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terça-feira, 1 de maio de 2012

Evangelho 5º domingo de Páscoa ano B: a videira e os ramos

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Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor



Comenta o Cardeal Isidro Gomá y Tomás: “A belíssima alegoria da vinha mística, assim como a do Bom Pastor, foi-nos conservada apenas por São João. Pode ter servido de sugestão ao Senhor a lembrança do vinho da ceia, do qual disse que não mais beberia. Ou então simplesmente a inventou, por ser ela extremamente apta para exprimir o pensamento, ou melhor, a teoria da união espiritual com Ele”.

Para Israel, a parreira de uva era uma realidade comum e corrente a ponto de, sob o reinado de Salomão, assim se referir a Escritura à paz por ele conquistada com todos os povos vizinhos: “Judá e Israel, desde Dã até Bersabéia, viviam sem temor algum, cada qual debaixo de sua vinha e de sua figueira” (1 Rs 4, 25).

A verdadeira videira
E qual o significado do vocábulo “verdadeira”, empregado pelo Mestre neste versículo? Antes já dissera: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu” (Jo 6, 51), e João afirmara ser Ele “a luz verdadeira”. Como explicar o uso desses adjetivos?
Em face de heresias de outrora, alguns Padres da Igreja procuravam esclarecer este particular pelos efeitos produzidos pela “videira”, pela “luz” ou pelo “pão” verdadeiros, pois alimentam a fé dos que deles se servem, enquanto os seres materiais correspondentes só servem para a sustentação ou desenvolvimento físico. Nós, porém, somos levados a achar que Deus, na sua infinita e eterna sabedoria, criou esses seres todos (luz, pão, vinha, pastor, caminho, etc.) primordialmente para melhor Se fazer entender pelo homem. Nesse sentido, não contêm eles a verdade inteira, mas apenas a simbolizam. A arquetipia desses seres se encontra no próprio Jesus.
E por que Jesus, nessa ocasião, passa a falar em videira e agricultor? Ouçamos novamente o Cardeal Gomá: “Jesus disse a seus discípulos que vai separar-Se deles, mas essa separação será apenas segundo o corpo. Espiritualmente, deverão permanecer intimamente unidos a Ele para viver a vida divina; morrerão se d’Ele se separarem. Propõe essa doutrina envolta na alegoria da videira. ‘Eu sou a videira verdadeira’, a videira ideal e perfeitíssima, na qual, melhor que nas videiras do campo, verificam-se as condições próprias dessa planta. O cultivador dessa vide espiritual e incorruptível é o Pai: ‘E meu Pai é o agricultor’. Jesus não seria nossa videira se não fosse homem; mas não nos daria a vida de Deus se não fosse Deus. Logo, Jesus é o Messias, Filho de Deus”.
“Meu Pai é o agricultor”
Todo ramo que não der fruto em Mim, Ele o cortará; 2 e todo o que der fruto, podá-lo-á, para que dê mais fruto.
Jesus afirmou que o Pai é o agricultor e, em consequência, é Ele quem assume a tarefa da poda, da limpeza, dos cuidados. Como já dissemos anteriormente, Deus criou a videira, entre outras razões, para servir de exemplo a esses procedimentos próprios ao Pai, assim como para melhor compreendermos o relacionamento que existe entre os batizados e Cristo. A videira, entre os vegetais, é o mais adequado para se entender a necessidade do corte, ou a da poda. São Paulo é bem explícito em sua apreciação sobre o Agricultor: “De modo que não é nada, nem aquele que planta, nem aquele que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Uma mesma coisa é o que planta e o que rega; cada um receberá sua recompensa segundo seu trabalho. Efetivamente, somos cooperadores de Deus; vós sois cultura de Deus, sois edifício de Deus” (1 Cor 3, 7-9).
Esses ensinamentos de Jesus nos mostram o quanto é pleno de vitalidade seu Corpo Místico. Os “ramos” improdutivos, o Pai os arranca; e os que prometem frutos futuros, Ele os desponta e os acondiciona para mais excelentemente se beneficiarem da seiva.
Não seria diminuto o elenco dos “ramos” infrutíferos, pois muitos sãos os vícios, más inclinações e pecados que bloqueiam o fluxo normal da “seiva” da graça. Em síntese, todos eles têm sua origem no egoísmo humano. O estar voltado sobre si mesmo, submerso em suas próprias conveniências, traz como consequência inevitável um corte com as graças de Deus, pois estas nos são dadas com vistas à caminhada rumo ao Reino. Por outro lado, como afirma São João Crisóstomo, ninguém pode ser verdadeiro cristão sem as boas obras. Ora, o egoísmo não as produz jamais.
Quanto à “poda” dos ramos frutuosos, além das tentações e provações permitidas por Deus, há dons, consolações e estímulos sobrenaturais, ações divinas que visam multiplicar a fertilidade deles. Por este dito de Jesus, vê-se quanto as tentações são úteis para conferir mais virtude e mérito aos bons “ramos”.
Em resumo: “O que se quer dizer aqui é que Cristo, Deus-Homem, influi diretamente, pela graça, nos sarmentos. O Pai, de outro lado, é quem tem o governo e a providência exterior da vinha”.

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