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domingo, 17 de julho de 2011

“Sede, pois, perfeitos, como também vosso Pai celestial é perfeito.”

Ao criar a alma humana, Deus infundiu-lhe um forte anseio de felicidade. Daí o não ter havido, e nem haverá, quem nunca a tenha procurado.
Sobretudo em épocas como a nossa, tão atravessada por dramáticas crises, apreensões e sofrimentos, torna-se ainda mais aguda essa veemente apetência.
Onde, porém, encontrá-la com inteira segurança? Deus nada cria senão para Si. Por esta razão, fora d’Ele os seres inteligentes — anjos ou homens — não obtêm verdadeira felicidade a não ser cumprindo com a finalidade última para a qual foram criados. É sobre esta relação entre o homem e Deus que incide a grande promessa feita por Jesus: a de sermos bem-aventurados nesta terra e post-mortem, por toda a eternidade, no Céu.
“Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação”
Nós cristãos, enquanto batizados, temos a obrigação de não perder o estado de graça. Se, por fraqueza ou maldade, dele nos vejamos privados, com diligência devemos procurar recuperá-lo. Essa é a chamada perfeição mínima.
No Sermão da Montanha, Jesus não nos impõe a obrigação de sermos perfeitos. Porém, manifesta o desejo de que o aspirar a esse estado constitua um dos pontos essenciais da nossa existência. Além disso, tantos foram os tesouros por Ele deixados à humanidade — o Batismo a Confirmação, a Eucaristia, etc. — que, só por gratidão a tão imensos benefícios, já seria uma obrigação da nossa parte nos colocarmos a campo para atingir a meta enunciada por Jesus.
Com muita razão, a respeito da universalidade desse dever de santidade, assim se expressa João Paulo II: “É preciso redescobrir, em todo o seu valor programático, o capítulo V da Constituição Dogmática Lumen Gentium, intitulado ‘Vocação Universal à Santidade’. (...) O dom [de santidade concedido à Igreja] gera, por sua vez, um dever que há de moldar a existência cristã inteira: ‘Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação’ (1 Tes 4,3). É um compromisso que diz respeito não apenas a alguns, mas ‘os cristãos de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade’ (...) Como explicou o Concílio, este ideal de perfeição não deve ser objeto de equívoco, vendo nele um caminho extraordinário, percorrível apenas por algum ‘gênio’ da santidade. Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um”.
São Paulo é incansável em frisar a necessidade da perfeição sem limites, como substância da vocação do cristão: “Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a bênção espiritual do Céu em Cristo, assim como n’Ele mesmo nos acolheu antes da criação do mundo, por amor, para sermos santos e imaculados diante d’Ele ...” (Ef 1, 3-4).
É comum, ao longo de suas Epístolas, encontrarmos uma verdadeira sinonímia entre os termos “cristão” e “santo”, tal era o seu empenho neste particular.
Deus é infinito. Portanto, quem é chamado a amá-Lo tem por fim último um Ser ilimitado. O amor nosso é uma potência criada com aspiração por Deus, e por isso diz Santo Agostinho: “Nossos corações foram criados para Vós e só em Vós repousam”, ou seja, a própria potência do amor em si mesma visa o infinito. Por isso afirma São Francisco de Sales: “A medida de amar a Deus, consiste em amá-Lo sem medida”.
O próprio Jesus, com divina radicalidade, assim reforça o Mandamento dado a Moisés: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças” (Mc 12, 30). Daí se conclui termos o dever de buscar o fim em toda a sua amplitude, e de empregar para atingi-lo, todos os meios ao nosso alcance.
Ademais, toda vida, também a sobrenatural, é suscetível de progresso, e tem em si uma força dinâmica que busca seu desenvolvimento. No que diz respeito ao nosso corpo, esse processo se verifica instintiva e prazeirosamente.
Quanto ao espírito, porém, é indispensável a aplicação de nossa inteligência e de nossa vontade, a fim de cooperarmos com a graça de Deus.

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