-->

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Evangelho 16º Domingo do Tempo comum - ano B

 O Evangelho Marcos 6,30-34 será publicado em diversos posts.


1º Post


Solidão e convívio
A maior felicidade nesta terra encontra-se no convívio, quando este é respeitoso, nobre e elevado. No Céu, esse convívio atingirá a perfeição no pleno gozo da Visão Beatífica. Por isso, à primeira vista não é fácil entender os elogios feitos pelos Santos à solidão. Entretanto, o isolamento pode vir a ser abençoado, pois constitui um meio ideal para um excelente relacionamento com Deus. Pode acontecer que na sadia renúncia ao instinto de sociabilidade, por motivos sobrenaturais, seja-nos dado — por uma especial graça e chamado de Deus — um inefável convívio com Ele.
Reações animais no homem – As paixões
Por sermos compostos de corpo e alma, temos algo em comum com os animais, como também com os Anjos. Em nossa imaginação e apetite sensitivo — sobretudo na raiz de nossas paixões ou emoções — somos semelhantes aos animais. Basta estarmos diante de um objeto que nos atraia ou de um outro que nos cause rejeição, para que nossas emoções e paixões nos levem a reagir de forma irracional.
Uma águia, por exemplo, descerá das alturas num vôo picado e certeiro sobre um coelho a correr pela relva. Nesse ato encontra-se um como que amor dela pelo alimento, nascido do instinto de conservação, e do qual podem brotar, por sua vez, a alegria, a ousadia, como também, o ódio aos obstáculos e às contradições, o temor, etc. Nessas tendências e reações podemos notar uma similitude com o mecanismo de nossas paixões.
Nem sempre as paixões são avassaladoras. Entretanto, não é raro acontecer que o sejam. De si, são neutras. Porém, quando orientadas, governadas e disciplinadas pela vontade e pela razão, e estas pela fé, elas se transformam em poderosos meios para operar maravilhas. No extremo oposto — na sua desordem — temos os vícios, tão freqüentes depois do pecado original e, sobretudo, em nossos dias: inveja, ciúmes, mentira, sensualidade, gula, etc.
O amor desregrado às criaturas e a verdadeira felicidade
Em nós, homens, esse sentir se evidencia não só com mais profundidade, mas com uma intensidade incomparavelmente maior: a inteligência, associada à imaginação, concebe um bem universal, e a vontade o anseia ilimitadamente. Santo Agostinho assim descreve esse dilema da natureza humana:
 “Bom é Aquele que me criou. Ele é o meu bem, e eu exulto em sua honra por todos os bens que constituem a minha existência desde a infância. Meu pecado era não procurar n’Ele, e simnas suas criaturas — isto é, em mim mesmo e nos outros —, os prazeres, as honras e a verdade. Eu me precipitava assim na dor, na confusão e no erro” (1) .
De fato, só em Deus encontra o homem a plenitude de sua felicidade. Se erigir uma criatura para O substituir, lançar-se-á em sua busca com sede insaciável. É terribilíssimo esse drama da insatisfação e, entretanto, tão comum. Os animais se saciam fora de Deus, em seu apetite natural. O homem, porém, está sempre concebendo novos e requintados prazeres, procurando-os com desejo infinito. Ouçamos, a esse respeito, São Tomás de Aquino:
“É impossível estar a bem-aventurança do homem em um bem criado. A bem-aventurança é um bem perfeito que aquieta totalmente o desejo, pois não seria o último fim se ficasse algo para desejar. O objeto da vontade, que é o apetite humano, é o bem universal, assim como o objeto do intelecto é a verdade universal. Disto fica claro que nenhuma coisa pode aquietar a vontade do homem senão o bem universal. Mas tal não se encontra em bem criado algum, a não ser só em Deus, porque toda criatura tem bondade participada. Por isso, só Deus pode satisfazer plenamente a vontade humana, segundo o que diz o Salmo 102, 5: ‘que sacia com bens o teu desejo’. Conseqüentemente, só em Deus consiste a bemaventurança do homem” (2).
Essa explicação torna patente aos nossos olhos quanto é inatingível a felicidade plena, para nós, criaturas racionais, se erigirmos um fim último que não seja o próprio Deus. Pois um bem limitado facilmente será reconhecido como tal por nossa inteligência que, em seguida, conceberá outro superior. Assim como também será movida a vontade a desejá-lo. E assim, sucessivamente, até o infinito.
Esse Bem infinito e eterno é que torna gaudioso nosso convívio, ou nossa solidão, pois até mesmo no isolamento, quando sobrenaturalizado, buscamos o relacionamento com Deus, devido à nossa natureza sociável. Afirma o Eclesiastes: “Melhor é, pois, estarem dois juntos do que estar um só, porque têm a vantagem da sua sociedade” (Ecl 4, 9).


Devemos procurar esse Bem infinito em meio às nossas amizades, pois os seres humanos devem ser elementos para melhor conhecermos e amarmos a Deus. Se para tal objetivo concorrem até as criaturas inanimadas, quanto mais os Santos. Foi, aliás, o que se passou no conhecido episódio do encontro de três santos num convento em Roma:
“Quando um dia São Francisco de Assis, Santo Ângelo e São Domingos de Gusmão encontraram-se frente a frente, na cela deste último, no Convento de Santa Sabina, em Roma, puseram-se os três de joelhos, cada um admirando as virtudes e vocações dos outros dois. Na capela existente atualmente, nesse local, uma inscrição comemora o histórico acontecimento.” (4)
Infelizmente, nos dias atuais, o convívio entre os homens se realiza cada vez mais com base no puro egoísmo, fato este que torna difícil degustar a cena do reencontro dos Apóstolos com o Divino Mestre. Marcos, que tanto aprendera na proximidade de Pedro, procura sintetizar essa felicidade de situação com estas simples palavras: “Tendo os Apóstolos voltado a Jesus...”

Nenhum comentário: