Continuação dos comentários
ao Evangelho – XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano C -
2013 - Lc 21, 5-19
Esperança
na vida verdadeira
19
“É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!”.
Todos nós, como os
Apóstolos, estamos sujeitos a passar por situações difíceis em
razão de nossa fidelidade a Cristo. Como devemos nos comportar
diante delas?
Antes de tudo,
precisamos crer firmemente na onipotência de Nosso Senhor e ter bem
presente seu amor por cada um de nós, conforme nos exorta Santo
Agostinho: “Essa é a Fé cristã, católica e apostólica. Confiai
em Cristo que diz: ‘não cairá sequer um fio de vossos cabelos’,
e, uma vez eliminada a incredulidade, considerai o quanto valeis.
Quem de nós pode ser desprezado por nosso Redentor, se nem sequer um
fio de cabelo o será? Ou: como duvidaremos de que dará a vida
inteira à nossa carne e à nossa alma Aquele que, por amor a nós,
recebeu alma e carne na qual morreu, e a recobrou para que
desaparecesse o temor de morrer?”.17
Mas também não
podemos duvidar de que Jesus Se encarnou para nos fazer partícipes
de sua ressurreição: “Se Cristo não ressuscitou, vossa fé é
vã” (I Cor 15, 17), proclama São Paulo.
Uma vez
compenetrados de estarmos de passagem nesta Terra, a caminho da
eternidade, todos os males que possamos sofrer tomam outra dimensão.
“Quem sabe que é um peregrino neste mundo, independentemente do
local onde se encontre corporalmente; quem sabe que tem uma pátria
eterna no Céu; quem tem certeza de que ali se encontra a região da
vida feliz, a qual aqui é lícito desejar, mas não é possível
ter, e arde nesse desejo tão bom, santo e casto — esse vive aqui
pacientemente”.18 É permanecendo firmes na Fé que ganharemos a
verdadeira vida; é só na perspectiva da glória eterna que teremos
forças para perseverar na hora das provações. E isto não depende
tanto do nosso esforço quanto da graça divina, que devemos pedir
sem cessar.
Proclamar
a beleza triunfante da igreja
Dois significativos
episódios históricos, entre tantos outros, podem ilustrar o
ensinamento da liturgia deste domingo.
O filósofo
iluminista François-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo de
Voltaire, foi um dos mais festejados ímpios de todos os tempos. Seu
ódio contra a Igreja o levou a afirmar: “Estou cansado de ouvir
dizer que bastaram doze homens para implantar o Cristianismo no
mundo, e quero provar que basta um para destrui-lo”.19 Mas, o
atrevido ateu morreu e a ridícula ameaça caiu no vazio.
Não menos arrogante
com a Esposa de Cristo foi Napoleão Bonaparte. Após ser excomungado
pelo Papa Pio VII, teve a petulância de perguntar sarcasticamente ao
legado papal, Cardeal Caprara, se por causa disso iriam cair as armas
das mãos dos seus soldados. Ora, segundo narram testemunhas
oculares, entre as quais o Conde de Ségur, foi o que aconteceu
durante a campanha da Rússia: “As armas dos soldados pareciam ser
de um peso insuportável para seus braços intumescidos; em suas
frequentes quedas, escapavam-lhes das mãos, quebravam-se ou
perdiam-se na neve”.20
Meses depois,
Bonaparte viu-se obrigado a assinar o decreto de sua própria
destituição no palácio de Fontainebleau, onde mantivera cativo o
Vigário de Cristo, e partiu para o exílio. Pio VII, entretanto, a
quem ele chamara despectivamente de “velho”, ainda haveria de
reinar por quase uma década, sobrevivendo por dois anos ao
prisioneiro da Ilha de Santa Helena.
E, assim, poderíamos
multiplicar os exemplos mostrando “ser uma característica da
Igreja vencer quando atacada, ser melhor compreendida quando
contestada e ganhar terreno quando abandonada”, segundo ensina
Santo Hilário de Poitiers.21 Ao que o padre Monsabré acrescenta:
“muitas vezes, no curso da Era Cristã, pôde-se ver o Corpo
Místico do Filho de Deus
a ponto de perecer, muitas vezes pôde-se vê-lo recobrar vida e
avançar com passo resoluto rumo aos dias da eternidade”.22
Os períodos de
perseguição nos convidam a depositar uma fé inquebrantável em
Cristo e em sua Igreja, mas também a amá-Los de um modo todo
especial. “Em tempo de grandes prevaricações”, afirma o Cardeal
Gomá, “até os bons se tornam tíbios. Contudo, em meio às
defecções e tibiezas, perseverarão os fortes, os que guardarem a
fé e os bons costumes cristãos. Estes se salvarão: “Quem
perseverar até o fim, será salvo” (Mt 24, 13). Sendo constantes,
obtereis a salvação”.23
Ao nos situar diante
de uma grandiosa perspectiva escatológica, o Evangelho deste domingo
nos incita a proclamar a beleza triunfante da Santa Igreja, na
confiança plena de que quem permanecer filialmente no seu seio
obterá como prêmio o próprio Deus!
1
“Osório, que utilizou fontes hoje perdidas, escreveu: ‘Nero
condenou os cristãos a diversas formas de morte, e os perseguiu não
só em Roma, mas também em todas as províncias, e procurou suprimir
o nome cristão’ [...] Refere Lactâncio que ‘a causa da
perseguição foi o ódio de Nero contra os cristãos’”. (WEISS,
Juan Bautista. Historia Universal. Barcelona: La Educación, 1927,
v.III, p.708-709).
2SANCTUS
HIERONYMUS. Epistola CXLI: PL 33, 891.
3Cf.
GOMÁ Y TOMAS, Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Casulleras,
1930, v.IV, p.109.
4SAN
BEDA, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea.
5GOMÁ
Y TOMÁS, op. cit., p.110.
6
Isto se vê com maior clareza no Evangelho de São Mateus: “Dize-nos,
quando será isso? Qual será o sinal de tua vinda e do fim do
mundo?” (Mt 24, 3).
7
SAN CIRILO, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea.
8
GOMÁ Y TOMAS, op.cit., p.114.
9
SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Preparação para a morte. Cons.
XVII, ponto I.
10
SAN GREGORIO MAGNO, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea.
11
GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.112.
12
Catecismo da Igreja Católica, n.2834.
13
SAN GREGORIO MAGNO, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea.
14
Idem, ibidem.
15
GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.112.
16
SAN BEDA, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea.
17
SAN AGUSTÍN, Sermón 214, 12 apud ODEN, Thomas C. e JUST Jr., Arthur
A. La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia – Nuevo
Testamento, San Lucas. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, v.III, p.429.
18
SANCTUS AUGUSTINUS. Sermo 359A. 2.
19
CONDORCET. Vie de Voltaire in Œuvres completes de Voltaire. Paris:
Th. Desoer, 1817, t.I, p.55.
20
SÉGUR, Conde de, apud HENRION, Barón. Historia general de la
Iglesia. 2.ed. Madrid: Ancos, 1854, t.VIII, p.153.
21
SANTO HILÁRIO DE POITIERS, apud BERINGER, R. Repertorio universal
del predicador. La Iglesia y el Papado. Barcelona: Litúrgica
Española, 1933, v.XVIII, p.241.
22
MONSABRÉ, OP, Jacques-Marie-Louis. Retraites pascales. I- La
tentation. I- Recherche de Jésus-Christ. Paris: Lethielleux,
1877-1888, p.319.
23
GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.113.
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