e do Filho não se expressam no Céu por meio de palavras, cantos, gritos… porque o amor, chegando ao grau máximo, não fala, não canta, não grita; ele se expande num alento, num sopro, que entre o Pai e Filho se torna, como Eles, real, substancial, pessoal, divino: o Espírito Santo”.4

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Evangelho – VI Domingo de Páscoa – Jo 15, 9-17 – Ano B

Comentário ao Evangelho – VI Domingo de Páscoa   Jo 15, 9-17 – Ano B
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 9 Como meu Pai me amou, assim também Eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10 Se guardardes os meus Mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu guardei os Mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor.
11 E Eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. 12 Este é o meu Mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei. 13 Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. 14 Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. 15 Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.
16 Não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá. 17 Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros” (Jo 15, 9-17).
A medida, infinita, do nosso amor ao próximo
Fácil é relembrar, mas nem sempre o é cumprir, o mandato evangélico de amar o próximo como a si mesmo. Pouco antes de sua Paixão, Nosso Senhor traçou os vastos limites da caridade que devemos ter uns pelos outros.
I– A iniciativa parte sempre de Deus
Se tivéssemos uma noção do amor que o Criador tem por cada um de nós, talvez fôssemos capazes de avaliar com exatidão a medida com que devemos amá-Lo. Mas, sendo Deus a Humildade em substância, Ele frequentemente não mostra a mão quando intervém nos acontecimentos, para nos converter ou nos sustentar na fé. Deste modo, corremos o risco de formar uma ideia muito irreal da solicitude divina em relação a nós.
Somos, por exemplo, católicos, apostólicos e romanos, e pensamos ter sido nossa adesão à Religião verdadeira fruto de uma decisão motivada pela superioridade desta sobre as outras crenças. Ou seja, julgamos termos sido nós mesmos os que escolhemos a Deus, quando, pelas nossas próprias forças, jamais seríamos capazes nem sequer de praticar de forma estável os Dez Mandamentos.
No referente à nossa conversão, é sempre o Criador quem toma a iniciativa. Foi Ele que nos criou, Ele que nos escolheu para fazermos parte da Igreja e é Ele quem nos dá as graças indispensáveis para segui-Lo. Desde toda a eternidade, manifestou uma predileção gratuita por cada um de nós ao nos escolher entre as infinitas possibilidades de criaturas humanas que existem no divino Intelecto. E, podendo nos ter destinado a uma felicidade puramente natural, quis que as criaturas inteligentes participassem de sua própria vida, como bem põe em realce o Pe. Arintero: “Por um prodígio de amor que jamais poderemos devidamente admirar, e muito menos agradecer, dignou-Se sobrenaturalizar-nos desde o princípio, elevando-nos nada menos do que à sua própria categoria, fazendo-nos participar de sua vida, de sua infinita virtude, de suas peculiares ações e de sua eterna felicidade: quis que fôssemos deuses”.1
Ao nos criar, Deus dotou cada um com uma vocação única, específica e irrepetível, seja religiosa ou laical. E, ao longo de toda a nossa existência nos dá, ademais, graças maiores ou menores, mas sempre suficientes para a nossa salvação eterna.
Mais ainda. Tendo o homem caído em pecado no Paraíso, Deus poderia ter feito com que ele voltasse ao nada, arrependido de havê-lo criado, ou usar inúmeros caminhos para reparar a falta cometida. Pois sendo Ele ao mesmo tempo Juiz e Ofendido, nada O impedia de perdoar a dívida contraída sem nada demandar em desagravo.
Porém, exigindo a sua honra infinita uma reparação à altura, Deus, numa indizível manifestação de amor, impossível de ser cogitada sem o pecado dos nossos primeiros pais, resolveu entregar o seu próprio Filho à morte para nos dar a vida, como proclama São João na segunda leitura: “Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu único Filho ao mundo para que tenhamos a vida por meio d’Ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados” (I Jo 4, 9-10).
Encarnando-Se e passando pelos tormentos da Paixão, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade trouxe para nós um verdadeiro oceano de graças, “uma inefável comunicação amorosa e livre, mas íntima e inconcebível, da vida divina às criaturas racionais, por onde o sobrenatural e o natural, o divino e o humano se juntam, se harmonizam e se completam, sem que por isto se confundam!”.2

Tal é, em grandes traços, o amor de Deus por cada um de nós, que veremos se manifestar de forma extraordinária no Evangelho de hoje.
Continua no próximo post