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sábado, 11 de maio de 2013

EVANGELHO DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES Jo 20,19-23 Ano C 2013


Comentários ao Evangelho da Solenidade de Pentecostes Jo 20, 19-23



19 Chegada a tarde daquele mesmo dia, que era o primeiro da semana, e estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam juntos, por medo dos judeus, foi Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: “A paz esteja convosco!” 20 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se muito ao ver o Senhor. 21 Ele disse-lhes novamente: “A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também vos envio a vós”.

22 Tendo dito estas palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. 23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 19-23).

 A IGREJA POR OCASIÃO DE PENTECOSTES
Oração numa atmosfera de harmonia e concórdia
Como outras tantas festas litúrgicas, Pentecostes nos faz recordar um dos grandes mistérios da fundação da Igreja por Jesus. Encontrava-se ela em estado ainda quase embrionário — alegoricamente, poder-se-ia compará-la a uma menina de tenra idade — reunida em torno da Mãe de Cristo. Ali no Cenáculo, conforme nos descrevem os Atos dos Apóstolos na primeira leitura, passaram-se fenômenos místicos de excelsa magnitude, acompanhados de manifestações sensíveis de ordem natural: ruído como de um vento impetuoso, línguas de fogo, os discípulos exprimindo-se em línguas diversas sem tê-las antes aprendido.
Enquanto figura exponencial, destaca-se Maria Santíssima, predestinada desde toda a eternidade a ser Mãe de Deus. Dir-se-ia que havia atingido a plenitude máxima de todas as graças e dons, entretanto, em Pentecostes, mais e mais Lhe seria concedido. Assim como fora eleita para o insuperável dom da maternidade divina, cabia-Lhe agora o tornar-se Mãe do Corpo Místico de Cristo e, tal qual se deu na Encarnação do Verbo, desceu sobre Ela o Espírito Santo, por meio de uma nova e riquíssima efusão de graças, a fim de adorná-La com virtudes e dons próprios e proclamá-La “Mãe da Igreja”.
Em seguida estão os Apóstolos; constituem eles a primeira escola de arautos do Evangelho. Observavam as condições essenciais para estarem aptos à alta missão que lhes destinara o Divino Mestre, conforme nos relata a Escritura: “Todos estes perseveraram unanimemente em oração, com algumas mulheres e com Maria, Mãe de Jesus, e com os seus irmãos” (At 1, 14). Essa perseverança na oração se realizou de forma continuada e no silêncio, na solidão e clausura do Cenáculo. A atmosfera era de máxima concórdia, harmonia e união entre todos, de verdadeira caridade fraterna. São Lucas em seu relato faz questão de realçar a presença de Maria, certamente para tornar patente o quanto Ela mesma se alegrava em ser uma fiel participante da Comunidade. Uma nota marcante é a submissão e obediência ao Vigário de Cristo tal qual transparece nos versículos subsequentes, ao relatarem o primeiro ato de governo e jurisdição de São Pedro (At 1, 15-22).
Em síntese, a verdadeira eficácia do apostolado está aí evidenciada, sob o manto da Santíssima Virgem, na união efetiva e afetiva de todos com a Pedra sobre a qual Cristo edificou sua Igreja.
A eficácia da ação encontra-se na contemplação
Esse grande acontecimento foi precedido não só dos dez dias de oração contínua, mas também de muitos outros momentos de recolhimento. O trauma havido por ocasião da dramática Paixão do Salvador exigia horas e horas de isolamento e reflexão. Ademais, o temor de novas perseguições e traições impunha-lhes prudência, além do abandono das atividades comuns do apostolado anterior.
Curiosamente, em geral, Cristo Ressurrecto escolhia oportunidades como essas — de reflexão e compenetração da parte de todos — para lhes aparecer, assim como o Espírito Santo para lhes infundir seus dons. Esta é uma importante lição que a Liturgia de hoje nos oferece: a verdadeira eficácia da ação encontra-se na contemplação. O próprio Apóstolo por excelência, que chegou a exclamar: Vae enim mihi est, si non evangelizavero! — “Ai de mim se eu não evangelizar!” (I Cor 9, 16), passou um longo período de oração no deserto a fim de preparar-se para a pregação.
Quem toma o trabalho de analisar passo a passo as atividades de um varão zeloso e apostólico pode vir a equivocar-se julgando serem elas puro fruto de sua personalidade empreendedora, ou de seu caráter dinâmico, ou até mesmo de sua constituição psicofísica. São numerosos os homens operantes e profícuos que arrancam de seu ser o inimaginável. Onde se encontram, de fato, as energias empregadas por esses leões da fé e da eficiência? Mais ainda poderíamos nos perguntar: como conseguem eles, em meio à avalanche de atividades, conservar um coração brando e suave no trato com os outros?
Lembremo-nos do conselho dado por São Bernardo de Claraval ao papa da época, Eugênio III: “Temo que em meio de tuas inumeráveis ocupações te desesperes de não poder levá-las a cabo e se endureça tua alma. Obrarias com cordura abandonando-as por algum tempo para que elas não te dominem nem te arrastem para onde não quiseras chegar. Talvez me perguntes: ‘Aonde?’ (...) Ao endurecimento do coração. Aí vês para onde te podem arrastar essas ocupações malditas se continuas entregando-te a elas totalmente, como até agora, sem reservar nada para ti” (2).
Trata-se de um Doutor da Igreja aconselhando o Doce Cristo na terra daqueles tempos, no exercício da mais alta função: o governo dessa instituição divina. Pois bem, segundo seu parecer, tão elevadas ocupações, sem o auxílio da vida interior, são malditas. Essa sempre foi a postura de alma dos santos, espiritualistas e Padres da Igreja. Santo Agostinho afirma, por exemplo: “Todo apóstolo, antes de soltar a língua, deve elevar a Deus com avidez sua alma, para exalar o que deva, e distribuir sua plenitude".
Continua no próximo post

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Evangelho – Solenidade da Ascensão do Senhor – Lc 24, 46-53 – Ano C - 2013


Continuação dos Comentários ao Evangelho – Solenidade da Ascensão do Senhor –  Lc 24, 46-53 – Ano C - 2013
Onde se encontra a verdadeira fonte da alegria
52  Eles, depois de O adorarem,  voltaram para Jerusalém com  grande alegria.
Esse gesto de prosternarem-se diante de Jesus em sua Ascensão significa um reconhecimento pleno de sua majestade. Pedro já assim procedera por ocasião da pesca milagrosa (cf. Lc 5, 8ss).
Do Monte das Oliveiras a Jerusalém, caminha-se apenas a distância de uma viagem em dia de sábado. Esse percurso foi realizado pelos Apóstolos, em “grande alegria”, e se compreende.
Esse mesmo júbilo os acompanhará ao saírem dos tribunais, quais haviam sido condenados por pregar o nome de Jesus. Assim aprendem os Apóstolos — e nos ensinam — onde estão as verdadeiras fontes de alegria: no cumprimento da vontade de Deus que, às vezes, se faz através do curto caminho da cruz.
Ligação entre o Antigo e o Novo Testamento
53 E estavam continuamente no Templo louvando a Deus.
Tal qual inicia seu Evangelho com os ofícios de Zacarias no Templo, termina São Lucas aludindo à freqüência assídua dos Apóstolos em todos os atos do culto praticado na Antiga Lei. A Santa Igreja não se separou da Sinagoga de forma abrupta e violenta. O Templo estava intimamente ligado à vida de Jesus, e os que iam receber o Espírito Santo, com humildade, veneração e piedade, se preparavam indo rezar na casa de oração, da qual o Mestre havia expulsado os vendilhões por duas vezes. Eles consideravam o Templo com uma perspectiva muito diferente da de seus co-nacionais. O mirante dos Apóstolos era um dos legados do Filho de Deus, ou seja, o próprio olhar d’Ele.
Maria vivia em constante oração
Uma palavra sobre Maria. Certamente intercedeu Ela junto a Deus para inspirá-los a permanecerem em oração no Cenáculo. Nela, a altura de sua humildade era a mesma da de sua fé, virginalidade e grandeza. Ela estava rezando ao pé da Cruz, no Calvário; agora A encontramos em profundo recolhimento. Depois da descida do Espírito Santo, a Escritura não mais A mencionará e, provavelmente, o resto de seus anos, Ela os viveu em intensa oração, constituindo-Se no insuperável modelo da mulher cristã.
Que Ela nos obtenha todas as graças para seguirmos suas vias e virtudes. 

1) Santo Agostinho, Serm. 263, I: Pl 38, 1209. 2 ) Santo Agostinho, Serm. 264, 4: PL 38, 1214. 3 ) São Leão Magno, Serm. 72, c. 3: PL 38, 396. 4 ) Suma Teológica, III, q. 57, a. 1. 5 ) Id.ibid., ad 2. 6 ) Serm. 74 in Sermones escogidos, Ed. ASPAS, Madrid, p. 139. 7 ) Suma Teológica III, q. 57, a.1 ad 3. 8 ) Homilía 29. 9 ) Suma Teológica, III, a. 1 ad 3. 10 ) Id., a. 1, ad 1. 11 ) In Io. Tr. 94: PL 35, 1864. 12 ) Pe. Manuel de Tuya OP, Biblia Comentada, BAC, 1964, v. II, p. 934. 13 ) Apud São Tomás de Aquino, Catena Aurea. 14 ) Ibid. 15 ) Ibid. 16 ) Ibid. 17 ) São Tomás, Suma Teológica III, q. 57, a. 3c. 18 ) Idem, III, q. 57, a. 6c.


terça-feira, 7 de maio de 2013

Evangelho – Solenidade da Ascensão do Senhor – Lc 24, 46-53 – Ano C - 2013


Continuação dos Comentários ao Evangelho – Solenidade da Ascensão do Senhor –  Lc 24, 46-53 – Ano C - 2013
O testemunho dos Apóstolos robustece nossa fé
48 Vós sois as testemunhas destas coisas.
Sim. Nossa fé se robustece pela comprovação ocular dos Apóstolos, dos setenta e dois discípulos e de muitos outros aos quais se fez ver o Salvador depois da Ressurreição. Que vantagens humanas, temporais ou eternas, teriam eles em selar com o próprio sangue fatos que constituem escárnio para seus co-nacionais e loucura para os gentios? Eis um argumento irrefutável a favor da objetividade dos relatos feitos por eles.
Papel da espera, até a vinda do Espírito Santo
49 Eu vou mandar sobre vós o  Prometido por meu Pai. Entretanto, permanecei na cidade  até que sejais revestidos da força do Alto.
Trata-se da Terceira Pessoa da Trindade, que Jesus enviaria, segundo a promessa feita pelo Pai, ou seja, “a força do Alto”. É o Espírito Santo, que procede do amor entre o Pai e o Filho, que descerá sobre eles, a fim de serem n’Ele submersos, penetrados e revestidos por Ele, para, assim transformados, realizarem sua missão de testemunhas. Os Apóstolos “serão preparados com a grande força renovadora e fortalecedora de Pentecostes. Receberão o Espírito Santo, de cujo envio tanto falou o Evangelista João nos discursos da Última Ceia” (12).
A ordem de não saírem de Jerusalém sob qualquer pretexto tinha por objetivo a espera de Pentecostes para começarem a pregar. Entenderam eles que, esse período, deveriam passá-lo em recolhimento, pois é nessas circunstâncias que mais profundamente Ele age.
São João Crisóstomo comenta a esse propósito: “Para não se poder dizer que tinha abandonado os seus para ir manifestar-Se — mais ainda, ostentarSe — aos estranhos, ordenou-lhes Jesus apresentar as provas de sua Ressurreição primeiramente àqueles mesmos que O tinham matado, na cidade onde foi cometido o temerário atentado, pois, se os que haviam crucificado o Senhor davam mostras de crer, ter-se-ia uma grande prova da Ressurreição” (13).
Por outro lado, continua São João Crisóstomo: “Assim como, num exército que se alinha para atacar o inimigo, o general não permite a ninguém sair antes de estarem todos preparados, da mesma forma Jesus não permite a seus Apóstolos saírem a pelejar enquanto não estejam preparados pela vinda do Espírito Santo” (14).
E por qual razão o Espírito Santo não desceu sobre os Apóstolos, de imediato? “Convinha que nossa natureza se apresentasse no Céu e fossem realizadas as alianças, e depois então viesse o Espírito Santo e se celebrassem os eternos júbilos”, opina Teofilacto (15).
A última bênção de Jesus se estende até nós
50 Depois levou-os até junto de  Betânia e, erguendo as mãos,  abençoou-os.
 “O ato de levantar as mãos e os abençoar significa que quem abençoa deve estar ornado de boas e heróicas obras em benefício dos demais; por isso levantou as mãos ao céu”, comenta Orígenes (16).
Jesus procede como os sacerdotes da Antiga Lei, nesse gesto de abençoá-los. O sacerdócio de Cristo tem seu início no próprio momento da Encarnação (cfr. Hb 10, 5-10), mas, se bem tenha tido princípio, jamais terminará, pois é Ele sacerdote in aeternum. A dignidade, ação, virtude e frutos sacerdotais do sacrifício de Cristo estarão diante do Pai eternamente. Por isso, neste momento, sua bênção se estende também sobre nós. Saibamos aproveitá-la, ao contemplar esse último adeus externado por Jesus no alto do Monte das Oliveiras.
Jesus nos preparou o caminho para subirmos ao Céu
51 E enquanto os abençoava, separou-Se deles e era levado para o Céu.
Grandiosa cena e acontecimento inédito. Elias também subia, mas arrebatado num carro de fogo e não pelas próprias forças. Cristo, pelo contrário, “subiu ao Céu pelo seu próprio poder; primeiro pelo poder divino; segundo, pelo poder da alma glorificada que movia o corpo como queria” (17). Os Apóstolos e discípulos já O haviam visto andar sobre as águas, entrar no Cenáculo a portas fechadas, escapar em meio à multidão, mas elevar-Se ao Céu ainda não. Eles não ignoravam para onde partia Nosso Senhor, já haviam ouvido dos lábios do próprio Mestre qual seria seu destino. E com os Apóstolos devemos crer que, por sua Ascensão, Jesus “preparou-nos o caminho para subirmos ao Céu, de acordo com o que Ele mesmo disse: ‘Irei preparar-vos um lugar’, e com as palavras do livro de Miquéias: ‘Subiu, diante deles, Aquele que abre o caminho’. E porque Ele é a nossa cabeça, mister se faz que os membros vão para onde ela se dirigiu. Por isso diz o Evangelho de São João: ‘De tal sorte que lá onde Eu estiver também vós estejais’” (18).
Continua no próximo post.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Evangelho – Solenidade da Ascensão do Senhor – Lc 24, 46-53 – Ano C - 2013


Continuação dos Comentários ao Evangelho – Solenidade da Ascensão do Senhor –  Lc 24, 46-53 – Ano C - 2013

Onipotência e sabedoria de Deus na condução da História
46 Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e ressuscitar dentre os mortos, ao terceiro dia.
Estas palavras do Divino Redentor, antes de subir aos Céus, não foram dirigidas somente aos Apóstolos, mas a todos os chamados por Ele a realizar alguma missão junto às almas. São palavras que têm uma certa ordem e concatenação, e assim devem ser entendidas.
Mais uma vez, transparecem na Escritura Sagrada a onipotência e a suma sabedoria de Deus na condução da História. Aconteceu porque estava escrito e, por sua vez, foi previsto e anunciado porque assim deveria se passar, por uma determinação perfeitíssima e suprema de Deus. Este versículo nos convida a um momento de meditação e admiração.
Contemplemos os excelsos desígnios do Ser Supremo que a tudo regula de maneira insuperável, aproveitando-Se para sua glória, não só da virtude dos bons, mas até mesmo do concurso da malícia e ódio dos maus, da enferma vontade dos tíbios, da volubilidade dos indecisos, da voluptuosidade dos passionais, da cegueira dos orgulhosos, do delírio incontenível dos tiranos. Nada deixa de contribuir para sua honra, louvor e glória; de tudo tira proveito com tal equilíbrio que nunca produz o menor prejuízo ao livre arbítrio de uns e de outros.
Adoremos a Providência Divina e a Ela apresentemos nossa gratidão, como também nossa reparação por todas as ofensas que a cada instante sobem ao seu trono. Assim, seremos do número dos bons e Deus se servirá de nossa disposição de alma e de nossas ações para sua maior glória. E peçamos a Ele, por intercessão de sua Mãe Santíssima, jamais pertencermos ao partido dos maus, os quais têm como objetivo de suas existências o disputar com Deus o seu poder. De que lhes vale atribuírem-se a si próprios capacidades inexistentes, ou mesmo reais, se estas absolutamente não lhes pertencem, pois lhes foram conferidas pelo Ser que visam destronar? E qual o proveito que tiram ao darem largas às suas paixões e maus instintos para perseguir a virtude e quem a pratica?
Foi tão estúpida e contraproducente a atuação dos demônios e dos maus judeus em todo o drama da Paixão que se com anterioridade tivessem conhecido seus efeitos — ou seja, a obra da Redenção —, jamais teriam desejado ou contribuído para sua realização.
De todas essas ações e situações, Deus saberá extrair os elementos para sua glória. Mas, o destino de uns será a felicidade do Céu e o dos outros, o suplício eterno.
Metanóia: essência da conversão
47 E que em seu nome havia de ser pregado o arrependimento e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.
Antes de subir aos Céus, o Redentor não lhes dá nenhuma recomendação política e muito menos insinua algo na linha de uma reconquista do poder de Israel. Pelo contrário, suas palavras visam uma atuação estritamente moral, religiosa e penitencial em nome de Deus.
Essa conversão, a qual na sua essência é a mudança de mentalidade (metanóia), já havia sido intensamente estimulada pelo Precursor. João Batista se apresentara como a voz que clama no deserto, a fim de que todos endireitassem os caminhos para a chegada do Senhor. Esse é também o legado do Redentor aos seus, antes da Ascensão. A substituição dos critérios equivocados pelos verdadeiros é indispensável para a real conversão. Saulo, em um só instante a realizou, logo ao cair do cavalo, e assim mesmo passou por um retiro de três anos no deserto para torná-la irreversível, como também profunda e eficaz. Comumente, ela se faz de maneira lenta, após os fulgores de um primeiro como que “flash”, mediante o qual, pela graça do Espírito Santo, a alma se dá conta das belezas das vias sobrenaturais e por elas resolve trilhar com decidida firmeza. Sem essa conversão, é-nos praticamente inútil o Mistério da Redenção e de nada nos adianta o Evangelho. De forma explícita ou implícita — dada nossa natureza racional — a atuação de nossa inteligência e vontade se faz com base em princípios e máximas que norteiam as potências de nossa alma. É sobre essa fonte que se concentra o esforço da conversão. Em síntese, trata-se de substituir o amor próprio, o qual se manifesta no apego às criaturas, pelo amor a Deus.
É de dentro da visualização perfeita a respeito da retidão da prática da Lei de Deus e de sua santidade que brota o eficaz pedido de perdão dos pecados. É nesse contraste que o penitente tem plena consciência da grande misericórdia anunciada por Jesus, antes de sua partida para os Céus. Nem os anjos revoltosos e nem os homens que morreram em pecado receberam essa dádiva incomensurável. E, nesse momento, ela nos foi oferecida pelo próprio Filho de Deus.
Iniciando-se em Jerusalém, do Sagrado Costado de Cristo nasce a Igreja a pregar ali, e depois pelo mundo afora, a Boa Nova do Evangelho. Assim havia profetizado o Antigo Testamento, assim ordenou naquela ocasião o próprio Jesus Cristo.
Continua no próximo post.