Continuação dos comentários ao Evangelho Solenidade da Santíssima Trindade - Jo 16, 12-15 - Ano C - 2013
Três
pessoas idênticas e coeternas
13b “Pois não
falará por Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido”.
Com Nosso Senhor, atingiu-se a plenitude da Revelação.
“Cristo, o Filho de Deus feito Homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável
do Pai. N’Ele o Pai disse tudo e não haverá outra palavra senão esta”.16
Portanto, nada há fora do Verbo Encarnado que possa ser transmitido aos homens,
e devemos interpretar neste sentido o presente versículo, como observa
Lagrange: “O Espírito não falará por Si mesmo, ou seja, não exporá uma doutrina
própria d’Ele: a doutrina não será nova, pelo menos no sentido de que não será
estranha à Revelação já feita pelo Filho”.17
De outro lado, convém evitar a conclusão errônea
segundo a qual o Espírito Santo necessitaria ouvir os ensinamentos de Cristo
para depois transmiti-los aos Apóstolos, como se Ele tivesse alguma
inferioridade em relação ao Filho. Sendo as três Pessoas idênticas e coeternas,
são um só Deus.
Portanto, falando em termos humanos, o que “sabe” uma
Pessoa divina, “sabem-no” também as outras. Ou, dito com as palavras do Cardeal
Gomá: “A ciência das três Pessoas divinas é a mesma, infinita; contudo,
recebendo o Espírito Santo a natureza do Pai e do Filho, dos quais procede,
recebe também a ciência, segundo nossa maneira de falar”.18
Assim, quando o Paráclito disser aos Apóstolos “tudo
quanto tiver ouvido”, estará revelando aquilo que conhece desde toda a
eternidade, tal qual o Pai e o Filho.
O
dom de profecia
13c “Ele Me
glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará”.
Pode-se interpretar esta afirmação como um recurso
didático utilizado pelo Divino Mestre para melhor fazer compreender, aos Seus
ouvintes, toda a extensão do poder do Espírito Santo para conduzir as almas à
plena verdade. Mas outros autores, entre os quais Maldonado,19 preferem
interpretar esta passagem como sendo um desejo de Jesus, de frisar a presença
do dom de profecia entre os demais dons que o Espírito Santo infundiria nos Apóstolos.
Pois se este dom foi dado à Sinagoga, com muito maior
razão deveria possuí-lo a Igreja. É o que assinala o Cardeal Gomá: “As funções
do Espírito Santo não terminaram com a morte dos Apóstolos; com eles
encerrou-se a Revelação; mas a Igreja tem a assistência positiva do Espírito
Divino para não errar no caminho da verdade especulativa e prática; por outro
lado, nunca cessou, na Igreja, o espírito de profecia”.20
Lembremos também que profetizar não significa apenas,
nem principalmente, prever o futuro; consiste, pelo contrário, em interpretar o
presente para saber conduzir os fiéis nas vias da Providência. Esse carisma
para discernir os desígnios de Deus e guiar Seus filhos é concedido à Igreja em
um grau incomparavelmente maior do que foi dado na Antiga Lei.
O
Espírito não é maior do que o Filho
14“Ele Me
glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará”.
Tudo quanto se refere à Santíssima Trindade fica
envolvido em véus de mistério. Qual o significado da afirmação feita pelo
Divino Mestre: “Receberá do que é meu”?
Sob uma perspectiva eminentemente pastoral, Crisóstomo
assim interpreta: “Para que, ao ouvir essas palavras, não julgassem os
discípulos ser o Espírito Santo maior do que Ele e caíssem em maior impiedade,
disse: ‘Receberá do que é meu’. Ou seja: ‘O que Eu disse, também Ele o
dirá’”.21
Dídimo, de sua parte, sob um prisma metafísico, busca
o sentido da mesma expressão: “‘Receber’, aqui, segundo a natureza divina, deve
entender-se da seguinte forma: assim como o Filho, dando, não Se priva do que
dá, nem Se prejudica beneficiando a outrem, assim também o Espírito Santo não
recebe o que antes não possuía; pois se recebesse um dom que não tinha
anteriormente, ficaria sem ele quando o transferisse a outrem. Convém entender
que o Espírito Santo recebe do Filho aquilo que constitui Sua natureza, e que
não são duas substâncias — uma que dá e outra que recebe — mas sim uma só
substância. Do mesmo modo, o Filho recebe do Pai a mesma substância que
subsiste em ambos: nem o Filho é outra coisa que tudo aquilo que recebe de Seu
Pai, nem o Espírito Santo é outra substância que a que recebe do Filho”.22
Já Maldonado, em consonância com diversos
comentaristas antigos, procura salientar a glorificação que Cristo há de
receber pelo testemunho que d’Ele será dado pelo Espírito da Verdade, e
conclui: “Portanto, a verdadeira interpretação é: ‘O Espírito virá em meu nome
e ensinará minha doutrina, como legado meu. Por isso, a glória de Suas obras e
magistério redundará em minha glória’”.23
Continua no próximo post.
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