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sábado, 25 de fevereiro de 2012

O amigo inoportuno - continuação

9 Eu digo-vos: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. 10 Porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e ao que bate, se lhe abrirá.

As metáforas contidas nestes versículos confirmam nossa fé no grande e infalível poder da oração. São o resumo de uma lei sobrenatural, síntese da infinita misericórdia do Sagrado Coração de Jesus, e infundem em nossas almas a segurança feita de luz, serenidade e paz.

11 Qual de entre vós é o pai que, se um filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? 12 Ou, se lhe pedir um peixe, em vez de peixe, lhe dará uma serpente? Ou, se lhe pedir um ovo, porventura dar-lhe-á um escorpião? 13 Se pois vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que Lho pedirem.”

Se os pais nesta terra de exílio, imperfeitos como são, jamais desejam o mal para seus respectivos filhos e sempre procuram dar-lhes do bom e do melhor, quanto mais Deus, o Bem substancial, no trato com aqueles a quem criou.

CONCLUSÃO

A liturgia de hoje condensa em poucos versículos um verdadeiro tratado da oração. Nós devemos rezar sempre.

Se Deus nos atende imediatamente, com alegria saibamos agradecer-Lhe, aproveitando-nos de sua infinita paternalidade nos submeta à prova da demora, jamais devemos desanimar, pois o viajante obteve sem tardança e dificuldade alimento e hospedagem de que necessitava, devido à amizade de seu anfitrião; e este, por sua pertinaz insistência, conseguiu os pães indispensáveis para atender a seu hóspede.

Enfim, tanto um quanto outro sairiam bem melhor servidos se pudessem ter recorrido a Maria, Mãe de Misericórdia, Medianeira de todas as graças. 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O amigo inoportuno

Retrocedamos dois mil anos de História, e analisemos de perto uma caravana avançando pelo deserto, sobre asnos ou camelos, em pleno dia ensolarado de tórrido verão. Poeira, sede, calor e cansaço são os companheiros a cada passo, tornando muito penosos os translados.

Esta era uma das razões pelas quais os orientais muitas vezes preferiam os deslocamentos noturnos, invertendo o período do sono.
Pelo contrário, o inverno oferece condições mais agradáveis para viagens diurnas: o sol aquece suavemente, o desgaste físico é menor e a necessidade de água não tão freqüente. A parábola de hoje se verifica numa noite de verão.
Aqueles tempos possuíam costumes bem mais simplificados em relação aos atuais e, sem aviso prévio, um amigo podia se apresentar à porta a qualquer hora do dia ou da noite. Caso a visita se desse durante o horário do sono, bastava estender uma esteira num canto da sala, que o hóspede ficaria muito contente.
Se sua fome fosse considerável, sobretudo no caso de não haver jantado, alguns pães com azeite de oliva e especiarias, eram suficientes para torná-lo alegre e satisfazer-lhe o apetite.
As casas não eram grandes e nem com muitos cômodos. Em geral, toda a família facilmente despertavam quem junto a ela dormia. É de dentro dessa moldura que devemos assistir à cena narrada pelo Salvador.

5 Disse-lhes mais: “Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à meia-noite para lhe dizer: Amigo, emprestame três pães, 6 porque um meu amigo acaba de chegar à minha casa de uma viagem e não tenho nada que lhe dar;

Jesus sempre se apóia em fatos comuns e frequentes da vida quotidiana para fazer entender aos seus ouvintes as profundas verdades da Fé. Portanto, o caso contido nestes versículos 5 a 8 provavelmente já se havia dado com vários dos circunstantes.

Devido à inteira organicidade do modo de ser daquela civilização, as pessoas procuravam aproveitar a luz do dia para seus afazeres e, quanto ao repouso, utilizavam para dormir as horas que iam desde o declínio ao nascer do sol. Por volta das nove da noite, o silêncio penetrava em todos os lares, chegando ao auge no período de meia-noite às três horas da madrugada. O “amigo” dessa parábola chega justamente na hora mais incômoda: é muito tarde para deitar- se e terrivelmente cedo para acordar. Mas, o inconveniente maior desse acontecimento estava no fato de não ter sobrado pão na despensa do anfitrião e a essas alturas não era mais possível matar um animal para levá-lo às brasas... A única saída era recorrer às reservas do vizinho.

O vilarejo inteiro se encontra submerso em profundo sono mas, logo às primeiras batidas, o dono da casa desperta e, sem se mover de sua esteira, ouve a demanda. Tratava-se de conceder três pães para quem estava à porta. Sobre o porquê de serem três, várias hipóteses tecem os autores, procurando atribuir sentidos simbólicos a este número. Na realidade, segundo os costumes da época, os pães tinham um tal tamanho que três faziam uma refeição normal de um adulto.
7 e ele respondendo lá de dentro, disser: Não me incomodes, a porta está agora fechada, os meus filhos e eu estamos deitados — não me posso levantar para tos dar.
A situação descrita é constrangedora. Não se sabe de quem se deve ter mais pena, se do anfitrião ou do pai de família. Reportando-nos aos costumes de então, não cabe dúvida estar este último numa posição de maior incômodo, pois todos os seus se encontravam alinhados nos respectivos leitos e, para chegar à despensa, sem luz elétrica, ele precisaria despertar cada um ou, eventualmente, pisar sobre este ou aquele... Portanto, era conveniente levantarem-se todos para executar tal operação. Ora, com um tal diálogo a altas vozes, não deveria haver um só na posse de seu sono a essas alturas. Faltava, aos vizinhos já despertos, somente boa vontade. Tratava-se, da parte destes, de mais um caso típico de mescla de preguiça com egoísmo, aí sim, característica de todas as épocas. Entretanto, torna-se claríssimo pela parábola que, apesar de sua má vontade, o pai de família acabou por se levantar, devido à importuna insistência de seu vizinho, disposto a entregar a este quantos pães quisesse.

8 Digo-vos que, ainda que ele não se levantasse a dar-lhos por ser seu amigo, certamente pela sua impertinência se levantará e lhe dará tudo aquilo de que precisar.

Jesus quer nos convencer sobre a importância da perseverança na oração. Ademais, ensina-nos a não termos timidez ou receio em nossos pedidos a Deus. Evidentemente, no relacionamento humano, as regras de etiqueta e boa educação devem ser observadas sempre. Porém, não se pode ter a menor retração ao entrarmos em conversação com Deus. Neste caso as normas de polidez são contraproducentes, pois Ele quer a ousadia de nossa parte, Ele deseja ser importunado por nós e fará por nós muitíssimo mais do que o pai de família fez por seu vizinho.

De fato, Deus jamais se cansa e nem pode ser incomodado, não dorme e nem faz esforços para se despertar, e está com as portas sempre abertas para nos atender, pronto a nos ouvir durante as vinte e quatro horas do dia. Nunca se irrita e, muito pelo contrário, se alegra com nossa insistência. Quando nossa obstinação atingir o grau máximo de importunidade, aí teremos triunfado em nossa oração.


Continua no próximo post.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O poder supremo e a infalibilidade do Papa, reafirmados pelo Concílio Vaticano II



A Cátedra infalível de Pedro é um ponto fundamental para a vida sobrenatural e até mesmo intelectual de todo católico. Sem esse grande dom concedido pelo Divino Fundador à sua Igreja, não teria ela atravessado um só século de História. Esta talvez seja uma das razões pelas quais o Concílio Vaticano II, em sua Constituição Dogmática Lumen gentium, tenha afirmado:

“Mas o colégio ou corpo episcopal não tem autoridade, se nele não se considerar incluído, como cabeça, o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, permanecendo sempre íntegro o seu poder primacial sobre todos, tanto pastores como fiéis. Pois o Romano Pontífice, em virtude de seu cargo de Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, tem poder pleno, supremo e universal sobre a Igreja, e pode sempre exercê-lo livremente.

Por outro lado, a ordem dos bispos, que sucede ao colégio apostólico no magistério e no regime pastoral, e na qual perdura continuamente o corpo apostólico em união com a sua cabeça, o Romano Pontífice, e nunca sem ele, é também detentora do poder supremo e pleno sobre a Igreja universal, mas este poder não pode ser exercido senão com o consentimento do Pontífice romano. Só a Pedro o Senhor pôs como rocha e portador das chaves da Igreja (cf. Mt. 16, 18-19) e constituiu pastor de toda a sua grei (cf. Jo 21, 15ss); mas o ofício que deu a Pedro de ligar e desligar (Mt 16, 19) é sabido que o deu também ao colégio dos apóstolos, unidos com a sua cabeça (Mt 18, 18; 28, 16-20). (...) Não pode haver Concílio ecumênico que como tal não seja aprovado ou ao menos reconhecido pelo sucessor de Pedro; e é prerrogativa do Romano Pontífice convocar esses Concílios, presidi-los e confirmá-los” (nº 22).

“A infalibilidade, de que o Divino Redentor dotou a sua Igreja para definir a doutrina de fé e costumes, abrange o depósito da Revelação que deve ser guardado com zelo e exposto com fidelidade. O Romano Pontífice, cabeça do colégio episcopal, goza desta infalibilidade em virtude do seu ofício, quando define uma doutrina de fé ou de costumes, como supremo Pastor e Doutor de todos os cristãos, confirmando na fé os seus irmãos (cf. Lc 22, 32). Por isso, as suas definições são irreformáveis em si mesmas, sem necessidade do consentimento da Igreja, uma vez que são pronunciadas  sob a assistência do Espírito Santo, prometida ao Papa na pessoa de Pedro: não precisam da aprovação de ninguém, nem admitem qualquer apelo a outro juízo. É que nestes casos, o Romano Pontífice não dá uma opinião como qualquer pessoa privada, mas propõe ou defende a doutrina da fé católica como mestre supremo da Igreja universal, dotado pessoalmente do carisma da infalibilidade que pertence à Igreja” (nº 25)

Palavras de São Cipriano:

“Para manifestar a unidade, estabeleceu uma cátedra, e com sua autoridade dispôs que a origem dessa unidade se fundamentasse em uma pessoa. (...) o princípio dimana da unidade, e o primado foi dado a Pedro para mostrar que a Igreja de Cristo e a Cátedra são uma só”. (...)

“Quem não crê nessa unidade pode ter fé? Quem se opõe e resiste à Igreja, quem abandona a Cátedra de Pedro, sobre a qual aquela está fundada, pode pensar que se acha dentro da Igreja?” (De unitate sobre a unidade da Igreja Católica).

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Infabilidade Papal


Como Moisés no monte Sinai

O Espírito Santo não deixou de sublinhar com fenômenos naturais ato tão importante para a História da Igreja e dos homens. Eis ainda um relato da época: “Tal é a pálida descrição do que se passou nessa imortal manhã de 18 de julho de 1870. A lembrança será indelével para aqueles que tiveram a felicidade de assistir a esta bela cerimônia religiosa. Um fato todo particular e notável nos é assinalado por um correspondente.

“"No momento em que tinha lugar a proclamação [do dogma da infalibilidade], uma tempestade que desde a madrugada pairava surdamente sobre Roma, rebentou subitamente, abalando as abóbadas de São Pedro, e um clarão enorme envolveu os assistentes. O trovão não cessou de ribombar até o fim da leitura. Todos os assistentes pensaram então no Sinai; parecia que uma nova revelação descia sobre o povo, assim como sucedera com a lei de Moisés, no meio dos relâmpagos e dos trovões.

“De repente, porém, quando se ouviam as derradeiras palavras, a atmosfera serenou, e quando Pio IX entoou o Te Deum, um raio de sol bateu em cheio no seu nobre e meigo semblante. O coro da Capela Sistina, que deveria continuar o Te Deum, não pôde ser ouvido, as vozes eram abafadas pelas dos Bispos e da multidão” (Idem, ibidem).

Os termos da definição dogmática

A Constituição Pastor Aeternus, aprovada nessa última sessão do Concílio, distribuída em quatro capítulos, fundamenta magistralmente na Bíblia e na Patrística o valor e a substância do primado romano e sua perpétua duração; a perpetuidade do primado de São Pedro nos Romanos Pontífices; o sumo, imediato e universal poder de jurisdição do Santo Padre sobre a Igreja; e, por fim, no capítulo 4º, define o dogma da infalibilidade pontifícia nos seguintes termos:

“Por isso, Nós, apegando-nos à Tradição recebida desde o início da fé cristã, para a glória de Deus, nosso Salvador, para exaltação da religião católica, e para a salvação dos povos cristãos, com a aprovação do Sagrado Concílio, ensinamos e definimos como dogma divinamente revelado que o Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho do ministério de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral para toda a Igreja, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual Cristo quis munir sua Igreja quando define alguma doutrina sobre a fé e a moral; e que, portanto, tais declarações do Romano Pontífice são por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis.”
“Se, porém, alguém ousar contrariar esta nossa definição, o que Deus não permita - seja excomungado”.

O Concílio aumenta o prestígio do Papado

Infelizmente, tornou-se necessário interromper a magna assembléia, pois logo no dia seguinte foi deflagrada a guerra franco-prussiana (19/7/1870). A maioria dos bispos teve de regressar a seus países. E em 20 de setembro, Roma foi ocupada, tornando impraticável a continuação dos trabalhos conciliares, que não mais foram retomados.
Um grande historiador eclesiástico assim narra os acontecimentos do pós-Concílio:

“O Concílio foi, pois, adiado - sine die”.  Dos cinqüenta e um assuntos que constavam da ordem das sessões, só foram resolvidos dois. (...)

“Embora o Concílio Vaticano I não tenha terminado, sua transcendência foi extraordinária. Já no seu tempo, o mundo pôde constatar como, graças a ele, havia acrescido o prestígio moral da Igreja e do Papado. Essa é a razão da contrariedade manifestada por todos os adversários do catolicismo”” (Ludwig Hertling, SJ, Historia de la Iglesia).

Continua...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Convocação do Concílio Vaticano I: expectativas e oposições

“Oportet et haereses esse” (é necessário haver heresias), afirma São Paulo na primeira epístola aos coríntios (11, 19). Embora o princípio da infalibilidade pontifícia viesse sendo aceito, em geral, ao longo da História da Igreja, uma surda contestação começou a ganhar vitalidade no século XIX, época em que a influência do livre pensamento caminhava para um auge no mundo inteiro.
Nessas circunstâncias, o Espírito Santo inspirou ao grande Papa que então governava a nau de Cristo, a convocação de um Concílio. Em dezembro de 1864, o Beato Pio IX resolveu comunicar secretamente aos cardeais seu projeto, argumentando serem grandes as turbulências doutrinárias e morais e numerosos os erros que pretendiam introduzir-se na Igreja.
A Bula de convocação foi lançada anos mais tarde (29/6/1868), provocando entusiasmo em alguns e apreensão em outros. Da Cúria Romana nada extravasava da matéria a ser tratada, apesar da intensa atividade preparatória. Essa situação fazia crescer de muito a curiosidade e se intensificar uma certa agitação.
A explosão se tornou inevitável quando, em seu número de fevereiro de 1869, a famosa revista da Companhia de Jesus, “La Civiltà Cattolica”, noticiou que a definição do dogma da infalibilidade papal seria o tema principal do Concílio.
Tratava-se de um assunto inadmissível para as correntes de livre pensamento daqueles dias. Pela exigüidade de espaço, citamos apenas três reações dignas de nota: 1º) Um sacerdote alemão, o Pe. Inácio Döllinger (1799- 1890), professor de História Eclesiástica na Faculdade de Munique, lançou de imediato numerosos escritos contra o princípio da infalibilidade, constituindo-se líder do movimento de oposição.
2º) O príncipe Clodoveu de Hohenlohe, presidente dos Ministros da Baviera (naquele tempo um reino independente), interveio junto aos governos europeus, alarmando-os contra os “perigos” do Concílio.
3º) Em Fulda (setembro de 1869) reuniram-se os bispos alemães e elaboraram um comunicado ao Papa, declarando categoricamente a inoportunidade da proclamação do dogma.
Para se ter uma idéia do clima de efervescência reinante, basta mencionar que, no mesmo dia e hora em que no Vaticano se abria o Concílio, iniciava-se em Nápoles um anticoncílio, com a presença de 700 delegados do mundo inteiro. Em poucos dias esse conciliábulo se desfez, em razão da revolta do povo, escandalizado pelas blasfêmias proferidas ali contra Jesus Cristo e Maria.
Nenhuma pressão ou ameaça abalou o Beato Pio IX, resolvido a levar o Concílio até o fim.
Começa o Concílio
A 8 de dezembro de 1869 realizou-se a sessão inaugural do Concílio, na Basílica de São Pedro, com a participação de 764 prelados.
Entre os padres conciliares, formaram-se imediatamente dois grupos, o dos partidários e o dos adversários da infalibilidade pontifícia. Uma parte dos que se manifestavam contrários não contestava a doutrina em si, mas a oportunidade de sua definição. Sempre derrotada na contagem dos votos, a minoria anti-infalibilista não conseguiu frear os trabalhos, que celeremente preparavam a proclamação do dogma. Certas matérias obtiveram unanimidade de aceitação.
O Concílio Vaticano I teve quatro sessões públicas. A terceira delas — muito importante — promulgou a famosa Constituição Dogmática Dei Filius (Filho de Deus), aprovada pela totalidade dos padres conciliares, que tornava clara a doutrina da Igreja a respeito da supremacia da Fé sobre a Razão e das relações harmônicas entre ambas.
Essa doutrina constituiu um rude golpe contra vários erros dominantes naqueles dias, como o panteísmo, o materialismo, o ateísmo, o racionalismo, o positivismo e o kantismo.
A mais importante data do século XIX
A 18 de julho de 1870 realizou-se a quarta sessão do Concílio, com 540 participantes (o restante havia retornado a suas dioceses com autorização do Papa), e assim foi narrada pelos jornais:
“Entre as oito e as nove horas da manhã, dirigiram-se os Padres para a Basílica de São Pedro, e depois de revestidos com os ornamentos pontificais nas capelas destinadas para esse fim, e de ter adorado o Santíssimo Sacramento, encaminharam-se individualmente para a sala do concílio, tomando cada um o seu lugar do costume” (Jornal O Católico, apud J. M. Villefranche, Pio IX, sua vida, sua história e seu século).
Encerrado o cerimonial próprio para o ato - oração ao Espírito Santo, hinos, ladainhas, etc. - com a duração de mais de uma hora, ocorreu a votação dos padres conciliares presentes os quais, em sua quase totalidade (538 contra 2), aprovaram a definição do dogma. Os jornais da época prosseguem suas narrativas, escrevendo:
“Depois de ter tomado conhecimento do resultado dos votos, o Soberano Pontífice, de pé, com a mitra na cabeça, proclamou e sancionou com sua suprema autoridade, os decretos e os cânones da primeira Constituição Dogmática, a Pastor Aeternus.
“Dizem que o Papa quis falar logo depois do voto, mas nesse momento fez-se um tal rumor na assembléia, houve uma tal explosão de brados: ‘Viva Pio IX! Viva o Papa infalível!’ que o Santo Padre teve de esperar. Depois disse com voz solene:
“A autoridade do Soberano Pontífice é grande, mas não domina, edifica. Ela sustenta, e muitas vezes defende, os direitos de nossos irmãos, quero dizer, os direitos dos bispos. Que aqueles que não votaram conosco, saibam que votaram com a desordem, e recordem-se de que o Senhor é todo paz. Que se lembrem também de que há alguns anos concordavam com nossas idéias e com as desta grande assembléia. E então? Têm eles duas consciências e duas vontades a respeito da mesma coisa? Deus tal não permita. Nós suplicamos a Deus, o único que faz os grandes milagres, que ilumine seus espíritos e corações para que voltem ao seio de seu Pai, isto é, do Soberano Pontífice, indigno Vigário de Jesus Cristo, a fim de que os abrace, e que eles trabalhem conosco contra os inimigos da Igreja de Deus" (Idem, ibidem).
Continua....

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O Papa, máximo representante de Cristo na Igreja

Continuação do post anterior


Prêmio pela proclamação da divindade de Jesus
A resposta, encontramo-la no Evangelho da celebração litúrgica de 22 de fevereiro:
Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem? Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu  te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus(Mt 16, 13-19).
Faltava pouco tempo para a Paixão de Jesus. Antes de o Divino Mestre chegar a Cesaréia de Filipe, os fariseus e saduceus haviam-No tentado, rogando-Lhe que lhes mostrasse algum sinal do Céu. Pelo modo como Jesus lhes respondera, ficara evidente uma vez mais aos olhos dos Apóstolos a sabedoria de nosso Salvador e a maldade de seus adversários. Os Doze estavam já preparados para chegar à conclusão de quem era Jesus.
Nosso Senhor lhes conhecia os pensamentos, porém desejava tornar explícito pelos lábios de seus seguidores o que estes haviam discernido a respeito d’Ele. Por isso primeiro lhes pergunta o que ouviam sobre o “Filho do Homem”.
Ficando claro que o comum das pessoas não via em Jesus mais do que um precursor do Messias, o Mestre fez seus Apóstolos externarem, baseados na virtude da fé, um juízo sobrenatural a respeito de sua natureza divina. Causa admiração a superior didática: após ter apartado os Apóstolos dos fariseus e saduceus, Jesus procurava alçá-los acima do povo. Que Jesus era filho de Davi, todos o sabiam. Coube a São Pedro expressar a convicção de todos ali e, numa curta frase, sintetizar a doutrina católica a respeito das verdades essenciais: um só Deus, além do mais, vivo “para distingui-Lo dos deuses mortos dos pagãos”, que dá a vida; a encarnação do Verbo, a distinção das Pessoas divinas e a “messianidade” de Jesus.
Como essa afirmação de Pedro tinha um caráter intensamente profético (indicação de quehavia sido ele escolhido pelo Pai, que o inspirou), Jesus o tomou como a pedra fundamental de seu edifício, a Igreja: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra ser á desligado nos céus.”
Confirmação da efetiva primazia de Pedro
Jesus confirmou a escolha de Pedro, como chefe de sua Igreja, em ocasiões diversas.
Essa responsabilidade do Príncipe dos Apóstolos foi anunciada pelo Senhor, nos momentos trágicos que precederam a Paixão: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31-32).
Quase ao final do Evangelho de São João, vemos o Mestre reafirmá-la: “Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 15-17).
Nosso Senhor confiava o seu rebanho (incluindo, portanto, a própria Hierarquia) ao cuidado do Príncipe dos Apóstolos.
Dinastia indestrutível, instituída por Deus
Desde os primeiros dias da Igreja nascente, antes ainda de Pentecostes, vemos a chefia de São Pedro reconhecida. Na primeira decisão a ser tomada após a Ascensão do Senhor, quando se tratou de escolher um substituto para Judas, foi São Pedro quem presidiu a reunião: “Num daqueles dias, levantou-se Pedro no meio de seus irmãos, na assembléia reunida que constava de umas cento e vinte pessoas, e disse...” (At 1, 15). É o primeiro ato de São Pedro enquanto Vigário de Cristo, narrado pela Escritura.
Outras várias intervenções do Príncipe dos Apóstolos na qualidade de Chefe da Igreja nos são narradas pelos Atos dos Apóstolos (2, 14-41; 5, 29; 15, 7; 15, 19-20).
O primado de Pedro foi - e continuará sendo, em seus sucessores, até o fim dos tempos - de verdadeira jurisdição, suprema, universal e plena. Suprema porque não reconhece na Terra autoridade superior nem igual no terreno religioso; universal, por se estender a todos os membros da Igreja; plena, com a plenitude de poderes que Jesus Cristo outorgou ao Primeiro entre os Doze.
Vinte séculos de História confirmam o quanto a Igreja está, de fato, assentada numa firme e inabalável rocha, conforme a promessa do Salvador.
Tão íntimo é o liame entre a instituição eclesial e seu Chefe, que Santo Ambrósio pôde dizer: “Onde está Pedro, aí está a Igreja”.
Continua...