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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Jesus e a Samaritana

Neste comentário ao Evangelho, Mons. João Clá Dias comenta a incomensurável bondade de Nosso Senhor concedendo Graças para a conversão da samaritana e o seu enorme desejo de concedê-las ainda que não peçamos.

6 Estava lá o poço de Jacob. Fatigado da viagem, Jesus sentou-Se sobre a borda do poço. Era quase a hora sexta.
7 Veio uma mulher da Samaria tirar água. Jesus disse-lhe: “ Dá-me de beber”. 8 Os seus discípulos tinham ido a cidade comprar mantimentos. 9 Disse-Lhe , então, a mulher: “Como, sendo Tu judeu, me pedes de beber a mim , que sou samaritana?” Com efeito , os judeus não se dão com os samaritanos. 10 Jesus respondeu: “ Se tu conhecesses o dom de Deus, e Quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente Lhe pedirias e Ele te daria uma água viva.”11 A mulher disse-Lhe:“Senhor, Tu não tens com que a tirar e o poço é fundo; donde tens, pois essa água viva? 12 És Tu, porventura, maior do que o nosso pai Jacob que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, e os seus filhos e os seus gados?”13 Jesus respondeu:” Todo aquele que bebe desta água tornará a ter sede,14 mas aquele que beber da água que Eu lhe der, jamais terá sede; a água que Eu lhe der virá a ser nele uma fonte de água viva que jorra para a vida eterna. 15 A mulher disse-Lhe: “ Senhor, dá-me dessa água, para eu não ter mais sede, nem ter de vir aqui tirá-la”. ( Jo 4,6-15)




Tratava-se de uma mulher simples e comum diante do Criador. A samaritana jamais imaginaria quem era Aquele, e menos ainda o poder que estava nas suas mãos, de lhe oferecer a salvação eterna. Ele, por sua vez, transborda de desejo de tê-la consigo por toda a eternidade.

O Senhor lhe pede água. Será somente física a sua sede? Trata-se do mesmo sitio(tenho sede) pronunciado por Ele no alto da Cruz; seu grande anseio é redimir o gênero humano e, neste caso concreto, quer salvar aquela alma.

Deitemos toda a nossa atenção nesse encontro extremamente exemplificativo da teologia sobre o chamado da graça. Tanto a atitude de Jesus quanto a dela são paradigmáticas. Quem toma a iniciativa é Ele, sem levar em conta qualquer oração, pedido, desejo ou mérito da samaritana. Como com todos os homens, Ele procede de maneira inteiramente gratuita. Ela, por sua vez, nada suspeita das generosas intenções de seu interlocutor; pelo contrário, pensa que Jesus, por ser judeu, repudia por completo os samaritanos.

Nosso Senhor costuma agir adaptando-se aos modos de ser de cada um.

Quão misteriosa é a bondade de Deus!

Pelas roupas, pelo porte e quiçá até mesmo pela pronúncia das palavras, a samaritana percebera tratar-se de um judeu. Ora , o povo eleito não tocava nem sequer na vasilha de um samaritano, a fim de evitar as impurezas. Daí a perplexidade manifestada por ela.

A correspondência a esse primeiro chamado de Nosso Senhor poderia condicionar a perseverança dela e até mesmo sua salvação, porém sua reação foi a de levantar obstáculo. Jesus, entretanto, não desistirá de chamá-la à conversão.




Didática insuperável, perfeitíssima. É bem conhecida a curiosidade feminina e é desta que Jesus procura tirar partido. Com enorme afeto, Ele entretém e atrai a atenção da samaritana, pondo-a diante de algo mirabolante. Viva é a água que jorra da fonte. É sempre mais apreciada do que a retirada do poço. Jesus vai aos poucos se apresentando como um personagem incomum, com certas características misteriosas, possuidor de um dom de Deus.

Essa frase de Jesus, no modo condicional, já continha um começo de doutrina e tornava impossível à samaritana deixar de se interessar mais a fundo pelo judeu sentado à beira do poço. São duas sedes de teor distinto que acometem o Divino Mestre. Jesus necessitava da água comum e corrente, mas sua sede de converter aquela alma é incomparavelmente maior, e essa é a razão pela qual Ele procura despertar um interesse, todo feito de fé, no interior de sua interlocutora.

A graça começa a trabalhar-lhe a alma com suavidade e, ao mesmo tempo, com muito vigor.
As primeiras palavras dela haviam sido um tanto desabridas: “ Como sendo tu judeu...?” A partir deste curto diálogo, passa a tratá-Lo de “Senhor”, pois algo do mistério de Jesus ela já entrevê, o que significa um enorme passo para uma samaritana na consideração de um judeu.

Ela não chega a entender bem a substância das afirmações feitas por Jesus, mas certamente já estava atraída pelo todo do Divino Mestre, e por isso não as contradiz, apenas externa sua perplexidade, disposta a aceitar a uma explicação. Por ora, sua sua atenção está de fato centrada na “água viva” desejada por ela, e no fundo de seu subconsciente está se formando a hipótese de estar ela diante de um homem grandioso, comparável ao “nosso pai Jacob”.

Os samaritanos tinham a ufania de declarar ter sido sua terra habitada pelos patriarcas(Gen 12,6;33,18;35,4;37,12;etc.). Pretendiam com isso abrandar as abjeções que os judeus lhes tinham, oriundas da miscigenação de raça e de religião. Daí a lembrança do poço de Jacob.

Com a fé mais robustecida, ela crê no poder de Deus em criar uma água capaz de eliminar definitivamente a sede e, em conseqüência, de dispensá-la do trabalho de retirar daquele poço a água de todos os dias. De si, já seria uma maravilha criar essa água, mas Jesus lhe fala de um prodígio incomparavelmente maior: o das águas da Graça.