COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – IV
DOMINGO DA PÁSCOA – Jo 10, 1 - 10 – ANO A
EVANGELHO Jo 10, 1 - 10
Naquele tempo, disse Jesus: “verdade, em verdade vos digo, quem não
entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e
assaltante. 2 Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3 A esse o porteiro
abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as
conduz para fora. 4 E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à
sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas não seguem um
estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”.
6 Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que Ele
queria dizer Então Jesus continuou: “Em verdade, em verdade vos digo, Eu sou a
Porta das ovelhas. 8 Todos aqueles que vieram antes de Mim são ladrões e
assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a Porta. Quem entrar por
Mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. 10 O ladrão só vem para
roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”
(Jo 10, 1 - 10).
O redil só tem uma Porta
O Céu, fechado
para a humanidade depois do Pecado original, nos foi aberto para sempre por
Aquele que é o Cordeiro, o Bom Pastor e a Porta do redil.
OS GRAUS DE PERFEIÇÃO NA OBRA DA CRIAÇÃO
Quem contempla a natureza
criada percebe facilmente uma gradação em que verdade, bondade e beleza se tornam
mais intensas e nobres à medida que se sobe na escala dessa magnífica obra de
Deus.
Basta observar, por exemplo, no
reino animal, uma formiga transportando alimento para o formigueiro. Manifesta
ela tal tenacidade e retidão no cumprimento de seu objetivo, que se fosse tomada
como modelo de disposicão para o trabatho levaria qualquer país à prosperidade
Ou, então, um colibri quando paira no ar e bate as asas com encantadora
elegância, de modo tão rápido que nem é
possível distingui-las com nitidez, Ou ainda o esquilo, animal tão ordenado
que, além de ser monogâmico, é dotado de certo instinto de propriedade pelo
qual defende energicamente seu terreno, não permitindo que ninguém o invada.
No reino humano, por sua vez,
existe a hierarquia das diferentes qualidades individuais, e, ultrapassando os
limites da mera natureza, destacam-se figuras extraordinárias, como a de São
Pedro ou de São Pio X, representantes de Nosso Senhor Jesus Cristo na Terra. No
ápice do universo está o próprio Jesus, com duas naturezas, a humana e a
divina. E o Criador unido à criação. Portanto, tudo quanto há de verdadeiro,
bom e belo nas criaturas encontra n’Ele sua arquetipia. Em Cristo “foram criadas
todas as coisas nos Céus e na Terra, as criaturas Visíveis e as invisíveis”
(Col 1, 16). A esse respeito, São Tomás propõe uma interessante comparação: “O artesão
produz sua obra segundo uma forma por ele concebida interiormente revestindoa,
de alguma maneira, de uma matéria exterior; do mesmo modo, o arquiteto constrói
a casa conforme o modelo por ele idealizado. E é assim que dizemos de Deus: que
Ele tudo fez em sua sabedoria, porque a sabedoria divina com relação às
criaturas é como a arte do construtor em relação ao edifício. Ora, esta forma e
esta Sabedoria é o Verbo”.1 Eis a razão pela qual podemos vislumbrar reflexos
das sublimes perfeições do Homem-Deus em todos os seres criados. Tal pressuposto
nos ajudará a entender o Evangelho deste domingo, o qual recolhe a primeira
parte do discurso do Bom Pastor.
A PORTA DO VERDADEIRO REDIL
Devemos compreender a presente
parábola dentro do quadro político-social e econômico de Israel na época de Nosso
Senhor, o que corresponde a uma realidade bem diferente da civilização industrial
e globalizada em que vivemos. O pastoreio do qual poucos terão uma noção exata
em nossos dias constituiu uma das principais atividades do povo eleito no Antigo
Testamento, tendo penetrado profundamente na psicologia, na cultura e nos
costumes judaicos. Por conseguinte, as imagens tiradas do cotidiano pastoril
eram muito acessíveis aos ouvintes do Divino Mestre. Ele as empregou para
referir-se a algo tão elevado que é impossível de ser traduzido a não ser por símbolos:
Deus feito Homem cuida com toda a perfeição de cada um de nós, como de uma
ovelha muito querida. Nosso Senhor Jesus Cristo Se sente representado por um
Pastor ideal, zeloso e dedicado. Em consequência, a figura heroica do pastor
adquiriu um cunho sagrado e, com o tempo, passou a adornar paredes de
catacumbas, objetos litúrgicos, túmulos, monumentos sacros, entre outros, como
designação corrente d’Aquele que veio ao mundo para salvar suas ovelhas.
O redil, exigência do cuidado do rebanho
Naquele tempo, disse Jesus: l “Em verdade, em verdade vos digo,
quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é
ladrão e assaltante”.
Muitas vezes os pastores tinham
de arriscar a própria vida para defender as ovelhas, pois, além de não
existirem armas eficazes como as atuais, em geral eles eram pessoas pobres,
dispondo apenas de um cajado para enfrentar os lobos e os ladrões. Tão
frequentes eram os assaltos aos rebanhos, que os pastores costumavam se
congregar para terem maior segurança e, à noite, recolhiam todas as ovelhas num
grande redil. Um deles ficava de vigília, à entrada, e se revezavam ao longo das
horas. Esta era a única passagem para entrar e sair do aprisco, sendo usada
tanto pelos animais quanto pelos donos.
Os ladrões, entretanto, nunca
transpunham a porta para realizar seus intentos, mas faziam um rombo na cerca,
por onde penetravam e levavam as ovelhas.
Continua no próximo post