CONCLUSÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR
Crucificado e triunfante!
Em sua infinita
sabedoria, o Verbo onipotente promoveu que a cruz fosse um símbolo de horror,
rejeição e repugnância; e, depois, ao Se encarnar, abraçou-a para nos redimir e
cumprir a vontade do Pai. Desde então a Cruz tornou-se a maior honra, o maior
triunfo, a maior glória; no dizer de São Leão Magno,3 transformou-se em cetro
de poder, troféu de vitória, signo de salvação. Ela passou a ser o cimo das
torres das igrejas, o centro das condecorações, o ponto mais alto das coroas e
o sinal que distingue um filho de Deus de um filho das trevas.
Quando Nosso Senhor estava
já exangue na Cruz, chagado da cabeça aos pés, prestes a render seu espírito,
os sinedritas zombavam d’Ele, dizendo: “A outros salvou, a Si mesmo não pode
salvar! O Messias, o Rei de Israel... que desça agora da Cruz, para que vejamos
e acreditemos!”. Com muita proprieda de São Bernardo de Claraval comenta este
trecho: “O língua envenenada, palavra de malícia, expressão perversa! [...]
Pois, que coerência há em ter de descer, se é Rei de Israel? Não é mais lógico
que suba? [...] Ou por outra, por ser Rei de Israel, que não abandone o título
do reino, não deponha o cetro aquele Senhor cujo império está sobre seus
ombros”.4
E foi o que
aconteceu. Ao terceiro dia Ele ressuscitou, e no quadragésimo ascendeu ao seu
Reino Celeste, onde está sentado à direita do Pai, dominando o mundo inteiro.
Rei absoluto, Ele não desceu, mas subiu!
III – A CRUZ SE TRANSFORMA EM GLÓRIA NA ETERNIDADE
A fim de
aproveitarmos bem as graças da Semana Santa que hoje se inicia, é necessário
que nos compenetremos de que, muito mais que com ramos de palma nas mãos devemos
acolher Nosso Senhor com determinações interiores e propósitos, e com a firme
convicção de que fomos criados para servir o Homem-Deus, cada qual no seu
estado de vida, seja constituindo família, seja como religioso.
Jesus me convoca a
segui-Lo! Valendo-se de uma expressiva imagem, São Roberto Belarmino pondera:
“Quem vê seu capitão lutar por seu amor, com tal perseverança em lide tão penosa,
recebendo tantas feridas e padecendo tão grandes dores, como não se animará a
combater a seu lado, a fazer guerra aos vícios e resistir até morrer? Cristo
batalhou até vencer e alcançar glorioso triunfo sobre seu inimigo [...]. E se
Cristo pelejou com tão grande perseverança, seu exemplo deve dar sumo alento a
todos os seus soldados para não se afastarem de sua cruz, e sim pugnar a seu
lado até vencer”.5 Eu estarei com Ele, quer na entrada triunfal em Jerusalém,
aclamando-O como Rei, quer na Via-Sacra, carregando minha cruz às costas, ou
sobre o Gólgota, nela pregado. Será por meio desta cruz que eu obterei a glória
da ressurreição, e conviverei com Ele por todo o sempre na verdadeira
Jerusalém, a Jerusalém Celeste!
Ao transpor as
muralhas desta esplendorosa cidade, “tabernáculo de Deus com os homens” (Ap 21,
3), teremos um autêntico Domingo de Ramos e entenderemos que a cerimônia da qual
hoje se participa é mero símbolo dos “bens que Deus tem preparado para aqueles
que O amam” (I Cor 2, 9). Entretanto, aqueles que persistiram numa concepção
mundana e desviada a respeito de Nosso Senhor, negando-se a aceitá-Lo como Ele
é, terão um eterno domingo de fogo, enxofre, ódio e revolta!
Peçamos a graça de
Compreender que é através da cruz que chegamos à luz “Per crucem ad lucem!” e
não há outro meio de conquistar a alegria sem fim. Que a cruz seja a
companheira inseparável de cada um de nós até o momento de ingressarmos na
Visão beatífica, e continue junto a nós por toda a eternidade, como magnífica
auréola de santidade, resplendor de glória.
1 BOSSUE
Jacques-Bénigne. Méditations sur l’Évangile. La dernière semaine du Sauveur.
Sermons ou discours de Notre Seigneur depuis le Dimanche des Rameaux jusqu’à la
Cène. PrJour. In:
OEuvres choisies. Versailles: Lebel, 1821, v.11, p.116;
118.
2) SANTO AGOSTINHO.
Sermo XCV, n.4. In:
Obras. Madrid: BAC, 1983, v.X, p.632.
3) Cf. SAO LEAO
MAGNO. De Passione Domini. Sermo VIII, hom.46 [LIX], n.4. In: Sermons. Paris: Du Cerf, 1961, vIII, p.59.
4) SAO BERNARDO. Sermones de Tiempo. En el Santo Día
de la Pascua. Sermón I, n.1-2. In: Obras Completas. Madrid: BAC,
1953, v.1, p.497-498.
5) SÃO ROBERTO BELARMINO. Libro de ias Siete
Palabras que Cristo habló en la Cruz. Buenos Aires: Emecé,
1944, p.107-108.