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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A confissão de Pedro II

Continuação dos comentários ao evangelho "A confissão de Pedro".
Jesus prepara os Apóstolos para a Paixão
31 E começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem padecesse muito, que fosse rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas, que fosse morto, e que ressuscitasse depois de três dias.
Em rigor de objetividade, não era a primeira vez que Jesus tratava de sua futura Paixão. De maneira implícita, já a ela se referira anteriormente (por exemplo, em Mt 9, 15; 12, 40; Jo 2, 19-21; 3, 14), mas não com tanta clareza como agora. Sobretudo pelo fato de todos estarem sob a forte impressão da figura de um Messias triunfal e político, era indispensável usar de inteira franqueza. Ora, o momento não podia ser mais propício para tal, pois o coração de cada um deles estava pervadido pela consideração da divindade do Mestre. Sem embargo, essa revelação deve ter sido surpreendente, por isso mesmo representando uma excelente ocasião para introduzi-los nas perspectivas de sua morte. A divindade de Nosso Senhor permaneceria como forte lembrança no fundo de suas almas, apesar de estar, nas aparências, mais do que invisível, destruída. Sobretudo, o fato de ter sido prevista com tantos detalhes, como consta no presente versículo, constituía um auxílio à virtude da Fé e afastava qualquer resquício de escândalo. Compreende-se que São Paulo ensine que sem a Ressurreição, nossa fé seria vã (1 Cor 15, 14).
Os primeiros a meditarem na Paixão
Os Apóstolos foram muito privilegiados também a respeito disso. Somente eles e a Santíssima Virgem puderam meditar sobre as ignomínias e tormentos pelos quais iria passar o Salvador, antes mesmo de se terem estes verificado. Foram eles os primeiros convidados a se beneficiar das grandezas da misericórdia divina, de um Deus que se encarna e morre, por amor a cada um de nós. Quanta consolação, graças e forças estavam à disposição deles, a partir dessa revelação!
Aliança entre justiça e misericórdia
Jesus afirma a necessidade de sua morte, que seria injustamente imposta pelo Sinédrio. Por desígnios inimagináveis, o Pai havia determinado, desde toda a eternidade, a aliança entre a mais severa justiça e a mais afetuosa misericórdia. Para salvar-nos, não hesitou em nos dar seu próprio Filho e, entretanto, ao considerar os direitos de sua justiça, exigiu desse Filho muito amado a pior das mortes.
Nosso Senhor sofre enquanto filho do Homem e, por ser Filho de Deus, nos salva pelo oferecimento de seus tormentos. Sua humanidade está hipostaticamente unida à natureza divina, e por isso sua Paixão tem mérito infinito. Em função dessas duas naturezas unidas numa pessoa divina, Jesus repara a desobediência de nossos primeiros pais, assim como os pecados de toda humanidade. Ele é a cabeça e o primogênito dos homens e, assim, acaba por constituir uma nova geração de resgatados e regenerados, pela força de seu Preciosíssimo Sangue. Esse é o mais fino fundo da proposta que Jesus faz aos Apóstolos, ao lhes revelar sua morte, conforme diria, mais tarde, São Paulo:
“O primeiro homem formado da terra, é terreno; o segundo homem, vindo do Céu, é celeste” (1 Cor 15, 47). Era-lhes indispensável renunciar ao velho Adão, originado do barro, para se entregarem ao Novo Adão, descido dos Céus.
O amor não se contenta com pouco. Ora, o amor de Jesus é infinito e, por isso, deseja a plenitude de sua entrega às dores, à rejeição das mais altas autoridades eclesiásticas, à morte e ao sepultamento. Que maiores provas de amor, a Deus e à humanidade decaída, poderiam ser dadas?
Por fim, eis uma revelação que anula qualquer possibilidade de escândalo proveniente da crucifixão: “Que ressuscitasse depois de três dias”. É o penhor de nossa própria ressurreição. A morte, limite máximo do poder do mundo, é o seu termo implacável, mas o poder de Jesus é eterno e, depois de sofrermos e morrermos por Ele, ressuscitaremos para eternamente reinarmos com Ele.

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