-->

sábado, 29 de março de 2014

EVANGELHO DO V DOMINGO DA QUARESMA - Jo 11, 1-45 - Ano A

COMENTÁRIO AO EVANGELHO DO V DOMINGO DA QUARESMA
EVANGELHO - Jo 11, 1-45 - A ressurreição de Lázaro
RETORNO DE JESUS A BETÂNIA
Estava doente um homem, chamado Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de Marta, sua irmã. 2 Maria era aquela que ungiu o Senhor com perfume e Lhe enxugou os pés com seus cabelos, cujo irmão, Lázaro estava doente. 3 Mandaram, pois, suas irmãs dizer a Jesus: “Senhor, aquele que amas está doente”. 4 Ouvindo isto, Jesus disse: “Esta doença não é de morte, mas é para a glória de Deus, a fim de que o Filho do homem seja glorificado por ela.” 5 Ora, Jesus amava Marta, sua irmã Maria e Lázaro.
6 Tendo, pois, ouvido que Lázaro estava doente, ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava. 7 Depois disto, disse aos seus discípulos: “Voltemos para a Judéia”. 8 Os discípulos disseram-Lhe: “Mestre, ainda há pouco os judeus Te quiseram apedrejar, e Tu vais novamente para lá?”
9 Jesus respondeu: “Não são doze as horas do dia? Aquele que caminhar de dia não tropeça, porque vê a luz deste mundo; 10 porém, o que andar de noite tropeça, porque lhe falta a luz.” 11 Assim falou, e depois disselhes: “Nosso amigo, Lázaro, dorme; mas vou despertá-lo”.
12 Os seus discípulos disseram-Lhe: “Senhor, se ele dorme, também se há de levantar.” 13 Mas Jesus falava da sua morte; e eles julgavam que falava do repouso do sono. 14 Jesus disse-lhes então claramente: “Lázaro morreu, 15 e Eu, por vossa causa, estou contente por não ter estado lá, para que acrediteis; mas vamos ter com ele.” 16 Tomé, chamado Dídimo, disse então aos outros discípulos: “Vamos nós também, para morrer com ele”.
ENCONTRO COM MARTA E MARIA
17 Chegou Jesus e encontrou-o já há quatro dias no sepulcro. 18 Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios. 19 Muitos judeus tinham ido ter com Marta e Maria, para as consolarem pela morte de seu irmão.
20 Marta, pois, logo que ouviu que vinha Jesus, saiu-Lhe ao encontro; e Maria ficou sentada em casa.
21 Marta disse a Jesus: “Senhor, se estivesses cá, meu irmão não teria morrido. 22 Mas também sei agora que tudo que pedires a Deus, Deus To concederá.” 23 Jesus disse-lhe: “Teu irmão há de ressuscitar.” 24 Marta disse-Lhe: “Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia.” 25 Jesus disse-lhe: “Eu sou a Ressurreição e a Vida.; aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá; 26 e todo aquele que vive e crê em Mim, não morrerá eternamente. Crês nisto?” 27 Ela respondeu: “Sim, Senhor, eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que vieste a este mundo.” 28 Dito isto, retirou-se e foi chamar em segredo sua irmã Maria, dizendo: “O Mestre está cá e chama-te”. 29 Ela, logo que ouviu isto, levantou-se rapidamente e foi ter com Ele. 30 Jesus ainda não tinha entrado na aldeia, mas estava ainda naquele lugar onde Marta tinha ido ao seu encontro.
31 Então, os judeus que estavam com ela em casa e a consolavam, vendo que Maria tinha se levantado tão depressa e tinha saído, seguiram-na, julgando que ia chorar ao sepulcro.
32 Maria, porém, tendo chegado onde Jesus estava, logo que o viu, lançou-se aos seus pés e disse-Lhe: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido.” 33 Jesus, vendo-a chorar, a ela e aos judeus que tinham ido com ela, comoveu-Se profundamente e emocionou-Se; 34 depois perguntou: “Onde o pusestes?” Eles responderam: “Senhor, vem ver.”
35 Jesus chorou. 36 Os judeus, por isso, disseram: “Vede como Ele o amava”. 37 Porém, alguns deles disseram: “Este, que abriu os olhos ao que era cego de nascença, não podia fazer que este não morresse?”
RESSURREIÇÃO DE LÁZARO
38 Jesus, pois, novamente emocionado no seu interior, foi ao sepulcro. Era este uma gruta com uma pedra colocada à entrada. 39 Jesus disse: “Tirai a pedra”. Marta, irmã do defunto, disse-Lhe: “Senhor, ele já cheira mal, porque está aí há quatro dias.” 40 Jesus disse-lhe: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” 41 Tiraram, pois, a pedra. Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse:
“Pai, dou-Te graças por me teres ouvido. 42 Eu bem sabia que me ouves sempre, mas falei assim por causa do povo que está em volta de Mim, para que acreditem que Tu me enviaste.” 43 Tendo dito estas palavras, bradou em voz forte: “Lázaro, sai para fora!” 44 E saiu o que estivera morto, ligado de pés e mãos, com as ataduras, e o seu rosto envolto num sudário. Jesus disse-lhes: “Desligai-o e deixai-o ir”. 45 Então, muitos dos judeus que tinham ido visitar Maria e Marta, vendo o que Jesus fizera, acreditaram n’Ele (Jo 11, 1-45).
A ressurreição de Lázaro
O grande amor de Jesus àquela família de Betânia tornava incompreensível sua aparente indiferença perante a enfermidade de Lázaro. Mas quando Deus tarda em intervir é por razões mais altas e porque certamente nos dará com superabundância.
PRESSUPOSTOS
O porquê dos milagres
Ao conceder a um taumaturgo a faculdade de realizar milagres — explica São Tomás — Deus tem por objetivo “confirmar a verdade por este ensinada” (1). O motivo principal se encontra na fé, pois a razão humana não tem suficiente altura para acompanhar os horizontes dessa virtude, e por isso muitas vezes é necessário serem as afirmações de caráter sobrenatural confirmadas pelo poder de Deus. Esses atos que excedem as forças da natureza propiciam uma acrescida facilidade em crer na procedência divina de tudo quanto é transmitido a respeito de Deus.
Ademais, através dos milagres, torna-se patente a presença de Deus no taumaturgo.
Ora, era indispensável ficar claro aos olhos de todos que a doutrina proclamada por Jesus procedia do próprio Deus e, muito mais ainda, proporcionar a cada um boas provas para crerem na união hipostática das duas naturezas, divina e humana, numa só Pessoa. Justamente em face dessa luminosa, magna e fundamental impostação se projeta a narração do Evangelho de hoje.
Prova da divindade de Jesus
São João escreveu seus vinte e um capítulos com a preocupação de tornar demonstradas pelos fatos tanto a origem divina da doutrina de Jesus quanto a onipotência de sua Pessoa. E, conforme nos explica São Tomás, os milagres operados pelo Redentor são prova de sua divindade:
“Em primeiro lugar, pela natureza das próprias obras, que ultrapassam todo o poder da virtude criada, e por isso não podiam fazer-se senão por virtude divina.”
“Em segundo lugar, pelo modo de fazer os milagres, isto é, porque os fazia como com próprio poder, e não orando, como outros” (2).
Além de encontrarmos elevados aspectos sobrenaturais através dos quais melhor conhecemos o Salvador em suas duas naturezas, e, assim, mais podemos amá-Lo, nesta narração de São João se confirma seu estro literário. Ela é bela, atraente e comovedora, constituindo-se como única em seu gênero. Consagra historicamente os preciosos detalhes do mais importante milagre de Jesus, que Lhe conferiu uma grande glória — levando à crença um bom número de judeus — e, ao mesmo tempo, produziu o máximo grau de ódio nos seus inimigos, a ponto de apressá-los em seus intentos deicidas. Este episódio tão pervadido de pulcritude divina e humana será a causa imediata da fúria do Sinédrio e conseqüente determinação da morte de Jesus.
A pluma do Evangelista percorre o pergaminho, confirmando em cada versículo o agudo senso de observação do escritor, como também tornando patente ter sido ele uma exímia testemunha ocular, digna de fé, de todo o ocorrido. Quem poderia compor ou imaginar os minuciosos pormenores de veracidade transparente, como, por exemplo, as palavras, a emoção e as próprias lágrimas do Filho de Deus feito Homem, que fluem com leveza da escrita do Autor Sagrado? É escrupulosa sua fidelidade na transmissão da realidade que pode ser dividida em três partes distintas: o retorno de Jesus a Betânia, o encontro e a conversa com Marta e Maria, e a ressurreição de Lázaro.
ANÁLISE DO EVANGELHO

Continua no próximo post

quinta-feira, 27 de março de 2014

Evangelho – IV Domingo da Quaresma – Ano A – Jo 9, 1-41

Conclusão dos comentários ao Evangelho – IV Domingo da Quaresma – Domingo Laetare   Jo 9, 1-41
Deixemos as trevas deste mundo
O cerne deste Evangelho nos é sintetizado por São Paulo em sua Epístola aos Efésios, também proposta à nossa consideração neste domingo da alegria: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor” (Ef 5, 8).
Tendo nascido com o pecado original, de fato estaremos em trevas para compreender o sobrenatural enquanto não recebermos a luz da graça pelo Batismo. Esta é incomparavelmente superior à própria luz solar. “O que é o Sol para o mundo sensível, é-o Deus para o mundo espiritual: a luz da justiça e da verdade eterna, da mais elevada formosura e do amor infinito, da mais pura santidade e da mais perfeita felicidade”,15 afirma o padre Scheeben.
Em nosso apostolado, esforcemo-nos, pois, em ajudar os outros a recuperar a vista espiritual, porque, assim, poderão contemplar os reflexos da luz divina na criação e ordenar sua vida em função desse Luzeiro que é Cristo Jesus e a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Apresentando-nos esse magnífico Evangelho sobre a luz no 4º Domingo da Quaresma, a Igreja nos proporciona um particular alento para avançarmos com ânimo resoluto na vida espiritual. Às vezes fraquejamos, deixamo-nos arrastar por nossas más inclinações e sentimos periclitar nossa perseverança nas vias da santificação. Nesses momentos, lembremo-nos da cura do cego de nascença e consideremos que, se Deus permitiu que caíssemos numa debilidade, Ele está atento para intervir a qualquer momento e restaurar em nós a vida divina. Com as orações e a mediação maternal de Maria, nos encontraremos purificados para contemplar a luz do Círio Pascal, símbolo também dessa Luz que nos foi dada com a Ressurreição de Cristo e que nos vem através dos Sacramentos.
1ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología Moral para Seglares. 5.ed. Madrid: BAC, 1979, v.I, p.232.
2CUTTAZ, François Joseph. Nuestra vida de gracia (El Justo). Madrid: Studium, 1962, p.28-29.
3TUYA, OP, Manuel de. Biblia comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v.II, p.941.
4 Idem, p.946.
5 FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Madrid: Rialp, 2000, v.II, p.358-359.
6 Cf. SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilías sobre el Evangelio de San Juan (3060). Madrid: Ciudad Nueva, 2001, v.II, p.273.
7 Idem, p.282-283.
8 Idem, p.283-284.
9 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Comentario al Evangelio según San Juan. Buenos Aires: Ágape, 2008, t.V, p.22.
10 TUYA, op. cit., p.1163.

11 FILLION, op. cit., p.362. 

quarta-feira, 26 de março de 2014

Evangelho – IV Domingo da Quaresma – Ano A – Jo 9, 1-41

Continuação dos comentários ao Evangelho – IV Domingo da Quaresma – Domingo Laetare   Jo 9, 1-41


O cerne deste episódio
35 “Jesus soube que o tinham expulsado. Encontrando-o, perguntou-lhe: ‘Acreditas no Filho do Homem?’. 36 Respondeu ele: ‘Quem é, Senhor, para que eu creia nele?’. 37 Jesus disse: ‘Tu O estás vendo; é Aquele que está falando contigo’. Exclamou ele: 38 ‘Eu creio, Senhor!’. E prostrou-se diante de Jesus”.
O objetivo de São João, ao narrar esse episódio, era, sem dúvida, tornar evidente o seguinte ponto: ao ser curado da cegueira, aquele homem recebeu também a crença na divindade de Cristo.
A pergunta do Mestre é formulada com suprema sagacidade. Em diversas ocasiões Ele Se denomina nos Evangelhos como o Filho do Homem. Essa expressão O protegia da malícia dos fariseus, que procuravam pretexto para condená-Lo, pois podia ser interpretada tanto como “o homem que Eu sou”, quanto como uma denominação do Messias.13 No fundo, Ele dava testemunho da sua divindade por meio de um título do qual os fariseus não poderiam tirar proveito para seus insidiosos ataques.
E quando respondeu ao mendigo com as palavras: “Tu O estás vendo”, fazia menção ao duplo benefício que lhe concedera: a visão natural e o dom de crer na sua divindade. Por isso o miraculado proclamou sua fé prosternando-se diante d’Ele, em atitude de adoração, e provavelmente passou a acompanhar os discípulos.
É razoável considerar ter esse milagre concorrido muito para confirmar na fé os próprios Apóstolos e, ademais, lhes haver dado a possibilidade de ponderar o quanto vale mais a conversão espiritual do que a cura da cegueira material.
A leitura do próximo versículo nos fará entender melhor este aspecto da questão.
A verdadeira visão
39 “Então, Jesus disse: ‘Eu vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem, vejam, e os que veem se tornem cegos’”.
Emprega aqui o Divino Mestre o verbo “ver” em dois sentidos: o físico e o espiritual. Santo Agostinho assim comenta essa passagem: “Embora todos, ao nascer, tenhamos contraído o pecado original, nem por isso nascemos cegos; contudo, considerando bem, nascemos cegos nós também. Com efeito, quem não nasceu cego? Cego de coração. Mas o Senhor, que fizera ambas as coisas, os olhos e o coração, curou tanto uns quanto o outro”.14
40 “Alguns fariseus, que estavam com Ele, ouviram isto e Lhe disseram: ‘Porventura, também nós somos cegos?’. 41 Respondeu-lhes Jesus: ‘Se fôsseis cegos, não teríeis culpa; mas como dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece’”.
À interpelação de alguns fariseus, Nosso Senhor responde com uma impressionante increpação. Com efeito, se, apesar de todas as obras por Ele realizadas, alguém O considera apenas de modo natural e humano, sem reconhecer sua divindade, esse é, de fato, um cego de alma, um cego de coração. Pelo contrário, quem padece de cegueira corporal, mas, por ação da graça, acredita na divindade do Messias, este foi curado da cegueira espiritual, cura incomparavelmente mais importante que a da cegueira física. Pois, como afirma o Apóstolo, “o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno” (II Cor 4, 17).
Essa é a beleza da liturgia de hoje, ao ressaltar a maravilha da visão sobrenatural.
Continua no próximo post

segunda-feira, 24 de março de 2014

Evangelho – IV Domingo da Quaresma – Ano A – Jo 9, 1-41

Comentário ao Evangelho – IV Domingo da Quaresma – Domingo Laetare   Jo 9, 1-41
Má vontade diante do milagre patente
8 “Os vizinhos e os que costumavam ver o cego — pois ele era mendigo — diziam: ‘Não é aquele que ficava pedindo esmola?’. 9 Uns diziam: ‘Sim, é ele!’. Outros afirmavam: ‘Não é ele, mas alguém parecido com ele’. Ele, porém, dizia: ‘Sou eu mesmo!’. 10 Então lhe perguntaram: ‘Como é que se abriram os teus olhos?’. 11 Ele respondeu: ‘Aquele homem chamado Jesus fez lama, colocou-a nos meus olhos e disse-me: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Então fui, lavei-me e comecei a ver’. 12 Perguntaram-lhe: ‘Onde está ele?’. Respondeu: ‘Não sei’”.
Um fato tão extraordinário como este foi motivo de grande sensação, comentários e discussões entre “os vizinhos e os que costumavam ver o cego” pedindo esmolas. O sintético relato evangélico não especifica se houve manifestações de entusiasmo, de incredulidade ou de ódio. Contudo, parece certo que a primeira reação de alguns foi, pelo menos, de “ignorar” a evidência da cura milagrosa. Indício disso é o tom reservado das respostas do feliz beneficiário do milagre.
Má-fé e dureza de coração dos fariseus
13 “Levaram então aos fariseus o homem que tinha sido cego. 14 Ora, era sábado, o dia em que Jesus tinha feito lama e aberto os olhos do cego. 15 Novamente, então, lhe perguntaram os fariseus como tinha recuperado a vista. Respondeu-lhes: ‘Colocou lama sobre meus olhos, fui lavar-me e agora vejo!’. 16 Disseram, então, alguns dos fariseus: ‘Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado’. Mas outros diziam: ‘Como pode um pecador fazer tais sinais?’. 17 E havia divergência entre eles. Perguntaram outra vez ao cego: ‘E tu, que dizes daquele que te abriu os olhos?’. Respondeu: ‘É um profeta’. 18 Então, os judeus não acreditaram que ele tinha sido cego e que tinha recuperado a vista”.
A par do desentendimento instalado entre os fariseus a propósito do acontecimento, esses versículos tornam patentes dois aspectos do estado de espírito deles. A má-fé: pouco se importando com o favor dispensado por Nosso Senhor ao infortunado cego, proferem contra Ele a desgastada censura de violação do sábado. E a dureza de coração: mesmo diante da evidência, negam-se a acreditar em Jesus e inquirem o mendigo, não para apurar a verdade, mas na esperança de conseguir um testemunho hostil ao Divino Mestre. “Interrogam-no acerca da visão obtida, não para saber, mas para forjar uma calúnia e impor falsidade”,9 comenta São Tomás. O ex-cego, pelo contrário, faz diante deles um ato de fé em Jesus: “É um profeta”.
Como se esquivam os pais do cego
18b “Chamaram os pais dele 19 e perguntaram-lhes: ‘Este é o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que ele agora está enxergando?’. 20 Os seus pais disseram: ‘Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego. 21 Como agora está enxergando, isso não sabemos. E quem lhe abriu os olhos também não sabemos. Interrogai-o, ele é maior de idade, ele pode falar por si mesmo’. 22 Os seus pais disseram isso, porque tinham medo das autoridades judaicas. De fato, os judeus já tinham combinado expulsar da comunidade quem declarasse que Jesus era o Messias. 23 Foi por isso que seus pais disseram: ‘É maior de idade. Interrogai-o a ele’”.
Não tiveram dificuldade os pais do cego em perceber a malícia e o ódio que imperavam nesse inquérito dos fariseus. E tinham motivos de sobra para temê-los, pois a expulsão da sinagoga poderia ter graves consequências no campo civil, como o desterro e o confisco dos bens. Por isso preferiram cortar qualquer possibilidade de fazer algum pronunciamento a respeito de Jesus: Não sabemos, perguntai ao nosso filho, ele é maior de idade.
Contraste entre o ódio dos fariseus e a sabedoria do mendigo
24 “Então, os judeus chamaram de novo o homem que tinha sido cego. Disseram-lhe: ‘Dá glória a Deus! Nós sabemos que esse homem é um pecador’. 25 Então ele respondeu: ‘Se ele é pecador, não sei. Só sei que eu era cego e agora vejo’. 26 Perguntaram-lhe então: ‘Que é que ele te fez? Como te abriu os olhos?’. 27 Respondeu ele: ‘Eu já vos disse, e não escutastes. Por que quereis ouvir de novo? Por acaso quereis tornar-vos discípulos d’Ele?’. 28 Então insultaram-no, dizendo: ‘Tu, sim, és discípulo d’Ele! Nós somos discípulos de Moisés. 29 Nós sabemos que Deus falou a Moisés, mas esse, não sabemos de onde é’. 30 Respondeu-lhes o homem: ‘Espantoso! Vós não sabeis de onde ele é? No entanto, ele abriu-me os olhos! 31 Sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aquele que é piedoso e que faz a sua vontade. 32 Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. 33 Se este homem não viesse de Deus, não poderia fazer nada’. 34 Os fariseus disseram-lhe: ‘Tu nasceste todo em pecado e estás nos ensinando?’. E expulsaram-no da comunidade”.

Grande era a contumácia dos dirigentes da sinagoga. Nota-se nesses versículos, mais uma vez, sua malévola insistência na tentativa de obter do miraculado uma declaração contra o Senhor. “Os fariseus procuravam em sua resposta somente um motivo para desvirtuar os fatos e negar que Cristo o havia curado”, observa o padre Tuya.10 Mas, assistido pelo Espírito Santo, o mendigo respondeu-lhes com acerto, tal como o próprio Jesus teria feito em iguais circunstâncias. “Que contraste entre o ódio, a astúcia e a violência dos fariseus, reprimida no início, mas logo depois declarada, e, de outro lado, a calma, a habilidade e a fina ironia do mendigo que, embora aparentemente vencido, conseguirá a vitória!”,11 comenta bem a propósito Fillion. Prevaleceu a sabedoria do homem simples fiel à graça sobre a pretensiosa ciência dos fariseus, ficando patente que o milagre beneficiara mais profundamente a visão da alma do que a visão do corpo.
Quanto aos fariseus, estes reagiram de acordo com sua obstinação: após insultar grosseiramente o homem que uma autoridade justa deveria tratar com toda a benevolência, decretaram contra ele a sentença de excomunhão.

Uma razão a mais para Jesus o atrair a Si com sua divina bondade. Comenta, a esse respeito, Santo Agostinho: “Depois de muitas coisas, foi excluído da sinagoga dos judeus aquele que era cego e agora enxergava. Enfureceram-se contra ele e o expulsaram. E era isso que temiam seus pais, conforme foi declarado pelo Evangelista. [...] Temiam, pois, eles serem enxotados da sinagoga; ele não temeu e foi enxotado; os pais permaneceram nela. Mas ele é acolhido por Cristo e pode dizer: ‘Porque meu pai e minha mãe me abandonaram’. Que acrescentou? ‘O Senhor, porém, tomou-me sob a sua proteção’. Vem, ó Cristo, e recebe-o; eles o excomungaram, acolhe-o tu. Tu, o Enviado, acolhe o excluído”.12
Continua no próximo post