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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Evangelho 6º Domingo Comum Mc 1, 40-45

Cura do leproso
E foi ter com Ele um leproso, fazendo-Lhe suas súplicas, e, pondo-se de joelhos, disse-Lhe: ‘Se queres, podes limpar-me’”.
A lepra sempre foi uma enfermidade dramática, com inenarráveis sofrimentos físicos e graves consequências sociais. Naqueles tempos era, ademais, na maior parte das vezes incurável.
A mais temida das doenças
Pequenas manchas brancas, insensíveis, em qualquer parte da epiderme — as quais, com o tempo, degeneram em úlceras e se espalham por todo o corpo — podem ser indício desse mal. No seu auge, pés e mãos se tornam edemaciados, as carnes se rasgam, as unhas caem e, em seguida, também os dedos e artelhos. A face se torna monstruosa e a voz enrouquece. Das narinas — já à mostra pela degenerescência de seu exterior, pois o nariz acaba por se descarnar — escorre um líquido purulento que se soma a uma terrível fetidez do hálito. Esses efeitos acabam por produzir na vítima, além das dores físicas, um abatimento de ânimo tão grande que facilmente o leva ao desespero, e, por fim, à morte. Se, pelo contrário, obtém a cura, uma assombrosa alvura lhe reveste o corpo de alto a baixo.
Por isso, essa doença era das mais temidas entre os judeus, e muitas vezes julgavam-na um castigo de Deus (cf. II Cr 26, 19-20); quando se indignavam contra alguém, só em casos extremos desejavam-lhe essa praga (cf. II Sm 3, 29 e II Rs 5, 27).
Ao ser declarado impuro pelo sacerdote, o leproso era imediatamente excluído do convívio social. Devia passar a morar no campo, podendo relacionar-se somente com outros leprosos (cf. Lc 17, 12). Não se tratava de viver em presídio, pois nas cidades não cercadas por muralhas, podia entrar nas sinagogas e até permanecer num recanto, isolado de todos por uma balaustrada, desde que entrasse por primeiro e saísse em último lugar. Entretanto, a própria deambulação se tornava cada vez mais dificultada para ele, pois esse mal penetrava lentamente em todo o organismo, atingindo não só as carnes, mas também os músculos e tendões, nervos e ossos. Para acentuar essa nota de dramaticidade, com sua voz roufenha, e por detrás de um lenço de linho que cobria a parte inferior da face, era obrigado a bradar aos transeuntes: “Tamé! Tamé!” (Impuro! Impuro!), para, assim, evitar que dele se aproximassem (cf. Lv 13, 45).
Em meio ao avanço da doença, progride também a fé
O leproso do Evangelho de hoje deveria ter um tanto de vida interior, estando, portanto, habituado de certo modo à oração. Por isso, ao ajoelhar-se, manifesta, no fundo, a mesma fé e humildade do centurião quando disse a Jesus: “Senhor, eu não sou digno!” (Mt 8, 8). A cena faz-nos recordar, também, a oração do publicano em contraposição à do fariseu que sobe ao Templo para rezar. Nos três casos, trata-se de uma humildade autêntica, de coração, pois Deus não suporta a hipocrisia. Quantas orações não terá Deus rejeitado, ao longo dos séculos, por causa do orgulho farisaico com que foram realizadas!
Em meio ao avanço de sua ruína física, progredia também a fé do leproso, a ponto de, ao encontrar-se com Jesus, crer na Sua onipotência divina e na Sua bondade infinita. Estava certo de que uma simples manifestação da vontade do Salvador era suficiente para curá-lo.
Bem comenta São Beda essa humildade toda feita de fé:
“E porque o Senhor disse: ‘Não vim abolir a Lei, mas levá-la à perfeição’ (Mt 5, 17), aquele que, como leproso, estava excluído da Lei, julgando ter sido curado pelo poder de Deus, indicou que a graça, a qual pode lavar a mancha do leproso, não estava na Lei, mas acima dela. E em verdade, assim como se declara no Senhor a autoridade do poder, declara-se nele a constância da fé. ‘E pondo-se de joelhos, disse-Lhe: se queres, podes limpar-me’. Ele se ajoelha, caindo de rosto em terra, o que é sinal de humildade e vergonha, para que cada qual se envergonhe das manchas de sua vida. Essa vergonha, porém, não impede sua confissão: mostra a chaga e pede o remédio, e a própria confissão está cheia de religião e de fé. ‘Se queres’, diz ele, ‘podes’; ou seja, pôs o poder na vontade do Senhor. Não duvidou da vontade de Deus como um ímpio, mas como quem sabe quanto é indigno dela, por causa das manchas que o enfeiam”.5
Se somos reconhecedores de nossas misérias, como o Publicano, devemos também reconhecer o quanto o pecado é a lepra da alma. Se esta fosse tão visível quanto a física, quão mais repulsiva seria aos olhos de todos! Porém, nada está oculto para Deus, e é assim que são vistas por Ele as almas dos que se encontram no pecado.
Vendo Jesus, o leproso “foi ter com Ele”. Compreende que, para sua felicidade, bastava-lhe aproximar-se do Salvador. É de desejar que o mesmo se passe conosco, ou seja, que jamais desviemos de Cristo nosso olhar.

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