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segunda-feira, 20 de junho de 2011

O PAI NOSSO

Estando Ele a fazer oração em certo lugar, quando acabou, um dos seus discípulos disse-Lhe: “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos”.
Tal qual afirma São Cirilo (4), Jesus demonstra o quanto Lhe é própria a oração e com isso nos ensina como não devemos exercitá-la com preguiça, mas sim com toda piedade e atenção. Entre os discípulos de Jesus, estavam alguns que o haviam sido também de João. Por esta narração de São Lucas, percebe-se o grande valor atribuído por eles às ações do Mestre, reforçado pelo comportamento de seu Precursor a esse respeito. Fundamental é o papel do exemplo. Da admiração a um e a outro nasceu na alma dos discípulos o desejo de bem rezar. Quão grande é a responsabilidade dos que ensinam! Mais eficaz se torna a palavra saída dos lábios de quem é modelo vivo de sua própria didática, pois não basta saber explicar, sobretudo é preciso ser.
Ele respondeu-lhes: “Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino.
São Mateus nos transmite uma forma mais extensa para esta oração dominical (Mt 6, 9-13), criando para alguns autores um problema de critério: seriam duas maneiras diferentes de rezá-la ou uma só? Para uns, a original é a de Lucas e, neste caso, Mateus a teria ampliado. Para outros, ter-se-ia dado o inverso, ou seja, Lucas julgou melhor sintetizá-la. Analise-se como quiser, é compreensível que, por seu caráter pedagógico, muito provavelmente Jesus a tivesse repetido várias vezes, sobretudo por ter querido deixarnos um modelo perfeito de oração.
Se bem não haja o menor inconveniente em nos utilizarmos de longas orações, quis Jesus conceder-nos uma fórmula breve e universal, contendo logo de início um louvor a Deus que d’Ele aproxima quem reza, a fim de tornar solícita a audição das petições a serem feitas. Pela introdução da Oração Dominical nos é fácil perceber o quanto Deus é também sensível a uma “diplomacia” religiosa. Desejar a santificação do nome de Deus, não é senão querer que todos os homens O conheçam, adorem e sirvam com perfeição. E trata-se aqui de um nome sobre todos os nomes: “Pai”.
É de se notar a diferença de significado desta palavra “Pai”, entre o Antigo e o Novo Testamento. Até então, a referência à paternidade de Deus era um tanto metafórica, considerando-O como o Criador e com vistas a realçar sua providência sobre o povo judeu. A partir da Encarnação, esse termo revestiu-se de uma realidade profundíssima, quer pela natureza humana de Jesus, quer pela divina. E também no que toca a nós, batizados, pois, como afirma São João, somos filhos de Deus, “e realmente o somos” (1 Jo 3, 1). Por isso Nosso Senhor usava a expressão “meu Pai” — nesta oração, somente “Pai” na versão de São Lucas, ou “Pai nosso”, segundo São Mateus — com relação à verdadeira paternidade de Deus e filiação divina de todos os batizados. E o próprio Jesus nos advertiu: “ ninguém chameis A pai sobre a terra, porque um só é o vosso Pai, Aquele que está nos Céus” (Mt 23, 9).
Ora, o Batismo não só imprime em nossas almas o caráter de cristão e nos faz reais filhos de Deus pela graça, mas também nos introduz no reino de Deus, cuja plena participação de corpo e alma gloriosos se dará após o Juízo Final: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25, 34). Assim, o que era metáfora no Antigo Testamento tornou-se realidade com a Redenção.
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje;
Muitos autores do passado, em especial os Padres da Igreja, consideravam ser esta petição relativa à Eucaristia; hoje, porém, sem negar essa interpretação, admite-se ser ela mais especialmente voltada para se obter o alimento material.
perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todos os que nos ofendem; e não nos deixes cair em tentação.”
Comentando este versículo, São João Crisóstomo nos põe diante de uma situação inegável: “Conhecendo nós isto, devemos dar graças a nossos devedores, porque são para nós (se sabemos conhecê-lo assim) a causa de nosso maior perdão, e dando pouco, alcançamos muito; porque nós temos muitas e grandes dívidas para com Deus, e estaríamos perdidos se Ele nos pedisse uma pequena parte delas”.
Sobre as tentações, pondera Orígenes: “Deus não quer impor o bem, Ele quer seres livres.
.. Para alguma coisa a tentação serve. Todos, com exceção de Deus, ignoram o que nossa alma recebeu de Deus, até nós mesmos. Mas a tentação o manifesta, para nos ensinar a conhecer-nos e, com isso, descobrir-nos na miséria e nos obrigar a dar graças pelos bens que a tentação nos manifestou”.

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