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quarta-feira, 5 de junho de 2013

EVANGELHO X DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C - 2013

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CONCLUSÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – 10º DOMINGO DO TEMPO COMUM  ANO C 2013  Lc 7, 11-17
Nosso Senhor toma a iniciativa da nossa conversão
Entretanto, o ponto que mais deve atrair nossa atenção, ao considerar esta passagem do Evangelho, é o fato de o próprio Cristo haver tomado a iniciativa de operar aquela ressurreição, sem que a viúva lhe houvesse pedido ou alguém intercedesse em favor dela. Ademais, tudo indica ter sido a primeira vez que Jesus visitava a cidade de Naim e, portanto, os habitantes talvez ainda nem sequer O conhecessem, de modo que Ele não iria exigir um ato de fé da senhora nem do povo que a acompanhava. Por conseguinte, neste caso, Ele quis realizar um milagre estupendo, passando por cima de todas as regras, por haver sentido compaixão.
Em Jesus, a capacidade de compadecer-Se das misérias e das necessidades dos outros é insuperável, inefável e até inimaginável por qualquer mente humana, pois é infinita e provém de um Coração arrebatado de amor pelo Pai e, portanto, de amor aos homens, em Deus. Esse Coração, por ser humano, é também sensível. Ele ama a frágil natureza de suas criaturas, que Ele mesmo assumiu ao vir ao mundo, e quer cumulá-la de bens, para fazê-la reinar consigo na eternidade. Tendo Ele subido aos Céus, a caridade de seu Sagrado Coração permanece sempre junto a nós. Assim sendo, “conservemos firme a nossa fé. Porque não temos nele um pontífice incapaz de compadecer-se das nossas fraquezas” (Hb 4, 14-15). Pelo contrário, se ao longo de sua vida terrena atendeu a todos os que d’Ele se aproximaram, e moveu-Se de piedade por uma pobre viúva que cruzou seu caminho, por que não terá pena de nós quando nos acharmos numa situação de necessidade? Quantas vezes Ele mesmo dá o primeiro passo para se encontrar conosco, tomando a iniciativa de nos salvar de algum perigo, sem ao menos Lhe havermos dirigido uma súplica, numa maravilhosa atitude que deixa patente a ternura de seu amor por cada um de nós!
Nada devemos temer
Por isso, vale a pena viver em função da Palavra que nos ressuscitou para a vida eterna e nos dá o ânimo necessário para seguir adiante, enfrentando todos os obstáculos, e considerando-os apenas como elementos permitidos por Deus para aumentar os nossos méritos. E se tivermos a infelicidade de cair em pecado, não julguemos que Ele vai nos rejeitar. Também os mortos, na legislação judaica, não podiam ser tocados. Entretanto, o Evangelho deste domingo nos mostra Jesus aproximando-Se do féretro, para nele tocar e ressuscitar aquele jovem falecido.
Não nos alarmemos, então, com as possíveis tragédias que nos possam sobrevir. Nas circunstâncias mais difíceis, quando o sofrimento nos assaltar, deitando sua negra sombra sobre nossa vida, lembremo-nos de que nunca padecemos sozinhos, pois há Alguém que também passa ao nosso lado e nos acompanha com seu olhar, porque nos ama com um Coração de Pai compassivo e deseja a nossa salvação eterna. E, sendo Senhor de tudo, tem poder de sempre nos livrar de todos os perigos e penas que possam nos ameaçar. Isso deve ser motivo de sustentação e de alegria para nós.
1 BUSSIÈRES, Le Baron Th. Conversion de M. Marie-Alphonse Ratisbonne. Rélation authentique. 2.ed. Paris: Ambroise Bray, 1859, p.19.
2 Idem, p.29.
3 ROYO MARÍN, OP, Antonio. Somos hijos de Dios. Madrid: BAC, 1977, p.60.
4 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I-II, q.109, a.6, ad 1.
5 SANTO AGOSTINHO. De gratia et libero arbitrio. L.XIV, n.30. In: Obras. 3.ed. Madrid: BAC, 1971, v.VI, p.248-249.
6 Cf. FERNÁNDEZ TRUYOLS,SJ, Andrés. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. 2.ed. Madrid: BAC, 1954, p.276; GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Años primero y segundo de la vida pública de Jesús. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, v.II, p.219.
7 Cf. GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Introducción, Infancia y vida oculta de Jesús. Preparación de su ministerio público. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, v.I, p.147.
8 Cf. GOMÁ Y TOMÁS, El Evangelio explicado. Años primero y segundo de la vida pública de Jesús, op. cit., p.219.
9 SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Sermo in Ev. Math. LXXIII, n.1. In: Obras. Madrid: BAC, 1956, v.II, p.463.
10 BADET, Jean-François. Jésus et les femmes dans l’Évangile. 6.ed. Paris: Gabriel Beauchesne, 1908, p.223-224.
11 MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los Cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y San Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.II, p.489-490.
12 SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.102, a.5, ad 4.
13 Cf. GOMÁ Y TOMÁS, El Evangelio explicado. Introducción, Infancia y vida oculta de Jesús. Preparación de su ministerio público, op. cit., p.146-147.
14 MALDONADO, op. cit., p.490.
15 Idem, p.491.
16 LAGRANGE, OP, Marie-Joseph. Évangile selon Saint Luc. 4.ed. Paris: J. Gabalda, 1927, p.211.
17 Cf. GOMÁ Y TOMÁS, El Evangelio explicado. Años primero y segundo de la vida pública de Jesús, op. cit., p.220.
18 SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.107, a.2.

19 VIGILIA PASCHALIS IN NOCTE SANCTA. Præconium Paschale. In: MISSALE ROMANUM. Ex decreto Sacrosancti OEcumenici Consilii Vaticani II instauratum auctoritate Pauli PP. VI promulgatum Ioannis Pauli PP. II cura recognitum. Iuxta typicam tertiam. Belgium: Midwest Theological Forum, 2007, p.284.

terça-feira, 4 de junho de 2013

EVANGELHO X DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C - 2013

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – 10º DOMINGO DO TEMPO COMUM  ANO C 2013  Lc 7, 11-17
O efeito causado na multidão
16 “Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: ‘Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo’”.
Diante de tamanho prodígio, a estupefação e o medo tomaram conta de todos. Haviam constatado no Mestre a presença de uma virtude absoluta e totalmente sobre-humana, prova irrefutável de que Ele era profeta. Com efeito, era costume o profeta demonstrar, por meio de algum sinal, a autenticidade de sua missão (cf. I Sm 2, 34; II Rs 19, 29; 20, 8-9; Ez 24, 24). Nosso Senhor, nesse caso, não recebeu o título de profeta, mas o de grande Profeta, pois, como vimos, revelou ter poder sobre a vida e a morte. “Essa estupefação respeitosa” — comenta Lagrange — “não é senão o prelúdio dos louvores dados a Deus. As multidões chamam profeta a Jesus, e não filho de Deus, como os demônios (cf. Lc 4, 41), já que estes têm as vistas sobre o mundo invisível, enquanto os homens procuram analogias no passado, em que alguns profetas haviam ressuscitado mortos. Nenhum deles, entretanto, o fizera com uma palavra; por isso consideram Jesus como um grande profeta, o esperado para o tempo da salvação”.16 Ora, a função fundamental do profeta não é a de prever o futuro, mas sim a de ser guia do povo e apontar-lhe o rumo de sua trajetória. Portanto, nesse episódio da vida pública do Homem-Deus, vemo-Lo manifestar-Se enquanto caminho e vida, como mais tarde Ele mesmo afirmará: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6).
Por que sentiram medo?
Foram também dominados pelo medo os que ali estavam ao tomar contato com o sobrenatural e concluir que, de fato, Deus visitara o seu povo. Porque, embora sabendo da existência de Deus pela Revelação, muitos viviam submergidos no ateísmo prático, tendo-O inteiramente ausente de suas cogitações e obras. Eram capazes de falar d’Ele, no entanto moldavam a vida como se n’Ele não acreditassem. Naquele momento, porém, sentindo sua proximidade, é muito provável que a consciência se tenha despertado no interior de cada um, apontando as próprias misérias e censurando as faltas cometidas no passado.
Aqui podemos nos perguntar: e nós, em nossa vida concreta, cremos em Deus? Ou adotamos uma forma de vida materialista, pela qual acreditamos apenas teoricamente e, na prática, vivemos como se Ele não existisse?
Uma projeção fulgurante da figura de Nosso Senhor
17 “E a notícia do fato espalhou-se pela Judeia inteira e por toda a redondeza”.
Naqueles remotos tempos, não havendo os meios de comunicação atuais — rádio, telefone, televisão, internet e nem sequer jornal —, a transmissão das notícias era feita oralmente. As novidades se espalhavam de maneira mais natural e mais autêntica, ao contrário de nossos dias em que, devido à velocidade dos novos inventos, vão perdendo elas, pouco a pouco, a penetração nas mentes, tal o excesso de informação. Dessa forma, o relato desse extraordinário milagre se espalhou por toda a Judeia, e é bem provável que por toda a Palestina, ultrapassando até os limites da região. O nome do grande Taumaturgo da Galileia adquiria, assim, uma fama crescente.
O SIGNIFICADO MÍSTICO DO MILAGRE
O episódio da ressurreição do filho da viúva de Naim encerra um profundo significado místico. Depois da queda do homem, no Paraíso, o pecado transmitiu-se, de pai para filho, a toda a sua posteridade. Manchada pela culpa original, a humanidade jazia como morta, merecedora da eterna condenação, tendo as portas do Céu fechadas diante de si. Para os descendentes de Adão e Eva, a justificação apenas podia ser alcançada por meio da fé (cf. Rm 4, 9; Hb 11, 7); e, todavia, se viessem a cair em alguma falta grave, perdendo a graça por humana fraqueza, só lhes seria possível restaurá-la através de grandes e prolongadas penitências. Ainda assim, nada, nem mesmo a prática da Lei, lhes dava a garantia da reconciliação com Deus e da recuperação da vida sobrenatural. Com efeito, São Paulo, em sua carta aos Gálatas, escreve: “Pela prática da Lei, nenhum homem será justificado” (Gal 2, 16). E o Doutor Angélico nos explica que “o fim da lei antiga era também a justificação dos homens. A qual, certamente, a Lei antiga não podia fazer, mas figurava com alguns atos cerimoniais, e prometia por palavras”.18 Como, pois, ressuscitar alguém espiritualmente, após haver transposto os umbrais da morte do pecado grave? Era isso impossível se não houvesse um Redentor.

Nosso Senhor Jesus Cristo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, compadeceu-Se dos que permaneciam envoltos nas trevas e na sombra da morte (cf. Lc 1, 79) e tomou a iniciativa de encarnar-Se, sofrer a Paixão e a morte de Cruz, para triunfar na Ressurreição, a fim de ressuscitar o corpo inerte da humanidade pecadora. Ele, o Verbo Eterno, traz a vida da graça, que é infundida nos corações dos fiéis, como Ele mesmo dirá: “Eu vim para que vós tenhais vida e a tenhais em abundância” (Jo 10, 10). Ao assumir a natureza humana e tornar-Se nosso irmão, Jesus coloca os homens em uma condição superior à de nossos primeiros pais, pois no Paraíso, antes do pecado, não tinham eles o Salvador, que nos proporciona caudais de graças atuais, deixa-Se ficar entre nós como alimento e nos lega o precioso dom dos Sacramentos, para manter a vida sobrenatural por Ele instaurada. “O felix culpa, quæ talem ac tantum meruit habere Redemptorem!19 — Ó feliz culpa, que nos fez merecer um tão grande Redentor!”.

domingo, 2 de junho de 2013

EVANGELHO X DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C - 2013

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – 10º DOMINGO DO TEMPO COMUM Lc 7, 11-17
Contrariando a Lei de Moisés
14a “Aproximou-Se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam”.
A seguir, Ele tocou no esquife. Os que estavam conduzindo o defunto pararam surpresos, percebendo que algo de inusitado ia acontecer, uma vez que só a eles era permitido esse gesto, pois “reputava-se imundícia nos homens tudo quanto estava corrompido ou exposto à corrupção. E como a morte é corrupção, o cadáver era considerado como imundo”. 12 A Lei preceituava expressamente certas abluções e purificações para todo aquele que tivesse contato com um morto (cf. Nm 9, 6-7; 19, 11-13). Tanto mais que, segundo o costume, o caixão não era fechado, e o corpo, já embalsamado e envolto em um lençol, era transladado sobre uma maca, à vista de todos, tendo a cabeça coberta por um sudário, que de vez em quando levantavam para ver o rosto. 13 Assim, pôr a mão sobre o féretro significava fazê-lo quase no cadáver. No entanto, Nosso Senhor — e este é um ponto fundamental — não teve repugnância nem receio algum de tocá-lo.
Um milagre que superava todos os anteriores
14b “Então, Jesus disse: ‘Jovem, eu te ordeno, levanta-te!’”.
Ora, o Mestre iniciara sua pregação havia já certo tempo, operara milagres, impressionando as multidões, e sua fama se havia propagado por toda a região (cf. Lc 4, 37; 5, 15). Agora, porém, Ele vai fazer um prodígio que superará em majestade e poder todos os outros antes realizados. Bastaria um simples ato de sua vontade divina para fazer a alma do jovem retornar ao corpo. Todavia, a fim de não haver dúvida de que era Ele mesmo o Autor daquela ressurreição, com voz imperiosa, deu ao morto a ordem de se levantar. “Eu te ordeno” era uma fórmula que nunca havia sido usada por nenhum taumaturgo da História, nem por Elias, a quem a primeira leitura deste domingo contempla ressuscitando o filho da viúva de Sarepta só depois de grandes súplicas e um prolongado cerimonial (cf. I Rs 17, 17-22); nem mesmo por Eliseu, ao devolver à sunamita o filho que havia perdido (cf. II Rs 4, 32-35); nem sequer por Moisés ou Josué, ao abrir as águas do Mar Vermelho ou do rio Jordão (cf. Ex 14, 21; Js 3, 15-17). O “Eu te ordeno”, só Deus, dominador absoluto de toda a criação, Senhor da vida e da morte, podia dizer. “Mostra Cristo com essas palavras que o ressuscita por sua própria autoridade e mandato, e não com poder alheio. Fala ao que estava morto, porque é Deus, cuja voz só pode se fazer ouvir pelos próprios mortos”.14 Isto era suficiente para que todos os presentes cressem em sua divindade.
Um gesto de divina delicadeza
15 “O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe”.
O Evangelista não narra as circunstâncias da morte do jovem, nem o momento em que esta se dera; contudo, podemos afirmar com certeza que tanto a multidão de Naim como também os que acompanhavam Nosso Senhor, haviam constatado o falecimento, dada a imobilidade e a rigidez do corpo. Subitamente, o cadáver toma vida, senta-se na maca em que estava sendo transportado e começa a falar. Imaginemos o impacto de tal cena e o “estremecimento de espanto [que] invadiu o ânimo de todos ante aquela manifestação da divindade de Cristo”.15
Uma vez feito o milagre, Jesus bem poderia retirar-Se, mas, num gesto de divina delicadeza, entregou o ressuscitado à mãe, como se lhe dissesse com acento cheio de bondade: “Não te disse para não chorares? Aqui está o teu filho”. Podemos conceber a alegria da mãe: sem dúvida, a tristeza de ter assistido à morte do filho e de vê-lo rumar para o túmulo foi largamente superada pelo gozo experimentado naquele instante. Nem mesmo a felicidade do dia em que recebera o menino nos braços, depois de nascer, se igualou à desse momento, no qual o filho lhe era restituído pelas mãos do próprio Deus.

Imaginemos, também, o júbilo do jovem, depois de ter atravessado os umbrais da morte, ressuscitando com mais vigor do que tivera durante toda a sua existência anterior, pois, embora o Evangelho nada afirme a tal respeito, é preciso frisar, com convicção, que a saúde dada por Nosso Senhor a ele não pode ter sido igual à que sua mãe lhe transmitira ao concebê-lo, devido à diferença infinita entre o poder da mãe e o de Jesus Cristo, Homem e Deus verdadeiro. A partir daquele instante, então, o jovem teve maior vitalidade, pôde trabalhar com redobrada energia e deu à sua mãe um conforto extraordinário. Sem dúvida, terá assistido entre lágrimas à morte dela, pensando em quem, anos antes, o ressuscitara.