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quinta-feira, 14 de maio de 2015

EVANGELHO – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR - Mc 16, 15-20 - ANO B

CONCLUSÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR -  Mc 16, 15-20 - ANO B

Chamados a ser modelo para o próximo
A Solenidade da Ascensão nos coloca diante da responsabilidade recebida no dia do Batismo: a de sermos verdadeiros apóstolos, pois não somos criaturas independentes da ordem do universo, mas “fomos entregues em espetáculo ao mundo, aos Anjos e aos homens” (I Cor 4, 9). Vivemos em sociedade, num relacionamento constante com outras pessoas, com a nossa família e amigos, no ambiente de trabalho e onde nos movemos. Por isso, tanto no lar como numa comunidade religiosa, acompanha-nos a obrigação seríssima, sublime e grandiosa de sermos modelo para os outros. Cada um é chamado a representar algo de Deus que não cabe a nenhuma outra criatura, seja ela Anjo ou homem. Pregar o Evangelho não é só ensinar, é também dar bom exemplo, muito mais eloquente do que qualquer palavra. Na vida religiosa ou no seio da família, todos devem procurar vencer suas más inclinações e edificar o próximo, buscando sua santificação.
Assim como São Paulo desejava despertar nos efésios a esperança de um dia atingirem a glória, a Igreja, através da Liturgia, quer que sintamos no fundo da alma o que Deus preparou para gozarmos na eternidade, conquistado por Nosso Senhor Jesus Cristo no dia da Ascensão. De que valem as aflições terrenas sobre coisas transitórias? De que vale gozar os prazeres que o mundo pode oferecer? Acumular honras, aplausos, benefícios, e ao chegar a hora de partir deixar tudo, e apresentarmo-nos com as mãos vazias diante de Deus? Aproveitemos esta Solenidade para firmar o propósito de abandonar todo e qualquer apego ao pecado que nos afaste deste objetivo e nos tire “a esperança que o seu chamamento vos dá, [...] a riqueza da glória que está na vossa herança com os Santos”. A este respeito, convém recordar o conselho de Santo Agostinho: “Pensa em Cristo sentado à direita do Pai; pensa que virá para julgar os vivos e os mortos. É o que indica a fé; a fé se radica na mente, a fé está nos alicerces do coração. Olha para quem morreu por ti; olha-O quando ascende e ama-O quando sofre; olha-O ascender e aferra-te a Ele em sua Morte. Tens uma garantia de tão grande promessa feita por Cristo: o que Ele fez hoje — a sua Ascensão — é uma promessa para ti. Devemos ter a esperança de que ressuscitaremos e ascenderemos ao Reino de Deus, e ali estaremos para sempre com Ele, numa vida sem fim, alegrando-nos sem nenhuma tristeza e vivendo sem qualquer enfermidade”.14
Que a fé e a esperança alimentem a nossa alma no árduo caminho do cristão de nossos dias, e com esta chama sempre acesa enfrentaremos as adversidades. O mandato de evangelizar nos convida a subir misticamente com Nosso Senhor à Pátria Eterna, para onde iremos em corpo e alma depois da ressurreição. Peçamos por meio d’Aquela que foi assunta aos Céus, Maria Santíssima, que sejamos para lá conduzidos, celebrando exultantes este mistério.
1 Cf. DAL GAL, OFMCap, Girolamo. Beato Pio X, Papa. Padova: Il Messaggero di S. Antonio, 1951, p.402.
2 GONZÁLEZ ARINTERO, OP, Juan. Evolución mística. Salamanca: San Esteban, 1989, p.4142.
3 TURRADO, Lorenzo. Biblia Comentada. Hechos de los Apóstoles y Epístolas paulinas. Madrid: BAC, 1965, v.VI, p.569.
4 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.57, a.2.
5 Cf. Idem, q.52, a.4, ad 1; a.5, ad 3.
6 Cf. Idem, q.57, a.6.
7 SANTO AGOSTINHO. De Civitate Dei. L.XXII, c.1, n.2. In: Obras. Madrid: BAC, 1958, v.XVI-XVII, p.1627.
8 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.57, a.6.
9 SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR. Oração do Dia. In: MISSAL ROMANO. Trad. Portuguesa da 2a. edição típica para o Brasil realizada e publicada pela CNBB com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. 9.ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.313.
10 Para outros comentários acerca deste tema, ver: CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. A Ascensão do Senhor. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. N.65 (Maio, 2007); p.12-19; Comentário ao Evangelho da Solenidade da Ascensão – Anos A e C, respectivamente nos Volumes I e V da coleção O inédito sobre os Evangelhos.
11 Cf. MARIA DE JESUS DE ÁGREDA. Mística Ciudad de Dios. Vida de María. P.II, l.VI, c.28, n.1496. Madrid: Fareso, 1992, p.1088; BEATA ANA CATARINA EMMERICK. Visiones y revelaciones completas. Visiones del Antiguo Testamento. Visiones de la vida de Jesucristo y de su Madre Santísima. Buenos Aires: Guadalupe, 1954, t.IV, p.242.
12 SANTO AGOSTINHO. Sermo CCLXV/F, n.3. In: Obras. Madrid: BAC, 1983, v.XXIV, p.720.
13 BENTO XVI. Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição. São Paulo: Planeta, 2011, p.257.

14 SANTO AGOSTINHO. Sermo CCLXV/C, n.2. In: Obras, op. cit., v.XXIV, p.704.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

EVANGELHO – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR - Mc 16, 15-20 - ANO B

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR -  Mc 16, 15-20 - ANO B

Nossa esperança se fundamenta no poder de Deus
A esperança! Esta virtude teologal nos faz possuir, por antecipação, as maravilhas inimagináveis que receberemos em plenitude no fim do estado de prova e para as quais o Apóstolo aponta em sua carta.
Deus nos predestinou à salvação desde toda a eternidade e, antes mesmo de sermos criados, já havia determinado a via de santificação de cada um, antegozando o momento em que nasceríamos e começaríamos a trilhá-la. Alimentando nossa esperança em meio às dores da vida, Ele age conosco como alguém que, tendo construído um palácio para nós em local de difícil acesso, nos conduz a ele por um caminho no meio de um matagal, cheio de espinheiros e charcos próprios a causar apreensão. E anseia por nos levar quanto antes até uma clareira de onde possa mostrar, à distância, o edifício, a fim de nos encorajar a continuar o caminho.
Mais adiante, menciona São Paulo o “imenso poder que Ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com sua ação e força onipotente” (Ef 1, 19). Com efeito, se a salvação estivesse sujeita aos nossos esforços nós não iríamos para o Céu, como mostra o episódio do moço rico que, ao ser chamado por Nosso Senhor, negou-se a abandonar tudo para segui-Lo, o que levou Jesus a dizer: “É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus” (Mc 10, 25). A afirmação surpreendeu os Apóstolos, que “se admiravam, dizendo a si próprios: ‘Quem pode então salvar-se?’. Olhando Jesus para eles, disse: ‘Aos homens isso é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível’” (Mc 10, 26-27). Sim, graças ao seu poder progredimos nas veredas da perfeição e, sobretudo, perseveramos até o término de nossa peregrinação terrena. Eis a principal razão que deve nos mover a depositar n’Ele toda a nossa esperança. Entretanto, haverá alguma garantia de que ela será recompensada?

segunda-feira, 11 de maio de 2015

EVANGELHO – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR - Mc 16, 15-20 - ANO B

COMENTÁRIO AO EVANGELHO – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR
Naquele tempo, Jesus Se manifestou aos onze discípulos, 15 e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! 16 Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17 Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18 se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. 19 Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao Céu, e sentou-Se à direita de Deus. 20 Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam (Mc 16, 15-20)
Subiremos ao Céu em virtude da Ascensão!
A Ascensão de Jesus nos dá a certeza de que teremos o mesmo destino se seguirmos o mandato que Ele nos deu neste dia.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
 I – A MISSÃO DE TRANSMITIR O INTRANSMISSÍVEL...
O Papa São Pio X, mesmo em meio às inúmeras ocupações inerentes à sua condição de Pastor Universal da Santa Igreja, empenhava-se em dar aulas de catecismo, todas as semanas, a crianças das paróquias de Roma que se preparavam para a Primeira Comunhão, das quais participavam também incontáveis fiéis.1 E afirmava algo impressionante: para lecionar uma hora de catecismo são necessárias duas de estudo. De modo análogo, um bom pregador, incumbido de dirigir exercícios espirituais pelo período de cinco dias, precisa dedicar cerca de quinze para organizá-los, selecionar matéria adequada e se adaptar à psicologia do público, a fim de obter os frutos desejados. Idêntico processo compete a professores, conferencistas e todos os que têm a missão de ensinar, dado que o princípio geral é invariável: sempre que nos cabe formar outros, devemos aprender muito além do que vamos transmitir e nos embebermos de seu conteúdo.
Foi o que sucedeu aos Apóstolos: Deus os escolheu para serem testemunhas e difusores do Evangelho no mundo inteiro, e para isso era indispensável que se tornassem profundos conhecedores de tudo quanto haviam sido chamados a comunicar. No entanto, o que escreveram ou disseram era uma porcentagem ínfima em comparação com o que viram e viveram.
O fogo do Apóstolo: fruto da experiência mística
Exemplo cogente disto é a figura de São Paulo. De onde hauriu ele tudo quanto declara em suas densas cartas? Em primeiro lugar, recebeu uma graça de conversão — aquela que produz os efeitos para o que foi criada (cf. At 9, 1-19; 22, 4-16; 26, 10-18; Gal 1, 13-17). Ia ele capturar cristãos na região de Damasco quando, ainda a caminho, Nosso Senhor o fez “cair do cavalo” e perguntou: “‘Saulo, Saulo, por que Me persegues?’. Saulo disse: ‘Quem és, Senhor?’. Respondeu Ele: ‘Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro te é recalcitrar contra o aguilhão’. Então, trêmulo e atônito, disse ele: ‘Senhor, que queres que eu faça?’” (At 9, 4-6). Nesta hora foi-lhe concedido o dom da fé, para crer na voz que o interpelava; caso contrário, teria se levantado arrogante, desafiando a Deus.
A partir daí, o Divino Mestre trabalhou a fundo sua alma e começou a prepará-lo para ser o propagador do Evangelho por excelência. O retiro feito por ele no deserto da Arábia (cf. Gal 1, 17-18) teve enorme papel nesta transformação, pois ao longo deste período, segundo revelações particulares, gozou da companhia do Homem-Deus em Corpo glorioso.
E quiçá mais assinalável tenha sido o êxtase no qual São Paulo, sendo arrebatado ao terceiro Céu, “ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir” (II Cor 12, 4). Tais prerrogativas levaram-no a empreender um anúncio da Boa-nova mais eficaz que o dos Doze (cf. I Cor 15, 10). Poderíamos comparar a pregação do Apóstolo à situação de alguém que fosse contar às pessoas de uma civilização hipotética existente debaixo da terra o que se passa à luz do Sol. Neste caso talvez houvesse certa proporção entre um mundo e outro, mas o que foi dado a São Paulo vislumbrar está tão acima daquilo que conhecemos, que ele apenas conseguiu dizer: “os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (I Cor 2, 9).
Semelhante dificuldade enfrentam os que, contemplados com graças místicas que lhes fazem sentir em seu interior quem é Deus, não encontram termos adequados no vocabulário humano para explicar sua experiência: “A razão humana desfalece ante tão incompreensíveis mistérios, mas os corações iluminados sentem e experimentam, já nesta vida, tal realidade inefável que não pode caber em palavras nem em conceitos e, menos ainda, em sistemas humanos. O que estas almas conseguem balbuciar desconcerta as nossas débeis apreciações: elas multiplicam os termos que parecem mais exagerados, sem ainda estar satisfeitas com isso, pois sempre veem que ficam aquém, que a realidade é incomparavelmente maior de quanto possa ser dito”.2
O segredo da profundidade dos escritos paulinos

A Epístola aos Efésios — da qual a Liturgia recolhe um trecho para uma das opções de segunda leitura (Ef 1, 17-23) — é ilustrativa neste sentido. Mais que uma missiva, ela é quase um tratado no qual São Paulo se empenha em transmitir o que lhe foi manifestado a respeito de Nosso Senhor e da glória eterna que nos está reservada. Suas afirmações demonstram de sobejo que ele viu mais do que aquilo que escreveu: “O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-Lo revele e faça verdadeiramente conhecer” (Ef 1, 17). São Paulo deseja instruir sobre algo, que a tal ponto foge aos interesses humanos, materiais e imediatos, que sem o espírito da sabedoria de Deus não pode ser assimilado. Afinal, como é possível discorrer sobre o que ninguém vê? De que maneira tratar de uma realidade acima de toda e qualquer cogitação humana? Como falar daquilo que depende de um fenômeno místico? Para entender é preciso uma revelação vinda do Céu, e é a isto que ele se refere, como indica a construção de sua frase em grego: “os dois genitivos ‘de sabedoria e de revelação’ [...], dependentes do substantivo ‘espírito’, se complementam mutuamente e aqui significam um conhecimento íntimo e profundo de Deus e de seus planos de salvação, ao qual o homem, por suas próprias forças, não pode chegar”.3 Por este motivo insiste, pedindo a Nosso Senhor que “abra o vosso coração à sua luz para que saibais qual é a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os Santos” (Ef 1, 18).
Continua no próximo post

domingo, 10 de maio de 2015

EVANGELHO – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR - Mc 16, 15-20 - ANO B

COMENTÁRIO AO EVANGELHO – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

Naquele tempo, Jesus Se manifestou aos onze discípulos, 15 e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! 16 Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17 Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18 se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. 19 Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao Céu, e sentou-Se à direita de Deus. 20 Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam (Mc 16, 15-20)
Subiremos ao Céu em virtude da Ascensão!
A Ascensão de Jesus nos dá a certeza de que teremos o mesmo destino se seguirmos o mandato que Ele nos deu neste dia.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

I – A MISSÃO DE TRANSMITIR O INTRANSMISSÍVEL...
O Papa São Pio X, mesmo em meio às inúmeras ocupações inerentes à sua condição de Pastor Universal da Santa Igreja, empenhava-se em dar aulas de catecismo, todas as semanas, a crianças das paróquias de Roma que se preparavam para a Primeira Comunhão, das quais participavam também incontáveis fiéis.1 E afirmava algo impressionante: para lecionar uma hora de catecismo são necessárias duas de estudo. De modo análogo, um bom pregador, incumbido de dirigir exercícios espirituais pelo período de cinco dias, precisa dedicar cerca de quinze para organizá-los, selecionar matéria adequada e se adaptar à psicologia do público, a fim de obter os frutos desejados. Idêntico processo compete a professores, conferencistas e todos os que têm a missão de ensinar, dado que o princípio geral é invariável: sempre que nos cabe formar outros, devemos aprender muito além do que vamos transmitir e nos embebermos de seu conteúdo.
Foi o que sucedeu aos Apóstolos: Deus os escolheu para serem testemunhas e difusores do Evangelho no mundo inteiro, e para isso era indispensável que se tornassem profundos conhecedores de tudo quanto haviam sido chamados a comunicar. No entanto, o que escreveram ou disseram era uma porcentagem ínfima em comparação com o que viram e viveram.
O fogo do Apóstolo: fruto da experiência mística
Exemplo cogente disto é a figura de São Paulo. De onde hauriu ele tudo quanto declara em suas densas cartas? Em primeiro lugar, recebeu uma graça de conversão — aquela que produz os efeitos para o que foi criada (cf. At 9, 1-19; 22, 4-16; 26, 10-18; Gal 1, 13-17). Ia ele capturar cristãos na região de Damasco quando, ainda a caminho, Nosso Senhor o fez “cair do cavalo” e perguntou: “‘Saulo, Saulo, por que Me persegues?’. Saulo disse: ‘Quem és, Senhor?’. Respondeu Ele: ‘Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro te é recalcitrar contra o aguilhão’. Então, trêmulo e atônito, disse ele: ‘Senhor, que queres que eu faça?’” (At 9, 4-6). Nesta hora foi-lhe concedido o dom da fé, para crer na voz que o interpelava; caso contrário, teria se levantado arrogante, desafiando a Deus.

Evangelho – VI Domingo de Páscoa – Jo 15, 9-17 – Ano B

Comentário ao Evangelho – VI Domingo de Páscoa –  Jo 15, 9-17 – Ano B
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 9 Como meu Pai me amou, assim também Eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10 Se guardardes os meus Mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu guardei os Mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor.
11 E Eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. 12 Este é o meu Mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei. 13 Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. 14 Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. 15 Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.
16 Não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá. 17 Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros” (Jo 15, 9-17).
A medida, infinita, do nosso amor ao próximo
Fácil é relembrar, mas nem sempre o é cumprir, o mandato evangélico de amar o próximo como a si mesmo. Pouco antes de sua Paixão, Nosso Senhor traçou os vastos limites da caridade que devemos ter uns pelos outros.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I– A iniciativa parte sempre de Deus
Se tivéssemos uma noção do amor que o Criador tem por cada um de nós, talvez fôssemos capazes de avaliar com exatidão a medida com que devemos amá-Lo. Mas, sendo Deus a Humildade em substância, Ele frequentemente não mostra a mão quando intervém nos acontecimentos, para nos converter ou nos sustentar na fé. Deste modo, corremos o risco de formar uma ideia muito irreal da solicitude divina em relação a nós.
Somos, por exemplo, católicos, apostólicos e romanos, e pensamos ter sido nossa adesão à Religião verdadeira fruto de uma decisão motivada pela superioridade desta sobre as outras crenças. Ou seja, julgamos termos sido nós mesmos os que escolhemos a Deus, quando, pelas nossas próprias forças, jamais seríamos capazes nem sequer de praticar de forma estável os Dez Mandamentos.
No referente à nossa conversão, é sempre o Criador quem toma a iniciativa. Foi Ele que nos criou, Ele que nos escolheu para fazermos parte da Igreja e é Ele quem nos dá as graças indispensáveis para segui-Lo. Desde toda a eternidade, manifestou uma predileção gratuita por cada um de nós ao nos escolher entre as infinitas possibilidades de criaturas humanas que existem no divino Intelecto. E, podendo nos ter destinado a uma felicidade puramente natural, quis que as criaturas inteligentes participassem de sua própria vida, como bem põe em realce o Pe. Arintero: “Por um prodígio de amor que jamais poderemos devidamente admirar, e muito menos agradecer, dignou-Se sobrenaturalizar-nos desde o princípio, elevando-nos nada menos do que à sua própria categoria, fazendo-nos participar de sua vida, de sua infinita virtude, de suas peculiares ações e de sua eterna felicidade: quis que fôssemos deuses”.1