Tríduo Pascal

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Evangelho – VI Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014 – Mt 5, 17-37

Comentário ao Evangelho – 6º Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014
 Evangelho Mt 5, 17-37
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 17 ‘Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. 18 Em verdade, Eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra.
19 Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino dos Céus. 20 Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus. 21 Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal’. 22 Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: ‘patife!’ será condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de ‘tolo’ será condenado ao fogo do inferno. 23 Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e aí te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24 deixa a tua oferta aí diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta. 25 Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal. Senão o adversário te entregará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de justiça, e tu serás jogado na prisão. 26 Em verdade Eu te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo.
27 Ouvistes o que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. 28 Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. 29 Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti! De fato, é melhor perder um de teus membros, do que todo o teu corpo ser jogado no inferno. 30 Se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perder um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno.
31 Foi dito também: ‘Quem se divorciar de sua mulher, dê-lhe uma certidão de divórcio’. 32 Eu, porém, vos digo: Todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por motivo de união irregular, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada comete adultério.
33 Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não jurarás falso’, mas ‘cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor’. 34 Eu, porém, vos digo: Não jureis de modo algum: nem pelo céu, porque é o trono de Deus; 35 nem pela terra, porque é o suporte onde apoia os seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do Grande Rei.
36 Não jures tampouco pela tua cabeça, porque tu não podes tornar branco ou preto um só fio de cabelo. 37 Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim’, e o vosso ‘não’: ‘Não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno’” (Mt 5, 17-37).



O verdadeiro cumprimento da Lei está no que dizem os fariseus?
A Liturgia deste domingo nos mostra que o Messias não veio abolir nem diminuir a Lei, mas sim dar-lhe pleno cumprimento. Ora, diz-nos São Paulo que ninguém se justifica pela prática da Lei, mas só pela fé em Jesus Cristo. Como resolver essa aparente contradição?

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

O pecado e a lei
No Paraíso Terrestre, o homem refletia de modo admirável o Criador na perfeita harmonia reinante entre Fé e razão, vontade e sensibilidade. A Fé iluminava o entendimento, e este governava uma vontade inteiramente equilibrada, contra a qual a concupiscência não se revoltava, pois no primeiro homem — ensina São Tomás — “a alma estava submetida a Deus, seguindo os preceitos divinos, e também a carne estava submetida em tudo à alma e à razão”.1
Gozavam ainda nossos primeiros pais do dom de integridade, pelo qual sua alma tendia ao mais elevado e tinha propensão para escolher o bem. A ausência de conflitos entre as diversas partes desse microuniverso chamado homem — mineral, vegetal, animal e espiritual — outorgava-lhe a felicidade e lhe proporcionava toda a facilidade para cumprir a Lei Natural.
Ora, com o pecado, Adão e Eva perderam esse dom, a harmonia na qual se encontravam, estabelecida graças à justiça original, foi destruída; e rompeu-se o domínio das faculdades espirituais sobre o corpo.2 A carne, afirma São Tomás de Aquino, “passou a ser desobediente à razão”,3 e cada uma das partes que compõem o homem quis fazer valer sua própria lei. A desordem introduziu-se em nosso interior.
Necessidade de preceitos claros e insofismáveis
Deus implantou na alma humana uma luz intelectual pela qual o homem conhece que o bem deve ser praticado e o mal, evitado. Essa luz — denominada sindérese pela Escolástica — não se apagou com o primeiro pecado, mas permanece em nossa alma. Conforme afirma o Concílio Vaticano II, o homem “tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus”,4 a Lei Natural.
E como nosso espírito é governado por uma lógica monolítica, não conseguimos praticar qualquer ação má sem procurar justificá-la de alguma maneira. Por isso, para poder pecar, o homem recorre a falsas razões que sufocam sua reta consciência e levam o entendimento a apresentar à vontade o objeto desejado como um bem. É essa a origem dos sofismas e doutrinas errôneas com os quais procuramos dissimular nossas más ações.
À vista disso, tornou-se indispensável — além do selo impresso por Deus no mais íntimo das nossas almas — a existência de preceitos concretos a lembrar-nos de forma clara e insofismável o conteúdo da Lei Natural.5 São eles os Dez Mandamentos entregues por Deus a Moisés no monte Sinai.6
Com efeito, de forma muito sintética, compendia o Decálogo as regras postas por Deus na alma humana. Deus “escreveu em tábuas” o que os homens “não conseguiam ler em seus corações”, afirma Santo Agostinho.7 E o fato de ter sido gravado em pedra — elemento firme, estável e duradouro — simboliza o caráter perene da sua vigência.
Os fariseus deturpam a Lei de Moisés
Face a toda norma jurídica, há sempre duas correntes: a dos laxistas que, em nome da “moderação”, justificam sua inobservância com todo gênero de ardis e racionalizações; e a dos exagerados, apreciadores da lei pela lei, abstraindo do seu verdadeiro espírito e do seu vínculo com o Legislador.
Na segunda categoria estavam os escribas e fariseus. Negligenciavam o cumprimento dos mais fundamentais preceitos do Decálogo, mas acrescentaram à Lei mosaica, ao longo dos tempos, numerosas obrigações e regras, levando sua prática a extremos ridículos. Ora, essa Lei, escreve Fillion, “deveria ser para os israelitas um privilégio, e não um fardo; entretanto, por obra dos fariseus e das numerosas prescrições coligidas por eles, pesava de modo opressivo sobre os ombros dos judeus”.8

Julgando-se os únicos donos da verdade, os Doutores da Lei serviram-se de sua autoridade para criar uma moral baseada nas exterioridades, enquanto o orgulho, a inveja, a ira e outros vícios borbulhavam sem freio em seus corações. Mereciam, portanto, a terrível censura de Nosso Senhor: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da Lei. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais o copo por fora, mas por dentro estais cheios de roubo e cobiça. Serpentes! Víboras que sois! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mt 23, 23.25.33).
Continua no próximo post.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16

Conclusão dos comentários ao Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16

Não tenhamos medo de praticar a virtude
16 ‘Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos Céus”.
Como lâmpadas a reluzir na escuridão, Nosso Senhor quer que os cristãos iluminem os homens com suas boas ações. Isto é, o bem precisa ser proclamado sem respeito humano e aos quatro ventos, num mundo que estadeia a luxúria e o ateísmo. Ao se encontrar em um ambiente hostil, o bom muitas vezes tende a se encolher, a se intimidar, quase se desculpando por não ser dos maus.., o que é absurdo! Pelo contrário, devem a verdade e o bem gozar de plena cidadania, onde quer que seja.
Contudo, caberia perguntar se tal recomendação não estaria em conflito com os conselhos de Nosso Senhor Jesus Cristo, transmitidos pouco mais adiante pelo próprio São Mateus: “Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles” (6, 1), e “que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita” (6, 3).
A resposta é simples: Jesus não quer que nossas boas obras sejam movidas por interesses mundanos ou por desejo de chamar a atenção, como acontecia aos fariseus, os quais faziam “todas as suas ações para serem vistos pelos homens” (Mt 23, 5) e mandavam tocar a trombeta quando davam alguma esmola. Ele pede de nós, isto sim, uma vida tão edificante que os homens se sintam impelidos a imitá-la, glorificando a Deus cuja face resplandece nos que Lhe são fiéis.
Acrescente-se a isso que o reluzimento do justo é fruto de sua união com Deus e da ação da graça, não dependendo, portanto, da vontade de cada pessoa.
“Sejam os cristãos no mundo aquilo que a alma é no corpo”.” Por isso, é necessário não ter receio de proclamar por toda parte a nossa Fé, a nossa vocação, a nossa determinação de seguir a Cristo. Expressivo nesse sentido é o célebre episódio da vida de São Francisco de Assis, ao convidar frei Leão para acompanhá-lo a uma pregação. Os dois simplesmente andaram pela cidade, imersos em sobrenatural recolhimento, e retornaram ao convento sem dizer uma palavra. Ao ser indagado acerca da pregação, o Santo respondeu ter ela sido realizada pelo fato de dois homens se mostrarem de hábito religioso pelas ruas, guardando a modéstia do olhar.12 É o apostolado do bom exemplo.
Se isso era válido para o século XIII, quanto mais o será para os nossos dias! Por tal razão, sentimo-nos nós, Arautos do Evangelho, motivados ao uso cotidiano de nosso característico hábito: envergando-o sem respeito humano e manifestando de forma pública nossa inteira adesão à Santa Igreja, pomos em prática o mandato de Jesus.
SE QUEREMOS SER SANTOS, DEVEMOS SER SAL E LUZ
Evangelho de hoje expressa com muita clareza a obrigação de cuidarmos de nossa vida espiritual não só pelo desejo da salvação pessoal. Sem dúvida, é mister abraçar a perfeição para contemplar o Criador face a face por toda a eternidade no Céu, o mais precioso dom que possamos obter; e precisamos ser virtuosos, porque o exige a glória de Deus, para tal fomos criados e disso prestaremos contas. Entretanto, Nosso Senhor nos quer santos também com vistas a sermos sai e luz para o mundo! Enquanto sai, devemos empenhar-nos em fazer bem aos demais, pois temos a responsabilidade de lhes tornar a vida aprazível, sustentando-os na fé e no propósito de honrar a Deus. São eles credores de nosso apoio colateral, como membros do Corpo Místico de Cristo. E seremos luz na medida em que nos santificarmos, pois ensina a Escritura: “O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado” (Mt 6, 22). Deste modo, nossa diligência, aplicação e zelo no cumprimento dos Mandamentos servirá ao próximo de referência, de orientação pelo exemplo, fazendo com que ele se beneficie das graças que recebemos. Assim, seremos acolhidos por Nosso Senhor, no dia do Juízo, com estas consoladoras palavras: “Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o fizestes!” (Mt 25, 40).
Pelo contrário, se sou orguihoso, egoísta ou vaidoso, se somente me preocupo em chamar a atenção sobre mim, significa que me converti num sal insosso que já não salga mais, e privo os outros de meu amparo; se sou preguiçoso, significa que apaguei a luz de Deus em minha alma e já não proporciono a iluminação que muitas pessoas necessitam para ver com clareza o caminho a seguir. E devo me preparar para ouvir a terrível condenação de Jesus: “Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer” (Mt 25, 45).
Em última análise, tanto o sal que não salga quanto a luz que não ilumina são o fruto da falta de integridade. O discípulo, para ser sal e para ser luz, deve ser um reflexo fiel do Absoluto, que é Deus, e, portanto, nunca ceder ao relativismo, vivendo na incoerência de ser chamado a representar a verdade e fazê-lo de forma ambígua e vacilante. Procedendo desta maneira, nosso testemunho de nada vale e nos tornamos sal que só serve “para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Quem convence é o discípulo íntegro que reflete em sua vida a luz trazida pelo Salvador dos homens.

Peçamos, pois, à Auxiliadora dos Cristãos que faça de cada um de nós verdadeiras tochas que ardem na autêntica caridade e iluminam para levar a luz de Cristo até os confins da Terra.
1) Cf. CLA DIAS, EP, João Scognamiglio. O início da vida pública. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. N.73 (Jan., 2008); p.10-17
2) Cf. FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. 2.ed. Madrid: BAC, 1954, 162-165; RENIE, SM, Jules-Edouard. Manuel d’Ecriture Sainte. Les Evangiles. 4.ed. Paris: Emmanuel Vitte, 1948, t.IV, p.207-209.
3) Cf. WILLAM, Franz Michel. A vida de Jesus no país e no povo de Israel. Petrópolis: Vozes, 1939, p.119-122.
4) BERTHE, CSsR, Augustin. Jesus Cristo, sua vida, sua Paixão, seu triunfo. Eiisiedehi: Benziger, 1925, p.112.
5) Idem, p.112-113.
6) Cf. CLA DIAS, EP, João Scognamiglio. Radical mudança de padrões no relacionamento divino e humano. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. N.109 (Jan., 2011); p.10-16;
7) BERTHE, op. cit., p.144.
8) CCE 1717.
9) Cf. RENIÉ, op. cit., p.208.
10) SANTO ANTÔNIO DE PADUA. Sermões Dominicajs. Pentecostes. Sermão In: Fontes franciscanas III. Biografias - Sermões. Braga: Franciscana. 1998, v.I, p.411.
11) CONCÍLIO VATICANO II. Lumen gentium, n.38.
12) Cf. SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. La dignidad y santidad sacertodal. La Selva. Sevilla: Apostolado Mariano, 2000, p.306.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16

Continuação dos comentários ao Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16
A graça: o sal da vida sobrenatural
13b “Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”.
Para bem compreendermos o que o Salvador nos quer ensinar com esta figura, podemos imaginar uma matéria neutra, semelhante à areia branca, finíssima, que ao ser objeto de um influxo passasse a ser sai. Ela salgaria porque transmitiria uma propriedade que não pertence à sua natureza, mas lhe foi infundida. Ora, se esse sai se tornasse insosso, voltaria a ser o que era antes, ou seja, areia!
De modo análogo, pelo Sacramento do Batismo, que nos confere a graça santificante, somos elevados da ordem natural à ordem sobrenatural e recebemos uma como que capacidade salífera para dar um novo sabor à existência e fazer bem aos outros. Todavia, o discípulo que perde a vida da graça e renuncia a ser “o sal da terra”, “não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”.
A luz do bom exemplo
14a “Vós sois a luz do mundo”.
Confiando-nos a missão de sermos “a luz do mundo”, Jesus nos convida exatamente a participar de sua própria missão, a mesma que fora proclamada pelo velho Simeão no Templo, quando, tomando o Menino Deus nos braços, profetizou que Ele seria “luz para iluminar as nações” (Lc 2, 32). Nosso Senhor veio trazer a luz da Boa-nova e do modelo de vida santa. A doutrina ilumina e indica o caminho, enquanto o exemplo edificante move a vontade a percorrê-lo.
Neste mundo imerso no caos e nas trevas, pela ignorância ou pelo desprezo dos princípios morais, os discípulos de Jesus devem, com o auxílio da graça e o bom exemplo, iluminar e orientar as pessoas, ajudando-as a reavivar a distinção entre o bem e o mal, a verdade e o erro, o belo e o feio, apontando o fim último da humanidade: a glória de Deus e a salvação das almas, que acarretará o gozo da visão beatífica.
Para que isso se concretize, a condição é sermos despndidos e admirativos de tudo o que no universo é reflexo das perfeições divinas, de modo a sempre procurarmos ver o Criador nas criaturas. Assim, nossas cogitações e nossas vias terão um brilho proveniente da graça. Expressiva figura dessa realidade espiritual nos é proporcionada pela lâmpada elétrica incandescente. O tungstênio é, em si, um elemento vil e de escassa utilidade. No entanto, perpassado pela corrente elétrica e em uma atmosfera na qual o ar foi substituído, ele ilumina como nenhum outro metal. A eletricidade representa a graçadivina, enquanto a debilidade do tungstênio bem simboliza o nosso nada. A necessidade de certo vácuo para a incandescência do filamento ressalta ainda mais como, para refletirmos a luz sobrenatural, precisamos reconhecer com alegria o nosso vazio, o nosso pouco mérito, as nossas limitações e faltas, e não opor nenhuma resistência à ação de Deus. Deste modo, como filamentos de tungstênio ligados à corrente da graça, poderemos ser transmissores da verdadeira luz para o mundo.
O pregador deve ser coerente
14b Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte”.
Relativamente próxima do monte das Bem-aventuranças se eleva a cidade de Safed, situada a cerca de mil metros de altitude.9 Supõe-se, então, que Jesus tenha feito alusão a ela nesta passagem, utilizando uma imagem familiar a todos os presentes. Ao mencionar a impossibilidade de permanecer oculta uma cidade com essas características, Nosso Senhor chama a atenção para a visibilidade de todas as ações do homem, a fortiori se ele recebeu uma missão especial de Deus: “fomos entregues em espetáculo ao mundo, aos Anjos e aos homens” (I Cor 4, 9). Nesse sentido, nada no agir humano é neutro, e tudo o que fazemos repercute no universo em benefício ou prejuízo das demais criaturas. Por conseguinte, temos a obrigação de irradiar o bem, pela palavra e pela vida.
Em virtude disso, Santo Antônio de Pádua afirma ser indispensável para o pregador viver o que prega: “A linguagem é viva, quando falam as obras. Cessem, por favor, as palavras; falem as obras. Estamos cheios de palavras, mas vazios de obras, e, por isso, somos amaldiçoados pelo Senhor. Ele mesmo amaldiçoou a figueira em que não encontrou fruto, mas somente fothas. Ao pregador foi dada a lei, escreve São Gregório, de realizar aquilo que prega. Em vão se gaba do conhecimento da lei quem destrói com as obras a doutrina”.10
A luz deve brilhar para todos
15 “Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim, num candeeiro, onde eia brilha para todos os que estão na casa”.

Postas em lugar alto para melhor difusão da luz, as lâmpadas de azeite, naquela época, eram em geral feitas de argila, sendo dotadas de dois orifícios: um para o azeite e outro para o pavio. A linguagem do Divino Mestre, como sempre, é ao mesmo tempo simples e muito cogente, e o exemplo não poderia ser mais significativo, pois só um insensato ocultaria uma lâmpada acesa debaixo de um alqueire — vasilha para medir cereais — ou de uma cama (cf. Mc 4, 21; Lc 8, 16), onde, além de ser totalmente inútil, correria o risco de provocar um incêndio.
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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16

Continuação dos comentários ao Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014 - Mt 5, 13-16
A Carta Magna do Reino de Deus
Na área abarcada pela pregação de Jesus se levanta uma colina verdejante. Ele, “vendo as multidões” (Mt 5, 1) que tinham chegado de toda parte à sua procura, subiu a essa montanha e pronunciou seu mais sublime sermão, síntese de todos os seus ensinamentos.
Como tivemos oportunidade de considerar em outras ocasiões,6 já era chegado o momento de expor sua doutrina e indicar aos discípulos o caminho da salvação. Assim, contradizendo de modo frontal as máximas e os costumes vigentes em sua época, nas oito Bem-aventuranças o Divino Mestre prega “aos avarentos a pobreza, aos orgulhosos a humildade, aos voluptuosos a castidade, aos homens do ócio e do prazer o trabalho e as lágrimas da penitência, aos invejosos a caridade, aos vingativos a misericórdia e aos perseguidos as alegrias do martírio”.7
Não sem razão receberam estas Bem-aventuranças o título de “Carta Magna do Reino de Deus”. Segundo explica o Catecismo da Igreja Católica, elas “traçam a imagem de Cristo e descrevem sua caridade; exprimem a vocação dos fiéis associados à glória de sua Paixão e Ressurreição; iluminam as ações e atitudes características da vida cristã; são promessas paradoxais que sustentam a esperança nas tribulações; anunciam as bênçãos e recompensas já obscuramente adquiridas pelos discípulos; são iniciadas na vida da Virgem Maria e de todos os Santos”.8
As características da missão dos discípulos
O simples enunciado das Bem-aventuranças pressagiava uma renovação do mundo, o advento de uma nova civilização, de uma humanidade libertada do paganismo. Enfim, algo que a História ainda não conhecera. Não nos esqueçamos de que em geral vigorava a escravidão e a lei de talião — olho por olho, dente por dente —, que hoje nos causa horror, mas que na Antiguidade representou uma mitigação da violência arraigada na sociedade em que prevalecia sempre o mais forte e a vingança desapiedada, era prática comum.
Logo depois de proclamá-las solenemente, Jesus vai Se dirigir sobretudo aos Apóstolos e discípulos, utilizando uma linguagem muito expressiva para lhes indicar as qualidades necessárias ao cumprimento de sua missão. E o faz diante de todos, de modo a tornar manifesta a obrigação daqueles mais chamados a guiar, ensinar e santificar os fiéis.
O sal do convívio humano
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 13a “Vós sois o sal da terra”.
Foi o sal sempre muito apreciado e valorizado pela humanidade, por ser bom conservante dos alimentos e por realçar o seu sabor. No Império Romano o pagamento aos soldados era feito com ele ou também se destinava uma quantia em dinheiro para sua aquisição, originando o termo salário. O elevado grau de salinidade do Mar Morto facilitou o uso frequente de tal condimento na Palestina, desde tempos imemoriais Havia no Templo, inclusive, um depósito no qual se guardava o sal a ser empregado nas diversas cerimônias, uma vez que no Antigo Testamento não se oferecia a Deus animal algum sem antes temperá-lo com sal (cf. Lv 2, 13; Ez 43, 24), que também era usado na preparação dos perfumes litúrgicos (cf. Ex 30, 35).

Ao afirmar: “Vós sois o sal da terra”, Nosso Senhor declara que seus discípulos — ou seja, todos os batizados — devem enriquecer o mundo propiciando um novo sabor ao convívio humano, evitando a brutalidade e a corrupção dos costumes.
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