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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16

Comentários ao Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 13 “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens.
14 Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade Construída sobre um monte. ‘15 Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim, num candeeiro, onde ela brilha para todos que estão na casa.1 6 Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5, 13-16).
O sal do convívio e a luz do bom exemplo
O convite à santidade, feito a todos os cristãos por Nosso senhor Jesus Cristo, tem como corolário a obrigação de trabalharmos pela salvação de nossos irmãos, com a palavra e o exemplo de vida.
1 – A estratégia evangelizadora de Jesus
Ao estudar a vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo, podemos comprovar a existência de um plano de apostolado muito bem traçado, lógico e coerente. Depois de quase trinta anos de vida oculta e da primeira fase de sua vida pública, chegado o momento de começar as suas mais importantes pregações, devia o Salvador escolher um centro estratégico a partir do qual anunciaria aos homens o Reino de Deus.
Rejeitando Jesus da maneira mais vil, a ponto de desejar matá-Lo, os moradores da pequena cidade onde Se havia criado, Nazaré, se tornaram indignos de continuar convivendo com “o filho de José” (Lc 4, 22). Entretanto, mesmo que a acolhida tivesse sido respeitosa, era improvável que Ele permanecesse ali, em razão de sua localização desfavorável: isolada no fundo de um vale, em região de difícil acesso e pouco povoada, ficava distante das zonas mais importantes da Galileia.
Cafarnaum: a cidade de Cristo
Por isso, além dos motivos referidos no comentário ao Evangelho do 3º Domingo do Tempo Comum,1 quis Nosso Senhor estabelecer-Se próximo das grandes vias de comunicação: “Quando, pois, Jesus ouviu que João fora preso, retirou-Se para a Galucia. Deixando a cidade de Nazaré, foi habitar em Cafarnaum”(Mt 4, 12-13). Situada ao leste da Galileia, nas terras que haviam pertencido às tribos de Zabulon e Neftali, a cidade contava, nos tempos evangélicos, entre 15 e 20 mil habitantes, e constituía o núcleo comercial dos arredores. Aos seus pés, o Lago de Genesaré — conhecido também como Mar da Galileia ou ainda Mar de Tiberíades —, com cerca de 21 km de comprimento por 12 km de largura, abundava em peixes e era sulcado, todos os dias, por centenas de barcos de pescadores que singravam suas límpidas águas. As margens erguiam-se numerosas outras cidades, como Betsaida, Tiberíades, Magdala, sendo esta última, então com 40 mil almas, a mais prestigiosa dentre elas.2 Cafarnaum encontrava-se em um lugar particularmente fecundo — a Galileia era considerada o celeiro da Palestina3—, que serviria como fonte de inspiração das belas parábolas do Divino Mestre.
Nenhuma outra região de Israel parecia tão apropriada para receber a doutrina de Nosso Senhor, “pois os galileus do lago, apesar do trato com milhares de estrangeiros, tinham conservado a simplicidade dos seus pais. Viviam tranquilos do produto da pesca e esperavam pelo novo reino pregado por João Batista”.4 Por essa razão foram as palavras de Jesus mais bem acolhidas nos prados e sinagogas da Galileia do que no Templo de Jerusalém.
Além disso, por sua condição fronteiriça e mercantil, e graças à proximidade de diversas estradas importantes — dentre as quais a Via Maris, que unia a Síria ao Egito —, Cafarnaum oferecia muitas vantagens ao Redentor. Sem sair dela, podia instruir não só os seus conterrâneos, como também os numerosos estrangeiros que transitavam por esse movimentado entroncamento de caminhos. Ali “faziam alto os mercadores da Armênia, as caravanas de Damasco e da Babilônia, carregadas com os produtos do Oriente, as guarnições romanas que marchavam para a Samaria ou para a Judeia e as multidões de peregrinos que nos dias festivos subiam à Cidade Santa. Aqueles mercadores, soldados, pagãos e peregrinos rodearão a Jesus nas margens do lago e recolherão, de caminho, os seus divinos ensinamentos”.5
Todas estas características fizeram de Cafarnaum a cidade de Cristo, como nos é referida pelo Evangelho (cf. Mc 2, 1; 9, 33). A partir dela começou Nosso Senhor a pregar a iminência do Reino dos Céus e a necessidade de conversão. Ele libertava os possessos, restituía a saúde a epiléticos e paralíticos, curava todo tipo de doenças, e, em consequência, sua fama crescia a cada dia. Além de galileus, acompanhavam-No grandes multidões vindas da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e das localidades do outro lado do Jordão (cf. Mt 4, 23-25).





quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR — 2 DE FEVEREIRO — 2014

CONCLUSÃO DOS COMENTÁRIOS À FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR — 2 DE FEVEREIRO — EVANGELHO Lc 2, 22-40
34ª Simeão os abençoou e disse a Maria, a Mãe de Jesus...
Cabia-lhe abençoar, pois era da raça de Levi, sacerdote, portanto. É à Corredentora que ele se dirige.
Sinal de contradição, para se revelarem os segredos dos corações
34b “Este Menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição”.
No primeiro livro de suas homilias, São Beda, o Venerável, assim se expressa: “Com júbilo ouvem-se essas palavras, que exprimem haver sido destinado o Senhor a conseguir a ressurreição universal, conforme o que Ele mesmo disse: ‘Eu sou a ressurreição e a vida; o que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá’ (Jo 11, 25). Mas quão terríveis soam aquelas outras palavras: ‘Este Menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento!’.
“Verdadeiramente infeliz aquele que, depois de haver visto sua luz, fica, sem embargo, cego pela névoa dos vícios.., porque, segundo o Apóstolo ‘melhor fora não terem conhecido o caminho da justiça, do que, depois de tê-lo conhecido, tornarem atrás, abandonando a lei que lhes foi ensinada’ (II Pd 2, 21).
“Contradizem-No os judeus e gentios, e, o que é mais gra ve, os cristãos que, professando interiormente o Salvador, des mentem-No com suas ações”.6
35a ‘Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações”.
Continua São Beda: ‘Antes da Encarnação, estavam ocultos muitos pensamentos, mas uma vez nascido na Terra o Rei dos Céus, o mundo se alegrou, enquanto Herodes se perturbava e com ele toda Jerusalém. Quando Jesus pregava e prodigalizava seus milagres, enchiam-se as turbas de temor e glorificavam o Deus de Israel; mas os fariseus e escribas acolhiam com raivosas palavras quantos ditos procediam dos lábios do Senhor e quantas obras realizava.
“Quando Deus padecia na Cruz, riam com alegria néscia os Impios, e choravam com amargura os piedosos; mas, quando ressuscitou dentre os mortos e subiu aos Céus, mudou-se em tristeza a alegria dos maus, e se converteu em gozo a pena dos amigos”.7
Ainda hoje e até o Juízo Final, os cristãos, outros Cristos, são “sinais de contradição” e, em função deles, revelar-se-ão os pensamentos escondidos nos corações de muitos.
Maria, Corredentora, e o amor às nossas cruzes
35b “Quanto a Ti, uma espada Te traspassará a alma”.
Maria é Corredentora do gênero humano. Essa profecia de Simeão, Ela já a conhecia. Mais ainda, estaria gravada em seu espírito até a ressurreição de Jesus. Ela é a Rainha dos Mártires e, desde a Anunciação, sofreria com Cristo, por Cristo e em Cristo.
Nós somos convidados neste trecho do Evangelho a dar um caráter de holocausto às dores que nos forem permitidas pela Providência. Tenhamos amor às cruzes que nos cabem, unindo-nos a Jesus e a Maria nessa grandiosa cena da Apresentação.
 1) FREI LUÍS DE GRANADA. Jesucristo Redentor. LIII. In: Obra Selecta. Madrid: BAC, 1952, p.765-766.
2) SAO TOMAS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.37, a.3, ad 4.
3) Cf. SAO BEDA, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, cli, v.22-24.
4) Cf. SANTO AMBROSIO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea, op. cit., v.25-28.
5) SÃO BEDA, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea, op. cit., v.25-28.
6) SÃO BEDA Homiliæ Genuinæ. L.I, hom.XV: ML 94, 81.

7) Idem, 82.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR — 2 DE FEVEREIRO — 2014

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS À FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR — 2 DE FEVEREIRO — EVANGELHO Lc 2, 22-40
26 ...e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor.
Não paira a menor dúvida de que se tratava de uma revelação mística e clara.
A promessa de ver a Cristo Jesus também nos foi feita. Para tal acontecer, é necessário imitar Simeão, ser justo, temer a Deus e esperar contra toda a esperança.
27a Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo.
Tratava-se de uma alma que havia alcançado os píncaros da união transformante. Deixava-se conduzir pelo Espírito.
27b Quando os pais trouxeram o Menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava...
Não nos esqueçamos de que o esposo era senhor e dono de todo fruto de sua mulher. Jesus pertencia a José, e, assim, este era mais que um pai adotivo.
Graça maior do que ter o Menino Jesus nos braços
28a Simeão tomou o Menino nos braços...
Que graça extraordinária! Talvez depois de São José, Simeão tenha sido o primeiro varão a gozar dessa indizível felicidade. Deus lhe deu mais do que prometera.
São Beda assim se expressa sobre esta passagem: “Aquele homem recebeu o Menino Jesus em seus braços, segundo a Lei, para demonstrar que a justiça das obras, que, segundo a Lei, estavam figuradas pelas mãos e os braços, devia ser substituída pela graça, humilde certamente, mas revigorante, de fé evangélica. Tomou o ancião o Menino Jesus, para demonstrar que este mundo, já decrépito, ia voltar à infância e à inocência da vida cristã”.5
Porém, nós ainda recebemos mais do que Simeão, pois, na hora da Comunhão, nossa união com Cristo é muito mais íntima. Que Simeão nos obtenha a graça de comungar diariamente como ele mesmo teria gostado de fazê-lo.
28b .. .e bendisse a Deus: 29 “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; 30 porque meus olhos viram a tua salvação, ‘ que preparaste diante de todos os povos...”
Mais uma vez transparece, por suas próprias palavras, a fidelidade desse varão. Certamente suas forças estiveram para abandoná-lo várias vezes. Quais não devem ter sido suas súplicas a Deus para que não falhasse em sua divina promessa? Quantas vezes não terá sido provado: “Será que agora morrerei sem ter visto o Messias?”.
Não O vimos, nem O vemos, mas, na Eucaristia, podemos unir-nos a Ele mais intimamente do que Simeão. Que felicidade a nossa!
Um Salvador para todos os povos
32 .. luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”.
Sim, as outras nações não haviam recebido a Revelação. A glória cabia ao povo judeu; aos demais devia ser concedido o conhecimento da chegada do Salvador. Nesse momento estavam a caminho os três Reis Magos, que dariam ocasião à manifestação da missão universal do Menino Deus, a Epifania.
33 O pai e a Mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito d’Ele.

Assim haviam estado ao constatarem as manifestações angélicas e a presença dos pastores na Gruta em Belém. A mesma admiração se repetirá na chegada dos Reis do Oriente. Discerniam ambos a glória futura da Civilização Cristã, promovida pelo oferecimento de Jesus.
Continua no próximo post.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR — 2 DE FEVEREIRO — 2014

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS À FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR — 2 DE FEVEREIRO — EVANGELHO Lc 2, 22-40
O cumprimento da profecia
Quem poderia imaginar a cena na qual a profecia de Ageu se cumpriria? O Templo na glória de sua inauguração, ou na esperança da hora de sua reconstrução, jamais acolheu alguém mais importante: o próprio Criador Menino, nos braços de sua Mãe, para ser oferecido ao Pai!
Tem Ele já o pleno uso da razão, apesar de ainda tão criança. Quais teriam sido, então, seus pensamentos ao cruzar o portal daquele sagrado edifício? Grande emoção humana num Coração Infante e Sagrado, que ardia em desejo de Se oferecer como vítima expiatória. Já ao ser concebido por obra do Espírito Santo no claustro de sua Mãe, esse ofertório se efetivara. Durante os trinta anos em Nazaré, a vida do Cordeiro de Deus foi uma constante renovação desse ato supremo da entrega de Si próprio em holocausto, que atingiu seu ápice no Calvário. É o que afirma São Paulo: “entrando no mundo, Cristo diz: Não quiseste sacrifício, nem oblação, mas Me formaste um Corpo. [...] Em seguida ajuntou: Eis que venho para fazer a tua vontade. [...] Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido santificados uma vez para sempre, pela oblação do Corpo de Jesus Cristo” (Hb 10, 5.9-10). 
Mas foi quando Simeão, representante do povo judeu, tomou o Cristo nos braços para entregá-Lo ao Pai, que a oferenda ganhou um caráter oficial, O sacerdote se uniu a Cristo nesse momento, ou vice-versa? E um belo problema teológico.
Com inteira propriedade exclama Frei Luís de Granada:
“[Cristo] não só Se oferece aqui como oferenda ao Pai Eterno, mas também, pelas mãos da Virgem, é entregue hoje nos braços da Igreja e de todas as almas fiéis, cujo agente era o Santo Simeão, que representa a pessoa da Igreja. [...1 Que faria Aquela que tinha tais exemplo de generosidade, senão dar-nos o melhor que possuía, que era este celestial tesouro? A autoridade da Santíssima Trindade ratifica essa doação, pois o Pai, por sua autoridade dada na Lei, e por vontade do Filho, que Se ofereceu para nosso remédio, e por inspiração do Espírito Santo, que trouxe Simeão ao Templo, e pelas mãos da Santíssima Virgem, que como verdadeira Mãe possuía este tesouro, nos faz esta firme doação. [...] Correi, pois [...] e aprendei na escola desse Menino como, sendo Deus tão elevado, agradam-Lhe os corações humildes no Céu e na Terra”.1
O ensinamento de Maria Virgem para nós
Quanto à Purificação da Virgem Maria, está ela adstrita à Lei mosaica (cf. Lv 12). Nenhum dos requisitos da Lei precisava cumprir Maria. Entretanto assim procedeu a Mater Ecclesiæ, para, entre outras razões, ensinar-nos com que amor e carinho devemos seguir as leis da Igreja.
Ela fará o oferecimento dos pobres: “um par de rolas ou dois pombinhos”.
“A rola”, dirá São Tomás, “com seu contínuo canto significa a pregação e confissão da Fé; ave casta e solitária, recorda essas duas virtudes. A pomba, mansa e feita de simplicidade, amiga de viver em coletividade, representa a vida ativa; a perfeição, portanto, da comunidade formada por Cristo e seus membros.
“Rolas e pombos com seus gemidos nos falam do suspirar contínuo dos santos pela vida futura. Enquanto a rola solitária significa o gemido da oração secreta, a pomba, animal gregário, geme em público, como a oração da Igreja. Oferecem-se dois animais que simbolizam a Igreja. Oferecem-se dois animais que simbolizam a dupla santidade: a do corpo e a da alma”.2
O famoso Beda,3 anteriormente a São Tomás, já afirmara representar a pomba a candidez, por amar a simplicidade, e a rola, a castidade, porque, se perde sua companheira, não procura outra.
Simeão, varão de fé e de discernimento
25a Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso...
É bem o elogio e a essência correspondentes a um varão santo. São as características de uma ancianidade perfeita.
25b .. .e esperava a consolação do povo de Israel.
É muito adequado o comentário de Santo Ambrósio4 a esse respeito. O velho Simeão não procurava a graça tão só para si; ele a queria para todo o povo. Compreendia, portanto, dessa forma quão mais importante é a graça para a coletividade do que para uma só pessoa. Era um varão conhecedor do papel relevante da opinião pública.
Era um homem de grande fé. Cria nas promessas de Deus. De grande discernimento, pois sabia ser a libertação do pecado o consolo do povo, e não o mero término das opressões estrangeiras.
25c O Espírito Santo estava com ele...

É o que se passa com toda alma em estado de graça. Mas, aqui, São Lucas parece querer indicar algo de mais profundo, ou seja, destacar que se trata de um verdadeiro profeta, conforme melhor transparecerá mais adiante, na promessa recebida e no fato de ter sido guiado ao encontro com Jesus e Maria.
Continua no próximo post