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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Evangelho 5º domingo da Páscoa ano B: A videira e os ramos III

A permanência de Deus em nós
Nossa vida em Cristo é um tema muito comentado e conhecido, porém, fala-se menos da permanência d’Ele em nós. Ora, esta é uma realidade sobrenatural de fundamental importância e sobre ela devemos nos deter para bem compreendê-la.
Antes da presente passagem do Evangelho, que a Liturgia recolheu para este domingo, encontramos esta afirmação de Jesus: “Se alguém Me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14, 23). Portanto, não se trata da permanência da Segunda Pessoa somente, mas também da Primeira, ou seja, do Pai. E São Paulo dirá mais tarde: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 3, 16). Trata-se, pois, da inabitação da Santíssima Trindade, ou, por outra, Deus habita na alma em estado de graça.
Deixemos de lado as considerações sobre o modo pelo qual se realiza esse habitar de Deus em nós, por ser um assunto que tem sido muito debatido pelos especialistas ao longo dos séculos, multiplicando-se as opiniões sem resolver de maneira satisfatória esse grande mistério. Para nossa formação espiritual, mais importa o fato desse habitar de Deus em nós, e, felizmente, nessa temática há inteira unanimidade entre os teólogos.
Deus está presente em todas as criaturas
Comecemos por focalizar a presença divina em Jesus. A presença de Deus n’Ele não se dá como num templo. Devido à união hipostática, Ele não tem personalidade humana, mas só divina. Esta é a mais alta presença possível de Deus em uma criatura.
A segunda presença mais importante é a Eucarística. De modo direto e imediato, esta diz respeito unicamente ao Corpo de Cristo, mas de maneira indireta se relaciona com as três inseparáveis Pessoas da Trindade Santa, pelo fato de ter o Verbo uma intrínseca união pessoal com a humanidade santíssima de Cristo.
Se bem que não seja visto, Deus está presente em todas as criaturas, conforme explica São Tomás: “Deus está presente em todas as coisas e no mais íntimo delas”. E mais adiante:
“Deus está presente em todas as coisas por potência, porque tudo está submetido ao seu poder. Está em tudo por presença, porque tudo está descoberto e à mostra de seus olhos. E está em tudo por essência, porque está presente em todas as coisas como causa do ser de todas elas”.
A permanência divina em nós, de que nos fala o Evangelho de hoje, é inferior às duas primeiras, mas especial em relação à última, embora a pressuponha.
Ele permanece em nós como Pai e como Amigo
A presença geral, denominada presença de imensidão, é comum a todo ser criado, quer se trate de uma gota de água, de um anjo ou de um réprobo caído no inferno. Sem ela, a criatura retornaria ao nada. Entretanto, no versículo em questão, Jesus nos fala de uma permanência toda ela peculiar. Como sabemos, a paternidade só se verifica quando o pai transmite sua natureza ao filho; assim, por mais que uma estátua possa se parecer com a figura do filho de seu escultor, um será filho enquanto a outra será mera imagem, sem natureza humana. Jesus é realmente Filho de Deus, porque possui a natureza divina em sua plenitude; e nós, os batizados, também o somos por uma adoção intrínseca através da graça santificante que nos dá uma misteriosa participação nessa divina natureza. A partir do Batismo, Deus — que já Se encontrava em nós por sermos criaturas, como acima vimos — passa a permanecer em nossa alma, como Pai e a tratá-la como autêntica filha sua. Essa permanência é exclusiva e própria dos filhos de Deus.
Conforme nos ensina São Tomás, a caridade estabelece uma profunda e mútua amizade entre Deus e os homens. Por isso, pela caridade sobrenatural infundida na alma juntamente com o cortejo de todas as outras virtudes e dons, Deus passa a permanecer nela com uma realidade diferente, não mais como puro Criador, mas também como Pai e, além disso, como Amigo. Por isso é que se atribui ao Espírito Santo de modo especial essa inabitação da Santíssima Trindade, por ser Ele o Amor incriado.

Continua no próximo post

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