Continuação dos comentários ao Evangelho 3º Domingo da Quaresma Lc 13, 1-9 Ano C - 2013
A propósito do castigo temporal, alerta para a pena eterna
2“Jesus lhes
respondeu: ‘Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os
outros galileus por terem sofrido tal coisa?3 Eu vos digo que não. Mas, se vós
não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo’”.
Imaginavam os portadores da notícia que, sendo galileu,
Jesus tomaria naturalmente o partido dos compatriotas mortos. Talvez até
esperassem que a brutalidade da repressão levasse o Divino Mestre a
pronunciar-Se a favor do nacionalismo judaico.
Ora, as cogitações de Nosso Senhor situavam-se sempre num
plano muito superior ao das disputas políticas. Em sua resposta, Ele não Se
compromete com os aspectos concretos da questão, mas aproveita a circunstância
para dar uma lição moral, assim sintetizada por Fillion: “Sem julgar o
procedimento do governador, nem descer ao terreno das discussões políticas,
recorda aos seus ouvintes que, como todos ofenderam a Deus, estão todos
expostos aos golpes da justiça divina, enquanto não se arrependerem e se
converterem sinceramente”.4
Deparamo-nos, aqui, com uma primeira atitude de Jesus a
imitar: quando um fato da vida cotidiana se apresentar revestido de especial
interesse, evitemos analisá-lo apenas segundo os aspectos terrenos, e
procuremos elevar-nos até o plano sobrenatural, a fim de melhor julgá-lo.
De outro lado, na opinião de Leal e os outros professores da
Companhia de Jesus, o teor da resposta do Divino Mestre visava corrigir uma
ideia errada comum entre os judeus daquela época, segundo a qual toda dor era
um castigo.5 Porém,
ensina o Cardeal Gomá, só o Senhor “sabe se existe alguma relação entre os
pecados pessoais e as desgraças ocorridas a alguém; os exemplos de Jó, de
Epulão e Lázaro desmentem a teoria errônea e supersticiosa dos judeus”.6
Ao afirmar que aqueles galileus mortos não eram mais
pecadores do que os seus interlocutores, Jesus lança mão de um recurso
psicológico para mais vivamente alertá-los sobre a gravidade intrínseca do
pecado e das penas correspondentes. Pois, como afirma Maldonado, “tencionava
Jesus advertir, acerca da pena eterna, os seus ouvintes impressionados pela
narração daquele castigo temporal; como se lhes dissesse: [...] não reputeis
miseráveis os homens que sofreram essa morte corporal, mas sim aqueles que
sofrerão a morte da alma, e esta cairá com certeza sobre todos vós, se não
fizerdes oportuna penitência”.7
Continua no próximo post
4
FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Madrid: Rialp, s/d, v.II, p.387.
5 Cf.
LEAL, SJ, Juan; PÁ- RAMO, SJ, Severiano del; ALONSO, SJ, José. La Sagrada Escritura.
Evangelios. Madrid: BAC, 1961, v.I, p.696.
6 GOMÁ
Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Madrid: Casulleras, 1930. v.III,
p.244.
7
MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los cuatro Evangelios – II Evangelios de
San Marcos y San Lucas. Madrid: BAC, 1951, p.616.