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terça-feira, 9 de agosto de 2011

A VIAGEM DEFINITIVA

Ao se apresentar diante de nós uma possível viagem, nossas atenções começam a dividir-se entre o presente e o futuro, entre o ambiente atual com suas ocupações e o lugar para onde rumaremos. Se nossa ausência for de longa duração, e ainda mais se nosso destino se localizar num país bem distante, entraremos num certo estado de tensão que poderá ser maior ou menor, em função do temperamento e mentalidade de cada um, mas a indiferença total raramente acontecerá.
Passaporte, roupas, objetos, remédios, etc., constituirão um pensamento mais ou menos constante em meio às nossas atividades normais do dia-a-dia, antes de partir. O idioma, os costumes, o clima, a alimentação, etc., excitarão nossa curiosidade, alimentando o sonho de uma experiência nova, meio mitificada quanto às possíveis felicidades.
Do amanhecer ao apagar das luzes, nossa imaginação percorrerá as ruas, praças e monumentos daquela cidade onde iremos morar durante um certo tempo. As providências concretas, por menos metódico que se seja, terão prioridade em nossas responsabilidades e afazeres e a tal ponto que provavelmente teremos iniciado nossa viagem muito antes de subir no avião.
No entardecer desta vida, empreenderemos a mais importante e definitiva mudança de nossa existência rumo à... eternidade. Mas será diferente de todas as outras, pois não poderemos levar absolutamente nada de nossos pertences e nem sequer será preciso passaporte.
Ela não terá volta atrás e deverá se realizar a sós, sem acompanhantes. A partida é inadiável, desde todo o sempre foi fixada por Deus, e não terá atraso. A chegada tanto poderá dar-se no Inferno, quanto no Céu, e para este último local ainda é possível que haja uma passada pelo Purgatório.
Porém, essa é a viagem por quase todos relegada ao esquecimento. Carreira, dinheiro, prazeres, saúde — em síntese, o mundanismo — é a obsessão que transtorna as mentes desde a saída de Adão do Paraíso, prolongando pelos séculos e milênios os ecos do episódio havido entre Marta e Maria:
“Marta, porém, afadigava-se muito na contínua lida da casa. Parou então e disse: ‘Senhor, não Te importas que a minha irmã me tenha deixado sozinha com o serviço da casa? Diz-lhe, pois, que me ajude’. O Senhor respondeu-lhe: ‘Marta, Marta, tu afadigas-te e andas inquieta com muitas coisas, quando uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.’ ” (Lc 10, 40-42). De fato, só uma coisa é necessária: a salvação eterna. “Pois, que aproveitará a um homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma?” (Mt 16, 26).

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