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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Os Apóstolos e o Sinédrio perante a Ressurreição - 3º Domingo Páscoa

Comentarios sobre o Evangelho  Lc 24,35-48
A notícia da Ressurreição de Jesus despertou, no Cenáculo e no Sinédrio, um clima de febricitação. O tema era o mesmo, as testemunhas, porém, bem diferentes, e muito mais os destinatários dos relatos. O dogma da Ressurreição seria fundamentalíssimo para o futuro da Religião e era indispensável haver vários que comprovassem com solidez de declaração o terem visto Jesus vivo, nos dias logo posteriores à Sua morte.
Os Apóstolos e o Sinédrio perante a Ressurreição
A hipótese de que, tendo morrido Jesus, Seus discípulos roubaram e ocultaram Seu corpo, com o intuito de espalhar o boato de Sua Ressurreição, reaparece com frequência ao longo da História.
Originou-se ela momentos depois de o Salvador ter operado o grande milagre de retomar Sua vida humana em corpo glorioso. Seus adversários, aqueles mesmos que haviam planejado e exigido Sua morte, compraram o testemunho de soldados venais e — por temor e ódio — puseram em circulação essa hipótese (cf. Mt 28, 11-15).
Ainda nos dias de hoje, não é raro ouvir ecos dessa insolente zombaria.
O contrário de fanáticos e alucinados
Por outro lado, a ideia de considerar a Ressurreição do Senhor um mito nascido da alucinação sofrida por alguns poucos não esteve alheia aos próprios Apóstolos. Foi o que se deu quando ouviram a narração feita pelas Santas Mulheres após seu encontro com Jesus naquele “primeiro dia” (cf. Lc 24, 1-11).
Este mesmo fato comprova que os discípulos não podem ter sido os autores de uma fábula sobre esse milagre, pois a experiência nos mostra o quanto é em função de um grande desejo, ou de um grande temor, que o alucinado passa a ver miragens. Entretanto, a hipótese de que — por pura alucinação — foram os Apóstolos os autores do “mito” da Ressurreição do Senhor não deixou de circular por meio dos lábios e plumas de hereges, nestas ou naquelas épocas.
Na realidade, eles não haviam compreendido o alcance das afirmações do Divino Mestre sobre o que se passaria no terceiro dia após Sua morte e, portanto, nem chegaram a temer ou desejar a Ressurreição. E isso a tal ponto que não hesitaram em negar a veracidade da narração feita pelas Santas Mulheres. Ou seja, eles demonstraram estar bem no oposto da acusação de terem sido uns fanáticos e alucinados a propósito da Ressurreição, pois não aceitavam sequer a simples possibilidade de ela vir a se tornar efetiva. O exemplo máximo dessa impostação de espírito deu-se com São Tomé, o qual só se rendeu diante de um fato irrefutável: colocar o dedo nas adoráveis chagas de Jesus.
Ademais, negar a veracidade da Ressurreição, lançando a calúnia de ter sido ela uma invenção de alucinados, corresponderia, ipso facto, a reconhecer a existência de um milagre não muito menor: o da conquista e reforma do mundo, levada a cabo por um reduzido número de desvairados.
Domingo de Ressurreição no Cenáculo
A História nos faz conhecer o quanto, na manhã daquele domingo, os Apóstolos estavam na dor e na tristeza (cf. Mc 16, 10). Faltava-lhes a esperança, pois nenhum deles acreditava na hipótese de o Mestre retornar à vida.
Os fatos se sucediam, mas apesar de as Santas Mulheres haverem entrado no Cenáculo com muita agitação para relatar o surpreendente acontecimento de terem encontrado vazio o sepulcro e um Anjo em seu interior, ninguém era levado a supor a Ressurreição. Sem embargo, Pedro e João se deslocaram, em seguida, com Maria Madalena para o sepulcro. Ao retornarem, os dois Apóstolos, disseram ser real o relato das Santas Mulheres: o sepulcro estava vazio (cf. Lc 24, 1-12). Os que viviam em Emaús voltaram para casa muito abatidos, desconsolados e comentando os exageros — segundo eles — da imaginação feminina.
Nesse meio tempo, Maria Madalena regressou ao Cenáculo para euforicamente anunciar o encontro que havia tido com o Senhor. Logo a seguir, as outras Santas Mulheres entraram para narrar a aparição do Senhor quando iam pelo caminho. Contudo, mesmo somando esses episódios aos anteriores, uma vez mais, não creram na palavra delas (cf. Mc 16, 1-11). Pedro, porém, saiu para o sepulcro e, ao regressar, afirmou que de fato o Senhor tinha ressuscitado, pois Ele lhe aparecera (cf. Lc 24, 34). Uns creram, outros não (cf. Mc 16, 14).
À noite, foi a vez dos dois discípulos de Emaús darem seu minucioso testemunho sobre o famoso acontecimento que culminaria com a abertura dos olhos de ambos, “ao partir o pão” (Lc 24, 35). No Cenáculo, depararam-se com todos reunidos e comentando a aparição do Senhor a Pedro. Ainda assim, a maioria continuava negando a Ressurreição de Jesus.
O Sinédrio considera de frente o milagre
Paralelamente ao que se tratava com tensão, suspense e certo medo no Cenáculo, os príncipes dos sacerdotes e o Sinédrio em geral discorriam sobre a narração feita pelos soldados, a qual tornava patente que Jesus havia ressuscitado. Era uma hipótese árdua igualmente para eles, mas sabiam considerá-la de frente, medindo bem todos os prejuízos que de uma realidade dessas poderiam decorrer.
Na cidade, celebrado já o sábado, os trabalhos haviam sido retomados com toda normalidade, no transcurso do dia. Só no Cenáculo e no Sinédrio dominava a febricitação, àquelas horas de após-ceia. O tema era o mesmo, as testemunhas, porém, bem diferentes, e muito mais os destinatários dos relatos. O dogma da Ressurreição seria fundamentalíssimo para o futuro da Religião e era indispensável haver vários que testemunhassem com solidez de declaração o terem visto Jesus vivo, nos dias logo posteriores à Sua morte. Apesar de Seus insistentes avisos e profecias, se não houvesse testemunhas visuais, difícil seria crer em tão grande milagre.
É bem a essa altura que, estando trancadas as portas e janelas, entrou Jesus no Cenáculo, iniciando-se o trecho evangélico da Liturgia de hoje.
Continua no próximo post.

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