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domingo, 16 de outubro de 2011

É preciso ter pecado para crescer no amor?

Continuação dos posts anteriores
É preciso ter pecado para crescer no amor?
É importante respondermos a uma questão: em face do Evangelho de hoje, é necessário a pessoa ter praticado um grande número de pecados para, ao ser perdoada, amar mais? Maria Santíssima recebeu de Deus muito mais que a soma dos Anjos e dos Bem-Aventurados Se assim fosse, Maria Imaculada — não só pela sua puríssima concepção, mas também por sua ilibada vida — seria a criatura que menos amou a Deus. Ora, sabemos com emocionado júbilo ser a Santíssima Virgem a mais amada e a mais perfeita amante, entre todos os seres saídos das mãos do Criador. Porém, a Ela também cabia rezar: “Perdoai as nossas dívidas”, como se pedia antigamente no Pai- Nosso, pois Ela Lhe deve o ser, a predestinação à maternidade divina, a plenitude de graças, a concepção imaculada, a vida isenta de qualquer mancha de pecado, enfim, todos os dons, virtudes e privilégios que Lhe foram concedidos no mais alto grau.
Ela mesma externou esse reconhecimento, ao pronunciar o Magnificat, em casa de sua prima Santa Isabel (Lc 1, 46-55):”A minha alma glorifica o Senhor; e o meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Portanto, eis que, de hoje em diante, todas as gerações Me chamarão ditosa, porque o Todo-Poderoso fez em Mim grandes coisas” (Lc 1, 46-49).
A gratidão que se manifestava perfeita na pecadora, não estava presente em Simão, o fariseu. Com independência das faltas cometidas, nós todos somos devedores diante da incomensurável bondade de Deus, pois Ele nos escolheu entre infinitos outros seres passíveis de serem criados, sobre os quais não incidiu seu ato criador.
Mas, aos orgulhosos não ocorrem esses pensamentos.
Debaixo desse prisma, Maria Santíssima é a maior devedora, pois Ela sozinha recebeu de Deus muito mais que a soma dos Anjos e dos Bem-Aventurados, no seu conjunto.
Compreendemos agora melhor o Evangelho: a pecadora recebeu de Jesus dez vezes mais do que Simão, o fariseu. Ela amou o Redentor na mesma proporção, penetrada de gratidão. O outro, não. Por seu orgulho, ele não se reconhecia devedor e, portanto, não entendia nem desejava a remissão que Jesus lhe oferecia.
Abraçar a via do amor e da gratidão
“Eis que este Menino está posto para ruína e ressurreição de muitos em Israel e para ser sinal de contradição” (Lc 2, 34).
Diante de Jesus, ou estamos com o amor e gratidão da pecadora; ou, melhor ainda, com disposições de alma semelhantes às da Santíssima Virgem; ou seguindo as desordens do fariseu Simão.
Se abraçarmos a via do amor agradecido — quer na inocência, quer no arrependimento — a nós se aplicará a sentença de São Tomás: “O menino, inclusive o não batizado, se tem a idade do uso da razão e ama eficazmente o bem mais do que a si mesmo, está justificado pelo batismo de desejo, porque esse amor, que já é o amor eficaz a Deus, não é possível no estado atual da humanidade sem a graça regeneradora”(9).
Pelo contrário, se assumirmos a soberba do fariseu, sentiremos em nós o quanto “o orgulho é impaciente e malévolo; invejoso, arrogante, ambicioso, busca só os seus próprios interesses, pervadido de irritações e de ressentimentos pelo mal sofrido”. Provaremos no fundo de nossa alma “o regozijo com a injustiça e a tristeza com a verdade”, porque o orgulho “nada desculpa, de tudo desconfia, nada espera e nada suporta” (parafraseando São Paulo, I Cor 13, 4 a 7).

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