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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Maria Madalena, o arauto da Boa Nova

 “Deus o ressuscitou ao terceiro dia, permitindo que aparecesse a nós...”
Maria Madalena: a que mais ferventemente amava o Senhor
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã, sendo ainda escuro, e viu a pedra retirada do sepulcro.
Para o amor, nada é impossível, disse Santa Teresinha do Menino Jesus. Maria Madalena vivia inebriada de amor a Jesus e por isso não podia conter-se de desejo de adorar e perfumar Seu sagrado corpo. Despertou-se de madrugada e servindo-se da luminosidade prateada do luar, dirigiu-se ao Santo Sepulcro: “Não cabe dúvida de que Maria Madalena era a que mais ferventemente amava o Senhor entre todas as mulheres que O haviam amado; assim, não é sem motivo que São João faz menção somente a ela, sem nomear as outras que com ela foram, como asseguram os outros Evangelistas”.
São João, além de ter escrito este relato bem depois dos outros Evangelistas, deve ser o mais objetivo ao afirmar que o Sol não havia raiado ainda. A esse respeito, vários são os comentários como, por exemplo, o de São Gregório: “Com razão se diz: ‘Sendo ainda escuro’, porque, com efeito, Maria buscava no sepulcro o Criador do universo, que ela amava, e, não O tendo encontrado, imaginou que O haviam roubado; e por conseguinte encontrou trevas quando chegou ao sepulcro”.
Belo exemplo para nós. Madalena buscava o adorável corpo de Jesus jazido no sepulcro, a nós foi concedida a imensa graça de recebê-Lo vivo e em Seu estado de glória. Será que nós possuímos a mesma e empenhada solicitude e devoção em buscar Jesus na Eucaristia, logo ao acordarmos?
São Mateus narra com mais detalhes os antecedentes dessa chegada de Madalena ao túmulo do Senhor, fazendo menção ao terremoto devido à descida de um anjo, no fulgor de um relâmpago, para remover a pedra, e ao conseqüente desmaio dos guardas, de puro terror (cf. Mt 28, 2-4).
Arauto da boa nova da Ressurreição
Correu então, e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo a quem Jesus amava, e disse-lhes: “Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram”.
“Pedro e João representam a autoridade e o amor, a força do governo e da caridade. Madalena vai a Pedro e João, na angústia que dela se havia apoderado à vista do sepulcro aberto, para buscar direção e sustento. É uma mulher amantíssima do Senhor, mas se reconhece incapaz de julgar e decidir nesse assunto gravíssimo que seus próprios olhos lhe trouxeram ao espírito. Por isso busca a luz do conselho e o amparo da caridade. Em nossas dúvidas, sobretudo no que diz respeito aos assuntos da fé, recorramos aos ofícios daqueles que dela são os custódios natos, e que por sua hierarquia serão nossos guias, e com amorosa solicitude sustentarão nosso espírito”.
Por uma determinação divina, a pregação do evangelho desde seu nascedouro compete aos homens. Entretanto, a História registra algumas poucas, mas comovedoras, exceções como essa contida no presente versículo. Trata-se da primeira e fundamental verdade do evangelho; para comunicá-la aos apóstolos, Deus não escolhe um anjo e nem sequer um homem. É a Madalena que será o arauto da boa nova da ressurreição do Senhor. Logo em seguida, repetir-se-á essa evangelização através de outras santas mulheres.
Com muita propriedade afirma Santo Agostinho: “Ama et quod vis fac” (Ama, e faze o que quiseres). Nesse ato de “imprudência”, ao irem ao sepulcro do Senhor — ainda de madrugada, sem se preocupar com os guardas, nem com a laje a ser removida, não considerando que se trata de uma ação contra a lei civil e contra, até, a própria lei natural — essas mulheres estão cumprindo um outro preceito: um mandamento do amor, ou seja, na prática realizam já as palavras deixadas por Cristo. Nelas, tudo se perdoa pelo fato de agirem por puro amor. O amor próprio está ausente das almas delas. Ao deparar Deus com o verdadeiro amor a Jesus Cristo, Seu Unigênito, Ele próprio toma sobre Si o encargo de limpar as manchas tão comuns às ações executadas pela natureza humana decaída, transformando-as de imperfeitas e imprudentes em obras de santa e meritória ousadia.
Por isso, São João, ao narrar este acontecimento, “não privou a mulher desta glória, nem achou indecoroso que [os dois apóstolos] recebessem por intermédio dela a primeira notícia. Por sua palavra, vão eles com muita solicitude para reconhecer o sepulcro”.
Madalena pronuncia sua informação fazendo uso do verbo no plural: “... e não sabemos ...”, fato este demonstrativo do quanto a descrição se harmoniza com as dos outros evangelistas, pois São João procura completar o relato feito por eles. Madalena, portanto, estava acompanhada pelas outras santas mulheres.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Páscoa- Ressurreição do Senhor

 Vitória de Cristo sobre a morte
“Este é o meu filho muito amado, em quem pus toda a minha complacência...” (Mt 17, 5). Seria suficiente esse amor infinito do Pai pelo Seu Unigênito para que operasse Sua ressurreição, porém, ademais concorreu para tal o brilho da justiça divina, conforme São Tomás de Aquino: “A esta pertence exaltar os que se humilham por causa de Deus, conforme diz Lucas (1, 52): “Destronou os poderosos e exaltou os humildes”. E já que Cristo, por seu amor e obediência a Deus, se humilhou até a morte de cruz, era preciso que Ele fosse exaltado por Deus até a ressurreição gloriosa”

Tomados de adoração, uma vez mais foi-nos possível acompanhar liturgicamente ao longo da Semana da Paixão, o quanto a morte teve uma aparente vitória no Calvário. Todos que por ali passavam podiam constatar a “derrota” de Quem tanto poder havia manifestado não só nas incontáveis curas por Ele operadas, como também em Seu caminhar sobre as águas ou nas duas vezes que multiplicou os pães.
Os mares e os ventos Lhe obedeciam, e até mesmo os demônios eram, por sua determinação, desalojados e expulsos. Aquele mesmo que tantos milagres prodigalizara havia sido crucificado entre dois ladrões e, diante de Seus extremos sofrimentos, “os que passavam O injuriavam, sacudiam a cabeça e diziam: ‘Tu, que destróis o Templo e o reconstróis em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!’ Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos também zombavam dEle: ‘Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nEle! Confiou em Deus, Deus o livre agora, se o ama, porque Ele disse: Eu sou o Filho de Deus!’” (Mt 27, 39-43).
Porém, a maneira pela qual fora removida a pedra do sepulcro e o desaparecimento dos guardas, eram de si, uma prova sensível do quanto havia sido derrotada a morte, conforme o próprio São Paulo comenta: “A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1 Cor 15, 55). Os fatos subseqüentes tornaram ainda mais patente a triunfante Ressurreição de Cristo e por isso os prefácios da Páscoa cantam sucessivamente:
“Morrendo, destruiu a morte, e, ressurgindo, deu-nos a vida” (I). “Nossa morte foi redimida pela sua e na sua ressurreição ressurgiu a vida para todos” (II). “Imolado, já não morre; e, morto, vive eternamente” (III). “E, destruindo a morte, garantiu-nos a vida em plenitude” (IV).
 Constituem essas frases uma sequência de afirmações que proclamam a vitória de Cristo não só sobre Sua própria morte, como também sobre a nossa. Ele é a cabeça do Corpo Místico e, tendo ressuscitado, trará necessariamente a nossa respectiva ressurreição, pois esta nos é garantida pela presença dEle no Céu, apesar de estarmos, por ora, submetidos ao império da morte. De maneira paradoxal, aquele sepulcro violentamente aberto a partir de seu interior, deu à morte um significado oposto, passou ela a ser o símbolo da entrada na vida, pois Cristo quis “destruir pela sua morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio”, e assim libertar os que “estavam em escravidão toda a vida” (Hb 2, 14).
São Paulo tem sua alma transbordante de alegria em face da realidade da Ressurreição de Cristo e nela encontramos nosso triunfo sobre a morte, tal qual ele próprio nos diz: “E assim como todos morreram em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Cor 15, 22);
“...ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram! Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a ressurreição dos mortos” (1 Cor 15, 20-21).
Na Ressurreição vemos, ademais, realizada por Jesus, a profecia que Ele mesmo fizera pouco antes de Sua Paixão: “Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo” (Jo 12, 31). De fato, propriamente dito, o cumprimento dessa profecia se iniciou durante os quarenta dias de retiro no deserto, e teve continuidade passo a passo ao longo de Sua vida pública ao expulsar os demônios que pelo caminho encontrava, chegando ao ápice em Sua Paixão: “Despojou os Principados e Potestades, e fez deles um objeto de escárnio público, levando-os no seu cortejo triunfal” (Cl 2, 15).
Posteriormente, não só o demônio, mas o próprio mundo foi derrotado: inúmeros pagãos passaram a se converter e muitos entregaram a própria vida para defender a cruz, animados pelas luzes da ressurreição do Salvador. Em função dela, passaram a ser acolhidos no Corpo Místico todos os batizados que, revitalizados pela graça e sem deixarem de estar incluídos no mundo, tornaram perpétuo o triunfo de Cristo: “Tende confiança! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). Trata-se, portanto, de uma vitória ininterrupta, mantendo seu rútilo fulgor tal qual no dia de Sua ressurreição, sem uma fímbria sequer de diminuição. Com a redenção, Cristo lacrou as portas do seio de Abraão depois de ter libertado, de seu interior, as almas que ali aguardavam a entrada no gozo da glória eterna.
“Hæc est dies quam fecit Dominus. Exultemus et lætemur in ea!”
Essas são algumas considerações que nos facilitam compreender o porquê de ser a Páscoa da Ressurreição a festa das festas, a solenidade das solenidades, pois o mistério nela presente é dos mais importantes para a história da Cristandade, tal como afirma São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (1 Cor 15, 14).
Por isso, nos primórdios da Igreja, esse período era considerado o mais importante do ano inteiro. Os fiéis se apinhavam na Basílica de São João de Latrão para assistir às cerimônias e muito comum era, entre eles, o cumprimento com a fórmula do “Aleluia!”. Hoje em dia, com o progressivo desbotamento das majestosas comemorações que marcaram os séculos, infelizmente deteriorou-se o sabor da grande importância das solenidades pascais.
A alegria que será a nota dominante dessa celebração far-se-á presente nos cânticos, nos paramentos, no incenso e na própria liturgia. Se bem sejam todos os Domingos do ano dedicados ao Senhor, desde as mais antigas eras a Igreja celebrou com especial júbilo este da Ressurreição; e tal é seu gáudio que sempre o fez prolongar por cinqüenta dias consecutivos, conforme comentava Tertuliano: “Somai todas as solenidades dos gentios, e não chegareis aos nossos cinqüenta dias da Páscoa”.
Ademais, podemos afirmar ser a Ressurreição a festa de nossa esperança, pelo fato de nela encontrarmos não só o extraordinário triunfo de Cristo, como também o nosso próprio, pois se Ele ressurgiu dos mortos, o mesmo se passará conosco. E é em vista desse futuro triunfo nosso que desde já nos é feito o convite para abandonarmos os apegos a este mundo, sem olhar para trás, fixando nossa atenção nos absolutos celestes, conforme nos aconselha o Apóstolo: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com Ele na glória” (Cl 3, 1-4).
O depósito de fé que nos foi deixado por Jesus e pelos apóstolos sobre este fundamental acontecimento escatológico é corroborado por estas palavras de São Tomás de Aquino: “Ao ver ressuscitar Cristo, que é nossa cabeça, esperamos que também ressuscitaremos nós. Assim é como se diz: ‘Se de Cristo se prega que ressuscitou dos mortos, como entre vós dizem alguns que não há ressurreição dos mortos?’ (1 Cor, 15, 12)” 4. E aí está mais uma maravilha a promover a exultação de nosso instinto de conservação. Esse instinto terá sua plena realização no fim dos tempos, proporcionando-nos verdadeira e eterna felicidade, garantida pelo próprio Cristo Ressurrecto.