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segunda-feira, 11 de maio de 2015

EVANGELHO – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR - Mc 16, 15-20 - ANO B

COMENTÁRIO AO EVANGELHO – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR
Naquele tempo, Jesus Se manifestou aos onze discípulos, 15 e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! 16 Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17 Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18 se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. 19 Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao Céu, e sentou-Se à direita de Deus. 20 Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam (Mc 16, 15-20)
Subiremos ao Céu em virtude da Ascensão!
A Ascensão de Jesus nos dá a certeza de que teremos o mesmo destino se seguirmos o mandato que Ele nos deu neste dia.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
 I – A MISSÃO DE TRANSMITIR O INTRANSMISSÍVEL...
O Papa São Pio X, mesmo em meio às inúmeras ocupações inerentes à sua condição de Pastor Universal da Santa Igreja, empenhava-se em dar aulas de catecismo, todas as semanas, a crianças das paróquias de Roma que se preparavam para a Primeira Comunhão, das quais participavam também incontáveis fiéis.1 E afirmava algo impressionante: para lecionar uma hora de catecismo são necessárias duas de estudo. De modo análogo, um bom pregador, incumbido de dirigir exercícios espirituais pelo período de cinco dias, precisa dedicar cerca de quinze para organizá-los, selecionar matéria adequada e se adaptar à psicologia do público, a fim de obter os frutos desejados. Idêntico processo compete a professores, conferencistas e todos os que têm a missão de ensinar, dado que o princípio geral é invariável: sempre que nos cabe formar outros, devemos aprender muito além do que vamos transmitir e nos embebermos de seu conteúdo.
Foi o que sucedeu aos Apóstolos: Deus os escolheu para serem testemunhas e difusores do Evangelho no mundo inteiro, e para isso era indispensável que se tornassem profundos conhecedores de tudo quanto haviam sido chamados a comunicar. No entanto, o que escreveram ou disseram era uma porcentagem ínfima em comparação com o que viram e viveram.
O fogo do Apóstolo: fruto da experiência mística
Exemplo cogente disto é a figura de São Paulo. De onde hauriu ele tudo quanto declara em suas densas cartas? Em primeiro lugar, recebeu uma graça de conversão — aquela que produz os efeitos para o que foi criada (cf. At 9, 1-19; 22, 4-16; 26, 10-18; Gal 1, 13-17). Ia ele capturar cristãos na região de Damasco quando, ainda a caminho, Nosso Senhor o fez “cair do cavalo” e perguntou: “‘Saulo, Saulo, por que Me persegues?’. Saulo disse: ‘Quem és, Senhor?’. Respondeu Ele: ‘Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro te é recalcitrar contra o aguilhão’. Então, trêmulo e atônito, disse ele: ‘Senhor, que queres que eu faça?’” (At 9, 4-6). Nesta hora foi-lhe concedido o dom da fé, para crer na voz que o interpelava; caso contrário, teria se levantado arrogante, desafiando a Deus.
A partir daí, o Divino Mestre trabalhou a fundo sua alma e começou a prepará-lo para ser o propagador do Evangelho por excelência. O retiro feito por ele no deserto da Arábia (cf. Gal 1, 17-18) teve enorme papel nesta transformação, pois ao longo deste período, segundo revelações particulares, gozou da companhia do Homem-Deus em Corpo glorioso.
E quiçá mais assinalável tenha sido o êxtase no qual São Paulo, sendo arrebatado ao terceiro Céu, “ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir” (II Cor 12, 4). Tais prerrogativas levaram-no a empreender um anúncio da Boa-nova mais eficaz que o dos Doze (cf. I Cor 15, 10). Poderíamos comparar a pregação do Apóstolo à situação de alguém que fosse contar às pessoas de uma civilização hipotética existente debaixo da terra o que se passa à luz do Sol. Neste caso talvez houvesse certa proporção entre um mundo e outro, mas o que foi dado a São Paulo vislumbrar está tão acima daquilo que conhecemos, que ele apenas conseguiu dizer: “os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (I Cor 2, 9).
Semelhante dificuldade enfrentam os que, contemplados com graças místicas que lhes fazem sentir em seu interior quem é Deus, não encontram termos adequados no vocabulário humano para explicar sua experiência: “A razão humana desfalece ante tão incompreensíveis mistérios, mas os corações iluminados sentem e experimentam, já nesta vida, tal realidade inefável que não pode caber em palavras nem em conceitos e, menos ainda, em sistemas humanos. O que estas almas conseguem balbuciar desconcerta as nossas débeis apreciações: elas multiplicam os termos que parecem mais exagerados, sem ainda estar satisfeitas com isso, pois sempre veem que ficam aquém, que a realidade é incomparavelmente maior de quanto possa ser dito”.2
O segredo da profundidade dos escritos paulinos

A Epístola aos Efésios — da qual a Liturgia recolhe um trecho para uma das opções de segunda leitura (Ef 1, 17-23) — é ilustrativa neste sentido. Mais que uma missiva, ela é quase um tratado no qual São Paulo se empenha em transmitir o que lhe foi manifestado a respeito de Nosso Senhor e da glória eterna que nos está reservada. Suas afirmações demonstram de sobejo que ele viu mais do que aquilo que escreveu: “O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-Lo revele e faça verdadeiramente conhecer” (Ef 1, 17). São Paulo deseja instruir sobre algo, que a tal ponto foge aos interesses humanos, materiais e imediatos, que sem o espírito da sabedoria de Deus não pode ser assimilado. Afinal, como é possível discorrer sobre o que ninguém vê? De que maneira tratar de uma realidade acima de toda e qualquer cogitação humana? Como falar daquilo que depende de um fenômeno místico? Para entender é preciso uma revelação vinda do Céu, e é a isto que ele se refere, como indica a construção de sua frase em grego: “os dois genitivos ‘de sabedoria e de revelação’ [...], dependentes do substantivo ‘espírito’, se complementam mutuamente e aqui significam um conhecimento íntimo e profundo de Deus e de seus planos de salvação, ao qual o homem, por suas próprias forças, não pode chegar”.3 Por este motivo insiste, pedindo a Nosso Senhor que “abra o vosso coração à sua luz para que saibais qual é a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os Santos” (Ef 1, 18).
Continua no próximo post

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