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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Perplexidade dos conterrâneos de Jesus - Lc 4, 22

22 E todos davam testemunho em seu favor, e admiravam-se das palavras de graça que saíam da sua boca, e diziam: “Não é este o filho de José?”
O conceituado Pe. Manuel de Tuya OP é partidário da opinião de que os fatos narrados nos versículos anteriores deram-se durante uma outra viagem realizada por Jesus: “A segunda parte, com reacções totalmente opostas, deve corresponder a outra estada de Cristo em Nazaré. Havia já corrido muito sua fama de taumaturgo, e até devia-se ter falado em seu messianismo. Isso é o que causava estranheza ao povo nazareno que O escutava na sinagoga. Reconheciam sua sabedoria e prodígios, mas se perguntavam de onde Lhe vinha isso, pois conheciam seus pais e parentes. Talvez não só sentissem a estranheza aldeã de ver um dos seus superior a eles, mas também já palpitassem rumores de seu messianismo. E como o Messias deveria ser de origem desconhecida, isso não podia coadunar-se com o conhecimento que eles tinham dos pais de Jesus” (4).
Pelas Escrituras e até mesmo por historiadores da época, como Flávio Josefo e Fílon, sabemos quanto o povo judeu era apreciador da oratória, sobretudo sacra. Ele ouvira grandes e eloquentes oradores ao longo de sua história. Por aí se nota o grande efeito das palavras de Jesus, penetradas de suavidade e elegância pelo seu modo divino, afável e douto de falar, fazendo crescer de maneira amena o interesse de seus ouvintes, conforme sublinha Maldonado (5).
Ao comentar a admiração dos judeus, Lucas deixa entrever seu reconhecimento pelo caráter superior à pura natureza humana das palavras de Jesus, como acentua São Cirilo: “Ele atraía a Si os olhares de todos, estupefatos por verem que conhecia as Escrituras sem tê-las estudado. Mas, como costumavam os judeus dizer que as profecias relativas a Cristo se cumpriam em algum dos seus chefes ou reis, ou em alguns dos santos profetas, o Senhor previne a manifestação desse costume” (6). E São João Crisóstomo comenta: “Ele lhes expõe uma doutrina não menos admirável que seus milagres; as palavras do Salvador eram acompanhadas de uma inefável graça divina que encantava todos os seus ouvintes” (7).

Reação repetida ao longo dos séculos
“Não é este o filho do carpinteiro?” Assim reagiriam diante de Deus feito Homem os mundanos de todos os tempos. Viver em função de um último fim que se cumpre exclusivamente nesta terra conduz a leviandades perigosas e arriscadas no tocante à salvação. Os toldados horizontes dos nazarenos não ultrapassavam os estreitos limites da própria aldeia. O maravilhamento manifestado pela oratória do Divino Mestre havia se detido na forma, sem penetrar em sua substância. Se suas palavras eram “cheias de encanto”, só podiam confirmar a fama de seus milagres e tornavam secundária sua origem familiar. Pois Davi não era filho do camponês Isaí? E Moisés — o salvo das águas —, teve ele uma ancestralidade à altura da missão que lhe fora conferida?
Bem comenta esta passagem São João Crisóstomo: “Esses insensatos, admirando embora o poder de sua palavra, desprezam sua pessoa, por causa daquele que consideravam seu pai” (8). Por sua parte, diz São Cirilo: “Mas o fato de ser filho de José, como eles pensavam, impede de ser venerável e admirável? Não vêem os milagres divinos, Satanás vencido e os numerosos doentes curados de suas enfermidades?” (9).

Continua...

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