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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Considerações sobre a Eucaristia

Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia.
Este versículo especifica o tipo de vida dado a quem comer a carne e beber o sangue de Cristo; trata-se nada mais nada menos que da visão beatífica.
Incorporados a Cristo pelo Batismo, necessitamos ser alimentados por seu sangue e por sua carne para desenvolver, rumo à plenitude, nossa vida divina — e, portanto, eterna.
Por sua vez, poderia parecer estar prometendo Jesus a imortalidade para quem comesse sua carne e bebesse seu sangue, e daí o acrescentar: “Eu o ressuscitarei no último dia”.
Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida.
Vê-se aqui o empenho de São João em evitar a menor dúvida sobre a presença real do corpo, sangue, alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. Sempre imbuído de uma chamejante virtude da fé, desejava ele entregar aos séculos futuros seu inconteste depoimento do que ouvira sobre o mais importante dos Sacramentos. Daí o repetir um conceito já enunciado.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e Eu nele.
Em nossa vida humana, o alimento é essencial para nosso crescimento, manutenção e saúde. Deus assim o dispôs para, entre outras razões, dar ao nosso entendimento um símbolo dos efeitos da Eucaristia. Produz esta na alma de quem a recebe algo análogo à assimilação do alimento pelo organismo humano. Não através de uma simples permanência física, mas por meio de um relacionamento íntimo e uma união estreitíssima. Ao longo do Evangelho de São João, encontramos várias referências de Jesus a essa permanência mútua.
Assim como o Pai que me enviou vive em mim, e Eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim.
O próprio autor e fonte da vida se entrega a nós como alimento para nos sustentar. Seu corpo, sangue, alma e divindade, como verdadeira comida e bebida, desenvolvem em nós a vida sobrenatural começada pelo Batismo. Da mesma maneira pela qual Jesus recebe a vida do Pai, nós a recebemos do Filho como de fonte e princípio.
Ora essa vida nos é concedida pela Graça, e sem a conhecermos não compreenderemos o presente versículo. Procuremos sintetizar em poucas palavras essa realidade infinita:
“O dom da graça excede o poder da natureza criada, porque não é outra coisa senão uma participação da natureza divina, a qual supera qualquer outra natureza. Por conseguinte, é impossível a uma criatura produzir a graça, como é impossível que algo que não seja fogo queime. Portanto, é necessário que somente Deus divinize, comunicando a união da natureza divina por certa participação de semelhança”(São Tomás de Aquino).
Comentando esta passagem de São Tomás de Aquino, assim se exprime o famoso Pe. Royo Marín: “A graça é uma verdadeira qualidade habitual que modifica acidentalmente a alma que a recebe, tornando-a ‘deiforme’, ou seja, semelhante a Deus, ao comunicarlhe uma participação de sua própria natureza divina”.
Nesta mesma obra, o Pe. Royo nos fornece os elementos para melhor compreendermos a pulcritude contida no versículo em questão: “Entre os maravilhosos efeitos que produz em nós a graça santificante, há um que excede infinitamente a própria graça: a inabitação da Santíssima Trindade na alma do justo (...) A graça, com efeito, nos dá uma participação criada da natureza incriada de Deus. Mas a inabitação divina — absolutamente inseparável da graça santificante — nos dá o mesmíssimo Deus, ou seja, a mesma realidade incriada que constitui a própria essência de Deus”.
Por fim, conclui o grande teólogo dominicano: “No cristão, a inabitação equivale à união hipostática na pessoa de Cristo, embora não seja ela, mas a graça santificante, que nos constitui formalmente filhos adotivos de Deus. A graça santificante penetra e embebe formalmente nossa alma, divinizando-a. Mas a divina inabitação é como a encarnação, em nossas almas, do absolutamente divino: do próprio ser de Deus tal como é em si mesmo, uno em essência e trino em pessoas”.
Essa participação na vida divina se inicia com o Batismo mas atinge sua perfeição com a Eucaristia que não só conserva e aumenta em nós a virtude da caridade, assemelhando-nos a Jesus, mas também nos estimula à prática da mesma: “O efeito deste sacramento é a caridade, não só enquanto hábito, mas também enquanto ato, pois ela é por ele estimulado”.
No amplo firmamento da Igreja, quase não há santo que não tenha se pronunciado sobre os grandiosos efeitos deste Sacramento. Recordemos dois deles:
— Santo Agostinho (Confissões, VIII, 9): “Sou manjar de robustos. Cresce e me receberás e não me mudarás a mim em ti, qual farias com uma comida corporal, senão que tu te mudarás em mim”.
— São Leão Magno (Sermão 14, da Paixão): “Não faz outra coisa a participação do corpo e do sangue de Cristo, senão transformarnos no que comemos”.
Eis alguns elementos para se entender a afirmação de Jesus: “aquele que come a minha carne viverá por mim”.
Este é o pão que desceu do Céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente.
Insiste o Divino Mestre, devido à dureza de coração daqueles que o rodeavam. Explica, por comparação, a excelsitude do pão eucarístico. Quantos judeus se haviam beneficiado do maná ao longo dos quarenta anos de travessia do deserto e, entretanto, se condenaram eternamente! Jesus promete aos que se alimentarem desse Sacramento, nas condições exigidas, a própria vida eterna, a participação na vida e gozo da Santíssima Trindade.
PAZ E CONSOLAÇÃO PARA OS QUE SOFREM
Considerações sobre a Eucaristia poderiam ser escritas a ponto de tornarem pequenos os espaços de todas as bibliotecas do mundo. Focalizemos apenas mais uma delas: a paz e a consolação oriundas deste tão sublime Sacramento.
São Tomás demonstra o quanto constitui um vício o fato de deixar a tristeza apoderar-se de nossos corações, a ponto de perturbar o uso da razão. Ora, vivendo nesta fase histórica tão penetrada pela angústia, drama e aflição, não erramos em afirmar ser a tristeza a nota tônica de nossos dias. Onde, então, obter o consolo e alegria de coração? Tanto mais que o buscar alívio é um fenômeno natural e espontâneo, uma reação psicológica de toda alma oprimida.
Quem não procura apoiar-se nas criaturas — sejam elas parentes, amigos, diversões — para só falar nas que estão dentro dos limites da liceidade moral? Mas, o apegar-se às criaturas é preparar novas e amargas desilusões.
É no Tabernáculo, na Eucaristia, onde verdadeiramente podemos encontrar o júbilo tão ansiado por nossos corações. Foi Jesus quem afirmou: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e Eu vos aliviarei”. O único conforto está em Deus e é por isso que, sobre nossa vida no Céu, o Apocalipse diz: “Não haverá mais morte, nem luto, nem grito, nem mais dor”, porque o próprio Deus enxugará as lágrimas de seu povo.
Aproximemo-nos pois, freqüentemente, da mesa da Comunhão, sempre por meio de Maria, e seremos os entes mais felizes dentre todos.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Eucaristia- verdadeiro alimento

Publicaremos alguns comentários do Mons João Clá Dias a respeito da Eucaristia.
Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que Eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo.

Até o presente versículo, Jesus, em seus sermões e revelações, apresentava os efeitos produzidos por esse “pão” em todos os que dignamente d’Ele viessem a se alimentar. Aqui, entretanto, define a sua substância: não é só o “Pão da Vida” , mas o “Pão Vivo”, ou seja, contém a vida em si próprio. E realmente trata-se do “Pão” que “desceu do céu”, é o Verbo de Deus que “se fez carne e habitou entre nós” para comunicar-nos “a vida que estava n’Ele” “desde o principio”, ou seja, desde toda a eternidade. Há, portanto, uma vida eterna nesse “Pão Vivo”, conferindo, àquele que dele se alimenta, o dom de viver para sempre.
Mas, como ter parte nessa tão preciosa vida?
Nos tempos do Antigo Testamento, o modo de participar de um sacrifício consistia em comer da vítima oferecida. Esta realidade transparece claramente na primeira epístola de São Paulo aos coríntios, na qual, com seu incansável zelo apostólico, não só os adverte a fugirem da idolatria, mas procura incentivá-los a dela se afastarem: “Considerai Israel segundo a carne: os que comem das vítimas, porventura não têm parte no altar? Mas que digo? Digo que o que foi sacrificado aos ídolos é alguma coisa? Ou que o ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios e não a Deus. Ora, não quero que tenhais parte com os demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios”.
Em sua infinita sabedoria, aceitou Deus, desde os primórdios da antiguidade, o cerimonial do oferecimento de vítimas e o modo de participar do sacrifício, com o intuito de preparar os homens para receber os benefícios da imolação do Cordeiro de Deus, d’Aquele que tira os pecados do mundo.
E Jesus, com um ano de antecedência, anuncia que dará a Santa Eucaristia, sob as espécies de pão e de vinho, e afirma ser esse pão sua “carne para salvação do mundo”.
Para entender bem o conteúdo deste versículo, devemos nos lembrar que, segundo o conceito judaico daqueles tempos, carne e sangue designavam o homem completo; ora, de qual carne se trata aqui? Da carne de Cristo, carne crucificada e imolada para “salvação do mundo”. Eis o caráter sacrifical da Eucaristia subentendido nessa afirmação de Jesus.
 Naquela atmosfera semítica — e até mesmo greco-romana — comia- se a vítima oferecida em sacrifício e dessa forma se participava do mesmo. Pois este é o objetivo essencial de São João no presente versículo, ou seja, o de acentuar o efeito redentor e universal da morte de Jesus, em benefício do mundo.