Continuação dos comentários ao Evangelho Solenidade da Santíssima Trindade - Jo 16, 12-15 - Ano C - 2013
O
Paráclito transformará as nossas almas
15 “Tudo o que o
Pai possui é meu. Por isso, disse que o que Ele receberá e vos anunciará é meu”.
Após ter afirmado no versículo anterior que o Espírito
Santo “receberá do que é meu”, Jesus agora declara: “tudo o que o Pai possui é
meu”, evidenciando a união substancial das três divinas Pessoas. Como bem
assevera Lagrange, “é tal a unidade do Pai e do Filho que é preciso reconhecer:
tudo quando o Espírito recebeu do Pai, Ele recebeu também do Filho, porque o
Filho tem tudo quanto o Pai tem. Estas palavras são o que o Novo Testamento
contém de mais expressivo sobre a unidade de natureza e a distinção de Pessoas
na Santíssima Trindade, e especialmente sobre a processão do Espírito Santo”.24
No mesmo sentido se pronuncia o Cardeal Gomá, ao
afirmar ser este versículo “uma forma de manifestar, segundo o raciocínio e as
palavras do homem, aquilo que se produz de maneira inefável no seio da Trindade
beatíssima. Baste-nos saber — para sentirmos profunda gratidão ao Pai, ao Filho
e ao Espírito Santo — que as três Pessoas divinas realizaram o mistério de
nossa salvação e santificação, e que as inspirações da graça, as sugestões de
ordem intelectual, às quais aqui Se refere Jesus, atribuem-se ao Espírito Santo
porque é obra de amor que se atribui ao Espírito Santificador”.25
Assim, em todas as nossas orações, sobretudo ao
recebermos a Sagrada Comunhão, peçamos a graça de sermos inteiramente dóceis às
inspirações do Paráclito. Abramos-lhe as nossas almas sem nenhuma restrição,
desconfiança ou reserva, a fim de que Ele nos encha de luzes, fogo e
entusiasmo, como o fez com os Apóstolos no dia de Pentecostes.
Fazemos
Parte da Família divina
No Paraíso Terrestre, Adão passeava com Deus na brisa
da tarde (cf. Gn 3, 8). Afirma, a este propósito, Santo Irineu: “O Jardim do
Éden era tão belo e agradável que com frequência Deus nele Se apresentava
pessoalmente, passeava e conversava com o homem, prefigurando o que haveria de
suceder no futuro, isto é, que o Verbo de Deus habitaria junto ao homem e
conversaria com ele, ensinando-lhe sua justiça”.26
Mas se esta passagem bíblica prenuncia o inefável
relacionamento que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade teria com os homens
durante 33 anos nesta Terra, através de Sua sagrada humanidade, ela evoca ainda
mais o celeste convívio na felicidade eterna, quando contemplaremos face a face
o mesmo Deus que o homem apenas entrevia no Paraíso.
Com a maternal preocupação de preparar-nos para esse
sobrenatural relacionamento, a Liturgia de hoje ilumina nosso entendimento
e move nossa vontade.
Pois se, pelo Batismo, a graça nos faz participar daquilo que o Espírito
recebeu de Cristo, e Cristo recebeu do Pai, ela nos eleva muito acima da nossa
natureza humana para nos tornar verdadeiros filhos e herdeiros da Santíssima
Trindade. Como mais precisamente nos ensina São Paulo: “Todos os que são conduzidos
pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8, 14).
Mesmo sendo puras criaturas, há no Céu um trono
preparado para cada um de nós, e a consideração de tão grande dádiva
convida-nos a esquecermos as contingências da vida terrena e elevar o espírito
até a bem-aventurança eterna. Todos nós somos chamados a participar da própria
vida de Deus. Pertencemos, como membros adotivos, a esta família chamada
Santíssima Trindade. Este é nosso maior tesouro.
Saibamos dar o devido valor a esta gratuita dádiva, e
procuremos compreender que, em nosso relacionamento diário, temos uma
insuperável matriz de convívio: o eterno amor entre as três Pessoas divinas.
Pois, ensina-nos a Santa Igreja, a família cristã é “comunhão de pessoas,
vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.27
Sejamos gratos à Divina Providência, rogando a graça
de estarmos à altura de tudo quanto d’Ela recebemos. E peçamos, por meio da
Filha diletíssima do Pai, Mãe admirável de Nosso Senhor Jesus Cristo, e Esposa
e Templo do Paráclito, que a Santíssima Trindade nos cumule de dons místicos no
relacionamento com o Pai que nos criou, com o Filho que nos redimiu, e com o
Espírito que nos santifica.
1SANTO AGOSTINHO. De Trinitate, I,8, c.5:
PL 42, 952953.
2ROYO MARÍN, OP, Antonio.
Teología de la Perfección Cristiana. 9.ed.
Madrid: BAC, 2001, p.53.
3SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I,
q.32, a.1, resp.
4Idem, ibidem.
5SANTO ANTONIO MARÍA CLARET. Colección de
Pláticas Dominicales. Barcelona: Librería Religiosa, 1886, v.II, p.256.
6SANTA MARIA MADALENA DE PAZZI apud PLUS,
SJ, Raúl. Cristo en nosotros. Barcelona: Librería Religiosa, 1943, p.153.
7PLUS,
SJ, op. cit., ibidem.
8FABER,
Frederick William. Œuvres posthumes. P.
Lethielleux,1906, t.I, p.125; t.II, p.242.
9TUYA, OP, Manuel de. Biblia comentada –
II Evangelios. Madrid: BAC, 1964, p.1253. No mesmo sentido, MALDONADO, SJ, Juan de.
Comentarios a los cuatro Evangelios. III. Evangelio de San Juan. Madrid: BAC,
1954, p.867.
10MALDONADO,
SJ, op. cit., ibidem.
11GOMÁ
Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado.
Barcelona: Acervo, 1967, v.II, p.535.
12
FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Madrid:
Voluntad,
1927, p. 223.
13
TUYA, OP, op. cit., p.1253.
14 Catecismo da Igreja Católica, n.66.
15
MALDONADO, SJ, op. cit., p.869.
16 Catecismo da Igreja Católica, n.65.
17
LAGRANGE, OP, Marie-Joseph. Évangile selon Saint Jean. Paris: Lecoffre, 1936,
p.422.
18
GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.535.
19 Cf.
MALDONADO, SJ, op.cit., p.871.
20
GOMÁ Y TOMÁS, op. cit.,p.534.
21 SAN
JUAN CRISÓSTOMO. Homilías selectas – Homilías exegéticas. Madrid: Razón y Fe,
1911, t.III, p.509.
22
DÍDIMO apud SANTO TOMÁS DE AQUINO. Catena aurea.
23
MALDONADO, SJ, op. cit., p.872.
24
LAGRANGE, OP, op. cit., p.423.
25
GOMÁ Y YOMÁS, op. cit., p.535.
26 ST.
IRENAEUS, BISHOP OF LYON. The Demonstration of the Apostolic Preaching. London:
Society of Promoting Christian Knowledge, 1920, p.82.
27 Catecismo da Igreja Católica, n.2205.
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