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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Comentário ao Evangelho XXIX Domingo do Tempo Comum Mc 10, 35-45

Evangelho XXIX Domingo do Tempo Comum Mc 10, 35-45
Naquele tempo, Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir”.
Ele perguntou: “O que quereis que eu vos faça?”
Eles responderam: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!”
Jesus então lhes disse: “Vós não sabeis o que pedis. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?”
Eles responderam: “Podemos”.
E ele lhes disse: “Vós bebereis o cálice que eu devo beber, e sereis batizados com o batismo com que eu devo ser batizado. Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. É para aqueles a quem foi reservado”.
Quando os outros dez discípulos ouviram isso, indignaram-se com Tiago e João. Jesus os chamou e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim; quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”.
Reflexão
Há vida sem sofrimento?             
A TEOLOGIA DO SOFRIMENTO
É frequente encontrar, nas pessoas que começam a abrir os olhos para o estudo da Religião, manifestações de uma indignada reação análoga à de Clóvis, rei dos Francos, ao ouvir o relato da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo: ‘Ah! Por que não estava eu lá com os meus francos?”.1 Custa imaginar como pôde o Divino Salvador, a Suma Bondade, ser morto de maneira tão injusta e cruel, sem que ninguém, nem mesmo algum dos numerosos beneficiados por seus milagres, se apresentasse para defendê-Lo.
A resposta para essa dificuldade, vamos encontrá-la na Liturgia deste domingo, a qual trata daquilo que se poderia denominar a “teologia do sofrimento”. Pelo sofrimento, chega-se à “ciência perfeita” Na primeira leitura, o profeta Isaías mostra ter Nosso Senhor padecido tudo quanto era possível, para redimir o gênero humano:2 “O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos. Oferecendo sua vida em expiação, ele terá descendência duradoura e fará cumprir com êxito a vontade do Senhor. Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita. Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas” (Is 53, 10-11).
Nos divinos arcanos, aprouve ao Pai permitir que o Filho, o Servo de lavé, fosse “macerado com sofrimentos”. Expressão categórica que significa moer o trigo ou pisar a uva no lagar. E como passou Ele por essa “maceração”? Sereno, tranquilo, suportando tudo como um cordeiro, sem nenhuma queixa, com inteira paciência e submissão aos desIgnios do Pai. Com isso, ensina São Tomás, “mereceu a glória da exaltacão pelo abatimento da Paixão”.3
Pela via do sofrimento, explica o profeta, Jesus “alcançará luz e uma ciência perfeita”. Ora, o que poderia Nosso Senhor receber que ainda não tivesse? Ele é Deus, portanto, o Conhecimento e a Verdade em substância! A que ciência perfeita faz referência Isaías?
Em Jesus Cristo podemos distinguir quatro conhecimentos: o divino, pois Ele é Deus; o beatifico, decorrente de sua alma ter sido criada na visão beatifica; a ciência infusa, recebida no instante de sua concepção humana; e o experimental, em sua humanidade, o único passível de : aumento, pois “exercia-se nas condições históricas de sua existência no espaço e no tempo”,4 à medida em que Ele ia tendo contato com as coisas.
Em sua vida terrena, para merecer o seu próprio conhecimento e, mais ainda, comprar o conhecimento para os outros, devia Jesus padecer. Ele comprovava pelo conhecimento experimental o que já sabia pelos outros três, alcançando assim a ciência perfeita a partir da vida da dor.
Pela via do sofrimento, chega-se à perfeição
Dessa maneira, mostra-nos Isaías o quanto é pela via do sofrimento que, à imitação do Messias, se chega à perfeição. Vê-se, em consequência, ser a dor bem aceita a única maneira de atrair as bênçãos divinas para a perpetuidade de uma obra sobrenatural. Não há outra via! Jesus apontou-nos apenas um caminho para segui-Lo: “tomar a cruz” (cf. Mc 8, 34), através da qual cumprimos a vontade do Senhor.
Ora, nossa natureza é avessa à cruz, tem verdadeiro pânico do sofrimento e o instinto de conservação nos leva a fugir da dor. Esta situação, tão comum à condição humana, nos é apresentada pelo Evangetho do 29 Domingo do Tempo Comum, analisado em sua profundidade.
Continua nos próximos posts.

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