Tríduo Pascal

sábado, 8 de março de 2014

Evangelho 1º Domingo da Quaresma - Mt 4, 1 -11 - Ano A - 2014

Conclusão dos comentários ao Evangelho 1º Domingo da Quaresma - Ano A -Mt 4, 1 - 11
O VALOR DAS TENTAÇÕES
Na segunda leitura (Rm 5, 12.17-19), São Paulo sintetiza o ensinamento da Liturgia deste 1 Domingo da Quaresma: se “o pecado entrou no mundo por um só homem [...], pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça” (Rm 5, 12.19). Sua afirmação deixa patente como toda graça, força e poder foram franqueados ao gênero humano pela fidelidade de Cristo, modelo supremo no combate às tentações.
Existem doentes com uma espécie de complexo causado por verem pessoas saudáveis, a quem muitas vezes gostariam de transmitir suas enfermidades para aliviar o instinto de sociabilidade ferido, por se sentirem diferentes ou inferiores. Assim também age satanás. Ao cair no inferno, por ter-se revoltado contra Deus, passou a detestar os que batalham para obter a salvação, por serem seus inimigos e adoradores de quem ele odeia. Então, quer o demônio a nossa perdição e permanece à espreita, andando em derredor, “como o leão que ruge, buscando a quem devorar” (I Pd 5, 8), pronto para nos empurrar precipício abaixo e nos lançar na mesma infelicidade eterna na qual ele se jogou.
A tentação é um benefício
Deus lhe permite tentar-nos, com vistas ão nosso benefício, para nos dar oportunidade de adquirir força, experiência e sagacidade na luta contra ele, e, derrotado este, outorgar-nos o prêmio de não ter cedido. Mas se tivermos a desgraça de sucumbir, não nos esqueçamos do Salmo Responsorial (cf. Sl 50, 3a), que diz: “Piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos contra Vós”. Estas palavras do rei Davi, o perfeito arrependido, recordam como, desde que reconheçamos nosso pecado com verdadeira contrição e desejo de nunca recair na falta cometida, nossas culpas serão apagadas. Quando nos apegamos a Nosso Senhor e à misericórdia de Nossa Senhora, recebemos o consolo de sermos perdoados.
Foi o que aconteceu a Adão e Eva. À medida que foram comprovando as consequências da falta cometida, deram-se conta de que não valera a pena ter comido o fruto proibido e, sem dúvida, choraram seu crime. Quantas vezes algo semelhante se passa conosco quando, depois de ter percorrido um bom trecho da vida, olhamos para trás e verificamos que o pecado não compensou. Nessas horas a lembrança de nossas quedas servirá para ilustrar e fortalecer as atitudes do presente, ajudando-nos a tomar decisões bem firmes e acertadas.
As tentações nos obtêm, sobretudo, méritos para a eternidade. Tanto o santo quanto o pecador são tentados, e às vezes oprimeiro mais que o segundo, a julgar pelo modo atroz com que satanás investiu contra Nosso Senhor. A grande diferença entre ambos é que um recusa as solicitações e o outro se rende. Logo, ser tentado não é um desastre, pelo contrário, pode ser até um bom sinal. De nossa parte é preciso não consentir e, para isso, apoiemo-nos no auxílio divino, pois seria uma insensatez concebermos nossas qualidades como o fator essencial na luta contra o demônio, o mundo e a carne.
A nossa força está na graça
Diante da tentação, devemos crer na força de Nosso Senhor Jesus Cristo e não nas nossas. No deserto, o diabo quis convencê-Lo do quanto Ele era poderoso, capaz e apto a estar no centro dos acontecimentos, e faz o mesmo conosco incitando-nos, pelo orgulho, a esquecer a graça e a vida interior, imprescindíveis para resistir. Daí a necessidade absoluta de nos aproximarmos dos Sacramentos com a maior frequência possível, de “orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo” (Lc 18, 1); de recorrermos à mediação de Nossa Senhora e à intercessão dos Santos; de termos, enfim, ao longo de todo o dia, a nossa primeira atenção posta no sobrenatural, como São Paulo: “A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim” (Gal 2, 20). Assim obteremos forças para enfrentar todos os problemas, pois quem é negligente em sua vida interior perde o principal instrumento de combate. O Apóstolo, confiante na ajuda divina, não se sentia intimidado por nenhuma adversidade: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? Realmente, está escrito: ‘Por amor de Ti somos entregues à morte o dia inteiro; somos tratados como gado destinado ao matadouro’. Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude d’Aquele que nos amou. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os Anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, Nosso Senhor” (Rm 8, 35-39).
Se uma criança recém-batizada tem mais poder do que todos os infernos reunidos, os que possuem a vida divina nada devem temer! Quando o inimigo nos assalta, unamo-nos ainda mais a Nosso Senhor Jesus Cristo, animados pela lição deste início de Quaresma: para vencer todas as tentações é indispensável contar com a graça divina.
1) SANTO AGOSTINHO. Enarratio in psalmum LX, n.3. In: Obras. Madrid: BAC, 1965, v.XX, p.519.
2) Cf. SAO TOMAS DE AQUINO. Suma Teológica. T, q.102, a.4.
3) CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Palestra. São Paulo, 21 set. 1985.
4) SÃO JERÔNIMO. Comentario a Mateo. L.I (1,1-10, 42), c.4, n.21. In: Obras Completas. Comentario a Mateo y otros escritos. Madrid: BAC, 2002, v.11, p.39.
5) Cf. CLA DIAS, EP, João Scognamiglio. Convertei-vos e crede no Evangelho. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. N.122 (Fey., 2012); p.10-i7; Os benefícios das tentações. In:Arautos do Evangelho. São Paulo. N.62 (Fey., 2007); p.10-I7
6) Cf. WILLAM, Franz Michel. A vida de Jesus no país e no povo de Israel. Petrópolis: Vozes, 1939, p.85.
7) Cf. MALDONADO, SJ, Juan de. Comentario a los Cuatro Evangelios. Evangelio de San Mateo. Madrid: BAC, 1950, v.1, p.213-214.
8) AUTOR INCERTO. Opus impeifectum in Matthceum. Homilia V, c.4, n.5: MG 56, 665.

9) SAO JERONIMO, op. cit., p.41.

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