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sábado, 7 de junho de 2014

EVANGELHO – SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE – Jo 3, 16-18 – ANO A

COMENTÁRIO AO EVANGELHO – SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE –  Jo 3, 16-18 – ANO A
16 Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que n’Ele crer, mas tenha a vida eterna. 17 De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. 18 Quem n’Ele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigênito (Jo 3, 16-18).
A Santíssima Trindade nos chama a participar de sua vida
Deus manifesta seu inesgotável amor pelos homens abrindo-lhes as portas do convívio trinitário por meio da obra redentora de seu Filho.
I – UM MISTÉRIO REVELADO PELO HOMEM-DEUS
Ao começarmos com piedade um ato qualquer da vida cotidiana ou uma oração, costumamos dizer: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. A mesma invocação dá início à Santa Missa, que prossegue com uma saudação do sacerdote, tal como: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”.1 O mistério da Santíssima Trindade encontra-se presente em nosso dia a dia, todo o tempo. Sabemos, pela doutrina da Igreja, que há três Pessoas Divinas, mas um só Deus. Entretanto, a inteligência humana não abarca esta realidade sobrenatural, entre várias razões por estarmos habituados a tratar com os outros homens, meras criaturas de nossa natureza racional, na qual se confundem numa unidade o ser e a pessoa.
Conhecer a Trindade só é possível pela Revelação
É a fé que nos permite aceitar esta verdade, a tal ponto que se o Filho de Deus não a tivesse revelado, impossível seria deduzi-la pelo mero raciocínio.2 O Antigo Testamento não oferece elementos para discernir com precisão a existência da Trindade, mas apenas vestígios e insinuações muito tênues que a fazem, de certa forma, ser pressentida. Por exemplo, ao narrar a obra do sexto dia o Autor Sagrado utiliza o verbo no plural, como se a determinação fosse tomada por várias pessoas: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn 1, 26). Este e outros textos bíblicos análogos (cf. Gn 3, 22; 11, 7) podem ser considerados sinais da Trindade, embora não sejam explícitos e categóricos. Também na história de Abraão há um fato significativo: os três Anjos que o visitam para anunciar o nascimento de Isaac sugerem algo desse mistério (cf. Gn 18, 1-2). Os Livros Sapienciais contêm alusões à geração eterna do Verbo pelo Pai, quando a Sabedoria fala de Si mesma: “O Senhor Me criou, como primícia de suas obras, desde o princípio, antes do começo da Terra. Desde a eternidade fui formada, antes de suas obras nos tempos antigos. Ainda não havia abismos quando fui concebida” (Pr 8, 22-24). E, na visão de Isaías, os Serafins proclamam “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus do universo!” (Is 6, 3), repetindo o título para honrar as três Pessoas. A razão humana, contudo, nunca teria suficiente capacidade para chegar a tal conclusão e deduzir tais aplicações, pois o sentido da Escritura só se tornou claro depois da Encarnação, como está na Oração do Dia: “Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito santificador, revelastes o vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira Fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente”.3
De fato, é o Filho de Deus quem anuncia a existência das outras Pessoas, e Ele próprio declara: “O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 26); “Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar- vos-á as coisas que virão” (Jo 16, 12-13). Foi, pois, a partir de Pentecostes que os Apóstolos foram ilustrados pelo Espírito Santo. É Ele quem nos leva a compreender a verdade, ainda que de modo um tanto obscuro, às apalpadelas, como quando entramos num quarto sem luz e, impossibilitados de ver com nitidez, nos movemos com cuidado tateando as paredes e os objetos, até adquirir uma vaga ideia do local. Assim, também, a fé — um dom de Deus pelo qual assentimos às verdades sobrenaturais que nos são propostas 4 — nos confere certa noção difusa a respeito das três Pessoas da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Quis Ele que conhecêssemos algo deste mistério já na Terra, a fim de nos preparar para a eternidade, como afirma Santo Agostinho: “Para poder contemplar inefavelmente o que é inefável, é preciso purificar a mente. Não sendo ainda dotados da visão [beatífica], somos nutridos pela fé e conduzidos através de caminhos acessíveis, a fim de nos tornarmos aptos e idôneos para a sua posse”.5 Com efeito, estamos neste mundo de passagem e rumamos para um convívio perene com a Trindade no Céu, onde veremos “a verdade sem trabalho e gozaremos de sua claridade e certeza. Não será necessário o raciocínio da alma, pois veremos intuitivamente […]. Ante o fulgor daquela luz, não haverá dúvidas”.6

No Evangelho contemplado pela Liturgia, Jesus, o Filho de Deus Encarnado, nos ensina que estamos aqui de passagem com vistas a um convívio eterno com a Santíssima Trindade. Analisemos, pois, esta passagem tendo presente este altíssimo mistério de nossa Fé.
Continua no próximo post.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

EVANGELHO DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES - Jo 20, 19-23 - Ano A

COMENTÁRIO AO EVANGELHO DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES
A paz esteja convosco!
“Formamos um só corpo, e todos nós bebemos de um só Espírito” (1 Cor 12, 13). Quem é o Espírito Santo, como foram as circunstâncias e quais as principais graças concedidas a Maria e aos discípulos por ocasião de Pentecostes? Eis os ensinamentos que a Liturgia nos coloca à disposição na festa de hoje, fazendo-nos compreender onde se encontra a verdadeira paz.
EVANGELHO DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES - Jo 20, 19-23
19 Chegada a tarde daquele mesmo dia, que era o primeiro da semana, e estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam juntos, por medo dos judeus, foi Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: “A paz esteja convosco!” 20 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se muito ao ver o Senhor. 21 Ele disse-lhes novamente: “A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também vos envio a vós”.
22 Tendo dito estas palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. 23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 19-23).
I – A IGREJA POR OCASIÃO DE PENTECOSTES
Oração numa atmosfera de harmonia e concórdia
Como outras tantas festas litúrgicas, Pentecostes nos faz recordar um dos grandes mistérios da fundação da Igreja por Jesus. Encontrava-se ela em estado ainda quase embrionário — alegoricamente, poder-se-ia comparála a uma menina de tenra idade — reunida em torno da Mãe de Cristo. Ali no Cenáculo, conforme nos descrevem os Atos dos Apóstolos na primeira leitura, passaram-se fenômenos místicos de excelsa magnitude, acompanhados de manifestações sensíveis de ordem natural: ruído como de um vento impetuoso, línguas de fogo, os discípulos exprimindo-se em línguas diversas sem tê-las antes aprendido. A alta significação simbólica do conjunto desses acontecimentos, como de cada um em particular, constituiu matéria para inúmeros e substanciosos comentários de exegetas e teólogos de grande valor, como se torna claro por anteriores observações feitas por nós em artigo publicado em 2002 (1). Hoje, cabe-nos ressaltar outros aspectos de não menor importância correlacionados com a narração feita por São Lucas (At 2, 1-11), para assim melhor entender o Evangelho em questão e, portanto, a própria festividade de Pentecostes.
Enquanto figura exponencial, destaca-se Maria Santíssima, predestinada desde toda a eternidade a ser Mãe de Deus. Dir-se-ia que havia atingido a plenitude máxima de todas as graças e dons, entretanto, em Pentecostes, mais e mais Lhe seria concedido. Assim como fora eleita para o insuperável dom da maternidade divina, cabia-Lhe agora o tornar-se Mãe do Corpo Místico de Cristo e, tal qual se deu na Encarnação do Verbo, desceu sobre Ela o Espírito Santo, por meio de uma nova e riquíssima efusão de graças, a fim de adorná-La com virtudes e dons próprios e proclamá-La “Mãe da Igreja”.
Em seguida estão os Apóstolos; constituem eles a primeira escola de arautos do Evangelho. Observavam as condições essenciais para estarem aptos à alta missão que lhes destinara o Divino Mestre, conforme nos relata a Escritura: “Todos estes perseveraram unanimemente em oração, com algumas mulheres e com Maria, Mãe de Jesus, e com os seus irmãos” (At 1, 14). Essa perseverança na oração se realizou de forma continuada e no silêncio, na solidão e clausura do Cenáculo. A atmosfera era de máxima concórdia, harmonia e união entre todos, de verdadeira caridade fraterna. São Lucas em seu relato faz questão de realçar a presença de Maria, certamente para tornar patente o quanto Ela mesma se alegrava em ser uma fiel participante da Comunidade. Uma nota marcante é a submissão e obediência ao Vigário de Cristo tal qual transparece nos versículos subseqüentes, ao relatarem o primeiro ato de governo e jurisdição de São Pedro (At 1, 15-22).
Em síntese, a verdadeira eficácia do apostolado está aí evidenciada, sob o manto da Santíssima Virgem, na união efetiva e afetiva de todos com a Pedra sobre a qual Cristo edificou sua Igreja.
A eficácia da ação encontra-se na contemplação
Esse grande acontecimento foi precedido não só dos dez dias de oração contínua, mas também de muitos outros momentos de recolhimento. O trauma havido por ocasião da dramática Paixão do Salvador exigia horas e horas de isolamento e reflexão. Ademais, o temor de novas perseguições e traições impunha-lhes prudência, além do abandono das atividades comuns do apostolado anterior.
Curiosamente, em geral, Cristo Ressurrecto escolhia oportunidades como essas — de reflexão e compenetração da parte de todos — para lhes aparecer, assim como o Espírito Santo para lhes infundir seus dons. Esta é uma importante lição que a Liturgia de hoje nos oferece: a verdadeira eficácia da ação encontra-se na contemplação. O próprio Apóstolo por excelência, que chegou a exclamar: Vae enim mihi est, si non evangelizavero! — “Ai de mim se eu não evangelizar!” (I Cor 9, 16), passou um longo período de oração no deserto a fim de preparar-se para a pregação.
Quem toma o trabalho de analisar passo a passo as atividades de um varão zeloso e apostólico pode vir a equivocar-se julgando serem elas puro fruto de sua personalidade empreendedora, ou de seu caráter dinâmico, ou até mesmo de sua constituição psicofísica. São numerosos os homens operantes e profícuos que arrancam de seu ser o inimaginável. Onde se encontram, de fato, as energias empregadas por esses leões da fé e da eficiência? Mais ainda poderíamos nos perguntar: como conseguem eles, em meio à avalanche de atividades, conservar um coração brando e suave no trato com os outros?
Lembremo-nos do conselho dado por São Bernardo de Claraval ao papa da época, Eugênio III: “Temo que em meio de tuas inumeráveis ocupações te desesperes de não poder levá-las a caboe se endureça tua alma. Obrarias com cordura abandonando-as por algum tempo para que elas não te dominem nem te arrastem para onde não quiseras chegar. Talvez me perguntes: ‘Aonde?’ (...) Ao endurecimento do coração. Aí vês para onde te podem arrastar essas ocupações malditas se continuas entregando-te a elas totalmente, como até agora, sem reservar nada para ti” (2).
Trata-se de um Doutor da Igreja aconselhando o Doce Cristo na terra daqueles tempos, no exercício da mais alta função: o governo dessa instituição divina. Pois bem, segundo seu parecer, tão elevadas ocupações, sem o auxílio da vida interior, são malditas. Essa sempre foi a postura de alma dos santos, espiritualistas e Padres da Igreja. Santo Agostinho afirma, por exemplo: “Todo apóstolo, antes de soltar a língua, deve elevar a Deus com avidez sua alma, para exalar o que deva, e distribuir sua plenitude” (3).
Feitas essas considerações emergentes da primeira leitura (At 2, 1-11) encontramo-nos mais aptos para contemplar as belezas do Evangelho da presente Liturgia.
II – O EVANGELHO DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES
19 Chegada a tarde daquele mesmo dia, que era o primeiro da semana, e estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam juntos, por medo dos judeus, foi Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: “A paz esteja convosco!”
A prova pela qual haviam passado os Apóstolos excedia as forças da frágil natureza humana e, apesar do testemunho entusiasmado de Maria Madalena, não lhes era fácil crer na Ressurreição; talvez seu abatimento fosse o resultado de não se julgarem dignos de receber uma aparição do Senhor, segundo pondera São João Crisóstomo, devido ao horroroso abandono no qual deixaram o Mestre em sua agonia.
Na sua bondade infinita, Jesus não deixou transcorrer muito tempo para se manifestar também a eles. Escolheu uma excelente oportunidade para tal: no entardecer e estando as portas fechadas, para tornar ainda mais patente a grandeza do milagre de sua Ressurreição.
A chegada da noite é o momento em que a apreensão cresce no interior de todos os temerosos. Por outro lado, penetrar num recinto com portas e janelas fechadas, só mesmo em corpo glorioso poderia alguém realizar tamanho prodígio.
Qual seria o lugar onde estavam reunidos, não se sabe com exatidão. A hipótese mais provável recai sobre o Cenáculo.
Outro particular interessante é a posição escolhida por Cristo para lhes dirigir a palavra. Ele poderia ter preferido saudá-los logo à entrada, entretanto caminhou entre eles e foi colocar-Se bem ao centro. Esse deve ser sempre o posto de Jesus em todas as nossas atividades, preocupações e necessidades. O deixá-Lo de lado, além de ser falta de respeito e consideração, é condenar ao fracasso qualquer iniciativa, por melhor que seja.
Sua saudação também nos chama especialmente a atenção: “A paz esteja convosco”.
À primeira vista seríamos levados a julgar compreensível que Ele desejasse acalmá-los das perturbações que os acometiam desde a prisão no Horto das Oliveiras. E de fato, esse bem poderia ser um de seus intentos, mas o significado mais profundo não reside nessa interpretação. Para melhor o entendermos, perguntemo-nos o que é paz.
“Paz é a tranqüilidade da ordem”, diz Santo Agostinho (4), ou seja, uma ordem permanentemente tranqüila. E São Tomás demonstra ser a paz efeito próprio e específico da caridade, pois todo aquele que está em união com Deus vive na perfeita ordem, ao harmonizar todas as suas potências, sentidos e faculdades à sua causa eficiente e final (5). Essa união faz brotar na alma que a possui um profundo repouso interior e nem sequer os inimigos externos a perturbam, porque nada lhe interessa a não ser Deus: “Se Deus está conosco, quem será contra nós?” (Rom. 8, 31).
Ora, sabemos pela Teologia que o Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade e procede do Pai e do Filho por via do Amor. N’Ele está a raiz, ou semente, da qual nasce o fruto da caridade. Ao amarmos a Deus e ao próximo, a alegria e o consolo penetram em nosso interior. Desse amor e gozo, procede a paz (6).
Jesus, desejando-lhes a paz, oferecia-lhes um dos principais frutos desse Amor infinito que é o Espírito Santo.
20 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se muito ao ver o Senhor.
Por esta atitude do Senhor podemos bem avaliar o quanto o pavor havia penetrado na alma de todos, apesar de ouvirem a voz do Divino Mestre desejandolhes a paz.
Por isso tornou-se indispensável mostrar-lhes aquelas mãos que tanto haviam curado cegos, surdos, leprosos e inúmeras outras enfermidades, mãos que talvez eles mesmos tivessem, a seu tempo, osculado. Sim aquelas mãos que, havia pouco, tinham sido transpassadas por terríveis cravos. Era preciso comprovarem tratar-se do Redentor, vendo seu lado perfurado pela lança de Longinus.
Naquele momento sentiram a alegria pervadir suas almas, pois constataram não estar diante deles um fantasma, mas sim o próprio Jesus em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Cumpria-se assim sua promessa: “Hei de ver-vos de novo, e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos tirará a vossa alegria” (Jo 16, 22).
Transparece nessa atitude seu profundo intuito apologético, ao fazê-los ver suas santas chagas, ao contrário de como procedera com Santa Maria Madalena, ou até mesmo com os discípulos de Emaús.
Outra nota de bondade consiste no fato de Ele ter velado o esplendor de seu Corpo glorioso, caso contrário a natureza humana dos Apóstolos não teria suportado o fulgor da majestade do Homem-Deus ressurrecto.
21 Ele disse-lhes novamente: “A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também vos envio a vós”.
Novamente Jesus lhes deseja a paz, e deixa assim entrever quão importante é a tranqüilidade da ordem. Como objetivo imediato, visava Jesus proporcionar-lhes a indispensável serenidade de espírito face às desavenças e mortais perseguições que lhes moveriam os judeus. Por outro lado, Jesus se dirige aos séculos futuros e, portanto, à própria era na qual vivemos. Também a nós Ele nos repete o mesmo desejo de paz formulado aos Apóstolos naquele momento. Sim, especialmente à nossa civilização que tem suas raízes em Cristo — Rei, Profeta e Sacerdote — cuja entrada neste mundo fez-se sob o belo cântico dos Anjos: “Paz na terra” (Lc 2, 14). Não foi outro o dom por Ele oferecido antes de morrer na Cruz, ao despedir-se: “Dou-vos a paz, deixo-vos minha paz” (Jo 14, 27). Entretanto, a humanidade hoje se suicida em guerras, terrorismos e revoluções. E qual a causa? Não queremos aceitar a paz de Cristo.
Tal qual a caridade, a paz começa na própria casa. Antes de tudo, é preciso construí-la dentro de nós mesmos, dando à razão iluminada pela Fé o governo de nossas paixões. Sem essa disciplina, entramos na desordem. Ora, vai se tornando cada vez mais raro encontrar-se um ser humano no qual esse equilíbrio é procurado com base no esforço e na graça. O espontaneísmo domina despoticamente em todos os rincões. Vivemos os axiomas da Sorbonne de 1968: “É proibido proibir” — “A imaginação tomou conta do poder” — “Nada reivindicar, nada pedir, mas tomar, invadir”. Eles pareciam ser para a humanidade uma pedra filosofal de felicidade, sucesso e prazer... Que desilusão!
A paz deve ser a condição normal e corrente para o bom relacionamento social, sobretudo na célula mater da sociedade, a família. Eis um dos grandes males de nossos dias: a autoridade paterna se auto-destruiu, a sujeição amorosa da mãe se evanesceu e a obediência dos filhos foi carcomida pelo capricho, desrespeito e revolta. Essas enfermidades morais, transpostas para a vida da sociedade, redundam em luta civil, de classes e até mesmo entre os povos.
A humanidade sofre essas e muitas outras conseqüências do pecado de ter repudiado a paz de Cristo e abraçado a paz do mundo, ou seja, o consumismo, o igualitarismo, o laicismo, a adoração da máquina, etc.
Sentencia a Escritura: “Não há paz — diz Javé — não há paz para os ímpios” (Is 57, 20). “Curavam as chagas da filha do meu povo com ignomínia, dizendo: Paz, paz; quando não havia paz” (Jer 6,14). Os milênios transcorreram e nos encontramos novamente na mesma perspectiva de outrora, com uma agravante: corruptio optimi pessima (a corrupção do ótimo resulta no péssimo). Sim, a rejeição da paz verdadeira trazida pelo Verbo Encarnado é muito pior do que a impiedade antiga, e de conseqüências ainda mais drásticas.
A ordem fundamental do edifício da paz deriva essencialmente do Evangelho e do Decálogo, ou seja, do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor a Ele (7). Daí floresce a paz interior do homem e a harmonia com todos os outros, amados por ele com real caridade. Esse é o melhor remédio para todos os males atuais, desde a “epidemia” das depressões — enfermidade paradigmática de nosso século — até o terrorismo. É indispensável reconhecermos em Deus nosso Legislador e Senhor, pois, se ao longo da vida não existir a moral individual nem a familiar, haverá menos ainda o verdadeiro equilíbrio social e internacional. O caos de nossos dias no-lo demonstra em demasia.
Sendo a paz fruto do Espírito Santo, fora do estado de graça, e da prática da caridade, não nos é dado encontrá-la. Por isso quem se torna empedernido no pecado não pode gozar da paz: “Mas os malvados são um mar proceloso que não pode aquietar-se e cujas ondas revolvem lodo e lama. Não há paz — diz Javé — para os ímpios” (Is 57, 20).
O mesmo Isaías nos proclama a prodigalidade e a grandeza da bondade de Deus para com os justos: “Porque assim diz Javé: Vou derramar sobre ela (Jerusalém) a paz como um rio, e a glória das nações como torrentes transbordantes” (Is 66, 12).
Essa é a razão mais específica do fato de Jesus ter desejado uma segunda vez a paz a seus discípulos. É Ele o autor da graça e, portanto, o autor da paz: “Cristo é a nossa paz” (Ef 2, 14). “A graça e a verdade foram trazidas por Jesus Cristo” (Jo 1, 17).
Após esse segundo voto de paz, Jesus envia seus discípulos à ação, tornando claro o quanto é necessário jamais se deixar tomar pelo afã dos afazeres, perdendo a serenidade. Um dos elementos essenciais para o apostolado bem sucedido é a paz de alma de quem o faz.
Outro importante aspecto a considerar neste versículo é a afirmação do princípio da mediação tão do agrado de Deus. Jesus se apresenta aqui como o Mediador Supremo junto ao Pai e, ao mesmo tempo, constitui os Apóstolos como mediadores entre o povo e Ele. Aqui podemos medir quanto são enganosas as máximas igualitárias ao procurarem destruir o senso de hierarquia.
 22 Tendo dito estas palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo”.
Na festa de hoje se comemora a descida do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos a qual se encontra tão bem narrada na primeira leitura (At 2, 1-11). Esse acontecimento deu-se depois da subida de Jesus ao Céu e talvez daí decorre o fato de alguns negarem a realidade do grande mistério operado por Ele na ocasião, narrada no versículo em análise. Esse erro, mais explícito no começo do séc. VI, foi solenemente condenado pela Igreja no V Concílio Ecumênico de Constantinopla, em 552: “Se alguém defende o ímpio Teodoro de Mopsuestia, que disse (...) que depois da Ressurreição, quando o Senhor insuflou sobre os discípulos e lhes disse ‘Recebei o Espírito Santo’ (Jo 20, 22), não lhes deu o Espírito Santo, senão que tão-só o deu figurativamente (...), seja anátema” (8).
O Espírito Santo não procede somente do Pai, mas também do Filho. Ele é o Amor entre ambos. E como definir o amor? É muito mais fácil senti-lo do que defini-lo. Dois amigos que muito se querem, ao se encontrarem depois de longo período de separação, se abraçam fortemente e cheios de alegria. O que significa esse gesto tão espontâneo e efusivo, senão a manifestação de um amor recíproco? Os dois quase desejam, nessa hora, uma fusão de seus seres. O interior das mães se desfaz, suas entranhas parecem estar sendo arrancadas ao verem seus filhos partirem. Os que se amam querem estar juntos e se olhar. E quanto mais robusto é o amor, maior será a inclinação de se unirem.
Ora, quando os dois seres que se amam são infinitos e eternos, jamais esse impulso de união poderá manterse dentro dos estreitos limites de uma mera tendência emocional, como muitas vezes se passa entre nós homens. Entre o Pai e o Filho, esse Amor é tão vigoroso que faz proceder uma Terceira Pessoa, o Espírito Santo.
Nossos amores, em não raras circunstâncias, são volúveis. Deus, muito pelo contrário, porque se contempla a Si próprio, Bom, Verdadeiro e Belo, eterna e irresistivelmente, Se ama desde todo o sempre e para sempre, e, tal qual assevera Santo Agostinho, desse amor faz proceder uma Terceira Pessoa infinita, santa e eterna, o Divino Espírito Santo. O amor é eminentemente difusivo e por isso tende a comunicar-se, a entregar-se.
Curiosa é a diferença de forma empregada por uma e outra Pessoa para se comunicar com os homens.
O Filho veio a este mundo assumindo nossa natureza em humildade e apagamento. Pelo contrário, o Espírito Santo, sem assumir outra natureza, marca sua presença com símbolos de estrépito e majestade. A face da terra será renovada por Ele, daí a manifestação do esplendor, força e rapidez dos fenômenos físicos que acompanharam sua infusão de graças nos que se encontravam reunidos no Cenáculo (conforme a 1ª leitura de hoje, At 2, 1-11), porque eles deveriam ser Apóstolos e testemunhas. Era preciso que fossem iluminados e protegidos, e soubessem ensinar.
No Evangelho de João, essa doação do Espírito Santo tem em vista a faculdade de perdoar os pecados:
23 “Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos.”
Que grande dom concedido aos mortais por meio dos sacerdotes: o perdão dos pecados! Por outro lado, que imensa responsabilidade a de um Ministro de Deus! Dele diz São João Crisóstomo: “Se o sacerdote tiver conduzido bem sua própria vida, mas não tiver cuidado com diligência da dos outros, condenar-se-á com os réprobos” (9).
III – CONCLUSÃO
Quanto se fala de paz, hoje em dia, e quanto se vive no extremo oposto dela! O interior dos corações se encontra penetrado de tédio, apreensão, medo, desânimo e frustração, quando não de orgulho, sensualidade e falta de pudor. A instituição da família vai se tornando uma peça de antiquário. A ânsia de obter, não importa por que meio, sem levar em conta o direito alheio, vai caracterizando todas as nações dos últimos tempos. Em síntese, não há paz individual, nem familiar, nem no interior das nações.
Eis porque nossos olhos devem voltar-se à Rainha da Paz a fim de rogar sua poderosa intercessão para que seu Divino Filho nos envie uma nova Pentecostes e seja, assim, renovada a face da terra, como melhor solução para o grande caos contemporâneo.

1) Cf. João S. Clá Dias, E renovareis a face da Terra... In: Revista Arautos do Evangelho. mai 2002, pp. 5-10.
2) De considerat, 1. I C.2 apud São Bernardo, Obras selectas, BAC, p. 1.480
3 ) De doct. Christiana I, 4: PL 34, 21
4 ) De civitate Dei XIX 13: PL 41, 640
5 ) Cf. Suma Teológica II-II, q 29.
6 ) cf. Santo Tomas de Aquino, Suma Teológica, I-II, q 70, a 3c.
7 ) Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica II-II, q 29, a 3.
8 ) Cânon 12 in Denzinger, Ench. Symbol. nº 224

9 ) São Tomás de Aquino, Catena Áurea, in Jo., c 20, l 3.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Comentários à 1ª leitura - At 2, 1-11 da Solenidade de Pentecostes

Missa do dia de Pentecostes

1 Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2 De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. 3 Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. 4 Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. 5 Moravam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. 6 Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. 7 Cheios de espanto e admiração, diziam: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? 8 Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? 9 Nós que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10 da Frigia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; 11 judeus prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!” (At 2, 1-11).

Cheios do Espírito Santo, os apóstolos incendiaram o mundo.
A maravilhosa cena narrada por São Lucas, nos Atos dos Apóstolos, é dos mais importantes na história da Igreja. Para compreendermos a fundo seu significado, examinemos em que circunstâncias ela se passou.
Estavam os apóstolos preparados para sua sublime vocação?
Qual a situação espiritual dos apóstolos? Era de supor que, após três anos de convívio diário com Nosso Senhor Jesus Cristo, estivessem preparados para a missão que lhes cabia, de firmar e expandir a Santa Igreja. Contudo, não o estavam. Em várias passagens do Evangelho, vemo-los repletos de fragilidades.
Logo após episódios, sermões e milagres impressionantes, não se punham a fazer comentários sobre a grandeza das palavras ou dos gestos do Mestre, mas sim a discutir a respeito de quem seria o primeiro-ministro num suposto reino temporal que, acreditavam, Cristo iria fundar...
Quando Jesus lhes dizia que estavam para se cumprir as profecias a respeito de sua Paixão, Morte e Ressurreição, eles nada entendiam (cf. Lc 18, 31-34), voltando a disputar sobre quem seria o maior (Mc 9, 31-35). A mãe de João e Tiago aproximou-se um dia de Jesus, acompanhada pelos dois filhos, para Lhe pedir que reservasse para eles os dois primeiros cargos do futuro reino (cf.Mt 20, 20-23).
No fim da Santa Ceia, logo após a saída de Judas, houve um diálogo revelador. Depois de Pedro dizer que estava disposto a dar a vida pelo Mestre — declaração que Jesus não aceitou, profetizandolhe a tríplice negação —, Tomé manifestou sua cegueira sobre os acontecimentos iminentes, e Filipe demonstrou não estar plenamente consciente da divindade de Jesus, pedindo-lhe: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”(Jo 14,8). Ao que Nosso Senhor replicou: “Há tanto tempo estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai... Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim?” (Jo 14, 9-10).
Esta era a situação daqueles que Jesus Cristo convocara para serem as colunas de sua Igreja. Não O compreendiam. Por quê? Entre as várias explicações possíveis, três parecem de maior peso.
Em primeiro lugar, o ser humano, debilitado após o pecado original, não tem apetência de elevar as vistas para as verdades superiores. Seu gosto está em voltar-se para cogitações meramente práticas, concretas, atraído pelos aspectos medíocres da vida. Por isso não se dá conta daquilo de grandioso para o qual é chamado. Este problema se coloca de forma mais aguda para quem tem vocação incomum, como ocorreu com os apóstolos: não percebiam que lhes cabia a maior missão da história.
Outra explicação é de natureza psicológica. A sociedade de Israel era bem hierarquizada, tendo no topo a raça dos sacerdotes, e depois toda uma coorte de pessoas vinculadas com o sacerdócio ou a realeza, como os escribas, os fariseus e a classe mais abastada. De outro lado, a Galiléia era uma região desprezada, considerada “bárbara” e ignorante. Ora, os apóstolos eram quase todos galileus e pescadores. Sentiam-se, portanto, em certa inferioridade. Agora lhes aparecia a oportunidade de subirem aos primeiros cargos do novo reino...
Por fim, faltava-lhes um amor ardoroso por Nosso Senhor. Se o tivessem, todo o resto se resolveria. Não adiantava assimilarem a doutrina, nem mesmo ter fé e esperança, pois essas virtudes de nada valem se não são acompanhadas pela caridade.
Nem após a Ressurreição de Nosso Senhor desapareceram essas fragilidades. A incredulidade de São Tomé é exemplo característico. Passou o Senhor entre eles mais quarenta dias, e fez lhes revelações e deu ensinamentos. Não adiantou. Com o que continuavam preocupados? Com a restauração do reino de Israel...
Ainda no momento da Ascensão, quando o Divino Mestre lhes fala da vinda próxima do Espírito Santo, eis como reagem: “Então os que se tinham congregado, interrogavam-No dizendo: Senhor, porventura chegou o tempo em que restabelecereis o reino de Israel?” (At 1, 6).
A preparação para Pentecostes
Apesar de se encontrarem nesse estado de espírito, a graça divina ia trabalhando suas almas.
Imediatamente antes da Ascensão, Jesus havia ordenado aos apóstolos que não se afastassem de Jerusalém, pois dentro de poucos dias seriam batizados no Espírito Santo. Voltaram, então, para a Cidade Santa, e subiram ao andar superior do cenáculo: “Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele”(At, 1, 14).
Conta a Sagrada Escritura que em certo momento São Pedro propôs que se escolhesse alguém para substituir Judas, e “deitaram sortes e caiu a sorte em Matias” (At 1, 26). Nesta passagem temos um dos pontos que é oportuno reter: a posição de São Pedro, que já claramente age como Papa.
Vemos também como os apóstolos conheciam o valor da oração. Por meio dela se preparavam para receber o Espírito Santo. E “perseveraram unanimemente”, ou seja, estavam concordes, e além disso estavam juntos, porque a oração de vários unidos pelo amor de Jesus Cristo e em função d’Ele tem esta promessa: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18, 19).
Estavam recolhidos, modo excelente de preparação para grandes acontecimentos. O próprio Jesus passara 40 dias no deserto, antes de iniciar sua vida pública. Embora não se possa dizer que os apóstolos estivessem melhores do que antes, haviam tomado, assim, uma atitude sapiencial. A graça de Pentecostes será, de algum modo, o desabrochar de uma flor, cuja semente vinha germinando em suas almas. Quer dizer, apesar de essa graça ter sido gratuita, uma iniciativa de Deus, eles, em certa medida, prepararam o caminho para ela.
Por fim chegamos a um ponto fundamental: oravam com Maria. Eis a condição indispensável para receber as graças do Espírito Santo. Como esposa d’Ele, Nossa Senhora deve Lhe ter pedido que descesse sobre os apóstolos. Reunindo-se com a Santíssima Virgem, os apóstolos obtiveram graças que liberaram suas almas dos últimos obstáculos para se beneficiarem com Pentecostes.
A descida do Espírito Santo
Pentecostes era uma das festas tradicionais judaicas. Nela se ofereciam a Deus as primícias das colheitas do campo. Tratava-se de uma das três grandes festas chamadas da “peregrinação”, pois nelas os israelitas deviam peregrinar até Jerusalém para adorar a Deus no Templo. Os judeus da diáspora (residentes no estrangeiro) designavam-na pela palavra grega pentecosté (quinquagésimo), por ser celebrada 50 dias depois da Páscoa.
“Estavam todos” presentes no cenáculo, diz São Lucas nos Atos. Era toda a Igreja nascente: cerca de 120 pessoas, entre as quais os 12 apóstolos, os 72 discípulos e as santas mulheres.
Encontravam-se absortos na oração quando se fez ouvir um ruído estrondoso e um vento impetuoso. Em seguida, aparecem pequenas chamas. Segundo uma piedosa e antiga tradição, a primeira língua de fogo — a mais rica — pousou sobre a cabeça de Nossa Senhora, e a partir dela se multiplicou para os outros.
Por que essas manifestações exteriores? Deus quis tornar visível a plenitude que entregava, o ímpeto de amor, a grandeza do dom que descia. O “vento impetuoso” pode ser visto como a chegada da torrente de graças que estavam sendo derramadas sobre todos os presentes. Eram graças místicas eficazes e superabundantes que “invadiram” o cenáculo.
Além do fenômeno auditivo, e talvez sensitivo, terá havido um certo perfume? A idéia nos parece plausível. O fogo, feito de luz e calor, era o melhor elemento para simbolizar o ardor próprio à ação restauradora e entusiasmante do Espírito Santo. Ao pairarem sobre as cabeças de Maria e dos demais presentes, as chamas se apresentavam sob a forma de línguas de fogo. Nelas podemos ver simbolizadas as labaredas que a pregação daqueles varões suscitaria. “... ficaram todos cheios do Espírito Santo”. De Maria a Igreja exclama: “cheia de graça”, e de fato Ela o foi desde o primeiro instante de sua Imaculada Conceição. No cenáculo recebe uma plenitude ainda maior. Nessa passagem dos Atos vemos também os apóstolos, de acordo com suas respectivas missões, serem inundados dos mais especiais dons. Lembraramse, então, com amor e compreensão, de tudo o que o Mestre lhes ensinara, estando prontos para percorrer o mundo pregando a Boa Nova.
A graça do Espírito Santo muda todos
Conta São Lucas que naqueles dias Jerusalém estava repleta de judeus e gentios vindos de todas as partes da terra. Como o ruído da ventania fora ouvido por toda a cidade, reuniu-se diante do cenáculo “muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua. Profundamente impressionados, manifestavam a sua admiração: ‘Não são, porventura, galileus todos estes que falam? Como então todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?’ (…) Estavam, pois, todos atônitos e, sem saber o que pensar, perguntavam uns aos outros: ‘Que significam estas coisas?’ Outros, porém, escarnecendo, diziam: ‘Estão todos embriagados de vinho doce’.” (At 2, 5-13)
Neste trecho se diz que os apóstolos (como os discípulos e as santas mulheres) começaram a falar várias línguas (At 2, 4) e, mais adiante, que cada um os ouvia falar na sua própria língua (At 2, 6). Não fica claro se falavam uma língua e todos os entendiam, ou se falavam várias. Os exegetas não são concordes a tal respeito. Uma expressão no versículo anterior, “conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”, favorece a segunda hipótese.
São Pedro levantou a voz e disse ao povo: “Homens judeus e vós todos os que habitais em Jerusalém: seja-vos isto conhecido e com ouvidos atentos ouvi as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós cuidais, sendo a hora terceira do dia” (At 2, 14-15). Ninguém se embriaga às nove da manhã (a hora terceira). Estavam “ébrios”, mas de uma embriaguez divina, e proclamavam a doutrina do Divino Mestre, pronunciando palavras de sabedoria, acerto, glória e repreensão.
“Mas cumpre-se o que foi dito pelo profeta Joel: Acontecerá nos últimos dias...” (At 2, 14). São Pedro recordou as profecias sobre Cristo. O povo as conhecia e se impressionou, abrindo os corações à conversão. O príncipe dos apóstolos finalizou suas palavras, dizendo: “A este Jesus, Deus o ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas. Exaltado pela direita de Deus, havendo recebido do Pai o Espírito Santo prometido, derramou-o como vós vedes e ouvis. Pois Davi pessoalmente não subiu ao céu, todavia diz: O Senhor disse a meu Senhor: Senta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés (Sl 109, 1). Que toda a casa de Israel saiba, portanto, com a maior certeza de que este Jesus, que vós crucificastes, Deus o constituiu Senhor e Cristo.”
São Pedro faz aqui, como Papa, a primeira proclamação de um dogma na história: o da divindade de Nosso Senhor.
“Ao ouvirem essas coisas, ficaram compungidos no íntimo do coração e indagaram de Pedro e dos demais apóstolos: ‘Que devemos fazer, irmãos?’ Pedro lhes respondeu: ‘Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus’” (At 2, 37-39).
Terá se convertido a maior parte dos que ouviram São Pedro? Os Atos dos Apóstolos não nos dão elementos para saber. Mencionam, todavia, os que “escarnecendo, diziam: Estão todos embriagados de vinho doce” (At 2, 13). Assim, a mesma graça que convertia a muitos, acabava sendo rejeitada por outros. Também não devem ter sido boas as reações dos fariseus, ao saberem desses prodígios e do início da glorificação pública d’Aquele que haviam feito crucificar.
Foram batizadas três mil pessoas. Em poucas horas, a Igreja passava a contar com pelo menos 3.120 membros. Era o início do apostolado em sistema de “avalanche”, que se multiplicaria quando os apóstolos começassem a fazer milagres. Em breve iam estender a evangelização por todo o mundo antigo, e chegaria um momento em que o Império Romano inteiro estaria cristianizado.
Pedir uma nova efusão de graças
Para iniciar o terceiro milênio da Era Cristã, o Santo Padre quis publicar uma Carta Apostólica, assinada na Praça de São Pedro em 6 de janeiro de 2001. Nesse belíssimo documento, assinalamos o seguinte trecho: “Ao longo destes anos, muitas vezes repeti o apelo à nova evangelização; e faço-o agora uma vez mais para inculcar sobretudo que é preciso reacender em nós o zelo das origens, deixando-nos invadir pelo ardor da pregação apostólica que se seguiu a Pentecostes. Devemos reviver em nós o sentimento ardente de Paulo que o levava a exclamar: ‘Ai de mim se não evangelizar!’ (1 Cor 9,16)” (Novo Millennio Ineunte, nº 40).
Eis aí indicado o caminho para que neste terceiro milênio a Igreja rebrilhe com uma luz ainda mais fulgurante que nos séculos anteriores: “reacender em nós o zelo das origens, deixando-nos invadir pelo ardor da pregação apostólica que se seguiu a Pentecostes”.
Festa do amor de Deus, Pentecostes nos traz esta mensagem: devemos ter pela Santa Igreja Católica um amor sem limites, que se traduza em interesse candente por ela, em orações, em obras de apostolado. Se nós, católicos, formos assim, todos os males que afligem o mundo de hoje serão vencidos.
Assim como os apóstolos, perseveremos com Maria Santíssima em oração, pedindo que o Espírito de Caridsade nos infunda aquele amor que lhes abrasou: “Emitte Spíritum tuum et creabuntur. Et renovabis fáciem terrae” — “Enviai, Senhor, o vosso espírito criador e será renovada toda a face da terra”.

domingo, 1 de junho de 2014

Evangelho Vigília Pentecostes - Jo 7, 37-39 - Ano A

Conclusão dos comentários ao Evangelho da Missa da Vigília de Pentecostes - Jo 7, 37-39
A água viva da graça
É Ele o rio de água viva que fluirá dentro de nós e do qual Nosso Senhor Se oferece a ser, Ele mesmo, a fonte, desde que n’Ele acreditemos. No Apocalipse, São João descreve “um rio de água viva, resplandecente como cristal de rocha, saindo do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da avenida e às duas margens do rio, achava-se uma árvore da vida, que produz doze frutos” (Ap 22, 1-2).
A água viva não está estagnada como a de uma cisterna, mas jorra constantemente, como a das fontes das praças de Roma, à disposição dos transeuntes. Este divino manancial, prometido por Nosso Senhor no Evangelho desta Vigília e vislumbrado pelo Discípulo Amado, produz no fundo da alma uma água superabundante e eficaz, que combate sem cessar a sede das paixões, ao mesmo tempo que nos sustenta, anima, impulsiona e transmite energia — espiritual, e também corporal —, proporcionandonos a alegria da contemplação dos panoramas sobrenaturais. Então, em tudo quanto fazemos somos elevados por Ele e damos o melhor de nós; e chegado o instante do último suspiro, se tivermos atingido o auge da virtude, entraremos no Céu sem nem sequer passar pelo Purgatório.
Só nos corações humildes habita o Espírito Santo
A alma só perderá o tesouro da natureza divina se, cega pelo orgulho, erguer obstáculos, puser condições à graça e procurar construir para si uma Torre de Babel, a “torre” de todas as ambições e desvarios do pecado. Contando apenas com sua pura natureza humana e impossibilitada de conquistar méritos, terá o Céu fechado diante dela. Por isso devemos rogar ao Espírito Paráclito que remova os entraves provenientes de nossa miséria e, assim, dóceis às suas inspirações, colaboremos com sua obra de santificação. Lembremo-nos da célebre admoestação de Santa Maravilhas de Jesus, superiora das Carmelitas Descalças do Cerro de los Angeles, a suas religiosas: “Si tú Le dejas... — Se tu O deixas...”.9
No extremo oposto, um dos mais belos trechos da Epístola de São Paulo aos Romanos — também contemplado na segunda leitura — deixa entrever a maravilha da humildade e como ela nos obtém lucros extraordinários: “nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26). Porque se nos colocamos ante a perspectiva de que somos de barro, feitos da mesma matéria dos tijolos da Torre de Babel e, portanto, incapazes sequer de saber o que pedir ou de encontrar a fórmula para tal, podemos ter uma certeza: desde que nos mantenhamos na graça de Deus, o Espírito Santo estará gemendo no fundo daalma de cada um de nós; esta é a humildade! Só nos corações humildes habita o Espírito Santo!
Um mistério de amor do Filho pelo Pai e por nós
39b ...pois ainda não tinha sido dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.
Para compreender bem o significado desta frase do Evangelista teólogo, é mister remontar ao momento em que, pelo fiat de Maria Santíssima, o Verbo Se encarnou.
Deus prescrevera ao povo de Israel dez Mandamentos, além das numerosas regras da Lei Mosaica, resumindo-se tudo em duas sentenças: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças” (Dt 6, 5) e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19, 18). Quis ser Ele o primeiro a nos dar o exemplo deste último, tornando-Se nosso próximo ao assumir a natureza humana. Mais ainda, para nos remir Ele almejava padecer por nós abraçando a Cruz, como a abraçou, e derramando seu Sangue, como o derramou.
No entanto, sendo Ele Deus, não estava de acordo com a ordem divina que sua Alma fosse criada em estado de prova em relação à fé, sofrendo, como os demais homens, a privação da visão beatífica, de tal forma que não Se visse a Si mesmo como Pessoa Divina, mas tivesse de acreditar na existência de Deus.10 A criação da Alma do Filho de Deus, deveria ser — como de fato foi — a mais perfeita. Para São Tomás, Ele foi “bem-aventurado logo no início”.11
A fim de realizar seu desígnio redentor, todavia, Ele escolheu tomar um corpo mortal,’2 pronto para sofrer as agruras de uma crucifixão, precedida de todas as humilhações que suportou desde a sua prisão no Horto das Oliveiras. Ele, “o Impalpável, o Impassível, por nós se fez passível e de todos os modos sofreupor nós”.’3 Ele não incentivou esses suplícios — pois não pode provocar o pecado —, mas apenas Se submeteu à maldade humana, feita de inveja, de comparação e de orgulho.
Deparamo-nos aqui com uma assombrosa dicotomia: uma alma na visão beatífica, unida a um corpo padecente. Como compreender? Mistério de amor do Filho, de desejo de reparacão do Filho ao Pai e de misericórdia para conosco!
A glória de Jesus Cristo, pórtico de nossa santificação
Desde o primeiro instante da concepção no seio puríssimo de sua Mãe, Nosso Senhor Jesus Cristo contemplou todos os sofrimentos que deveria enfrentar, e que culminariam com sua Morte, quando a Alma se separasse do Corpo, sem, contudo, perderem a união com a divindade. Sabia também que, depois de sua dolorosa Paixão, Ele ressurgiria triunfante do túmulo com o Corpo já em estado glorioso. Ao longo de sua existência terrena, Jesus tinha frêmitos interiores santíssimos — e, por que não dizer, divinos! — por comprovar com seus olhos carnais aquilo que desde todo o sempre conhecia enquanto Deus, por exemplo, ao entrar no Templo (cf. Lc 2, 46-49) ou ao comer a Páscoa com seus discípulos (cf. Lc 22, 15). De forma semelhante, Ele também esperava a glorificação de seu Corpo.14
Por mais que se exalte aqui na Terra alguém que tenha praticado a virtude de maneira esplendorosa, a verdadeira glória só se alcança na eternidade e chegará à plenitude na ressurreição dos corpos. Sim, porque em razão da mancha original com a qual todos nascemos, embora se possa ter atingido a santidade, ao partir desta vida o corpo fica e passa pela decomposição. Mas os que houverem morrido na graça de Deus estão à espera da restituição do corpo, fulgurante, magnífico, espiritualizado (cf. I Cor 15, 44). Por isso, o ápice da glória de todos os Bem-aventurados que se encontram diante de Deus será no dia do Juízo, “quando for dado o sinal, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta de Deus” (I Ts 4, 16), e eles subirem em corpo e alma sobre as nuvens, para estar junto com Cristo para sempre.
Essa glória, como dissemos no início, foi dada primeiramente a Nosso Senhor na Ressurreição e na Ascensão, depois a Nossa Senhora ao ser assunta ao Céu, e, segundo tese defendida por muitos Santos e doutores, também a São José.15 Os três estão no Paraíso Celeste em corpo glorioso.
Ora, a glorificação de Nosso Senhor Jesus Cristo era necessária para a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, como Ele mesmo afirmou na Ultima Ceia: “convém a vós que Eu vá! Porque, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas, se Eu for, vo-Lo enviarei” (Jo 16, 7).
III – O REMÉDIO PARA UMA HUMANIDADE DIVORCIADA DE DEUS
Os textos da Missa da Vigília, ao nos conduzirem à expectativa da descida do Espírito Santo comemorada na Solenidade litúrgica de Pentecostes, nos sugerem uma aplicação em relação ao mundo contemporâneo. Descendente daqueles que construíram a Torre de Babel, ao longo dos séculos a humanidade necessitou das luzes e dos dons do Paráclito para socorrer a sua fraqueza. Hoje, porém, mais do que nunca, faz-se premente a súplica cantada no Salmo Responsorial (cf. Sl 103, 30): “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da Terra toda a face renovai”.
Sem a graça do Espírito Divino, impetrada há dois mil anos pela Igreja, inútil é qualquer iniciativa de apostolado! De nada servirão a pregação, a publicação de livros, a difusão de jornais ou a propaganda pelos meios de comunicação a fim de conduzir as almas à santidade. O único Santificador, que faz evaporar o orgulho e sana nossas misérias, é Aquele que Jesus anuncia no Evangelho. E Ele quem nos transforma e santifica, dando forças para nos mantermos fiéis na prática da virtude. E Ele quem nos instrui sobre tudo aquilo que não compreendemos: “o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, Ele vos ensinará tudo” (Jo 14, 26).
Tal deve ser nossa aspiração, conforme o pedido da Aclamação ao Evangelho: “Vinde, Espírito Divino, e enchei com vossos dons os corações dos fiéis, e acendei neles o amor como um fogo abrasador!”.’6 Imploremos, pois, essa vinda do Espírito Santo, para que Ele incendeie os nossos corações e faça de nós almas de fogo, na plena participação da vida divina!

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1) SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q.25, a.6, ad 3.
2) Cf. ROYO MARIN, OP, Antonio. La Virgen María. Madrid: BAC, 1968, p.57; ROSCHINI, OSM, Gabriel. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960, p.22.
3) BEAUDENOM, Léopold. Formation a l’humilité. 6.ed. Paris: Lethielleux, 1924, p.73.
4) Idem, p.52.
5) Cf. SCHUSTER, Ignacio; HOLZAMMER, Juan B. Historia Bíblica. Antiguo Testamento. Barcelona: Litúrgica Española, 1934, t.I, p.344.
6) Cf. SCHUSTER Ignacio; HOLZAMMER, Juan B. Historia Bíblica. Nuevo Testamento. Barcelona: Litúrgica Española, 1935, t.II, p.164-165, nota 5; EDERSHEIM, Alfred. The Life and Times of Jesus the Messiah. Grand Rapids (MI): Eerdmans, 1976, v.1, p.449.
7) Cf. SCHUSTER; HOLZAMMER, op. cit., t.I, p.344-345; t.II, p.261, nota 11.
8) Cf. SAO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.8, a.3.
9)GRANERO, Jesus María. Madre Maravillas de Jesús. Biografia espiritual. Madrid: Fareso, 1979, p.139.
10) Cf. SAO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.7, a.3.
11) Idem, q.34, a.4, ad 3.
12) Cf. Idem, q.45, a.2.
13) SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA. Carta a Policarpo, III, 2. In: RUIZ BUENO, Daniel (Ed.). Padres Apostólicos. 5.ed. Madrid: BAC, 1985, p.499.
14) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.7, a.4.
15) Cf. SAO FRANCISCO DE SALES. Entretien XIX. Sur les vertus de Saint Joseph. In: OEuvres Complètes. Opuscules de spiritualité. Entretiens spirituels. 2.ed. Paris: Louis Vivès, 1862, t.III, p.546; SAO BERNARDINO DE SENA. Sermones de Sanctis. De Sancto loseph Sponso Beatæ Virginis. Sermo I, a.3. In: Sermones Eximii. Veneza: Andreæ Poletti, 1745, t.IV, p.235; SAUVE, PSS, Charles. Le culte de Saint Joseph. Élévations dogmatiques. 2.ed. Paris: Charles Amat, 1910, p.343-344; DE ISOLANO, OP, Isidoro. Suma de los dones de San José. 1V c.3. In: LLAMERA, OP, Bonifacio. Teología de San José. Madrid: BAC, 1953, p.629-630.

16) MISSA DA VIGÍLIA DO DOMINGO DE PENTECOSTES. Aclamação ao Evangelho. In: MISSAL ROMANO. Palavra do Senhor I — Lecionário Dominical (A-B-C). Trad. Portuguesa da 2a. edição típica para o Brasil realizada e publicada pela CNBB e aprovada pela Sé Apostólica. São Paulo: Paulus, 2004, p.225.