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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Comentário ao Evangelho 3º Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014

Comentário ao Evangelho – 3º Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, E.P.
Tendo Jesus ouvido dizer que João fora preso, retirou-Se para a Galiléia. Depois, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, situada junto do mar, nos confins de Zabulon e Neftali, cumprindo-se o que tinha sido anunciado pelo profeta Isaías, quando disse:
“Terra de Zabulon e terra de Neftali, terra que confina com o mar, país além do Jordão, Galiléia dos gentios! Este povo, que jazia nas trevas, viu uma grande luz, e uma luz levantou-se para os que jaziam na sombra da morte.” Desde então, começou Jesus a pregar: “Fazei penitência porque está próximo o Reino dos Céus”.
Caminhando ao longo do mar da Galiléia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. “Segui-Me”, disse-lhes, “e Eu vos farei pescadores de homens.” E eles, imediatamente, deixando as redes O seguiram. Passando adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam numa barca, juntamente com seu pai Zebedeu, consertando as suas redes. E chamou-os. Eles, deixando imediatamente a barca e o pai, seguiram-no.
Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas e pregando o Evangelho do Reino de Deus, e curando todas as enfermidades entre o povo (Mt 4, 12-23).
 O início da vida pública
Por que terá escolhido Jesus a diminuta Nazaré para viver, e a dissoluta Cafarnaum para iniciar Sua pregação? Na vida do Salvador todos os acontecimentos se explicam por elevadas razões de sabedoria.
Fim do regime da lei e dos profetas
João Batista é um importante marco na História da salvação, pois com ele termina a antiga Lei e se inicia a nova 1. Até ele, encontramos o regime da lei e dos profetas; a partir dele, abre-se a era do Reino dos Céus (cf. Mt 11, 12-13). Figura única na História, adornada em vida de um prestígio incomparável, se levanta misteriosa e solene no encontro de ambos os Testamentos 2.
Homem muito peculiar, a começar pela previsão de sua vinda, pronunciada pelos lábios de Malaquias (3, 1): “Eis que mando o meu anjo, e ele preparará o caminho diante da minha face. E imediatamente o Dominador que vós buscais, e o anjo do testamento que desejais, virá ao seu templo.” Se sui generis foi o anúncio de sua aparição, menos singular não foi o de sua missão profetizada por Isaías (40, 3): “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai na solidão as veredas de nosso Deus”.
Teve ele o grande privilégio de ser santificado pela voz da própria Mãe de Deus, estando ainda em gestação no claustro maternal de Santa Isabel: “Porque logo que a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino exultou de alegria no meu ventre” (Lc 1, 44). Seu nascimento, além de assistido por Maria, contou com a presença de belos fenômenos místicos que se difundiram “por todas as montanhas da Judéia” (Lc 1, 65), trazendo como efeito, no fundo do coração dos que ouviam seus relatos, a ponderação: “Quem julgas que virá a ser este menino? Porque a mão do Senhor era com ele” (Lc 1, 66). Tal foi aquele acontecimento que seu pai, Zacarias, pôs-se a profetizar, confirmando as antigas previsões sobre o menino (cf. Lc 1, 67-79).
Depois de refugiar-se nos desertos “até o dia de sua manifestação a Israel” (Lc 1, 80), aparece realizando sua missão diante do povo que “o considerava como um profeta” (Mt 14, 5; 21, 26). “E ia ter com ele toda a terra da Judéia e todos os de Jerusalém” (Mc 1, 5). “E as multidões interrogavam-no, dizendo: ‘Que devemos, pois, nós fazer?’ [...] E fo ram também publicanos para ser batizados e disseram-lhe: ‘Mestre, que devemos fazer?’ [...] Interrogavam-no também soldados ...” (Lc 3, 10-14).
Sua presença, suas palavras e até mesmo a forma de vida por ele adotada, colocavam “o povo em ansiosa expectativa e pensando, todos, se seria ele o Messias” (Lc 3, 15), a ponto de ver-se na contingência de afirmar categoricamente aos sacerdotes e levitas enviados pelos judeus de Jerusalém para interrogá-lo: “Não sou eu o Messias” (Jo 1, 20). E mais tarde a voz de Cristo assim o classificaria: “Um profeta? Sim, vos digo eu, e ainda mais do que profeta” (Mt 11, 9). “Em verdade vos digo que entre os nascidos de mulher não veio ao mundo outro maior que João, o Batista” (Mt 11, 11).

A prisão desse varão, o Precursor, tomado em plenitude pelo Espírito Santo (Lc 1, 15), determina o fim do regime da Lei e dos profetas e o começo da pregação sobre o Reino dos Céus, conforme veremos na Liturgia deste 3º Domingo do Tempo Comum.
Continua no próximo post.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

EVANGELHO II DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A - 2014 - Jo 1, 29-34

CONCLUSÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A - 2014 -  Jo 1, 29-34
CONCLUSÃO: CASTIGO DA AMBIÇÃO E DA INVEJA
O castigo de Deus à ambição e à inveja se faz presente não só na eternidade, mas também nesta vida. Quem se deixa arrastar por esses vícios, perde a noção do verdadeiro repouso e passa a viver constantemente na preocupação, na inquietude e na ansiedade. Sempre estará atormentado pelo pavor de ficar à margem, de ser esquecido, igualado ou superado. Sua existência será um inferno antecipado e essas paixões se constituirão em seus próprios carrascos.
Pelo contrário, quanta felicidade, paz e doçura têm as almas que são despretensiosas, reconhecedoras dos bens e das qualidades alheias, restituidoras a Deus dos dons por Ele concedidos.
Entremos na escola de Maria, e d’Ela aprendamos a restituir a Deus nosso ser, nossa família e todos os nossos haveres. Ela nos ensinará a glorificar ao Senhor por ter contemplado o nosso nada e, como resultado, nosso espírito exultará de alegria (Lc 1, 47), a exemplo de seu primeiro discípulo, São João Batista.
1 ) Suma Teológica III, q. 38, a. 1 ad. 2.
2 ) Cf. Adversus Marcionem, IV, 33: PL 2, 471.
3 ) Suma Teológica II-II, q. 36, a. 1.

4 ) Suma Teológica II-II, q. 36, a.1, ad. 2.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

EVANGELHO II DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A - 2014 - Jo 1, 29-34

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A  2014  Jo 1, 29-34
31 ... e eu não O conhecia, mas vim batizar em água, para Ele ser reconhecido em Israel.
João quis evitar o equívoco da parte do povo, o qual poderia julgar serem suas afirmações sobre Jesus feitas com base no parentesco existente entre ambos. E realmente, o Batista se retirara ao deserto ainda menino e não estivera com Ele antes. Portanto, suas declarações eram fruto de um discernimento essencialmente profético, como também é profética sua missão, pois torna claro o objetivo de seu batismo: o reconhecimento do Messias, da parte do povo.
32 João deu este testemunho: “Vi o Espírito descer do Céu em forma de pomba e repousou sobre ele”.
O mistério da Santíssima Trindade não havia sido revelado até então; entretanto, de dentro da Teologia como é hoje conhecida, torna-se patente a presença das Três Pessoas nessa proclamação de João Batista.
A pomba é inocente por sua natureza e, ao contrário das aves de rapina, não se alimenta de carnes mortas, mas sim de sementes da terra. Gemem quando estão enamoradas. Eis um belo símbolo do Espírito Santo, a Inocência que nos instrui, ilumina e santifica com gemidos inefáveis dentro de nós.
33 Eu não O conhecia, mas O que me mandou batizar em água, disse-me: Aquele sobre quem vires descer e repousar o Espírito, esse é O que batiza no Espírito Santo.
Reafirma São João Batista não ter antes conhecido Jesus. Compreende-se sua insistência a esse respeito, pois os laços familiares eram vigorosos naqueles tempos e havia o risco de interpretarem as palavras do Precursor sob um prisma meramente humano.
Era indispensável fixar a atenção de todos na origem divina de suas proclamações, daí a referência Àquele que o havia mandado batizar.
34 Eu O vi, e dei testemunho de que Ele é o Filho de Deus.

Sim, Jesus é o Unigênito do Pai. Enquanto os outros todos — inclusive a Santíssima Virgem — somos filhos adotivos, Jesus é gerado e não criado, desde toda a eternidade. João já havia declarado ser o Messias o Cordeiro de Deus, que batizaria no Espírito Santo. Porém, esta é a primeira vez que declara tratar-se especificamente do Filho de Deus.
Continua no próximo post.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

EVANGELHO II DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A - 2014 - Jo 1, 29-34

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A - 2014  Jo 1, 29-34
SÃO JOÃO BATISTA E A VIRTUDE DA RESTITUIÇÃO
Aproximemo-nos de João nas margens do rio Jordão e analisemos seu prestígio de pregador. Profeta como igual nunca houve em Israel, fundador e chefe de uma escola, todo o povo o procura. Entretanto, seu renome está condenado a uma lenta morte, sua instituição deverá dissolver-se paulatinamente, sobre a glória de sua obra far-se-á um grande eclipse, pois um valor mais alto se aproxima. Esse era o momento do ressentimento, da ambição ferida e talvez até da inveja. Muito pelo contrário, a reação de João foi de heroica humildade e ilimitada servidão, como encontramos narrado no Evangelho de hoje.
29 No dia seguinte João viu Jesus, que vinha ter com ele ...
Assim como Maria foi à sua prima Santa Isabel, é Jesus quem se dirige a João, e agora pela segunda vez. O discípulo amado não nos relata o Batismo de Jesus como o faz Mateus (3, 13-17) e, segundo São João Crisóstomo, Jesus volta a encontrar-se com o Batista para desfazer o equívoco de que, na primeira vez, Ele tivesse ido procurá-lo tal qual o faziam todos, ou seja, para confessar seus pecados ou para obter a purificação dos mesmos pelas águas do Jordão.
... e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, eis O que tira o pecado mundo”.
Assim como hoje nossa fé se robustece em méritos ao contemplar uma Hóstia consagrada e crer na Presença Real de Jesus Eucarístico, também naqueles dias era indispensável, para benefício de todos, o Redentor apresentar-Se sob os véus de nossa natureza. Jesus, desde o nascimento até essa ocasião, era um homem comum e corrente em todas as suas aparências. Tornava-se necessário ir descerrando pouco a pouco esses véus, a fim de introduzir o povo na verdadeira perspectiva debaixo da qual fosse possível prestar-Lhe um culto de latria. Excelente meio escolheu o Salvador: suscitou um varão que havia comovido toda Israel por sua figura constituída de mistério, profetismo e santidade, saído de dentro de uma vida feita de ascese e penitência, o Precursor.
Era chegado o momento de os judeus ouvirem, de lábios dignos da máxima credibilidade, a proclamação da grandeza do Messias ali presente. A preparação dos corações estava concluída, o caminho do Senhor já se encontrava endireitado, a voz ecoara pelo deserto, o Filho de Deus precisava ser conhecido e, para tal, era indispensável muita clareza na comunicação: “Eis o Cordeiro de Deus”.
O conhecimento de Deus é bem diferente do nosso. Vivemos no tempo, e a cronologia é fundamental em nosso processo intelectivo. Para Deus tudo é presente e, ao criar, fez Ele depender uns seres de outros. No pináculo da criação, colocou Cristo como Causa, Modelo, Regente e Guia, e, tendo em vista o pecado e o Redentor, criou o cordeiro para simbolizar este grandioso aspecto de seu Unigênito Encarnado, o de vítima expiatória, numa clara referência ao “cordeiro pascal” (Ex 12, 3-6), ou quiçá, ao duplo sacrifício diário oferecido no Templo (Ex 29, 38), ou como comenta Orígenes: “Porque Ele, tomando sobre si nossas aflições e tirando os pecados de todo mundo, recebeu a morte como batismo” (5).
O cordeiro é um animal pacífico e pacificador. Solto no pasto ou posto na baia, ele tranquiliza os corcéis fogosos, evitando-lhes ferimentos inúteis.
A afirmação de João é feita no presente do indicativo —“Aquele que tira” — para indicar a perpetuidade do ato redentor.
30 Este é Aquele de quem eu disse: Depois de mim vem um homem que é superior a mim, porque era antes de mim, ...

É patente tratar-se aqui de um Homem de corpo e alma. Embora tenha nascido depois do Batista, este último confessa publicamente não só que Jesus lhe é superior, mas também que já existia antes dele. E é real, pois, enquanto Verbo de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Ele é eterno. Assim, neste versículo, o Precursor proclama a Humanidade unida à Divindade, numa só Pessoa. É a revelação do mistério da Encarnação.
Continua no próximo post