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sábado, 14 de março de 2015

EVANGELHO DO 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO B– Jo 12, 20-33

COMENTÁRIO AO EVANGELHO DO 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO B– Jo 12, 20-33
Naquele tempo, 20 havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar durante a festa. 21 Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e disseram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. 22 Filipe combinou com André, e os dois foram falar com Jesus. 23 Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. 24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto. 25 Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. 26 Se alguém me quer seguir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. 27 Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. 28 Pai, glorifica o teu nome!” Então veio uma voz do céu: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!” 29 A multidão, que aí estava e ouviu, dizia que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: “Foi um anjo que falou com ele”. 30 Jesus respondeu e disse: “Essa voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por causa de vós. 31 É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, 32e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”. 33 Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer”. ( Jo 12, 20-33 )
“Pai, glorifica o teu nome!”
Ao receber um sinal de sua Paixão próxima, Jesus vê chegar a hora da glorificação.
A liturgia seleciona o Evangelho deste domingo com vistas à preparação da Paixão de nosso Salvador. A morte de Jesus se avizinha e, ao mesmo tempo, já se antecipam os primeiros lampejos de sua glorificação posterior. “Per crucem ad lucem” — chegará aos esplendores do triunfo por meio da cruz. Analisemos o relato de São João Evangelista.
Alguns gregos desejam conhecer Jesus
Naquele tempo, 20havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar durante a festa. 21Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e disseram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. 22Filipe combinou com André, e os dois foram falar com Jesus.
Conforme muitos comentaristas, esse episódio está relacionado com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Tudo leva a crer que Nosso Senhor estava ainda com os discípulos no chamado Pátio dos Gentios.
O grupo que se aproximou de Filipe era constituído por gentios gregos, e não por judeus vindos da Grécia. Contudo, eram prosélitos, ou pelo menos fortes simpatizantes da religião hebraica, tanto que subiram ao Templo para adorar o verdadeiro Deus.

sexta-feira, 13 de março de 2015

EVANGELHO DO 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO B– Jo 12, 20-33

COMENTÁRIO AO EVANGELHO DO 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO B– Jo 12, 20-33
Naquele tempo, 20 havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar durante a festa.
21 Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e disseram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”.
22 Filipe combinou com André, e os dois foram falar com Jesus.
23 Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado.
24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto.
25 Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna.
26 Se alguém me quer seguir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará.
27 Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim.
28 Pai, glorifica o teu nome!”
Então veio uma voz do céu: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!”
29 A multidão, que aí estava e ouviu, dizia que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: “Foi um anjo que falou com ele”.
30 Jesus respondeu e disse: “Essa voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por causa de vós.
31 É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, 32 e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”.
33 Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer”. ( Jo 12, 20-33 )
“Pai, glorifica o teu nome!”
Ao receber um sinal de sua Paixão próxima, Jesus vê chegar a hora da glorificação.
A liturgia seleciona o Evangelho deste domingo com vistas à preparação da Paixão de nosso Salvador. A morte de Jesus se avizinha e, ao mesmo tempo, já se antecipam os primeiros lampejos de sua glorificação posterior. “Per crucem ad lucem” — chegará aos esplendores do triunfo por meio da cruz. Analisemos o relato de São João Evangelista.
Alguns gregos desejam conhecer Jesus
Naquele tempo, 20havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar durante a festa. 21Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e disseram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. 22Filipe combinou com André, e os dois foram falar com Jesus.
Conforme muitos comentaristas, esse episódio está relacionado com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Tudo leva a crer que Nosso Senhor estava ainda com os discípulos no chamado Pátio dos Gentios.
O grupo que se aproximou de Filipe era constituído por gentios gregos, e não por judeus vindos da Grécia. Contudo, eram prosélitos, ou pelo menos fortes simpatizantes da religião hebraica, tanto que subiram ao Templo para adorar o verdadeiro Deus.
A presença de gregos junto de Nosso Senhor indica a próxima conversão dos gentios. Serão estes convidados a se unirem ao triunfo messiânico de Cristo, incorporando-se ao seu rebanho. Pelo contexto do Evangelho de São João, vê-se que não desejam encontrar-se com o Divino Mestre apenas por curiosidade. Deviam ter ouvido narrações sobre os atos maravilhosos operados por Jesus, e ecos de sua divina doutrina. Cheios de admiração, estavam ansiosos para se aproximarem d’Ele, e talvez quisessem apresentar-Lhe questões como as que com frequência surgem entre neo-convertidos. Quiçá até já tivessem tido contato com os apóstolos. Filipe — como faz questão de sublinhar o evangelista — era de Betsaida, local onde os gregos eram numerosos. Assim, sentiram-se mais à vontade dirigindo-se a ele.
Ao ouvir-lhes o pedido, Filipe não o recusou. Este é mais um indício de que já os conhecia e os achava dignos de se aproximarem do Senhor. Contudo, sentiu-se em dificuldade. Com efeito, tinha já assistido às reações nada favoráveis do Mestre para com os gentios. Por exemplo, o episódio da cananéia. Esta, por sua humilde insistência, acabou conseguindo que o Senhor a atendesse: “Disse-lhe, então, Jesus: Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada” (Mt 15, 22-28). Quiçá por receio do que poderia acontecer, o jovem apóstolo tenha achado melhor apoiar-se em André.
E os dois foram juntos apresentar a Jesus o pedido dos gregos. Terão sido atendidos pelo Mestre? Se o foram, quais os temas tratados? São João não nos informa, pois seu Evangelho normalmente focaliza menos os fatos que a substância moral deles.
O sinal esperado por Nosso Senhor
23 Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado.
Ao longo do Evangelho, várias vezes a natureza humana de Nosso Senhor aparece com maior intensidade, enquanto noutras ocasiões refulge sua divindade. No presente episódio, Ele reage como homem àquele pedido dos gregos, com o qual ficou profundamente impressionado. Por quê? Porque estava à espera de um sinal claro de que sua hora estava chegando. A aproximação desses gentios — conforme comenta Santo Agostinho — era esse sinal, pois dava a entender que povos de todas as nações haveriam de crer n’Ele depois de sua Paixão e Ressurreição. Indício, portanto, do caráter universal de sua pregação e missão, e da aproximação da hora em que seria glorificado.
Vinham, assim, mesclados, o presságio da glorificação e o dos horríveis tormentos pelos quais Ele haveria de passar: “E quando eu for levantado da terra” — dirá Ele pouco mais adiante — “atrairei todos os homens a mim. Dizia, porém, isto, significando de que morte havia de morrer” (Jo 12, 32-33). O enfoque dado por Jesus à sua morte é, pois, de triunfo, de glorificação. Procuremos aprofundar este ponto.
Aproxima-se a hora da glorificação
Sabemos que a humildade é uma alta virtude, cuja prática é imposta a todos pelo Divino Mestre: “Todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado” (Lc 14,11). E Nossa Senhora cantou no Magnificat: “Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes” (Lc 1, 51-52).
A condenação dos orgulhosos encontra-se praticamente do início ao fim da Sagrada Escritura, na mesma linguagem contundente destes dois trechos.
Entretanto, vemos agora nosso Redentor afirmar: “É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado”. Já anteriormente Jesus havia dito: “Não busco a minha glória. Há quem a busque e Ele fará justiça” (Jo 8, 50). E mais próximo à Paixão, “Jesus afirmou essas coisas e depois, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora. Glorifica teu Filho, para que teu Filho glorifique a ti; (...) Agora, pois, Pai, glorifica-me junto de ti, concedendo-me a glória que tive junto de ti, antes que o mundo fosse criado” (Jo 17, 1 e 5).
Como explicar essa aparente contradição?
Na verdade, existe uma glória verdadeira ao lado da glória vã. Assim, Jesus não procura sua própria glória, mas não deixa de afirmar a máxima excelência de sua natureza divina e de manifestá-la aos outros, sempre que as circunstâncias o exijam. Há, então, uma exaltação e uma glória que são boas. Como se distinguem da vanglória? Com sua consagrada clareza, São Tomás de Aquino elucida esse problema na Suma Teológica.
Glória e vanglória
O Doutor Angélico começa por se perguntar se o desejo de glória é pecado. Para responder, ele lembra que , segundo Santo Agostinho, “receber glória é receber brilho”. E continua: “O brilho tem uma beleza que impressiona os olhares. É a razão pela qual a palavra glória implica a manifestação de algo que os homens julgam belo. (...) Mas, como aquilo que é especialmente brilhante pode ser visto pela multidão, mesmo de longe, a palavra glória indica precisamente que o bem de alguém chega à aprovação e conhecimento de todos”. Tendo assim definido o sentido de “glória”, ele afirma: “Que se conheça e aprove seu próprio bem, não é pecado”. Igualmente “não é pecado querer que suas boas obras sejam aprovadas pelos outros, pois lê-se em São Mateus (5, 16): ‘Brilhe vossa luz diante dos homens’. Assim, o desejo de glória, de si, não se refere a nada de vicioso.” Em sentido contrário, explica São Tomás que o apetite da glória vã é vicioso e se verifica em três circunstâncias: 1) quando a realidade da qual quer-se tirar a glória não existe ou não é digna de glória; 2) quando as pessoas junto às quais se procura a glória não têm opiniões confiáveis; 3) quando o desejo de glória não está relacionado com o fim necessário: a honra de Deus ou a salvação do próximo. Na seqüência desse raciocínio, o Aquinate afirma: “O homem pode louvavelmente desejar sua própria glória para o serviço dos outros, como está dito (Mt 5, 16): ‘para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus’.” A glória que podemos receber de Deus não é vã, e ela está prometida em recompensa pelas boas obras.
É legítimo desejar a própria glória
O resultado é que se pode desejar o louvor “enquanto for útil para alguma coisa: 1) para que Deus seja glorificado pelos homens; ou 2) para que os homens progridam por causa do bem que descobrem no outro; ou 3) para que o próprio homem, pelos bens que ele descobre em si pelo testemunho de elogio que lhe é dado, se esforce para perseverar e progredir mais nisso.”
Temos, portanto, de um lado a vanglória, e de outro a verdadeira glória, virtuosa desde que voltada para o louvor de Deus, para o fazer bem aos outros e para a própria santificação.
São Tomás conclui sua análise tratando da necessidade de cada um zelar por sua boa fama, e assevera: “É louvável tomar cuidado pelo bom renome, e querer ser bem visto por Deus e pelos homens, mas não deleitar-se em vão com o elogio dos homens.”
Em vista disso, almejar a própria honra é uma obrigação. Assim nos exorta o livro do Eclesiástico (41, 15-16): “Cuida em procurar para ti uma boa reputação, pois esse bem ser-te-á mais estável que mil tesouros grandes e preciosos. A vida honesta só tem um número de dias; a boa fama, porém, permanece para sempre.” O livro dos Provérbios (22, 1) vai no mesmo sentido: “O bom renome vale mais que grandes riquezas; a boa reputação vale mais que a prata e o ouro.” E São Paulo aconselha (Rm 12, 17): “Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens”.
Sacrifício indispensável
Analisemos agora as belíssimas palavras de Jesus, suscitadas pelo pedido daqueles gregos: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto” (Jo 12, 24).
Assim como o grão de trigo, Ele precisa morrer, e por morte de cruz. Diante desse supremo sacrifício, transparece a debilidade da natureza humana assumida pelo Verbo de Deus. Seus argumentos mais parecem destinados a solidificar sua decisão, entretanto já tomada: “Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me; e, onde eu estiver, estará ali também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará” (Jo 12, 25-26).
Quem se entrega à prática dos vícios e do pecado, ama sua vida neste mundo, esclarece São João Crisóstomo. Se resistir às paixões, conservá-la-á na vida eterna.
Getsêmani
“Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas que direi?” Silêncio. “Pai, salva-me desta hora.” Silêncio. “Mas, para padecer nesta hora é que Eu vim a ela. Pai, glorifica o teu nome!” (Jo 12, 27-28). O monólogo de Nosso Senhor prossegue, mais pessoal, mais sublime, mais confrangedor. Suas palavras são entrecortadas por silêncios meditativos, indicados pelo evangelista com reticências. O Redentor estremece à vista da cruz e — comenta São João Crisóstomo — sua turbação nos mostra quão inteiramente Ele, sendo embora a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, havia assumido a natureza humana. Mistério inefável e inatingível por nossa inteligência, o paradoxo de sentimentos simultâneos e opostos numa mesma pessoa: enquanto a natureza divina estava permanentemente pleníssima de gáudio, a humana O levaria a suar sangue no Getsêmani. Entretanto, possuindo um nobre Coração, em instantes reagiu às angústias, retomando a suprema paz, conforme comenta o célebre exegeta L. Cl. Fillion na sua conhecida obra sobre a vida do Salvador.
A voz do Pai se faz ouvir
“Pai, glorifica o teu nome.” Com sua morte, Jesus queria sobretudo a glória do Pai, e este ouviu sua oração: “Nisto veio do céu uma voz: Já o glorifiquei e tornarei a glorificá-lo. Ora, a multidão que ali estava, ao ouvir isso, dizia ter havido um trovão. Outros replicavam: Um anjo falou-lhe. Jesus disse: Essa voz não veio por mim, mas sim por vossa causa” (Jo 12, 28-30).
Esta foi uma das três ocasiões em que o Pai se manifestou publicamente, segundo narra o Evangelho (as outras duas foram no batismo do Senhor e na sua transfiguração), sempre no sentido de glorificar o Filho. Aqui Ele se dirige a todos os homens, anunciando o triunfo do Verbo Encarnado, e dando a Jesus ensejo a contemplar, com a luz da ciência divina, os frutos de sua Paixão: “Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo. E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim. Dizia, porém, isto, significando de que morte havia de morrer” (Jo 12, 31-33).
“Juízo deste mundo” aqui significa, segundo comenta Santo Agostinho, o quanto o poder do demônio sobre os redimidos seria quebrado por Jesus. E Fillion acrescenta: “O Salvador contempla sua futura vitória sobre todos os seus inimigos como se fosse já uma realidade. Vê o mundo perverso, este seu adversário poderoso, já julgado e condenado; vê o ‘príncipe deste mundo’, quer dizer, Satanás, expulso da maior parte de seus domínios, graças à conversão dos gentios. (...) Jesus esquece as humilhações e as dores do suplício, para não pensar senão em suas felizes consequências”.
Duas lições
O Evangelho de hoje nos traz duas belas e importantes lições: para a glória de Deus, não só devemos aceitar o sacrifício de nossa própria vida, como também apartar-nos da vanglória; e, se necessário for, buscar a verdadeira glória para o bem dos outros e de nós mesmos. “Christianus alter Christus” (o cristão é um outro Cristo). Temos a obrigação de ser outros Cristos no que tange ao fim último para o qual fomos criados e redimidos: “ad majorem Dei gloriam”, para a maior glória de Deus, conforme o lema escolhido por Santo Inácio de Loyola para a sua Companhia de Jesus.


quarta-feira, 11 de março de 2015

Evangelho IV Domingo da Quaresma – Ano B – Jo 3, 14-21

Conclusão dos comentários ao Evangelho IV Domingo da Quaresma – Ano B
17 De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.
Algumas traduções usam o verbo “julgar” e não “condenar”. Realmente, no latim encontramos ut iudicet mundum. Ora, para os judeus — conforme nos explica Maldonado — os dois verbos têm o mesmo significado de “castigar”. Dada a manifestação do grande poder de Jesus através de seus numerosos milagres (10), Nicodemos se aproxima d’Ele tomado de forte temor reverencial. De fato, Jesus devia produzir em seus circunstantes um misto de atração e de temor. Por ser a Grandeza, Ele arrebata e ao mesmo tempo impõe respeito. Para um espírito culto e inteligente como Nicodemos, a compreensão da magna figura do Mestre — sobretudo depois das revelações que Ele fez, sintetizadas nos versículos anteriores — fê-lo imaginar o castigo de que um tal Profeta seria portador. Daí essas afirmações de Nosso Senhor contidas nos versículos 16 a 21, tornando claro quanto Ele traz a salvação, sob a condição da fé e das boas obras.

terça-feira, 10 de março de 2015

Evangelho IV Domingo da Quaresma – Ano B – Jo 3, 14-21

Continuação dos comentários ao Evangelho IV Domingo da Quaresma – Ano B

Pré-figura da Crucifixão
Entretanto, está também figurada a Crucifixão, como ressaltam todos os comentaristas; por exemplo, Santo Agostinho:
“Que significa a serpente levantada? A morte do Senhor na cruz. A morte proveniente da serpente foi representada pela imagem da serpente. A mordedura mortal da serpente representa a morte vital do Senhor. Olha-se para a serpente a fim de que a serpente não mate. Que significa isso? Olha-se para a morte, para o Senhor morto, para que a morte não mate. Mas para a morte de quem? Para a morte da Vida, se assim se pode dizer. (...) Cristo não é a Vida? Todavia, foi suspenso na cruz. (...) Mas a morte foi morta na morte de Cristo, porque a Vida que foi morta matou a morte.
“Assim como os que olhavam para a serpente de bronze não morriam com as mordeduras das serpentes, assim os que olham com fé para a morte de Cristo são curados das mordeduras dos pecados. Mas aqueles eram livres da morte no tocante à vida temporal, enquanto estes têm a vida eterna. Aqui está a diferença entre a figura e a realidade. A figura dava a vida temporal, e a realidade dá a vida eterna” (4).
Jesus prepara as mentalidades para a aceitação do dogma
Resta dizer uma palavra sobre a expressão “o Filho do Homem”, que aparece 82 vezes ao longo dos Evangelhos, quase sempre saída dos adoráveis lábios de Jesus e, ademais, exclusivamente aplicada a Ele. O Antigo Testamento traz à tona essa mesma expressão, ora referindo-se a um simples homem, ora a um ser sobrenatural superior a um homem comum (5).
No Cristo nós encontramos a misteriosa união de duas naturezas— a divina e a humana — numa só Pessoa. Era indispensável ir preparando as mentalidades para a aceitação, com base na fé, desse altíssimo dogma. Hoje — depois de dois milênios, com toda a tradição e o grande desenvolvimento doutrinário da Teologia — temos mais facilidade para abraçar essa fundamental verdade revelada. Contrariamente, naqueles tempos, a cultura religiosa prognosticava uma figura messiânica muito diferente. O Messias deveria ser um grande condestável de nacionalidade judaica que daria ao seu povo a supremacia sobre todas as outras nações, libertando-o de qualquer ônus, submissão ou tributo. Sobretudo naquele momento em que os judeus estavam subjugados política e tributariamente ao Império Romano, o termo “Messias”, lançado ao ar, colocava em movimento uma dinâmica cadeia de sentimentos nacionalistas.

domingo, 8 de março de 2015

Evangelho IV Domingo da Quaresma – Ano B – Jo 3, 14-21

Comentários ao Evangelho IV Domingo da Quaresma – Ano B
Disse Jesus a Nicodemos: 14 Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15 para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. 16 Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17 De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18 Quem nele crer, não é condenado, mas, quem não crer, já está condenado porque não acreditou no nome do Filho unigênito 19. Ora, o julgamento é esse: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. 20 Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas.21 Mas, quem age conforme a verdade, aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus. (Jo 3, 14-21)
A conversa noturna
Recebendo afavelmente um potencial discípulo, Jesus, o primeiro evangelizador da História, procura prepará-lo com cuidado e tato didático para ser capaz de crer na sua divindade.
Jesus fortalece a fé de um discreto discípulo
Ânimos divididos ante a figura de Jesus
O presente Evangelho é a parte final da conversa noturna havida entre Jesus e Nicodemos. Antes desse encontro, havia Ele realizado o milagre das bodas de Caná e expulsado os vendilhões do Templo. Crescia o número dos convertidos, pois todos comprovavam a grandiosidade de Jesus “ao verem os milagres que fazia” (Jo 2, 23). Entretanto não era íntegra, como deveria ser, a fé daqueles admiradores, porque as esperanças do povo judeu estavam voltadas para um Messias politizado, carregado de dotes humanos, segundo o conceito mundano da época. Por isso “Jesus não se fiava neles” (Jo 2, 24). Se alguns chegavam a discernir os aspectos sobrenaturais de Jesus, faltava-lhes entretanto a proporcionada abnegação e entrega para segui-Lo incondicionalmente.
Apesar disso, da parte do povo miúdo a nota tônica era de franca simpatia.
Não ocorria o mesmo com as autoridades religiosas. Aparecera diante deles um profeta pregando uma doutrina nova, dotada de potência, que abalava a estrutura dos princípios religiosos aprendidos por eles numa escola de longa tradição. Sobre essa dificuldade, acrescentara-se outra grave: a expulsão dos vendilhões do Templo. Por causa disso, os ânimos estavam fortemente susceptibilizados, e a figura de Jesus, além de lhes criar um tormentoso problema de consciência, a cada passo fazia-lhes sangrar as mal cicatrizadas feridas do ressentimento.
A discreta fidelidade de Nicodemos
De dentro dessa moldura sócio-psico-religiosa, surge a figura de Nicodemos. Segundo São João, trata-se de um fariseu, príncipe dos judeus, que receando comprometer sua reputação no meio de seus companheiros, procurou encontrar-se com Jesus de maneira oculta.(cf. Jo 3,1-2)
De fato, era tal a sanha de indignação dos fariseus contra o Divino Mestre que, se Nicodemos assim não procedesse, sofreria terríveis perseguições. Os Evangelhos são ricos em pormenores a esse respeito, mas bastaria relembrar o dito dos fariseus quando se indignaram contra os agentes que deveriam ter prendido Jesus: “Houve, porventura, alguém dentre os chefes do povo ou dos fariseus que acreditasse n’Ele? Quanto a esta plebe que não conhece a Lei, é maldita” (Jo 7, 48-49). Essa é a razão pela qual Nicodemos, como José de Arimatéia, embora sempre fiel, manteve grande discrição até o fim (1). Apesar disso, é digna de nota a imperfeição da fé de Nicodemos no Homem-Deus; chama-O de Mestre por causa de seus milagres, mas O vê apenas como um grande homem auxiliado pelo poder de Deus.
O Redentor aproveitou a circunstância de sua visita para ilustrar e fortalecer a fé desse seu novo e secreto discípulo (2), preparando-o para aceitar sua divindade, fazendo-o conhecer algo sobre o Batismo e a Encarnação. E acaba por lhe declarar o objetivo último de sua vinda a esta terra: a salvação dos homens através de sua morte, e morte de cruz. Esta é a temática da Liturgia de hoje.
A Serpente de bronze Símbolo do filho do homem
14 Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15 para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna.
São Cirilo de Alexandria faz uma aproximação entre o Batismo, anteriormente enunciado por Jesus, e a figura da serpente de bronze. Segundo ele, pelo fato de Nicodemos talvez não ter alcançado o significado dos aspectos sobrenaturais desse Sacramento, o Mestre resolveu recordar-lhe esse episódio tão conhecido de todo o povo israelita, a fortiori de quem era fariseu, como seu visitante.
O episódio do Antigo Testamento
Tendo partido do Monte Hor na direção do Mar Vermelho, o povo judeu se revoltara contra Moisés, e até mesmo diretamente contra Deus, devido ao cansaço, ao enfaramento e à falta de pão, água e de outro alimento que não o maná. Por castigo, Deus enviou serpentes cujas picadas produziam inflamação, febre e, finalmente, a morte; daí seu nome: “de fogo”. Imploraram então os judeus a intercessão de Moisés junto a Deus. Este não eliminou o mal, mas concedeu-lhes um remédio: todo aquele que fosse atacado pelo mortífero animal, ficaria imediatamente curado se olhasse para uma serpente de bronze a qual, por ordem divina, o Profeta havia fixado sobre um poste (3).
Esse objeto foi tomado pelo povo como um símbolo da cura que lhes era concedida por Deus.
Nicodemos devia conhecer a interpretação exata desse milagre, constante no Livro da Sabedoria: “E tiveram logo um sinal de salvação (...) Porque aquele que se voltava para o referido sinal não era curado porque o via, mas sim por Ti, que és o Salvador de todos os homens” (16, 5-7).
Imagem da Redenção
É divina a didática de Jesus. Conforme os comentaristas, entre as múltiplas imagens da Redenção do gênero humano, nenhuma é superior a esta: uma serpente sem veneno para curar os males produzidos por picadas de serpentes. Afirma São Paulo: “Assim como pelo pecado de um só, incorreram todos os homens na condenação, assim pela justiça de um só recebem todos os homens a justificação da vida” (Rm 5, 18). — “E, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Cor 15, 22).
Por que razão é o bronze a matéria da serpente salvadora? Variadas são as opiniões. Preferimos a de Eutímio: por representar Cristo, a serpente não deveria ser de substância frágil, de modo que pudesse tornar patente a diferença entre nossa carne, sujeita ao pecado, e a do Redentor, forte e invulnerável à mínima fímbria de imperfeição.
“Atrairei todos os homens a Mim”
O Filho do Homem deveria ser levantado tal qual a serpente de bronze de Moisés. O primeiro significado dessa comparação salta à mente como sendo sinônimo de glorificação. E certamente assim o entendeu Nicodemos, pois não pediu explicações a esse respeito, como faria a multidão mais tarde: “E como dizes Tu que o Filho do Homem deve ser levantado?” (Jo 12, 34). Essa nota de glória transparece claramente na voz que veio do céu: “Eu O glorifiquei e O glorificarei novamente” (Jo 12, 28), sobre a qual Jesus comenta: “E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos os homens a Mim” (Jo 12, 32). Ou seja, todos os povos, judeus e pagãos, iriam reconhecê-Lo como o Salvador.

Pré-figura da Crucifixão
Continua no próximo post